sábado, 27 de dezembro de 2014

Hora da Faxina: Ruídos e Burburinhos



Ruídos, Burburinhos

   É incrível como a natureza fornece ruídos para nós de onde tiramos prazer. Sim, aos nossos ouvidos não são só melodias e canções que nos dão prazer, aconchego, sabor, recordações, enfim, um mar de sensações diferenciadas para cada tipo. O mesmo acontece com o ruído. Ruído pelo seu próprio nome já parece algo ruim. Não sei por que, mas o nome me soa áspero, difícil de digerir. E se a gente for ver a origem do termo, ruído vem do latim e significa rugido, ou seja o barulho que um animal faz quando está brabo, com fome, ou acuado. Um ruído mais leve seria rumor. Algo tipo como burburinho, algo provocado por aglomerações de pessoas ou animais.
   Um burburinho também pode ser muito agradável. Por exemplo, de manhã cedo quando acordo e ouço o burburinho da imensidade de passarinhos dando boas-vindas à natureza, ao dia, ao sol, é algo que soa bem aos ouvidos. Alegra o começo do dia e faz pensar o quanto estes bichinhos irão lutar durante o dia para terem seu alimento, sua água, enfim, sobreviver, para no dia seguinte iniciarem com a mesma cantoria e o ciclo recomeçar. 
   Também o burburinho de crianças na hora do recreio numa creche, como tem uma aqui perto, desperta dentro de mim aquela sensação da continuidade da vida, da sequência de gerações, afinal, ali estão vidas que chegaram há pouco no meio de nós e já estão manifestando sua energia, sua intensidade no relacionamento com outros serzinhos de sua idade, formando um rumor muito agradável de ouvir. Burburinho de crianças é elixir de longevidade. Eu me sinto remoçado ouvindo elas e sentindo o quanto de vida e caminhar tem pela frente, assim como eu um dia fui criança e caminhei até onde hoje cheguei.
   Mas, eu estava falando de ruídos antes. Voltando ao tema, você já pensou sobre ruídos prazerosos? Têm muitos. Alguns não vou citar porque certamente há menores lendo este texto, mas os adultos que me acompanham já sacaram sobre o que estou falando e que dentre estes ruídos muitos intensificam todo o acontecimento em si. Que este acontecimento no silêncio não teria a menor graça. A natureza nos privilegiou com muitos ruídos gostosos. E para mim o mais aconchegante é o ruído do mar. Não existe remédio mais calmante do que ouvir o mar. Claro, se puder vê-lo e ouví-lo ao mesmo tempo, melhor ainda. O mar tem um ruído específico. E a ciência explica: o ruído do mar vem daquelas milhares de bolhinhas que se formam nas brumas das ondas, aquele branco que fica por cima delas. estourando enquanto a onda caminha. É impossível recriar este efeito porque ele precisa de imensidão para gerar o ruído final que se ouve. Então é uma mistura de fervilhar com movimento e finalizar de uma situação que este ruído do mar proporciona. Até hoje não ouvi ninguém dizer que odeia o ruído, o barulho do mar.
   E há o ruído da chuva caindo. Mais um calmante especial que convida ao descanso. Nada é mais gostoso do que ir dormir ou acordar com aquela chuva calma caindo lá fora formando seus caminhos de gotas, depois corredeirinhas, seguindo até as partes mais baixas do terreno e indo embora. A chuva tem um efeito sedativo, calmante, zen. Quem já não teve vontade de voltar a cochilar quando, ao acordar de manhã ouviu aquela chuvinha gostosa tamborilando pelas quebradas do pátio?
   Ruído, sinfonia dissonante que tanto bem faz aos ouvidos.
   

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Um Ano e três Meses sem Bere. Viúvo



Um ano e três meses sem Bere. Viúvo.

   Pois está aí uma data que sempre irá coincidir: a véspera do Natal e a contagem do tempo da falta de Bere em minha vida. Somente são datas, mas que marcaram e não tem como não lembrar. Há 15 meses Bere se despediu na véspera, pois no dia da derradeira viagem para a eternidade não falou mais. Na véspera, ela ficou longamente sentada no vaso não dizendo nada e olhando o nada. Ela quis minha companhia e fiquei com ela neste tempo todo, neste seu limbo, mas eu estava preocupado. Ela nunca havia me pedido para ficar com ela no banheiro. Parecia acuada, cercada pelo seu mundo, desconhecido para mim. E ficou mais de uma hora assim. Eu ansioso, sentindo algo diferente no ar, custei a tirá-la de lá. Depois de muito carinho e conversa consegui convencê-la a sair dali para voltar à cama. Era passado da meia noite. Então, na passagem pela porta que liga o banheiro ao quarto ela parou. Se escorou na moldura da porta enquanto segurava firmemente minhas mãos que a traziam de volta e como num lampejo de memória me olhou e disse baixinho: "Lavar as mãos." 
   Ela nem tinha se tocado, eu a havia despido e sentado no vaso e depois ao tirar, limpado. Levei-a de volta para o banheiro e ela lavou longamente as mãos deixando a água escorrer, esfregando com a pouca força que tinha a espuma do sabonete. Foi mais um tempo ali, como se ela quisesse tirar algo que a perturbava. Eu ajudei a enxaguar, peguei a toalha e sequei suas mãos, vi suas unhas por fazer algo que não era comum nela, e a trouxe de volta para a cama, ajeitando-a confortavelmente para que a noite fosse tranquila.
   Apesar de ela me dar a impressão de meio anestesiada ela parecia bem. Quando a cobri com o edredom, fui para beijá-la, mas parei no meio do caminho porque ela abriu os olhos e seus lindos olhos negros me encararam com a sua alma. E nos fitamos. Longamente. Foi a última vez. Tive a impressão de que naquele olhar que me estudava, ela fez uma retrospectiva inteira de nossa vida em comum, o que durou pelo menos uns dez minutos sem falarmos nada, somente a química do olhar e no fim, apertou os olhinhos como se estivesse dizendo que o show terminou, cerrando a cortina do palco da vida. Fui, rocei meus lábios com os seus, ela revidou suavemente. Então eu disse: "Dorme bem amor! Eu te amo!" - E ela abriu os olhos pela metade e respondeu num sopro, bem baixinho: "Eu te amo!" - Foi a última coisa que falou.
   Na véspera do Natal do ano passado eu estava literalmente sem noção. Não sabia como reagir, como sentir, como encontrar com a família de Bere pois a ceia estava programada na casa do cunhado. Não sabia me achar, estava perdido, acuado, afinal faziam apenas três meses e eu ainda tinha o toque de pele de Bere em meus sentimentos. Para todo o lado que olhava via algo de Bere e meus olhos já marejavam, pois o vazio que sentia estava me sucumbindo. Todo o pensamento que tinha me remetia aos presentes que Bere não daria, onde boa parte já estava comprada, aos abraços que não daria, ao beijo de amor que não receberia, ao olhar faceiro dela ao ver minha reação depois de abrir o presente recebido dela, às palavras doces da felicidade em ter a família reunida e isto gerava um vazio maior ainda, sem tamanho em mim.
   Foi então, que através do chat do facebook, uma pessoa de luz me chamou. Do nada. Parece que até pressentiu meu momento, minha necessidade de falar com alguém, de eu botar pra fora minhas aflições. Conversas intermináveis, onde choramos juntos, mas logo em seguida, onde as palavras de conforto encontraram em meu ser a força e a vontade de não chorar na comemoração do primeiro natal em família sem a companhia de Bere. E não chorei. Chorei antes, muito, incontrolavelmente, de tardezinha, quando fui levar um buquê de rosas para ela no cemitério, exatamente do mesmo jeito como vou fazer hoje. Ela ganhou rosas. Amava ganhar rosas. Mas deixei meu choro lá, no cemitério.
   E logo depois que publiquei meu texto de saudades na época, onde mais pessoas reforçaram sua intenção em me amparar neste mesmo chat. Nasceram amizades novas, nasceram laços de ternura que agora vão completar um ano, e me questiono ao quanto um ser humano pode se apegar a relações de solidariedade, de ajuda, de parceria. E chego à conclusão de que este é um dos sentidos da vida. Pessoas entram em nossas vidas para somar o que tivemos subtraído sem questionarem esta matemática. Somente querem nos ver felizes. E destas somas surgem laços de família inexplicáveis, onde gerações se encontram, onde objetivos se concretizam e onde pessoas do bem vivem um mundo de verdades, que nasceu justamente num momento de dúvidas e angústias.
   Hoje chego à conclusão de que teve a mão de Bere neste momento de maior sensibilidade. Ela em seu plano deve ter sofrido com meu mundo sem rumo que estava me sufocando. E achou um meio de me confortar, uma solução. Como sempre foi o jeito dela de ser.
   Comigo foi assim. E graças a este apego para amainar minha dor, a dor da perda, em encontros e palavras positivas com pessoas até então desconhecidas, posso neste natal comemorar o primeiro aninho de relacionamentos de muita amizade, de ternura, de parceria e entendimento, onde o que impera, o mais importante, é o bem estar de quem gostamos. Feliz Natal!

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   O presente de Natal que Bere ganhou este ano: Buquê com 1 rosas amarelas pelos dois anos de namoro, 31 rosas vermelhas pelo 31 anos de casados e uma rosa branca, por ter partido há mais de um ano.





quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Culinária: Torta Salgada de Biscoito (Bolacha) integral




    Então vieram as festas  de fim de ano e você vai receber visita. Gostaria de fazer diferente e não comprar aquele peru, aqueles risoles, aquela torta salgada da padaria? Aqui o passo a passo para você montar uma torta de biscoito integral, todos podem comer e vai ser muito elogiada. O custo final dela não é dos mais baixos, no dinheiro do natal de 2014 fica em  torno de 40 Reais. Mas rende em torno de 30 fatias.


TORTA DE BISCOITO INTEGRAL


INGREDIENTES:
Para o frango:
2 peitos de frango (1 kg desossado e sem pele)
1 cebola grande
1 tomate sem pele (descasque em tira e reserve a pele para fazer uma rosa)
4 dentes de alho
1 colher de molho shoyo
1/4 de xícara de óleo
350 g de palmito de palmeira real  ou açaí da Hemmer(um vidro)
100 g de champignon
sal e pimenta a gosto.




PREPARO NA VÉSPERA:
Pique o frango em cubinhos e reserve. Pique a cebola miudinho e coloque em panela com o óleo em fogo alto.




Deixe ela sozinho cozinhando até secar e  começar a fritar.




Acrescente o frango e o tomate e coloque água até cobrir. Deixe cozinhar até secar, a cebola e pegar cor. Coloque mais 




uma vez água até cobrir. Acrescente o molho shoyo, sal, pimenta e o alho. Deixe cozinhando até quase secar, deixando 








molhadinho.

Retire do fogo e com martelo de bife  ou socador de  feijão triture na própria panela batendo o frango até virar 





desfiado. 

INGREDIENTES PARA A TORTA:
1 pacote 400 g de biscoito salgado integral (eu uso Parati)
1 pote e meio de maionese (total 750 g) (eu uso Primor)
1 sachê de sazon amarelo ou meio caldo de galinha

PREPARO:
Primeiro dilua um sachê de sazon amarelo ou meio caldo de galinha em meio litro de água quente. Deixe esfriar.
Misturar um pote de maionese ao frango, o palmito e os champignos fatiados, fazendo uma massa homogênea. Ela não deve 

ficar pastosa, deve ficar da textura da maionese. Reserve o outro meio pote para a cobertura. Numa fôrma faça uma 




camada fina do frango. Passe cada biscoito no caldo de galinha ou sazon e vá colocando lado a lado até cobrir a camada de frango. 




Coloque outra camada da massa de frango, outra de biscoitos e vá montando a torta. Geralmente sobram de 3 a cinco biscoitos do pacote inteiro.





A última camada deve ser de biscoitos.
DICA: Se caso seu molho ficou mais salgado do que esperava, não passe os biscoitos em caldo de galinha. Monte a torta com eles secos mesmo. Fica mais crocante, mas o sabor não é o mesmo. Ou caso queira, pode também passar só na água.




INGREDIENTES PARA A COBERTURA:
100 g de apresuntado fantasia
100 g de queijo lanche fatiado
um lado de pimentão vermelho
A casca de um tomate pequeno
meio maço de salsa e cebolinha
100 g de palmito de palmeira real picado miudinho
100 g de frutas cristalizadas
100 g de uva passa

PREPARO: 
Pique todos os ingredientes bem miúdo e misture. Cubra a torta com meio pote de maionese do inteiro que reservou e 




polvilhe o picles por cima até a metade. A outra metade cubra com a uva passa e frutas cristalizadas. 



quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Hora da Faxina - Kerb de Harmonia



Kerb de Harmonia

   Antigamente na colônia alemã o Kerb era um dos mais importantes eventos para a família devido à intensidade deste acontecimento. Mas o que é Kerb? Traduzindo literalmente para o português significa "cestos". Ou seja, é uma forma figurada de significar fartura, pois antigamente os colonos juntavam sua colheita em cestos para transportar até a carroça ou até o paiol onde armazenavam esta produção.
   Juntamente com o padroeiro, em sua comemoração, se fazia o Kerb, ou seja, uma festa com todos os parentes que vinham de longe para comemorar com a família em Kerb a fartura da colheita daquele ano. E era uma loucura a fartura de comidas e as comilanças que duravam três dias, de sábado até segunda, quando então na terça os parentes iam embora.
   Na vizinha cidade de Harmonia, onde nasci e vivi minha infância não era diferente. Apesar de o pai ser o contador da Cooperativa, ele respeitava a data e fazia a festa do Kerb mesmo não sendo colono, pois vinham parentes até da Argentina para comemorar conosco. Haviam enormes dificuldades para armazenar a comida pois não se tinha geladeira, e alimentar um monte de gente com três refeições diárias durante três dias era uma tarefa gigante. A carne era conservada no meio da banha em latões de 20 quilos. Assim, na hora de fazer ela ainda estava em perfeitas condições de uso. Fora as galinhas que eram sacrificadas antes de cada almoço ou jantar para completar o cardápio. Batata inglesa e aipim era enterrado dentro de uma caixa de areia seca, abrigada, também para se conservarem. Assim se viravam.
   No evento também eram consumidos cerveja e refrigerantes, que eram resfriados dentro do tanque que ficava na área nos fundos de casa, do lado da cozinha, pois a água que saía da fonte que jorrava eternamente ali, era fresquinha deixando a temperatura da bebida mais agradável. 
   De noite para dormir era um sufoco: juntavam todas as mulheres em um ambiente, os homens em outro as meninas em um terceiro, e os meninos em um quarto ambiente. Tudo funcionava assim, simples e prático. Mas, meus irmãos e eu sempre tínhamos receio daquele primo da Argentina que tinha incontinência urinária e mijava toda noite na cama. E tínhamos que dormir com ele.
   O Kerb em Harmonia sempre é no segundo fim de semana de Maio. E, com o passar dos anos a festa da família no Kerb começou a decair pois muitos deixaram de trabalhar a terra. Então o evento ficou marcado com bailes nas três noites. E tradicionalmente a Sociedade de Harmonia faz seu baile de Kerb regado a chopp na segunda de noite. 
   Há muitos anos nós íamos, eu e Bere. Num destes bailes, ao sairmos para vir embora lá pelas três da manhã, estava uma garoa leve, meio fresquinho. Nós havíamos deixado o Passat 74 estacionado longe do salão, logo depois de um arroio que atravessa o centro de Harmonia. Vínhamos voltando de mãos dadas, e quando chegamos perto do arroio, no outro lado tinha um rapaz parado, cambaleando, fazendo pipi dentro do arroio. Bem ali tinha uma luminária. Bere ainda comentou comigo: "Homem é bicho mesmo, faz pipi em qualquer lugar!" Nisto ouvimos um grito e o rapaz caiu para dentro do arroio. 
   O que fazer? Claro, não íamos deixar ele se afogar, o arroio estava alto e com correnteza. Dali onde ele havia caído dava mais de dois metros de altura. E já o rapaz gritou por socorro. 
   Bere disse para eu ir lá ajudar o cara a sair do arroio enquanto ela iria chamar a brigada.
   Eu fui, desci o barranco íngreme e alto e fui atrás do rapaz que aquela altura já tinha sido levado uns dez metros arroio abaixo. Quando cheguei perto, estiquei o braço e ele agarrou firme. Eu disse para me dar o outro também e ele disse chorando que estava com muita dor, que havia quebrado o braço na queda. Viemos caminhando contra a correnteza até perto da pontezinha e antes de subir, vi que ele ainda não havia recolhido o pinto. Disse a ele para fazê-lo enquanto eu o segurei pelos ombros. Depois, escalei aquele barranco barrento me segurando nas poucas coisas que tinha para segurar e puxei ele para cima. Quando já estávamos quase saindo do arroio chegou a brigada e eles ajudaram a sairmos dali.
   Colocaram-no na viatura e o trouxeram para o hospital do Caí. E eu fui até o carro onde Bere me esperava. Eu estava irreconhecível, parecendo ter tomado um banho de lama. Mas salvei o cara.
   Quando cheguei em casa, um banho demorado enquanto Bere preparou um lanchinho para nós e enquanto comíamos rimos tanto deste fato inusitado que chegou a doer a barriga.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Hora da Faxina: Atendimento Preferencial



 Atendimento Preferencial

   No meu modo de pensar, uma das medidas mais solidárias que já foram criadas, é o atendimento preferencial a pessoas em setores onde geralmente filas acontecem. Seja no embarque nos aeroportos, nos caixas dos supermercados, nas entradas de teatro, cinema, shows, seja nos bancos. É completamente justo que uma senhora ou um senhor com criança de colo mereça ser atendido antes porque além do peso da criança em si, muitas vezes ficam irriquietas por estarem aguardando, geralmente no mesmo lugar.
   Ou então, aquela pessoa com uma deficiência física, que tem dificuldades de locomoção, ou mesmo sente dor ao permanecer muito tempo na espera. Assim como os idosos, que com o peso da idade podem se beneficiar com o atendimento preferencial, aliviando suas dores, para serem atendidos dignamente, sem muito ter que esperar. 
   Mas, eu acredito que neste quesito, principalmente idade, tem muito a ser considerado. Existem idosos e 'idosos', convivendo lado a lado com um limite que nossa lei estipulou em sessenta anos.
   Então entra o jeitinho brasileiro. Pessoas 'beneficiadas' pelo destino na aparência lhes conferindo mais idade do que parecem ter, simplesmente entram em filas preferenciais sem terem atingido ainda esta idade. E como todo bom brasileiro, sentem orgulho em burlarem este preceito que visa ser tão humano. Ocorre que muitas vezes as filas preferenciais incham tanto, que o banco ou o supermercado se obriga a aumentar os atendimentos em detrimento dos que não são idosos, para cumprir a lei.
   Pior ainda, são os office-old. Um biscate que apareceu um tempo atrás, onde mediante comissão, pessoas com mais de sessenta anos pagam contas de usuários, fazem transações bancárias, usando a fila preferencial. Nada contra os velhinhos melhorarem sua famigerada aposentadoria com um ganho extra. Mas precisa ser usando o jeitinho brasileiro, passando na frente dos usuários comuns porque tem mais de 60 anos? 
   Algumas vezes assisti a este tipo de atividade por conhecer as pessoas envolvidas e pela quantidade de papéis e afins que portavam para destrinchar no caixa. Então ocupam o atendimento mais de quinze minutos porque tem papelama de mais de 5 clientes e usuários. Um negócio lucrativo para o velhinho e chateante para quem assiste a este descalabro, impotente, já que não existe lei que proíba velhinhos pagarem contas de terceiros. Putz!!! Para mim é uma desconsideração inversa, do mesmo jeito como se eu fosse estacionar numa vaga para idoso ou deficiente. 
   Também acho que nestas filas preferenciais, quem as ocupa, deveria fazer uma autoavaliação sobre a necessidade ou não de ocupar esta fila. Digo isto porque durante estes dias aconteceram dois fatos no banco, enquanto eu aguardava ser atendido. Primeiro, uma jovem senhora estava na fila preferencial. Quando foi chamada, uma senhora ficou indignada e perguntou:
   - Por que entrou na fila preferencial, moça?
   - Porque estou grávida. - Respondeu ela. A senhora continuou:
   - De quantos meses?
   - Quatro semanas. Descobrimos ontem. - Respondeu ela com um sorriso largo no rosto. A indignação ao meu redor foi geral pela atitude da moça.
   Outro dia, estava eu esperando já há mais de 20 minutos minha vez no banco. O caixa preferencial estava bombando. A cada cliente normal, três velhinhos eram atendidos. Haja paciência. Mas, lei é lei. E, mais uma vez ao meu modo de ver, o bom senso não imperou. Chegou junto de nós uma senhora bombada, fita anti-suor amarrada no cabelo, blusinha da adidas branca onde embaixo se via um bustiê remador, daqueles de fazer ginástica e uma legging branca bem apertada, emoldurando todas as suas curvas saradas e bombadas. E por ser branca, já que ela estava usando calcinha verde água também se via o fio dental moderninho, com um desenho de coração dourado no triângulo acima do fio. Ela, impaciente, trocava de pé toda hora. Até que, pasmem, chamaram a próxima pessoa da fila preferencial e era ela!!!!! Todo mundo ficou se entreolhando, até que um senhor falou: 
   - Conheço ela, ela tem mais de 60 anos.
   Putz, mas saradona deste jeito precisa entrar na fila preferencial só porque tem idade?

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Hora da Faxina: Saia Justa




Saia Justa

   Sempre fui carudo. Do tipo de tomar a frente em ações inusitadas que ninguém tinha coragem de fazer pelo simples fato de ficar exposto. A exposição nua e crua das pessoas diante de outras pessoas as deixam inibidas e então travam. Por este motivo, tem inúmeras pessoas com um potencial enorme para desenvolver um sem número de atividades que as deixaria muito felizes e mais realizadas, mas acabam travando justamente no fato de este tipo de atividade colocá-los diante de pessoas ou situações, o que lhes deixaria muito difícil de lidar por causa da inibição.
   Uma pessoa inibida muitas vezes pode ter mais competência em determinado setor que almeja como emprego, preterido por alguém que não tem a mesma capacidade, mas que por demonstrar-se descontraído, 'em casa' como se costuma dizer. Pessoas travadas não conseguem convencer intensamente seus interlocutores, mesmo mostrando um currículo impecável. 
   Por isto é bom estimular nossos filhos desde pequenos a saberem se sair bem num palco, num grupinho de crianças onde possam se sobressair, numa apresentação da escola, na liderança de um jogo ou uma gincana, enfim, nas diversas maneiras que ajudam a criar autoconfiança e com isto automaticamente aprendem a dominar a inibição. Elas crescerão menos ansiosas, mais sociáveis e com muito mais chance de se darem bem na vida.
   Mas, mesmo sendo criado desta maneira, como eu e meus irmãos fomos, há os momentos na vida onde nenhuma prática se aplica a uma situação inusitada. A famosa saia justa. E foi isto que me aconteceu tempos atrás quando fui fazer um depósito para uma empresa no atendimento automático de um banco de nossa cidade. 
   Entrei na fila do caixa de autoatendimento já com o envelope preencido e o dinheiro dentro dele. Havia alguém na minha frente usando a máquina e no recinto se encontravam diversas pessoas. Atrás de mim se posicionou um casal conhecido meu. Nos cumprimentamos e cada um ficou na sua posição esperando a vez de usar o caixa. De repente ouvi o marido cochichando para sua esposa, num tom de voz numa altura proposital para eu ouvir: 
   - Vai, fulana, diz agora para o Pio o que falaste no domingo de manhã durante o programa de rádio dele lá em casa!
   Notei que ela ficou sem jeito pois começou a se remexer, respondendo num tom baixo, mas também audível: 
   - Fulano, aquilo foi brincadeira! Não é hora para tocar neste assunto.
   Eu fiquei acompanhando tudo com a orelha de pé. Ele, o marido então me cutucou. Virei para trás, ao que ele falou para a esposa dele: 
   - Tá aí, bem pertinho. Agora pede para o Pio te falar com a voz sexi dele palavras sensuais em teu ouvido, pede!
   A esposa dele, sem jeito, completamente deslocada, disse para mim:
   - Não repara, meu marido as vezes tem dessas boburas.
   Eu, sem saber como agir fiquei assim parado olhando os dois, anestesiado, enquanto o marido ria solto. Eu e a esposa dele, sérios, deslocados, ela roxa de vergonha. Foi daí que ele disparou:
   - Pio, pode falar palavrinhas sensuais no ouvido dela, eu já deixei de fazer isso há muito tempo.
   E desatou a rir de novo. A esposa dele baixou a cabeça, se virou e foi para a rua. Ele ficou na fila como se nada tivesse acontecido, dizendo:
   - Mas que ela falou, falou!
   Nisso o caixa liberou para mim. 
   Esta foi a legítima cena do tipo de desarmar até os mais preparados.