quarta-feira, 30 de julho de 2014

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - A Gamela e o Pão de Antigamente



A Gamela e o Pão de Antigamente

   Fazer pão hoje em dia é muito fácil. Se compra a farinha já temperada, o fermento em porções para assar pães de meio quilo, e então é só misturar tudo, acrescentar água e gordura e pronto! Deixa-se crescer e então o pão já está pronto para ser posto no forno elétrico e em quarenta e cinco minutos tirar de lá assado.
   Porém, antigamente a coisa era bem diferente. Para as pessoas tirarem uma fornada de pães de dentro do forno de barro era um trabalho complicado. Possuir o fermento era uma dádiva. Geralmente o fermento era repartido entre os vizinhos. Alguém sempre tinha um preparado fermentando. 
   Para fazer um fermento caseiro se pegava meia xícara de açúcar e juntava com uma xícara de farinha e meia xícara de água. Se misturava tudo e deixava umas duas semanas descansando até a mistura ficar no ponto para misturar na massa e fazer o pão crescer.
   Mas para fazer crescer uma gamela de massa para pão no inverno era uma arte. O frio sempre resultava em pães baixinhos, pouco crescidos. Então para mastigar estes pães baixinhos, com dentes faltando, o que era normal na época, era uma dificuldade.
   Para fazer crescer o pão no inverno, algumas mulheres amassavam a massa de manhã cedo, para que quando o vovô e a vovó saíam debaixo de sua coberta de penas, as mulheres aproveitavam o calor da cama e colocavam a gamela embaixo da coberta de penas para fazer a massa crescer. Isto sempre dava um bom resultado.
   Um dia estava uma bisneta, que era da cidade grande, passeando na casa da avó. E ela acordou cedo. Viu a avó preparando aquela gamela cheia de massa para pão, estava maravilhada. A avó pediu para ela ir junto para levantar a coberta de penas dos bisavós para colocar a gamela lá e fazer o pão crescer. A bisneta foi junto. Quando viu a avó por a gamela ali, só coberta com um pano de louça, disse enojada:
   - Eca!!! Vocês não têm nojo de comer depois este pão que cresceu embaixo da coberta de penas no calor dos bisavós?
   A avó respondeu:
   - Pra que ter nojo? Esta mesma gamela onde foi amassada a massa de pão e que está agora embaixo da coberta de penas para crescer, também é usada para lavarmos nossos pés!

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Hora da Faxina - Olhares



 Olhares

   Gosto de observar olhares. Ver dentro dos olhos das pessoas o que podem ter de autêntico ou, talvez, o quanto fazem para tentar encobrir seu verdadeiro olhar. As pessoas mostram tudo em sua forma de olhar: sofrimentos passados ou atuais, alegria de viver, estabilidade, energia e o quanto de vida circula em suas almas.
   Para a gente enxergar isso, é necessário um tempo de aprendizado. E os melhores professores são as crianças que escancaram suas alminhas numa autenticidade invejável. As crianças olham sempre refletindo seu interior. Fazem isso porque não têm maldade em seu olhar e a falsidade é algo que ainda não lhes foi apresentada. O olhar de uma criança mexe com nosso interior, nos chama também à sinceridade e nos deixa sem ação quando em troca não somos autênticos. A sensibilidade das crianças é tamanha, que podem sentir no olhar errado do adulto uma repressão a sua sinceridade, fazendo-as até chorarem. Por isso que tem muitos adultos que fazem crianças de colo chorarem. Elas não captam sinceridade, ou captam um momento difícil no interior desta pessoa, algo pelo que a pessoa possa estar passando, dificuldades, desamores, enfim, algo que as incomoda e com o qual não aprenderam a sentir inocência. Sendo assim, se assustam com algo desconhecido que as amedronta, e choram.
   Um olhar puro, autêntico, é inesquecível. Em fotos se diz que a pessoa é fotogênica. Não é nada. A pessoa sai bem na foto porque tem o dom de deixar a câmera captar o olhar, a verdade do olhar. E isto faz a pessoa ficar com aparência bacana, parecendo ela mesma como é ao vivo. Tem fotógrafos que têm o dom de captar o momento de máxima sinceridade no olhar da pessoa para então disparar o obturador. Depois, quando a foto fica pronta, os comentários sempre são em torno da beleza da foto, de como a pessoa ficou bem, que parece 'sair' de dentro da imagem. Comentários surreais que simplesmente expressam a autenticidade do olhar de quem foi fotografado. Nada mais. 
   Um relacionamento verdadeiro começa quando os olhares se compreendem. As pessoas se olham e de dentro de sua essência vibra a química que faz o amor acontecer. Muitas pessoas falam isso e dizem que vibram em sintonia. Isso não é nada mais do que seus olhares que se completam em autenticidade e profundidade na troca de sensações. Quando se vê um casal que tem esta química, costuma-se dizer: os dois se amam tanto que falam com o olhar. E isto não é uma forma de expressão bonita ou estereotipada. É a essência de suas almas aflorando através do olhar. Muito lindo isso!
   

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Dez Meses sem Bere. Viúvo



Dez meses sem Bere. Viúvo.

   O mundo em minha vida novamente está tendo encantos. Está reapresentando cores vivas e o cinza da perda desta mulher única, especial, que foi a pessoa mais importante para mim, está criando matizes de belas lembranças. Ainda tenho meus momentos onde choro. Não é frequente. Mas sei que o choro ainda continuará a existir porque não dá para se apagar de dentro da alma a vivência de uma amor em plenitude. Não tem como subtrair de uma hora para outra toda esta cumplicidade doada que vivemos, esses olhares trocados frequentemente, que tinham sempre em seus traços a frase: "Eu te amo!" - frase esta repetida também todos os dias, por tantas vezes, não para tentar autoafirmar uma verdade, mas pelo prazer, pela satisfação de saber que estas palavrinhas não brotavam da boca, mas da alma. A boca somente era seu meio de externar essa vibração. Nós vibramos em sintonia e muito foi construído somente com a nossa soma. Aí que está a beleza do que vivemos. Dizer que ama não deve nunca ser deixado para amanhã. Deve sempre ser dito quando se tem vontade e consolidado através dos gestos e ações.
   Já fui perguntado diversas vezes, por tudo que escrevi e do qual está saindo um livro, como é viver um grande amor, assim como foi o nosso. Então, adoro responder com a frase que Bere sempre dizia: "Amor sem segredos e sem ciúmes é escancarado. Por isso que dá certo!" Esta é a fórmula. Não tem outra. Dificuldades todos atravessam na vida, entre financeiras, doenças, de stress com familiares ou outras pessoas, preocupações e tantas outras coisas que podem atrapalhar um relacionamento. Mas se ele estiver montado em cima dos pilares da sinceridade e cumplicidade, o amor por si só fica vivo e supera tudo. Até a morte. Um amor vivido livremente é o segredo de unir sempre mais. Parece um paradoxo mas na verdade, quem deseja o melhor e o máximo para quem ama, justamente lhe abre todas as portas e janelas para que se apresentem todas as belezas do mundo aos seus olhos. E também os muros, as noites e a lama. Pois o amor pleno, sincero, jamais aventurará ultrapassar os muros. Nem vai querer conhecer o que as noites escondem, muito menos sujar seus pés na lama.
   Bere partiu fazem dez meses. Ficaram suas marcas profundas em mim. E todas elas, marcas que fizeram de mim uma pessoa melhorada, em todos os sentidos. Porque ela era decidida, equilibrada, amorosa, incansável, curiosa, exigente, exata, prática e correta. Uma fera vestida de uma doçura sem limites e um doce de amor puro e doado. O bem em si,na sua essência. Como sou feliz em ter convivido com ela durante 33 anos! O que ela me acrescentou, nem em 66 anos teria conseguido sozinho.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - Negócios de Antigamente




Negócios de Antigamente

Era uma vez o tempo em que não existia dinheiro na colônia. Isto foi bem antigamente, quando as pessoas plantavam de tudo e o que lhes sobrava era negociado no armazém. Açúcar e sal eram dois artigos que valiam ouro. Os colonos vinham de longe aos sábados à tarde para negociar estes dois artigos, porque no fim de semana tinham que assar uma cuca no enorme forno à lenha, e para tanto, as mulheres principalmente precisavam do açúcar.
Além disto para no Domingo colocar aquele gostoso assado de porco no forno era necessário o sal, pimenta, alho, noz moscada, cebolas, salsa, mangerona e banha. Claro, o colono dispunha de todos estes ingredientes para fazer o gostoso assado de Domingo, mas o difícil era sempre ter a mão o sal e a pimenta.
Muitas vezes os colonos tinham do lado de sua casa um grande galinheiro para criar galinhas e delas ter os ovos somente para trocar no armazém por açúcar, sal e pimenta. Acontecia que as vezes o próprio bodegueiro tinha seu curralzinho cheio de galinhas do lado do buteco, então ficava difícil porque para o colono não sobrava nada para negociar. O que fazer?
Alguns já haviam plantado fumo para fabricar um pouco de fumo em corda, então este era mais um fino artigo para negociar no armazém. E muitas vezes outros colonos negociavam este fumo em corda por farinha de milho ou melado. Um pouco do fumo era para consumo próprio. Mas nestes tempos bicudos, ele não podia se dar ao luxo de fumar todos os dias. Mesmo o colono produzindo seu próprio fumo, só podia se dar ao luxo de fumar  aos domingos. Faziam gigantescos palheiros, tão grandes que o colono precisava um dia inteiro fumando naquele negócio para acabar com ele. Para muitos então, domingos era o dia do fumo.
Em Picada Cabeção tudo também corria como nas outras localidades. Só que lá o bodegueiro não atendia sozinho às pessoas. Consigo em sua ajuda, estava a sua mulher. Uma mulher ranzinza. Melhor dito, uma mulher incrivelmente mal humorada, daquelas de só no olhar já espantar o cliente. Para começar, ela tinha um cabelo seboso tão fino, que era transparente. O mesmo não se podia dizer de seu bigode. Ela tinha uma meia dúzia de pelos grossos e desajeitados sob o nariz, os quais deixavam seu rosto bastante inconfiável. Os vestidos que ela usava sempre estavam por ser passados a ferro, amarrotados e mal cuidados. E seus tamancos eram tão chulezentos, que nem o cachorro se arriscava deitar perto de noite.
Nesta  mesma Picada Cabeção existia a família Hérlich, a qual era muito metódica. Também criavam suas galinhas para ter ovos e trocar por mercadorias. Para o Frido Hérlich levar os ovos até o armazém, sua esposa Alma, os empacotava cuidadosamente para não quebrá-los na viagem. A aparência do balainho era invejável: cheio de papel e no meio dele os ovos amarelinhos de suas galinhas.
Tudo pronto, Frido cavalgou até o armazém num sábado à tarde para trocar seus ovos por açúcar e sal. Quando ele chegou no armazém, descarregou seu balaio cheio de ovos e os levou para dentro. Margerita, a esposa mal-humorada do bodegueiro, novamente de mal com a vida como sempre, levantou o pano do balaio, analisou os ovos, analisou, então disse braba:
-Não posso aceitar estes ovos. Eles não me servem!
Frido, estranhando a reação dela, mas já a conhecendo pelo seu mau humor, respondeu:
- Qual é o motivo de não aceitá-los Margerita?
- Porque os ovos que você trouxe hoje Frido, são muito pequenos para comercializar! vê-se que alimenta mal suas galinhas para porem ovinhos tão mirradinhos.
Mas Margerita estava dizendo isso de ranzinza. Eram ovos normais. Frido sentiu o sangue subir, ficou brabo, então disse: 
- Sua megera! Com certeza se você os tivesse posto seriam enormes como dos perus, mas certamente estariam azedos. 

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Hora da Faxina - Dois Cruzeiros



 Dois Cruzeiros

   Quantos adultos de nossos tempos, anos cinquenta, sessenta, setenta, trabalhou desde criança? Tenho certeza que a maioria vai dizer que sim, que desempenhou alguma atividade, mesmo que não remunerada, quando criança. E se perguntar se achou que estava sendo escravizado por causa disso, certamente todos responderão que não, que a situação assim o exigia. Família grande, sem condições de pagar por serviços que se avolumavam diariamente no meio familiar, obrigava os pais a botarem os filhos no batente.
   Muitas vezes até existia algum pagamento quase simbólico quando se fazia trabalhos para vizinhos. Eu me lembro que era bem criança quando um dia ajudei a carregar lenha para fogão a lenha para dentro, na casa de uma vizinha. Era uma pilha enorme e trabalhamos quase um sábado inteiro pois era para ser guardada arrumadinha e empilhada no porão daquela casa que era alto. No fim do trabalho, recebi uma nota de 2 Cruzeiros, laranja de um lado e azul do outro. 
   Fiquei muito faceiro pois foi o primeiro pagamento que havia recebido em minha vida por um trabalho realizado. E minha tristeza ao chegar em casa e ouvir a mãe dizendo que era para eu guardar aquele dinheiro dentro de minha lata junto com as moedas que eventualmente recebia, para no fim do ano comprar alguma coisa. 
   E neste meio tempo, não lembro direito, houve troca de estampa no dinheiro, algo assim, e minha mãe nem eu lembramos que tinha que tirar aquela nota para trocar por uma nova, porque senão perderia o valor. E foi o que aconteceu. Quando no fim do ano abri a lata para somar as economias, vi a nota que agora não tinha mais valor. Chorei muito, lembro bem, porque foi trabalhoso conquistar aquela grana. Em compensação, guardei a nota e a tenho guardada comigo até hoje.
   Depois, quando nossos filhos chegaram aos dez anos de idade, cada um teve seu dia de trabalho estabelescido, no caso sábados, para ganharem mesada. Uma forma de dar dinheiro a eles responsavelmente, para eles valorizarem o que ganhavam de nós. fosse varrer o pátio, ajudar a cortar a grama, lavar a louça, comprar alguma coisa no supermercado pertinho de casa, varrer a garagem e assim por diante. Todos trabalhinhos não cansativos mas educativos. No fim do dia, o dinheirinho pelo trabalho feito. E a recomendação: "Podem usar seu dinheiro da forma que desejarem. Só tem um detalhe: em nossas férias na praia, o picolé na beira do mar vai sair da mesada que recebem. Portanto, poupem ao menos o suficiente para não ficarem sem picolés nas férias."
   Pois isso funcionou tão bem, que eles aprenderam a poupar, juntar seu dinheirinho para comprarem coisas para eles. Primeiro juntavam para irmos perto do dia das crianças em São Leopoldo, onde tinha uma loja grande da Lego, para comprarem o kit que desejavam para montar. Mas faziam as contas para sobrar para o picolé. E eles cresceram assim, aprendendo a administrar seu próprio dinheiro. Fácil assim.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - O Vereador



  O Vereador

   Na colônia, onde se geraram diversos novos municípios, também trouxeram ao mandato diversos novos e despreparados vereadores. E assim as histórias acontecem.
   Os vereadores simples, que não têm estudo, também aprontam suas histórias. Recentemente aconteceu que um simples vereador foi eleito e ele nunca ainda havia trabalhado com um banco.
   Então, por ele ter chegado lá, e com certeza teria quatro anos rendimentos para negociar através do banco, o gerente lhe ofereceu abrir uma conta e começar a trabalhar com cheques.
   Isto agradou ao novo vereador e em dois dias estava de posse do talão de cheques para tocar seus negócios. A coisa correu bem durante uma semana; ele torrou um talão inteiro, inaugurou o segundo e não carregou mais nenhum dinheiro no bolso.
   Um belo dia, o dinheiro dele no banco estava no fim. Mas ele continuou a tirar cheques. E porque sua conta no banco já estava bastante negativa, o gerente foi até ele em seu gabinete para então falar sobre o assunto.
   O vereador ficou orgulhoso da visita de uma pessoa tão importante da comunidade com o gerente do banco. Então disse:
   - Ó, que belo! O gerente do banco veio me visitar. O que posso fazer por você?
   - Nada! Eu vim procurá-lo para avisar e lembrá-lo que sua conta no banco está negativa e que está faltando dinheiro lá.
   - Não tem problema. - Respondeu o vereador. - Quanto dinheiro falta lá?
   - Três mil e quinhentos Reais. - Disse o gerente.
   O vereador puxou o talão de cheques, atirou-o sobre a mesa e disse: 
   - Sem problema! Vamos fazer um cheque de quatro mil para novamente deixar a conta positiva.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Hora da Faxina - Dando o Fora


Dando o Fora

   Em 1979 conheci José. Era um cara despachado, brincalhão, que sempre estava rodeado de amigos e fazia de sua vida uma festa. Quando o assunto era diversão, ele sempre se fazia presente. Gostava de bailes, ia em todos e trocava de namorada como se trocasse de roupa. 
   Eu também fui seu amigo, ainda sou hoje em dia, mas naquela época tivemos muitos momentos inusitados porque José os protagonizava. Ele trocava de namorada tão ligeiro, que sempre confundia os nomes delas e por isso passou também alguns apertos. Para fixar seus nomes, passava então a fazer as associações mais loucas com objetos, ou o que sua imaginação quisesse para lembrar como chamar a garota atual.
   Dentre as várias garotas, uma de nome Graça ele associou com 'risada'. Então lembrava que seu nome era Graça. Mas numa festinha certo dia, aquelas baladas de sábado à noite, ele foi apresentá-la a um casal amigo nosso e, como já havia bebido todas, não conseguiu mais lembrar o nome dela. Ele a apresentou assim:
   - Meus amigos, esta é... ha, ha, ha... 
   Associando com risada que ele memorizara só que não conseguia lembrar o nome dela. Mas ele continuava a matutar para tentar localizar no seu cérebro tocado pela bebida o nome da moça. E, segundos depois, ele continuou dizendo, tentando achar na associação com risada o nome dela:
   - Ha, ha, ha... - Pensativo: Que graça!
   A garota ouviu o nome Graça e terminou por se apresentar. Eles nem notaram o sufoco do José que saiu pela tangente sem querer.
   Aconteceu que numa certa altura, no meio de todos estes rolos do José, ele teve uma paixão fulminante pela frentista de um posto de gasolina de Scharlau quando abasteceu lá o seu Corcel 72, e a frentista de nome Nanci também se apaixonou na hora por ele. Inexplicável. Aquilo de se olharem e selarem paixão. Já marcaram encontro, e já começaram a namorar naquele sábado enquanto tomavam uma cuba libre num dos tantos bares da Rua Grande em São leopoldo. 
   Até aí, tudo normal, são coisas da vida. O problema é que José tinha uma namorada em Harmonia, a qual visitava regularmente nas tardes de domingo. E agora? O que fazer? José não teve dúvidas. Contou a real para a 'não-sim' como a guardou na memória para não esquecer seu nome. Nanci, nem se abalou com o fato. Disse:
   - Já que me convidou para irmos à reunião dançante amanhã de tardezinha lá em Tupandi, passamos antes na casa dela e você dá o fora nela. Eu espero escondida no carro.
   José não teve dúvidas. Aceitou prontamente a sugestão já que iriam mesmo passar na frente da casa da namorada atual. Mas, como agir?
   Chegou o domingo. José buscou Nanci no meio da tarde e foram juntos até Harmonia. Ele estacionou o carro um pouco adiante da frente da casa da namorada. Tinha uma lombinha pra subir e chegar até sua casa. Nanci se abaixou no carro pois a namoradinha de José o esperava na área da frente de sua casa, toda cheirosa e arrumada.
   Ele chegou, ela o beijou, abraçou, falou de saudades e convidou para entrar, para comerem um pudim de morango e coco que ela tinha feito para esperá-lo.
   Ela serviu o pudim, ele aceitou e enquanto estava comendo disse para ela que não mais queria namorá-la. Foi um choredo só da pobre moça. José terminou de comer o pudim enquanto ela chorava, deu um abraço nela e disse que merecia um cara melhor do que ele. Foi. 
   José e Nanci foram até Tupandi e aproveitaram o resto do domingo dançando e se divertindo.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - O Torcicolo



O Torcicolo (tiro de bruxa)

Médicos! ...isto era sempre a palavra mais proibida que nós antigamente ouvíramos. As pessoas sempre se medicavam com plantas e chás, e quando tinham que ir para o hospital, já estavam meio mortas. E geralmente saíam de lá mortas. 
Quando nós éramos crianças os desastres aconteciam e não íamos ao médico. Eu mesmo fui com meu irmão roubar laranjas no vizinho chamado Calsing, e quando eu estava com a camisa cheia de laranjas, caí do galho da laranjeira porque ele quebrou e eu caí e me rasguei um baita buraco na perna. Meu médico foi o meu irmão e que fazia curativos com pomada Springer. E no mês que eu não podia caminhar tive que ficar  na cama, a vó até me ensinou a ler a língua alemã gótica, e até hoje sei ler este tipo de escrita.
Quando alguém queria mostrar que tinha dinheiro, então ia no médico consultar e voltava para casa com uma toiceira de remédios e, principalmente, injeções. As injeções eram aplicadas e isto virava falatório em toda a vila.
O mais importante que podia acontecer numa vila destas era a de um jovem ir para a faculdade e estudar para ser um futuro médico. Mas isto era raro de acontecer.
As mulheres que tinham um pouco mais de dinheiro de vez em quando iam se consultar com o médico. Talvez nem por necessidade, mas status. Mas, quando isto acontecia as amigas esperavam o resultado e logo o espalhavam pela vila. As pessoas todas estavam curiosas com o resultado final da consulta.
E assim aconteceu uma vez num belo dia de verão. Foi com a Cecília um fina e educada mulher, cheia de grau e dinheiro. Um belo dia ela levantou de manhã cedo com um violento torcicolo, que literalmente traduzindo do alemão, é "tiro de bruxa"(Heckseschuss). Ela não conseguia mover a cabeça para o lado que já estralava, e ao mover para todos os lados seu pescoço espetava, assim com se estivesse cheio de agulhas. Um torcicolo daqueles!
  Seu marido então a trouxe  para o Caí a um especialista para ver se ele podia fazer algo a respeito. Demorou tanto para ela chegar na vez que seu marido resolveu sair e tomar uma cervejinha enquanto ela era atendida. E ele realmente foi.
Tinha uma meia dúzia de pessoas para serem atendidas antes da mulher, todos tendo pago uma consulta gorda e todos estavam esperando. O tempo aos poucos foi passando, e de repente ela foi chamada:
- Cecília Molles! ... Cecília Molles está na vez da consulta! 
A mulher levantou num salto e logo ela foi até o quarto junto do doutor, cabeça pregada, sem mover.
A conversa rolou em alemão:
- o que aconteceu? - Perguntou ele. Ela respondeu:
- Eu tenho um torcicolo (tiro de bruxa) aqui no canto do pescoço e ele me espeta como se estivesse uma vespa ali alojada!
Então o doutor mandou ela tirar o vestido e deitar de bruços sobre a cama para examiná-la. Quando ela estava ali deitada, meio pelada, só usando aquela calcinha feita de saca de farinha de trigo, o doutor começou a apalpá-la ao redor do pescoço onde ela se queixou de dores. Apalpa aqui, apalpa ali, e a mulher se repuxava com as agulhadas que sentia. 
Só que Cecília havia comido na véspera muitos rabanetes em conserva, e as tripas começaram a procurar aliviar os gases. Não teve outro jeito: teve que largar um pum bem espraiado que já a incomodava há tempo: "bréétsch!" fez. O doutor começou a rir e disse para a madame:
- Pronto! o tiro já temos! Agora só falta a bruxa!

Hora da Faxina - Falar Através da Flor




Falar através da flor

O que significa isto?
Significa manter uma conversação com outra pessoa diante das crianças e falar palavras 'floreadas' (que tem outro sentido) na conversação para as crianças não entenderem o sentido do que se quer dizer.
Antigamente era bastante comum que, principalmente as mulheres sentavam juntas, na metade da tarde, tomando um chimarrão ou um mate doce, e falavam sobre tudo. Então também aconteciam as conversas sobre doenças, sobre sexo, sobre adolescência, sobre a primeira menstruação das meninas, sobre superstições, sobre fofocas, sobre conjecturas e sobre a vida da vizinhança.
E porque as crianças pequenas tinham que ser cuidadas pela mãe e pela avó, elas tinham que ficar sentadas junto na rodinha de conversação das adultas, as mulheres. Então, naquela época, no meio das famílias de língua hunsrickisch, elas criaram uma forma de se comunicar que chamamos de: falar através da flor. Dizer palavras floreadas. Era assim:
Para as palavras terem sentido na conversação, as pessoas tinham no meio da conversação também alguns gestos de mímica. Mas, somente na conversa também já se podia imaginar o que tudo queria significar.
Um exemplo de conversa através da flor na frente das pequenas crianças enquanto o chimarrão corria:
- Irma, você pode não me acreditar mas a Lori já 'está amarrando o boi!'
(Para se entender o verdadeiro sentido: "Irma, você pode não me acreditar mas a Lori já está deixando de menstruar!) - Disse a Cecília para suas amigas enquanto tomava o chimarrão com a Agnes, a Leonila, A Catarina e a Maria. Leonila respondeu debochando:
- Isto é certamente porque o 'pasto verde em seu paiol acabou!'
("Isto é certamente porque seu marido não transa mais com ela!")
Todas riram. A Agnes disse:
- Eu acho que é mais 'porque a Lori não gosta de comer moranga!'
("Eu acho que é mais porque a Lori é muito gorda!")
Novamente gargalhadas. Então, um tempinho ficou tudo quieto, até que duas ou três tomaram seu mate, então a conversa se estendeu para doenças e fofocas. Leonila começou:
- O marido de Marlene Sauer 'entrou na plantação seca porque ele se envolveu na lama.'
("O marido de Marlene Sauer foi à falência porque se envolveu com prostitutas").
Todas as mulheres se admiraram. Agnes achou:
- Ué, ele sempre 'estava plantando tanto milho com sua mulher em todos os sentidos... ...quase não dá para acreditar de que ele teve que se envolver na lama.'
("Ué, ele sempre estava todo carinhoso com sua mulher em todos os lugares... ...quase não dá para acreditar que ele se envolveu com prostitutas!)
- Mas vocês precisam entender que ninguém sabe mais do  que 'o bonequinho de pelúcia'.
("Mas vocês precisam entender que ninguém sabe o que acontece entre quatro paredes").
Isto foi dito pela Catarina. Logo a Agnes palpitou:
- Vocês sabiam que a mãe da Clara, a Ana, 'que ela encontrou mordidas de escorpião no fim do cano?'
("Vocês sabiam que a mãe da Clara, a Ana, tem câncer no reto?")
- Coitada da mulher! - Palpitou a Leonila. - Então ela já certamente bem ligeiro irá 'até às tábuas de madeira'!
("Pobre da mulher! - Palpitou a Leonila. - Então, certamente ela irá morrer ligeiro").
- Não! - Respondeu a Catarina. - Dizem por aí que a mulher 'está tomando chá químico'.
("Não! - Respondeu a Catarina. - Dizen por aí que a mulher está fazendo tratamento com quimioterapia").
- Isto pode novamente levá-la de volta à roça. - Opinou a Cecília.
("Isto pode novamente fazê-la saudável. - Opinou a Cecília").
Maria trocou de assunto:
- Lá em casa tudo anda entre engrenagens sem lubrificação. Meu marido está trabalhando como um boi, mas os dentes da engrenagem pressionam tudo.
("Lá em casa tudo anda em dívidas, sem dinheiro. Meu marido está trabalhando como um boi, mas estas dívidas pressionam tudo").
- Ó Maria, existe aí uma saída: vai até o reservatório de óleo e encomenda óleo o suficiente para que as engrenagens facilmente comecem a andar. - Disse a Leonila.
("Ó Maria, existe aí uma saída: vai até o banco, faça um empréstimo o suficiente para que tudo novamente corra normal¨).
No tempo inteiro as crianças ficavam sentadas junto, tomando mate doce e não entendendo nada da conversa. Sim, isto era porque as mulheres falavam através da flor. Bons tempos!!!

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Culinária: Receita de Massa de Forno



RECEITA DE MASSA DE FORNO:

INGREDIENTES:

500 g de massa (qualquer tipo. Até com massa tipo tubo, conchinha ou parafuso também fica bom)
500 g de carne moída primeira
1 cebola grande
1 tomate grande
1 colher de colorau
sal e pimenta do reino a gosto.
1 fio de óleo
Margarina para untar a forma.

COBERTURA:
100 g de queijo mussarela
12 rodelas de salaminho italiano (salamito, dá uns 60 g)
1 cebola pequena
couve-flor e brócolis para enfeitar.

PREPARO:
Prepare a carne moída com óleo, cebola e tomate + temperos como se fosse para canudinhos ou pastel. Enquanto isso ligue o forno em 220 graus para ir aquecendo. Cozinhe a massa normalmente, em água, sal, fio de óleo e orégano.
Escorra a massa. Unte uma forma refratária redonda 30cm com margarina, coloque a massa, cubra com a carne moída. Corte o queijo fatiado em largos pedaços e faça um desenho sobre a carne como se fossem raios de uma roda.Nos vãos que ficam, enfie em cada um uma rodela de salamito. Depois adorne com rodelas de cebola, brócolis e couve-flor. Leve ao forno por 20 minutos.
Rende 4 a 5 porções se só servir este prato e 6 porções com acompanhamentos.