terça-feira, 29 de abril de 2014

Pequenas Mentiras, Meias Verdades: Histórias de Freiras



 Histórias de Freiras. 

   As primeiras freiras começaram a existir bem antigamente porque algumas pessoas, mulheres, viram que seria impossível viver vendo outras pessoas passando por situações difíceis sem ajudar. E isto aconteceu principalmente nos tempos em que pestes brabas assolavam a terra e onde as pessoas, até os médicos, não tinham coragem de ficar junto às pessoas infectadas. Naquela época geralmente as pessoas eram expulsas da comunidade e só quem sobrava para cuidar destas pessoas eram as freiras. Elas então corriam por aí distribuindo comida para estas pessoas, remédio, rezavam e assim por diante.    Muitas vezes as pessoas morriam nestes lugares apesar de toda a ajuda pois não aguentavam o sofrimento. Assim era. Freiras saudáveis arriscavam sua saúde aos cuidados, em nome de Deus para ajudar as pessoas. Se distanciavam de suas famílias e o que mais faziam era rezar. Através das orações e interesses em prestar ajudas específicas, elas criaram as congregações. E, nestes últimos quinhentos anos isto aconteceu diversas vezes onde novas congregações foram criadas. 
   E porque eram somente freiras, não havia a presença de homens, e então, elas tinham que saber fazer todo o serviço. Rapidamente então as freiras novinhas aprendiam o ofício. Tudo corria sem a necessidade da ajuda dos homens. Só que, algumas vezes, acontecia que elas precisavam de um homem forte para fazer trabalhos pesados como cortar uma árvore, ou carnear um porco. Elas não tinham coragem para enfiar uma faca no peito da leitoa até o coração e fazê-la sangrar até o fim. Então sempre chamavam um homem da vila.
   Mas fatos inusitados também aconteceram. Porque elas achavam que não precisavam de ajuda na manutenção do seu galinheiro, aconteceu de elas não conseguirem naquele colégio de freiras tirar pintinhos das ninhadas. Isto aconteceu num colégio de freiras lá em Santa Catarina. Foi assim: Elas construiram um grande galinheiro, compraram e criaram sessenta pintinhos. Quando os pintinhos cresceram e começaram a por ovos, as freiras ficaram ansiosas para aumentar sua criação. Mas não mantiveram nenhum galo junto, porque seria emporcalhado ver um galo correndo atrás das galinhas, pulando em cima delas, as cobrir e correndo e pulando novamente... ...então não colocaram galo junto. 
   Aconteceu então que todos os ovos embaixo das galinhas que elas chocaram, apodreceram. As freiras aos poucos ficaram irriquietas porque não conseguiam tirar pintinhos novos dos ovos chocos. Resolveram ir ao padre e perguntá-lo o motivo. Talvez ele tivesse alguma solução sobre o problema. Assim aconteceu. Quando estavam junto dele, a freira perguntou: 
   - Padre, onde está o nosso erro? Nosso galinheiro está cheio, nossas galinhas chocam os ovos, mas não vingam pintinhos novos.  Os ovos simplesmente apodrecem. 
   O padre, já imaginando onde estava o erro, perguntou:
   - Vocês mantém um galo com as galinhas?
   A freira respondeu: 
   - Não, isto nos pareceria muito emporcalhado ver um galo correndo atrás das galinhas, subir nelas, e cobrir elas. 
   - Sim, irmã, sim senhora! - Disse o Padre. - Então estão querendo que a mulher conceba sozinha um filho sem o seu marido? ...Não tem como!
   - Ah, então é assim? Precisa mesmo ter um galo junto com elas? - Disse a freira. Então o padre respondeu:   
   - Com certeza! Ponham o galo junto e fechem os olhos! Então não verão as galinhas e o galo em comportamento emporcalhado.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Hora da Faxina - Tatuagem



   Tatuagem

   Será que um dia vou fazer alguma tatuagem no corpo? Me ocorreu esta pergunta porque tantas pessoas andam deixando em alguma parte do corpo algum desenho, algum escrito, ou algum símbolo por diversos motivos. Pode ser por fé, por amor, por rebeldia, ou até por querer ser diferente. Pode ser uma tatuagem para demonstrar o quanto gosta de alguma banda, ou até por uma ideologia que na marca mostra a intensidade de seu fanatismo. Pode ser por estupidez e até por falta de personalidade, tentando assim uma auto-afirmação através da tatuagem. 
   Já vi formas lindas de expressão na pele, com desenhos discretos e alegres. Uma das tatuagens mais belas que vi até hoje foi um anel de diamantes tatuado no dedo indicador de uma cliente e que parecia um anel de verdade, dando a volta em todo o dedo. Só que na cor preta. Mas chama a atenção porque é perfeito, parece até ter relevo, como se sobressaísse da pele do dedo. O autor de tamanha perfeição com certeza é um artista. Outra das tantas tatuagens lindas que já vi, foi um escrito no braço de uma garota gordinha, com dizeres proféticos em três linhas: 

   SUBI NÔ ÔNIBUS 
   Não importa a direção que vou
   Meu destino é viver.

   Eu estava encafifado com estes dizeres, tentando entender o motivo da primeira frase, toda escrita em letras maiúsculas, e ainda por cima, com um ô circunflexo sem necessidade, um erro de português escancarado. Não me contive, perguntei o motivo desta frase. A garota, de um rosto lindo, brilhante, daqueles que a gente olha e aprecia, dentes impecavelmente brancos e olhar de paz, respondeu: "Olha bem a frase. Leia de trás pra frente. Não vai mudar. Vai continuar sendo: 'subi no ônibus'. Então, o complemento desta máxima está embaixo. Achei que tivesse que intrigar as pessoas com minha tatuagem, e estou notando que consegui isso." - Maldisse minha curiosidade, afinal, tinha muita lógica e de estranha, acabei simpatizando com a tatuagem.
   Já vi também tatuagens feias. Algumas deformam por estarem postas em lugares errados e outras mal desenhadas mesmo. Uma das tatuagens mais horríveis que vi, foi uma águia desenhada nas costas de um surfista. Vi lá na praia. Dá para se ver nitidamente que o artista que fez esta tatuagem nem conhecia uma águia de verdade, pois o bico da penosa mais parecia ser a de um papagaio. Só vi que se tratava de uma águia porque estava escrito embaixo: harpia. Bom, só assim mesmo para saber! As asas mais pareciam duas mãos em sentidos opostos querendo fugir do corpo da águia. Simplesmente horrível. Ou então, a tatuagem com dois erros de português que vi nas costas de um cara na net: "Tudo posso na quele que me fortalesce." - Putz, é de uma incompetência profissional sem tamanho.
   Mas, e eu? Bom, se fosse um dia fazer uma tatuagem, seria a de um trevo discreto de quatro folhas na parte interna do pulso da mão direita, do tamanho de uma moeda de cinco centavos. Por enquanto ainda não tive vontade de fazê-lo. Quem sabe um dia...

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Sete meses sem Bere - Viúvo



Sete meses sem Bere. Viúvo.
   Pois, o dia de hoje mais uma vez marca uma data marcante, por demais densa, inesquecível. Mas já chorei tanto que me acostumei a olhar para o calendário e marcar a data como de importância, mas não drástica. Já acostumei a fazer todas as atividades para deixar nosso lar do jeito como Bere deixou e já acostumei a sentar à mesa e fazer as refeições sem ela, sem pôr por descuido o prato dela. 

   Já acostumei a olhar para todas as coisas que ficaram, as marcas, suas impressões, e ter a certeza de que ela não voltará mais. Marcas, impressões, tudo ainda é forte, tudo ainda me toca, tudo ainda é recente. Bere se foi, fazem sete meses, mas é como se eu voltasse para dentro de casa e ouvisse sua vozinha doce me chamando. Como aconteceu na terça de tardezinha, quando estava fazendo a barba no banheiro do nosso quarto, quando ouvi nitidamente a voz de Bere: "Pio, vem aqui um pouquinho?" - Instintivamente, meia barba por fazer, saí da frente do espelho, atravessei a porta do quarto e perguntei: "Que é, amor?" - Então eu vi que a cama estava vazia, ela não estava lá me chamando, e que tudo eram coisas criadas pela minha imaginação. Ainda sinto muito a falta dela. Ainda tenho esta ligação densa com ela, que me faz todos os dias pensar no quanto de amor vivemos e no quanto de ingrato foi o destino me arrancando ela do convívio tão cedo. 
  O que realmente me faz sentir muito, e choro pensando, é do que ela vai deixar de aproveitar. Nossos netinhos que ela não conhecerá, as carreiras profissionais de nossos filhos que ela não verá, meu desempenho que ela não mais elogiará e a carreira dela que ela não completará. Faltou o reconhecimento por tudo o que ela fez em prol da contabilidade, o que tanto ela prezava.
   Após sete meses de sua ausência, já não me desespero mais. Mas ainda sofro calado nossa ligação que deixou de existir. Nossa química que deixou de ser fórmula e nosso amor que de soma virou fórmula. Uma fórmula indefinida onde o número final é infinito. Sem dimensão, porque nos amamos acima de qualquer equação, e isto não tem como descrever.
   De tudo o que de belo ficou, foi de que vivemos. Sim, vivemos plenamente e Bere partiu sabendo que viveu o que muitos talvez, jamais viverão: a plenitude do amor. E isto me dá paz. Porque eu consegui, com o auxílio dela, fazer isto acontecer em nossas vidas. Que bom. Ela viveu o que talvez poucas pessoas vivam. E foi comigo. Que Bom!

   Abaixo, das últimas fotos que Bere tem em seu registro antes de partir: Itacaré e Ilhéus - Bahia


Dança na noite do forró da praia de Itacaré - Bahia. Última vez que dançamos juntos.


Bere, mesmo doente não se negou a participar da brincadeira da foto charge.. 3 semanas antes de partir.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Pequenas Mentiras, Meias Verdades: No Serviço Errado



No serviço errado.

Tem pessoas que não estã satisfeitas com o seu trabalho. Melhor dito, a maioria das pessoas não estão satisfeitas com o seu trabalho. Se a gente vai atrás, e procura, então se encontra  pessoas que simplesmente estão realizadas com o seu trabalho, mas também muitas pessoas não estão satisfeitas com o que fazem.
E quando a gente pensa a respeito, então com certeza gostaria de saber: de onde vem este problema?
Geralmente isto acontece por causa da necessidade de ganhar dinheiro. E muitas vezes as pessoas se atiram no primeiro emprego que aparece. Mas, elas poderiam ainda seguir seu trabalho de preferência. Mas isto não acontece. Por que? Esta é uma pergunta que não é difícil de responder: geralmente as pessoas não trabalham no que gostam porque se acomodaram, e sabem como realizar o trabalho que aprenderam. É o medo de enfrentar uma novidade e aprender tudo de novo.
Tem algumas pessoas que acabam gostando do trabalho que não lhes agradava, ficam a vida toda neste trabalho e o fazem com qualidade. Mas, são só alguns.
A maioria faz um trabalho ruim quando não o amam. Mas, o mais importante é dizer que as pessoas que não estão no seu trabalho de preferência adoecem mais e até tem vida mais curta. Isto acontece porque a pessoa geralmente não se sente bem, e não se sentir bem faz mal para a saúde.
Junto a isto, o que pesa são também as pessoas que são lesadas por quem não  gosta de sua profissão.
Para vocês verem como é feio isto, vou contar a história que aconteceu num restaurante, onde entrou um cliente que queria se alimentar. E quem o atendeu, não estava na sua verdadeira profissão.
O cliente disse:
- Senhor, me traga um pastel!
O garçom nem se mexeu do lugar onde estava sentado, respondendo:
- Ele é de ontem!
- Então me traga um bife!
- Ele é de ontem! - Disse mais uma vez o garçom sem se mexer.
Então disse o cliente já meio chateado:
- Então me traga um sanduíche!!!
- Este també é de ontem!
O cliente não sabia o que dizer. Estava completamente desnorteado. O garçom continuou sentado ali, folheando o jornal como se ninguém estivesse no restaurante. Mas, como o cliente estava faminto, tentou mais uma vez:
- Você provavelmente deve ter um prato de feijão e arroz para mim, não?
- Sim! - Respondeu o garçom. - Mas também é de ontem!
Então o cliente ficou brabo. Então disse:
- Como edu faço então para ter servido algo de hoje?
- Então vem amanhã! - Respondeu o  garçom.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Hora da Faxina - Alfred


 Alfred

   Alfred era o nome do nosso sapo de estimação. Era um sapo enorme. Não cabia nas mãos, de tão grande que ele era. Sapo do tipo comum, malhado entre listras cor de areia sobre o corpo preto. Seu papo era tão grande, que quando ficava parado, encostava no chão.
   Pois este sapo, num dia de chuva, de bastante chuva, apareceu inusitadamente em nosso pátio e lá se alojou. Nunca mais saiu. Meus filhos, quando o viram, acharam que ele tinha a cara do mordomo Alfredo do papel higiênico Neve, pois tinha uma boca fininha que rasgava sua face, como o mordomo. E também tinha os olhos debochados, como o Alfredo tinha. E logo o chamaram de Alfred.
   Era lindo de se ver. Todas as noites ele aparecia na frente da cozinha, na luz da rua, onde diversos insetos caíam e onde ele fazia com isto seu banquete. Alfred era  comilão. Ficava muito tempo ali, se alimentando, puxando os insetos para dentro de seu enorme papo com sua língua gosmenta. As duas glândulas atrás de sua cabeça, onde os sapos fabricam um leite venenoso, eram tão grandes que pareciam um par de olhos adicionais.
   A maioria das pessoas diz ter nojo de sapos. Muitas vezes tentei encontrar a razão de tal interpretação. Afinal, o sapo é como qualquer outro bichinho, e quando se acostuma a um pátio, fica de estimação, não sai mais. E se é posto para fora, sempre volta. Os sapos fazem companhia para a gente de noite. De dia desaparecem. Mas de noite, na calmaria ou na solidão, eis que um sapo vem saltitando alegre ao nosso encontro, atrás de alimento. Sempre tive para mim a importância de ter um ser vivo que ficasse em nosso meio para dar movimento aos nossos dias. E sempre acreditei que sapos ou pererecas não eram diferentes. São seres vivos que de uma forma ou outra, fazem nossa vida ter movimento. 
   É interessante ver este seu bailado ao redor de alguma presa para  abocanhá-la. Melhor, para puxar pra dentro com sua grande língua. Quando eu estava sem o que fazer, ficava um bom tempo observando o Alfred no seu gingado meio sem jeito, pela sua gordura, a tentar garantir seu jantar, e quem sabe, com isso pulava todas as alimentações do dia, até o próximo jantar. A Natureza é muito sábia: ela nos oferece todos os tipos de seres vivos para que, entre eles, estabeleçam um equilíbrio de vidas a habitarem aquele ambiente. Porque um desequilíbrio geraria o caos. Já imaginou se a barata, além do veneno que a gente põe, não tivesse um predador natural, que é além daquelas lagartixas domésticas, o próprio sapo? Nossa! A vida seria um caos, pois elas iriam tomar conta com seu jeito nojento de ser e com seu fedor.
   Alfred viveu em nosso meio mais de ano, quando de repente, um dia o encontramos esmagado no meio da rua, atropelado por algum automóvel. Os filhos sentiram bastante o ocorrido, pois haviam se afeiçoado ao sapo.
   Minha infância foi toda vivida sem ter medo ou nojo de sapos, pererecas e afins. A gente se acostumou a conviver com os bichinhos, e nossos pais nos instruiam da importância deles em nossa vida. Ficamos sabendo que eles realmente soltam um jato de urina em sua defesa quando são provocados, mas de que esta urina não cega como muitos dizem. Já o leite de suas glândulas pode cegar. Por isso que devemos ter um certo respeito por eles. Mas, eles não soltam aquele leite tão facilmente. Lembro que a gente, quando criança, pegava uma varinha e começava a esfregar a glândula. O sapo ficava desconfortável com aquilo, se irritiva, ficava de 'quatro' o que não é normal no sapo e depois de muito provocar, eles deixavam sair o líquido de sua defesa da glãndula.
   Quem sabe, um dia outro sapo vem e se instale no meu pátio. Mas quero que seja grande, gordo, de cara debochada que nem era o Alfred.


terça-feira, 15 de abril de 2014

Pequenas Mentiras, Meias Verdades: Os Bailes de Antigamente



OS BAILES DE ANTIGAMENTE

É muito interessante a diferença dos bailes como eram antigamente comparados aos da hoje em dia. Se a gente observar um pouco, nota-se primeiramente que as pessoas não se preparam mais para ir a um baile e muitas vezes vão para o encontro musical com a mesma roupa que usam para trabalhar durante a semana.
No salão, os rapazes dançam longe das garotas, até parece que eles estão com medo. Então, se bate e se tenta ritmar com os pés, parecendo ser um índio aprendendo música.
Antigamente era bem diferente. Para começar, só aconteciam em torno de dois bailes por ano e para acompanhá-los muitas coisas aconteciam.
Primeiro, principalmente as garotas, sempre arrumavam trajes novos para estes eventos, das calcinhas até os sapatos. Normalmente as costureiras trabalhavam dia e noite para aprontar as roupas com esforço e qualidade.
E isto dava uma correria de garotas indo e levando para suas costureiras: botões, elástico, retrós, tudo faltava, tudo tinha que ser providenciado.
Os jovens irmãos ou irmãs muitas vezes também eram envolvidos na atividade, querendo ou não, e também tinham que carregar essas miuceias para lá e para cá. Mas para eles sempre era algo grande pois eles podiam se sentir importantes.
Também existiam os bailes onde os rapazes ganhavam na entrada do salão um pedacinho de tecido e tinham que descobrir no salão o parzinho que usasse um vestido feito com o mesmo tecido, em cor e flores e tinham que dançar com elas.
Com isto então muito acontecia. Muitos rapazes dançavam com quem não tinham tanta vontade. Outros, então tinham a oportunidade de dançar com aquela garotinha que jamais teriam coragem ou competência para convidar e com elas dançar. Era o baile do floreado (blumichbóol), o mais esperado do ano.
Em outros bailes muitas vezes eram deixado de lado certas garotas, que sentavam sobre bancos que ficavam pelos cantos do salão esperando algum rapaz. Este banco então era denominado Banco do João (Bankehannes). E para uma garota ficar num banco daqueles uma noite inteira era para ela a maior humilhação porque sempre havia alguém a debochá-la. Existiram então as garotas que, entra ano, sai ano só ficavam nos bancos acompanhando os bailes. Muitas vezes já eram de mais idade, zarolhas, ou de beleza não tão saliente. E, para elas um dia poderem se sentir melhores, algum rapaz às vezes fazia aposta com os amigos por cerveja: tantas músicas que fosse dançar com a garota gordinha ou feinha, tantas cervejas ele ganharia. Então as garotas do Banco do João ganhavam a oportunidade de dançar uma meia dúzia de marcas. E os amigos do rapaz sentados pelos cantos, riam até não querer mais da imagem desta situação. O bom é que por várias ocasiões, surgia dali um parzinho novo de namorados, pois os rapazes conseguiam ver a essência destas garotas e entender que a estampa da garota não é nada se conhecendo o seu interior. Geralmente elas eram inteligentes.
Muitas vezes os rapazes vinham de longe a pé, atravessavam os campos de pastagens até o baile descalços e só colocavam seus sapatos de couro quando chegavam perto do salão. Sim, eles só tinham este par de sapatos e precisava ser cuidado. Além disso, como não eram acostumados a usá-los no dia-a-dia, causavam desconforto nos pés. Muitas vezes eram sapatos com mais de dez anos de uso.
Por causa disso às vezes também aconteciam cenas engraçadas. O Paulo me contou que antigamente aconteceu entre ele e seu amigo Walter num baile em Tupandi: eles  atravessaram descalços os campos de São Benedito e quando eles estavam chegando perto do salão, o Walter falou para o Paulo:
- Espera um pouco. Vamos sentar aqui no chão e colocar os sapatos.
Era uma noite escura como breu, não se enxergava nada além das estrelas e a lâmpada em frente ao salão um pouco ali na frente. Walter sentou. Logo, ele levantou de novo de supetão e gritou:
- Droga!
- O que aconteceu? - Perguntou o Paulo. Walter respondeu:
- Temos que ir para casa. Assim é impossível eu ir no baile.
- Por que? - Perguntou o Paulo.
- Porque acabei de sentar num monte de bosta de vaca.
- Vai você! - Disse o Paulo. - Eu vou no baile!

domingo, 13 de abril de 2014

Culinária: Receita da Maionese Colorida de Bere




Maionese Colorida do jeito Bere de fazer:

(Rende 6 porções)

INGREDIENTES: 

10  batatas rosa pequenas
1 cenoura média
meia xícara de palmito (palmeira real) picado
meia xícara de tempero verde picado
meia xícara de pimentão, misturado vermelho, verde, amarelo picado
a casca de um tomate médio picada
2 ovos
sal
mostarda
óleo de milho
vinagre

MODO DE FAZER:

Coloque as batatas, a cenoura e um ovo a cozinhar em água com 3 colheres de vinagre. 15 minutos depois de colocar no fogo, retire o ovo. Deixe o resto cozinhando em fogo médio durante uma hora. Retire as batatas e a cenoura e deixe repousar até esfriarem.

Com uma colher de chá descasque as batatas (raspando a casca) e corte em pedaços usando esta mesma colher, para dar pedaços pequenos e irregulares.



Descasque o ovo, descarte a gema e pique a clara também com a colher de chá.


Com uma faca descasque a cenoura e pique em pedacinhos:


Pique o palmito e cubinhos e acrescente:


Pique os pimentões e acrescente:



Pique o temperinho verde, salsa (com pedacinhos de suas hastes também porque acrescentam um sabor especial) e cebolinha e acrescente:


Tempere com sal e vinagre a gosto (sempre mais sal do que vinagre para pegar sabor com equilíbrio e não aguar a maionese) e misture:


Tampe e guarde na geladeira. (De preferência uma hora antes de servir o almoço).

BATENDO A MAIONESE:

Coloque o ovo cru, uma colher de chá de mostarda, uma colher de sopa de vinagre e uma pitada de sal num pote. Bata com um mixer (liquidifcador só dá certo com 2 ovos) esta mistura. Quando estiver homogênea, comece a acrescentar o óleo de milho, derramando devagar no pote enquanto o mixer gira. A maionese vai se formando. o ponto dela é no momento em que ela começa a se desprender das paredes do pote.




Guarde na geladeira e só misture a maionese na hora de servir. Bom apetite!




sexta-feira, 11 de abril de 2014

Hora da Faxina - Nuvens




Hora da Faxina - Nuvens

   Sempre tenho vontade de olhar para o céu e ver em suas nuvens formas que se assemelham com coisas da Terra. Adoro olhar para as nuvens. Mesmo que não tenham formas, gosto de suas cores, seus movimentos, seu contraste em relação ao azul do céu que as separa. E este azul muda de tom de acordo com a nuvem que se encontra em sua frente.
   Já vi nuvens de todas as cores do arco-íris e lamento não tê-las fotografado todas. Daria um lindo quadro. Aliás, os espetáculos mais belos da natureza são o por-do-sol, ou o amanhecer, quando enquadrado por nuvens. Com o céu limpo não tem tanta graça. Um espetáculo fantástico que tem todos os matizes e com suas formas cria quadros surreais. 
   Houve uma época, quando meus filhos eram pequenos, quando eu via que daria um belo por-do-sol, os colocava no carro e ia até a subida do Chapadão (aqui em nossa cidade do Caí - RS). Tudo para admirarmos o por-do-sol. Lá, no meio da subida tem um mirante natural de onde se enxerga o morro de São João em Montenegro, juntamente com suas antenas de rádio e telefonia. E Justamente no Outono, quando as mais lindas situações de anoitecer acontecem, o sol se põe naquela direção.
   Eles adoravam ver aquele espetáculo e comentavam sobre formas e cores, o que sentiam. O movimento das nuvens também os fascinava. Ficavam admirados e eu via seus rostinhos no reflexo daquele poente esboçando a satisfação em ver aquele espetáculo. Algo simples, mas que aguça o sentimento de percepção e também a sensação em si, de coisas boas. Crianças precisam ser levadas a admirarem a natureza. Ver raios no meio de tempestades, ou antes delas, para se impressionarem com a força da natureza. Ver nuvens, ver o sol se pondo e nascendo, ver o mar, as ondas de perto, árvores e plantas. Precisamos deixar os filhos descobrirem as diferenças que existem entre uma folha de limão e laranja, para entenderem por que os frutos também são diferentes. E como as folhas são praticamente iguais aos olhos, fazê-los sentir que ao amassá-las, podemos tirar no aroma da essência que exalam, qual folha pertence a qual fruta.
   Quando saí da adolescência (faz tempo isso), criei em minha imaginação um lugar lindo, mágico, onde me refugiava quando as coisas aqui da Terra 'apertavam'. Eu me refugiava em minha 'nuvem rasa'. Um lugar tão aconchegante que fazia tanto bem, que cheguei em certos momentos a pensar que realmente esta nuvem rasa existia. Era algo além de minha imaginação. Ia além da simples forma de eu pensar que minha imaginação me levava até lá. Eu me via sobre ela, olhava lá do alto para os problemas que ficaram na Terra e de lá resolvia um a um. Um cenário indescritível entre flocos brancos de brumas feito algodão, de onde enxergava lá do alto minha cidade, meu cantinho, meus problemas. Tudo entre estas brumas. E de lá mergulhava neles e achava as suas soluções. 
   Com o tempo, ficando adulto e maduro, esta nuvem foi se diluindo, diminuindo de tamanho, até desaparecer por completo. O peso dos problemas dos adultos não podem ser administrados a partir de nuvens. Eles são muito pesados, as fariam cair.
   Mas eu continuo olhando para o céu, vendo nas nuvens esta magia surreal que a natureza nos oferece de graça. E gosto também da resposta que Laila, menina de quatro anos, deu quando lhe foi perguntado o que eram as nuvens. Ela respondeu:
   - As nuvens são o céu soltando puns para enfeitar nosso dia.



terça-feira, 8 de abril de 2014

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - O Temporal



O Temporal

Sempre quando o tempo se carrega para um temporal, então, mesmo que a gente se diga forte, se tem um pouco de medo. Passa um calafrio pela coluna, que a gente se trepida de alto a baixo.
Quando um temporal se anuncia por detrás do morro e começa a ventar, a relampejar e trovejar, então se pega aquela palma amarelada, cheia de teias de aranha deitada sobre o armário, e se queima no fogão para pedir proteção a Deus.
Assim, se nada acontece, a gente acredita realmente que isto é devido à palma e à proteção Divina. Mas nem sempre acontece assim. As vezes dá errado. E assim aconteceu uma vez com uma família antigamente em Arroio das Pedras, entre Tupandi e Bom Princípio.
Afonso e sua esposa, a Clementina, e ainda um filho pequeno dos seus nove anos, o Jacó, estavam tomando café de manhã pelas oito horas, quando o céu se mostrou preto com vento e relâmpagos.
O temporal foi imenso. A tempestade durou mais ou menos meia hora, mas foi o suficiente para causar estragos no meio da comunidade. Até também a casa do Afonso apanhou: voaram em torno de dez telhas do seu telhado.
E, quando ele ele descobriu o problema, se lembrou que ele não estava com a escada em casa. Ela havia sido emprestada para o Armindo Ledur e não havia sido trazida de volta. Então ele teve uma idéia. Ele disse para sua esposa:
- Clementina, vem, vamos subir no sótão, então eu subo em seus ombros e assim chegarei até as telhas que voaram para tapá-lo com novas telhas.
- Sim, Afonso, se não tem outro jeito, então faremos assim. Só cuida da minha verruga no lado do pescoço!
Assim aconteceu. Eles subiram no sótão pela escada fixa e quando estavam lá, Afonso trepou nos ombros de Clementina e começou a trocar as telhas. O pequeno Jacó se encontrava com eles e acompanhava seu trabalho.
De repente, bateram à porta. Afonso disse para o filho:
- Jacó, vai e vê quem está aí. Deixe-o entrar e diz que já viremos.
Jacó foi e abriu a porta, vendo então que era seu vizinho, o Armindo Ledur, com a escada embaixo dos braços para devolver. Então ele olhou ao seu redor e perguntou:
- Então Jacó, seu pai não está aqui?
- Claro! - Respondeu o rapaz.
- Onde então ele está? - Disse o vizinho curioso. Jacó respondeu:
- Ele está lá no sótão, montado na mãe tapando o buraco.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - O Fumo Forte



 O Fumo Forte

   Os cigarros não precisariam ter sido inventados no mundo. Eles fedem, fazem mal, doenças, envelhecem e tudo o mais de problemas poderia ser acrescentado.
E ainda, é dito correto, se queima dinheiro. Imaginem só como fica boba a cena de uma pessoa com um cigarro na boca. Parece que a boca da pessoa é uma chaminé.
Estes milhares de venenos químicos que estão na fumaça fazem muito mal ao corpo.
E os fumantes, então para se defenderem, dizem que do mesmo vão morrer, e assim, o fumo não tem nada a ver com isto.
   Mas isto é só para esconder a dependência. Deixar o cigarro é terrivelmente difícil. Eu mesmo senti isto na pele há mais ou menos vinte anos. A gente fica durante meio ano fora de si, fica nervoso, resmungão e tudo por nada. Quando o café não está exatamente no calor que deveria, ou quando o chimarrão está um pouquinho do calor além do normal, então já é resmungado.
Mas, com persistência e boa vontade a gente consegue se livrar desta droga.
   Um bom momento para deixar de fumar é no tempo das bergamotas. Todos os fumantes sabem que comer uma bergamota depois de ter fumado um cigarro não é gostosa. Tem gosto ruim. Assim, se você deixou de fumar, cada vez que vem o desejo, então coma uma bergamota. Então passa de novo a vontade, e então você se sentirá muito melhor. Experimenta! Então falaremos a respeito.
Falando sinceramente, este foi um dos passos mais difíceis que dei, mas o melhor.
   Antigamente tudo era diferente. Não existiam tantos cigarros manufaturados e eles eram caros. Então as pessoas, principalmente os homens, fumavam palheiros.
   Todos dizem por aí que os palheiros não eram tão venenosos do que os cigarros manufaturados.    Mas, que eles eram bem mais fedorentos, isto é verdade. Assim, um considerável e grosso palheiro fumegando espantava até as moscas e os mosquitos.
Se dizia por aí que a fumaça do palheiro curava até dor de ouvido. Se era verdade, isto eu não saberia dizer.
   Então, para comprar o fumo e a palhas de milho existiam as bodegas. Também existiam lugares especializados em certos tipos de fumo.
   No Caí existia um lugar destes. E o vendedor tinha do fumo mais fraco até o mais forte. Ele era famoso e as pessoas vinham de longe para comprar do seu fumo.
   Tudo se tratava de onde era a procedência do plantio do fumo (para medir sua força).
   Mas, a tabacaria aqui no Caí estava sempre cheia de movimento de compradores.
   Um certo dia, entrou um cliente e se preparou um palheiro do melhor fumo da tabacaria, para experimentá-lo e depois comprar.
   Então, quando o palheiro estava pronto, ele deu uma profunda tragada. Então ele se engasgou e começou a tossir. Junto a isto ainda soltou um pum considerável. Então disse:
   - Este fumo é bom. Mas, tu não tens um mais forte?
   O negociante respondeu:
   - O de fazer cagar até o momento ainda não chegou.

Hora da Faxina - Anabel



   Anabel

   Anabel era o nome daquela menina com uma cicatriz em forma de lua na perna direita. Quando ela tinha seis anos, adquiriu esta marca para o resto de sua vida. Bem do lado do joelho, lua crescente em marca profunda, que aconteceu durante um inocente jogo de bola no campinho do bairro. O jogo era um misto de caçador e futebol, ninguém sabia ao certo o que estava jogando, ou quais eram as regras daquela partida. Mas o que todos sabiam, era que se a bola saísse da linha marcada pelos chinelinhos dos participantes, aquele lado perdia um ponto para o outro lado. E o joguinho estava alegre, cheio de gritarias, quando a bola atravessou a linha das havaianas surradas e encardidas do lado de Anabel, e foi se alojar num monte de areia ali, contra o muro da divisa.
   Ela não teve dúvidas. Como era a última da linha, foi para apanhar a bola e trazê-la de volta ao jogo. Chegando perto da areia, o convite daquele monte fofo para que ela se jogasse sobre ele para pegar a bola que estava lá no alto. Como tomaria seu banho depois, já era de tardezinha, se jogou ajoelhada para cima da areia, e eis que um gargalo de uma garrafa de cerveja quebrada estava em seu caminho, escondido na areia e seu joelho foi justamente parar naquele caco. Pronto! O estrago estava feito. O encontro, a fatalidade.
   Então o corte, a sensação da lesão e um filete de sangue que não desceu até o pé. Por sorte o caco de vidro não acertou nenhuma veia. Ao sentir-se dilacerada, ela sentou na areia ali mesmo, apavorada pois se via o osso do joelho, ali não tem músculo, só pele e gritou por socorro. Logo estava cercada por todas as crianças da competição. Entre olhares apavorados, Saulo, um dos mais velhos do time, teve a lucidez em correr até a casa de Anabel, que não era longe dali, e relatar o fato para sua mãe e seu pai que acabara de retornar do seu trabalho. A mãe dela já foi pegando um paninho branco limpo e ambos correram até o campinho para acalmar e encaminhar a filha. Enquanto corriam, o pai de Anabel já chamou o Joca, amigo taxista, para vir pegá-la e levá-la até o hospital.
   Quando os pais chegaram no monte de areia, Anabel, em estado de choque, ainda consegui esboçar aquele gargalo causador de seu ferimento. O pai, num ato impensado de raiva, atirou o vidro contra o muro, estilhaçando-o em centenas de pedaços. A mãe, fitando-o de um jeito como quem condena o ato, tratou de providenciar a atadura para o corte da filha. E logo Joca chegou, indo os quatro até o hospital. Lá, a ferida foi desinfectada, e após nove pontos, o corte ficou apenas em marca. A recomendação do médico foi de que Anabel não dobrasse o joelho nos próximos quinze dias, pois havia o perigo de a ferida abrir novamente, já que era bem na dobradura do joelho.
   A família seguiu à risca as instruções. Após oito dias, a retirada dos pontos e a forma da lua quase Nova desenhada em sua perna. Mas, quis o destino que o ferimento voltasse a abrir, quando num dia de manhã Anabel, ao descer o degrau dos fundos de casa para dar comida ao seu gatinho, virou o tornozelo, e numa resposta inconsciente para não luxar, dobrou o joelho da lua e o ferimento voltou a abrir. Sem chance de fazer novos pontos, a Natureza se encarregou de deixar seu desenho na perna de Anabel.
   Agora ela tem onze anos. Tem uma inteligência tão grande que espaira até em seu olhar. Olhinhos castanhos, contrastando com o cacheado cor de mel de seus cabelos, lhe dão uma aparência única. Seu abraço é de uma sinceridade indescritível. Nota-se que é do fundo de sua alminha. quando eu a abraço, sinto esta vibração doce, de uma entrega de energia plena, que só as crianças têm, pois transpiram pureza. 
   Um dia, quando a abracei mais uma vez, perguntei durante o abraço, enquanto meu rosto estava emaranhado no meio de seus cachinhos: 
   - Anabel, de onde vem todo este carinho, este amor puro, que tanto bem faz a mim ao te abraçar?
   Ela respondeu:
   - Joca, jamais vou esquecer aquela corrida de táxi que tu não cobraste de meu pai. Pois se ele tivesse que pagá-la, naquele dia não teríamos o que jantar.