sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Hora da Faxina: Afinidades



Afinidades

   É tão interessante a maneira como acontecem afinidades com certas pessoas em nossas vidas. Simplesmente têm pessoas que nascem para num determinado momento cruzarem nossas vidas, entrarem nelas e começarem a fazer parte, numa totalidade de interesses e complementos indescritíveis. Dali surgem amizades que vão para toda a vida, surgem parcerias que fazem ambos crescer, surgem somas, complementos, que fazem surgir coisas ou sabores novos, maravilhosos, fazendo também com que os dois evoluam. Surgem também relacionamentos amorosos, os quais vão durar uma vida inteira.
   É incrível este sentimento. E ele não oferece escolha. Ele acontece. De um dia para o outro encontramos pessoas em nossos caminhos que vão ser estes elementos indescritíveis, pois nos fazem bem, a gente gosta da companhia e tem sempre o desejo em fazer esta pessoa ir bem, seguir em frente para melhores oportunidades e resultados. Pessoas assim também são importantes para nós, pois se nós temos este desejo, eles ou elas também tem este desejo em relação a nós.
   Do mesmo jeito, entram pessoas em nossas vidas com quem não conseguimos ter empatia. Sua presença nos faz mal, a gente não vê a hora de se afastar destas pessoas. Mesmo que não tenham feito nada, não tenham nada de errado, elas nos fazem ter sentimentos de rejeição. As pessoas geram desconforto, a gente até não trata bem, porque não consegue alimentar um bem-estar junto com estas pessoas, ou desenvolver uma simpatia nesse contato.
   E a vida é muito pródiga, pois nos apresenta muito mais pessoas por quem desenvolvemos simpatia do que pessoas que nos causam desconforto nos contatos. A verdade é que nossas atitudes geram aproximações. Boas ou ruins. E mesmo a gente não querendo, fica sempre envolvido com estes contatos. Porém, o mais importante é a gente poder somar alguém em nossa vida e a partir dali, criar um vínculo único de amizade, que vai se solidificando e criando uma estrutura que faça ambos crescerem. E é maravilhoso ter um sentimento de amizade profundo por algumas pessoas mais próximas a nós, afinal, nossa vida é construída em cima de altos e baixos, onde neste meio, as amizades são o cimento que fazem esta estrutura não abalar. 
   Tenhamos muita afinidade com muitas pessoas! Faz bem e nos mantém firmes quando mais precisarmos de amparo.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A Hora da Faxina: Envelhecer com Qualidade



 Envelhecer com Qualidade

   Chega um momento na vida das pessoas onde nem tudo é mais tão dinâmico e fácil como foi há pouco tempo. E não existe uma idade certa para se dizer quando a pessoa está velha. Depende muito de cada um. O fato é que dificilmente esta idade não é acompanhada de óculos, alguns pivôs e remédios diários. 
   Estas são formas físicas de dizer que o organismo não é mais o mesmo e que ele precisa destes acessórios. Algumas pessoas, além disso ainda precisam de outros recursos para andar para dentro da velhice. Mas o que todos almejam mesmo, é envelhecer com qualidade. Caminhar no mundo dos netinhos com qualidade para compartilhar suas vivências é muito gratificante, pois o próprio andamento deste modo de viver faz o idoso se sentir menos velho.
   Mas, como se envelhece com qualidade?
   Parece uma pergunta difícil de responder. Mas foi justamente um amigo meu, na altura de seus 86 anos de lucidez, sabedoria e qualidade de velhice quem me deu esta resposta em apenas uma frase:
   - "Só realmente envelhece quem tem medo de acompanhar a tecnologia!"
   Ele é o tipo moderninho, conhece até whatsapp. Pra ele pendrive é um velho conhecido seu, e marcar passagem aérea para Portugal onde moram suas filhas via internet é brincadeira de criança. Ainda dirige seu carro com o cuidado de um garoto de dezoito anos que a recém começou a dirigir e seu conhecimento sobre história e geografia universal é invejável.
   Mas a frase que ele me disse ficou me martelando na mente. Comecei a singrar meus amigos velhos e seus acertos ou desacertos com a tecnologia e eis que descobri a grande verdade na frase profética deste meu amigo. Afinal, relembrando o comportamento das pessoas eu consegui formar um mapa de velhos acabados e velhos entusiastas. O que os diferenciava? Justamente a tecnologia. Aqueles que viam o computador como um bicho papão e ainda usavam máquina fotográfica de filme, justamente eram os que tomavam mais medicamentos e mais frequentavam médicos. 
   Por outro lado, amigos e amigas que tinham seu telefone de tela sensível, que levavam seu tablet junto nas viagens às termas e que compravam vinhos finos via internet, justamente eram pessoas saudáveis, com ânimo nos altos de sua velhice e que tinham gosto em compartilhar suas histórias com quem perguntasse ou quisesse ouvir. E mais: faziam hidroginástica, pilates, e não abriam mão de um copo de vinho ou uma lata de cerveja por dia. Misteriosamente estes velhos não contraem Parkinson ou Alzheimer, tem memória privilegiada e dão prazer em sua companhia porque não vivem se queixando de problemas de saúde. Ninguém gosta de ouvir só queixas.
   Eu já sei o que fazer para continuar caminhando em minha vida com qualidade: ser curioso e tentar sempre aprender com as novidades que vão surgindo. Comprovei a lição do meu amigo e agora também almejo chegar aos 86, se tiver esta graça e privilégio, dando aula de conhecimento e mostrando saúde e vitalidade. Não tenho medo da tecnologia e vou ter sempre as novidades em meu uso diário. 
   E você? Já descartou sua máquina fotográfica de filme? Tá na hora. O tempo não perdoa.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A Hora da Faxina - O Suicida Covarde





O Suicida Covarde

Conheci quando criança um cara, que tinha crises psicóticas e nestas crises, tinha sentimentos suicidas. Mas era um suicida patético porque não tinha coragem em se matar. Somente arranjava o cenário completo para amedrontar todos ao seu redor, mas o desfecho de sua intenção nunca acontecia. Eu era criança na época, mas convivi com estes seus momentos porque ele era casado com uma parente nossa e portanto, era amigo do meu pai. E meu pai sempre dizia que ele nunca iria se matar porque era muito covarde para isso.
Uma destas cenas que ele protagonizou foi em Harmonia, lugar onde eu morava e por onde também passa o rio Caí. Só que lá o rio faz uma curva de quarenta e cinco graus, bem dizer um cotovelo, barrado por um paredão de basalto de mais de quarenta metros de altura. E ali, nesta curva as águas são profundas e várias pessoas já morreram afogadas presas entre os galhos das árvores que foram se avolumando em seu poço. E justamente em cima daquele paredão certo dia o José (nome fictício) foi fazer acampamento para uma hora se decidir jogar lá de cima para a morte. Ficou uma semana inteira com sua psicose corroendo seus miolos, criando coragem para se jogar lá de cima. Parentes dele levavam comida e água para ele lá, já que se negava a sair dali. E toda vez em que alguém chegava lá com ele, se posicionava perigosamente na beirada do perau ameaçando se jogar. Mas sem coragem, não se jogou. Depois daquela semana, com ele dormindo no relento, sem banho, sujo fedendo, chamaram meu pai para tentar dissuadi-lo da ideia de se jogar lá de cima.
E meu pai conseguiu mudar a ideia dele, voltando junto com ele até nossa casa, tomando um banho e pegando roupas emprestadas do pai para se vestir. No dia seguinte foi embora e voltou aqui pro Caí, onde ele morava. Durante meio ano, era verão, ele ficou normal, seguindo sua vida. 
Eis que no inverno, friozão, ele veio visitar meu pai. Como sempre passou a noite conosco, com sua tosse asmática e seus roncos leônicos, acordando a todos nós, crianças, temendo que ele viesse nos amedrontar. No dia seguinte levantou, tomou café e pegou o ônibus para voltar ao Caí. Na época a travessia era feita na barca que havia. O ônibus desembarcava os passageiros na barranca do rio e seguia viagem até Montenegro. José estava entre eles. Quando todos estavam sobre a barca ela foi puxada para a outra margem no braço de 4 homens que puxavam com paus que tinham um corte, encaixando num cabo de aço que atravessava o rio entre margens e assim deslocavam a barca. 
Chegando no meio do trajeto, rio de águas sujas, havia chovido, José tirou primeiro seu sobretudo, dobrou e colocou no piso da barca. Depois tirou seu chapéu de feltro e deitou de cabeça pra cima sobre o sobretudo. Tirou o óculos fundo de garrafa, era míope, dobrou e colocou dentro do chapéu. Então, olhando para a torre da igreja matriz, abanou e gritou:
- Adeus meu São Sebastião do Caí!
E, tchibum, se atirou nas águas barrentas afundando que nem um saco de batatas. Um barqueiro vendo isto, largou a madeira e se atirou atrás do homem naquelas águas geladas, trazendo-o de volta para a barca. Os dois tiritando de frio, o barqueiro deu um tablefe na cara do José e gritou irado:
- Da próxima vez em que se jogar não o salvo mais, vou deixá-lo se afogar.
E José, choroso reclamou:
- Mas era isso que eu queria!
E o barqueiro berrou de volta:
- Então faz isso um dia sozinho e não numa barca cheia de gente!

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - Os Chifres



Os Chifres

Ser infiel no casamento é algo que acontece muito mais do que a maioria das pessoas imagina. Antigamente era algo inerente aos homens casados. Eles traíam as mulheres, as vezes até diante de seus olhos, e para criarem os filhos no sistema de harmonia, toleravam e viviam sob a traição sem dizerem nada. Eram sempre mulheres tristes, as quais muitas vezes adoeciam fazendo seus maridos gastarem bastante com médicos em sua recuperação.
Mas hoje em dia as coisas não são mais bem assim. Existem certas mulheres que traem muito seus maridos. Muitos homens vivem a vida inteira e não têm noção de que a mulher está fogueteando por aí. O marido está no emprego, se mata trabalhando, e a mulher deita em sua própria cama com outros homens.
Traições ocorrem hoje em dia mais ou menos do mesmo jeito na cidade como no interior. Talvez até as mulheres do interior estejam fogueteando mais que as da cidade.
Então aconteceu numa cidadezinha perto daqui. Havia um casal já casado há vários anos, tinham 4 filhos grandes criados entre quinze e vinte anos. A mulher tinha quarenta anos de idade. Mas, se passava com todos os homens. E seu marido já sabia disso há tempo, mas por ser muito apaixonado por ela, achava que não conseguiria viver sem ela. Os anos e os dias andaram, a mulher traindo e ele aceitando.
Porém, chegou o dia em que sua esposa o traiu com o melhor amigo. Isso foi demais para ele. Ficou numa dor muito profunda pelo ato em si. Ele ficou sem rumo.
Então ele foi até a casa do cunhado para se queixar. Talvez ele pudesse ajudá-lo já que estava sendo traído pela sua irmã.
Quando ele chegou na casa do cunhado, o mesmo estava lá fora parado na área. O coitado do traído, chorão, chorava como uma criança. Então o cunhado perguntou:
- Ué Willi, tá parecendo um miserável! Vem, vamos entrar em casa, faço uma água com açúcar pra você, então me conta o que está acontecendo.
- Não posso entrar Lando! - Respondeu o choroso Willi. - Meus chifres estão tão grandes que não consigo atravessar a porta. Me trás a água com açúcar aqui fora mesmo.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A Hora da Faxina - A Mala





 A Mala

   Pois é, como dizia Carlos, um amigo meu, a respeito deste apetrecho tão necessário para viajar: 
   - Há malas que vem para o bem. A gente sente sua falta verdadeiramente quando é extraviada na conexão e você chega no destino somente com a cueca do corpo. Então se dá conta, quando vai no banheiro, que ela está com um freio tão grande que parece que parou de repente, quando o pum estava a cem por hora.
   Eu achei muito engraçado, apesar do momento aflitivo de meu amigo. Então perguntei:
   - E como resolveu o problema? Recebeu a mala de volta?
   - O jeito foi ir à loja e comprar ao menos três cuecas novas já que a companhia aérea deixou informado no hotel que em três dias teria minha mala de volta.
   - Foi o que fez? - Perguntei. Carlos respondeu:
   - Não no mesmo dia. Já era passado das 22 horas quando cheguei no hotel, não tinha mais loja aberta. As lojas lá na cidade fecham às 22 horas. O jeito foi tomar um banho bem demorado, gastar meio sabonete daqueles amostra de hotel na bunda para assear e aliviar o assado que deu e vestir só o pijama. Gastei o resto do sabonetinho tentando lavar para 'destravar' a cueca mas ficou aquela linha ali, me acusando de mal asseado. - E arremedou: - Eu juro que nunca mais compro cueca branca. Daqui pra frente todas vão ser marrons!
   Tive que rir alto desta vez. Carlos sempre foi assim: direto, sem papas na língua. E enquanto eu ria ele continuou:
   - Vai rindo! Um dia vão também extraviar tua mala no aeroporto. Aí eu vou rolar em cima do teu azar! 
   - Desculpe Carlos, mas do jeito como contas as coisas é muito engraçado. Fico imaginando a cena hahaha. 
   Ele continuou:
   - Por falta de cueca ainda passei uma noite horrível. Acordava toda hora, sentindo como meu pintinho estivesse dormindo no relento, sem casinha, desacomodado.
   Eu comecei a rir desenfreadamente. Carlos era muito engraçado. E ele, olhando sério para mim, esperou eu parar de rir para continuar falando:
   - Faz um dia a experiência você também, para ver como é estranho dormir só de pijama, sem cueca!
   Quando me acalmei, estava com a barriga doendo de tanto rir, perguntei:
   - Então, foi no dia seguinte comprar cuecas?
   - Sim, disse ele. E uma muda de roupas vagabundinha para não gastar muito. Não podia aparecer todo dia no hall do hotel com a mesma roupa né? Os hóspedes não sabiam que haviam extraviado a minha mala e eu não queria começar a dar explicações por estar com a mesma roupa todo o dia.
   - Verdade! - Disse eu. - E encontrou roupa baratinha?
   - Sim! Mas cuecas baratas só encontrei vermelhas. Fazer o que? O jeito foi exagerar na salada de beterraba para se caso ocorresse novo acidente não ficar tão na vista.
   Novamente tive que rir. E Carlos continuou sério. Eu já com pena dele, mas ainda rindo disse:
   - Bom, pelo menos no terceiro dia da viagem recebeste tua mala de volta?
   - Recebi sim! - Respondeu. E eu, debochando disse:
   - Deve ter sido um encontro e tanto, afinal, tu e a mala novamente se encontraram, depois de uma separação forçada.
   Ele respondeu acabrunhado:
   - Mas foi a mala errada. Só tinha 5 vestidos, um pacote de absorventes, dez calcinhas e um par de tênis com as meias colocadas dentro deles. Fui olhar na etiqueta o nome e lá estava escrito: Carla S. Confundiram comigo. Então eu fiquei imaginando o que esta tal de Carla S deve ter pensado de mim ao abrir minha mala e ver que além de minha roupa estava lá junto meu ursinho de pelúcia.