quinta-feira, 30 de julho de 2015

Hora da Faxina: O Conselho



O Conselho

   Vivi toda a minha infância e cresci em Harmonia, cidade que fica do lado do Caí. Quando eu era pequeno, a cidade ainda era vila, pertencia a Montenegro e a vida era muito simples e tranquila. No verão, dormíamos de janelas abertas para a brisa amainar o mormaço, já que na época ventiladores eram artigos de luxo, para poucos abastados.
   Na vila então, tinha uma estação rodoviária, onde os ônibus paravam para trocar passageiros e para ajustar o horário de acordo com seu itinerário. A rodoviária era administrada pela família Hilgert e destes tempos tenho maravilhosas lembranças. Carlos e Hilda sassaricavam o dia inteiro por dentro do enorme salão para atenderem devidamente a clientela. O atendimento de bar era feito numa ilha situada quase no meio do salão, o que dava um charme a mais, pois os clientes podiam circundar aquele espaço de balcões e assim cabiam muitas pessoas ali.
   Dona Hilda ficava na cozinha preparando quitutes, frituras, almoços, enfim, o que a clientela pedia. A cozinha para a época já era moderna, pois todos podiam ver o movimento e o trabalho das cozinheiras e ter uma noção da higiene no preparo dos alimentos.
   Fora o movimento dos passageiros dos ônibus, haviam diversas mesas espalhadas no salão onde sentavam as pessoas da vila para um jogo de cartas, um traguinho entre amigos, namorados para ficarem mais pertinhos do que em casa, enfim, uma mistura de finalidades, mas que o lugar propiciava.
   Chegou o dia em que o movimento ficou tão grande, que Carlos se obrigou a contratar um funcionário. Contratou meu irmão. E o trabalho fluía com ele correndo entre as mesas ajudando a servir todos com o máximo de ligeireza.
   Carlos era uma pessoa metódica, tinha ideias próprias para muitas soluções de coisas que atrapalhavam as atividades, e assim chegou até a criar algumas máquinas. E, sendo assim, também tinha diversos conceitos e defendia muitas ideias. E ele não se poupava em falar ou repreender alguém onde visse esta pessoa fazendo algo de errado.
   Certo domingo de tardezinha, salão lotado de frequentadores, todos sendo atendidos na correria por Carlos e meu irmão, quando de repente, alguém chamou de uma mesa num canto. Meu irmão prontamente foi até lá, atendeu o pedido e veio até a ilha-bar preparar o pedido. Do lado dele, Carlos estava preparando outro pedido. Quando ele viu que meu irmão estava enchendo um copo tipo martelinho só de Underberg (licor amargo de ervas), que normalmente misturavam com cachaça, colocando só um golinho, ele perguntou:
   - Clóvis, quem fez este pedido de Underberg puro?
   Meu irmão mostrou o cliente que fizera o pedido. Carlos foi até ele junto com meu irmão e quando ele pôs o copo na frente do cliente, Carlos disse:
   - Olha, sabia que este Underberg é muito forte para tomar puro?
   O cliente respondeu:
   - Não é tão forte assim. - Carlos, colocando a mão na cintura disse:
   - Ele é tão forte tomado puro que tira todas as curvas de teus intestinos, e se facilitar, vai te fazer cagar o próprio rabo. Abre o olho!

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Circula na Net: Aprenda a Dar Presentes



Aprenda a dar Presentes
(desconheço o autor)

Três filhos saíram de casa, tiveram sucesso na vida e prosperaram.
Anos depois, eles se encontraram e estavam discutindo sobre os presentes que eles conseguiram comprar para a mãe, que já era bem idosa.
O primeiro disse:
- "Eu consegui comprar uma casa enorme para nossa mãe."
O segundo disse:
- "Eu mandei para ela uma Mercedes zerinho, com motorista."
O terceiro sorriu e disse:
- "Certamente meu presente foi melhor. Vocês sabem como a mamãe gosta da Bíblia, mas ela está praticamente cega e não consegue mais ler. Então mandei pra ela um papagaio marrom raro que consegue recitar a Bíblia todinha. Foram 12 anos de treinamento num mosteiro, por 20 monges diferentes. Eu tive de doar US$ 100,000 para o mosteiro,mas valeu a pena. Nossa mãe precisa apenas dizer o capítulo e versículo que o papagaio recita sem um único erro."
Tempos depois, os  filhos receberam da mãe uma carta de agradecimento pelos presentes:
Primeiro:
- "Marlon, a casa que você comprou é muito grande. Eu moro apenas em um quarto, mas tenho de limpar a casa todinha..."
Segundo:
- "Maycon, eu estou muito velha pra sair de casa e viajar. Eu fico em casa o tempo todo e nunca uso o Mercedes que você me deu. E o motorista ganha sem fazer nada!
Terceiro:
- "Querido Marvin, você  foi o único filho que teve o bom senso pra saber que o que a sua mãe realmente gosta é de coisas simples.
Aquele franguinho estava delicioso, muito obrigada."

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - Primeira Visita ao Zoo



 Primeira Visita ao Zoo

   É muito interessante quando existe um primeiro contato com algo diferente. Em todos os setores, sempre aquela ânsia da novidade. Por exemplo no emprego novo, onde novos colegas devem ser conhecidos e entendidos cada qual com suas particularidades, as diferentes exigências do patrão novo em relação ao emprego anterior, ambiente diferente, onde até a iluminação pode fazer a pessoa render mais ou menos em relação ao emprego velho.
   Assim também acontece com um novo namoro. Primeiro conhecer a pessoa, esperar que ela não seja igual a outra pessoa que fez gato e sapato. Se conhecem, se conversam, se gostam, e então a ânsia de iniciar um namoro. Tudo são fases que fazem a pessoa ficar apreensiva porque está lidando com possibilidades e elas podem ser boas ou más para esta pessoa.
   Difícil mesmo, é se estabelecer em novo endereço. Nossa, uma nova cidade, novos ares, pessoas diferentes, amigos distantes e vizinhos muitas vezes desligados, que nem tão aí se você está tomando banho frio porque a luz ainda não foi religada, ou se você compra seus alimentos a oito quadras da nova morada, quando que se fosse seguir outro caminho encontraria um supermercado bem sortido e ainda com preços mais em conta a apenas duas quadras de casa.
   Mas estes são fatores que ajudam a vida a ter graça, a fazer as gente rever conceitos e entrar de sola nos novos propósitos para ver o quanto antes os resultados.
   Dentre as novidades, muito hilário também é uma primeira vizita ao zoo. Ainda mais quando é feito por pessoas pouco esclarecidas, que ali travam conhecimento pela primeira vez com espécimes bizarros nunca antes vistos.
   Assim, uma família simples do interior um dia teve o privilégio de visitar o zoo. Nossa, imagina a angústia desta gente em se ver cara a cara com novos animais e assim conhecer um pouco mais da natureza. Chegando lá, começaram a passear por entre os recantos dos animais, todos chamando a atenção por serem bichos desconhecidos. O homem estava fascinado com o rabo do pavão que se abria num leque multicolorido digno de causar inveja a todas as galinhas de sua vila.
   Mas, quando chegaram no cercado do elefante ele ficou muito impressionado. De nervoso, comprou um saco de pipocas do pipoqueiro que estava ali perto, e começou a comer freneticamente as pipocas tentando entender a fisiologia daquele bicho estranho que aos seus olhos tinha dois rabos.
   Nisso, por ele estar muito perto da cerca, sentiu o elefante lhe roubar o saco de pipocas com sua tromba e o meter inteirinho na boca. 
   O cara ficou indignado. Completamente magoado com a inusitada atitude do elefante. Resolveu se queixar com o gerente do zoo. Chegando lá já foi gritando:
   - Olha, é uma vergonha o mau exemplo que este zoo dá aos seus frequentadores. Isso é inadmissível. Onde já se viu?
   O gerente curioso perguntou:
   - Mas do que o senhor está reclamando?
   - Do elefante! - Disse o homem. - Ele está dando um péssimo exemplo aos frequentadores deste zoo.
   O gerente, solícito, disse:
   - Mas diga-me o que houve? Vou mandar dar um jeito. - E o cara da colônia:
   - Imagina só seu gerente: o zoo cheio de gente e este bicho vem e me rouba o saco de pipocas como qualquer ladrão. Mas isto não foi o pior"!!!! O pior é que ele roubou minha pipoca com o rabo e o senhor pode imaginar em que buraco enfiou. Que vergonha!
   

sábado, 25 de julho de 2015

Dia dos Avós - Piadas Sobre Velhinhos




  Na velhice:
(circula na net)

Duas senhoras idosas estavam tomando o café da manhã num restaurante.
Ethel notou alguma coisa engraçada na orelha de Mabel e disse:
- Mabel, você sabe que está com um supositório na sua orelha esquerda???
Mabel respondeu:
- Eu tenho um supositório na minha orelha??
Ela o puxou, olhou para ele e então disse:
- Ethel, estou feliz que você tenha visto... agora eu acho que sei onde encontrar meu aparelho auditivo....
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Quando o marido finalmente morreu, a esposa colocou no jornal o anúncio da morte, acrescentando que ele havia morrido de gonorreia. Logo que o jornal foi distribuído, um amigo da família telefonou e protestou veementemente:
- Você sabe muito bem que ele morreu de diarreia, e não de gonorreia!!!
A viúva respondeu:
- Eu cuidei dele noite e dia, portanto é lógico que eu sei que ele morreu de diarréia, mas eu achei que seria melhor que se lembrassem dele como um grande amante, ao invés do grande cagão que ele sempre foi.
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Uma velhota, durante a missa, inclina-se e diz ao ouvido do seu marido:
- Acabo de soltar um pum silencioso. Que achas que devo fazer?
O velho responde?
- Agora nada. Mas quando sairmos vamos comprar pilhas novas para o teu aparelho auditivo.
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Um casal idoso estava num cruzeiro e o tempo estava tempestuoso. Eles estavam sentados na popa do navio, olhando a lua, quando uma onda veio e carregou a velha senhora. Procuraram por ela durante dias, mas não conseguiram encontrá-la. O capitão enviou o velho senhor para terra, com a promessa de que o notificaria assim que encontrasse alguma coisa.
Três semanas se passaram e finalmente ele recebeu um fax do navio. Ele leu:
"Senhor: lamento informar que encontramos o corpo de sua esposa no fundo do mar. Nós a içamos para o deque e, presa a ela, havia uma ostra. Dentro da ostra havia uma pérola que deve valer uns $50.000 dólares. Por favor,diga-nos o que fazer."
O velho homem respondeu:
"Mande-me a pérola e atire de novo a isca."
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O médico atende o paciente idoso e milionário, que estava usando um revolucionário aparelho de audição e pergunta:
- E aí, seu Almeida, está gostando do aparelho?
- É muito bom! - respondeu o velhinho.
- E a família gostou? - pergunta o médico.
- Não contei para ninguém ainda... Mas já mudei meu testamento três vezes!
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É um casal de 80 anos, que está começando a ter problemas de memória. Eles vão ao médico para ser examinados. O medico faz um check-up e diz aos velhinhos que não há nada de errado com eles, mas que seria bom ter um caderninho para anotar as coisas.
À noite, quando estão os dois assistindo TV, o velhinho levanta e a mulher pergunta:
- Onde você vai?
- À cozinha - responde ele.
- Você não quer me trazer uma bola de sorvete? - pede ela.
- Lógico! - responde o marido solícito.
- Você não acha que seria bom escrever isso no caderno? - pergunta ela.
- Ah, vamos! Qualé? Ironiza o velhinho - Eu vou me lembrar disso!
Então ela acrescenta:
- Então coloca calda de morango por cima. Mas escreve para não ter perigo de esquecer.
- Eu lembro disso, você quer uma bola de sorvete com calda de morango.
- Ah! Aproveita e coloca um pouco de chantilly em cima! - pede a velha - Mas lembre-se do que o médico nos disse... escreva isso no caderno!
Irritado, o velhinho exclama:
- Eu já disse que vou me lembrar!!
Em seguida vai para a cozinha. Depois de uns vinte minutos, ele volta com um prato com uma omelete.
A mulher olha para o prato e diz:
- Eu não disse que você iria esquecer ? Cadê a torrada?
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Uma cerimônia funerária estava sendo realizada por uma mulher que havia acabado de falecer. Ao final da cerimônia, os carregadores estavam levando o caixão para fora, quando, acidentalmente, bateram numa parede, deixando o caixão cair. Eles escutaram um fraco lamento. Abriram o caixão e descobriram que a mulher ainda estava viva! Ela viveu por mais dez anos e, então, morreu.
Mais uma vez uma cerimônia foi realizada e, ao final dela, os carregadores estavam novamente levando o caixão. Quando eles se aproximaram da porta, o marido gritou:
"Cuidado com a parede!!!!!"
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sexta-feira, 24 de julho de 2015

22 Meses sem Bere



22 meses sem Bere.
Foi-se o tempo do momento da dor da perda. Foi-se o momento da força em seguir. Foi-se o momento da tentativa em recomeçar. Foi-se o tempo da viuvez. Agora o recomeço. Cicatrizes sim, mas feridas curadas, isso que importa. Lembranças sim, muitas, mas saudades só das boas, do que foi bom e que durou o tempo que completou nosso ciclo. E para encerrar este ciclo, abaixo a releitura de parte do último capítulo do livro que escrevi sobre Bere e que oportunamente será lançado.
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Refletindo hoje serenamente sobre o que aconteceu, chego à conclusão de que todas as pessoas, num determinado momento de suas vidas, deveriam ter uma grande perda. Sei que mexi com você ao dizer isto, mas é fato. Então, talvez, a humanidade seria muito mais afeita a valores do coração do que valores de bens. A saída de nossas vidas de alguém tão importante como a esposa, quando o amor foi sublime e inteiro durante todos os anos de relacionamento como foi o nosso, faz com que se olhe o mundo de uma maneira imaterial. Se olha o mundo unicamente pelo lado sentimental. E se descobre que as pessoas realmente não se dão o tempo para este lado. Na dor da perda, quando se entra dentro de si para tentar sair lentamente, mas fortalecido, enquanto se está neste processo, vê-se o mundo terrível que nos cerca. O mundo de valores na busca de mais e mais, deixando completamente de lado os valores que são tão importantes quando se perde alguém: a afetividade, o companheirismo, o tempo de ouvir alguém e de aconselhar, o tempo para pensar sobre o verdadeiro valor de um relacionamento e de sua importância na química do nosso dia-a-dia. O tempo de olhar serenamente para as pessoas e delas somente esperar uma troca de olhar sereno, nada mais. A avidez da corrida diária pelo crescimento material apagou este processo no olhar da maioria das pessoas enquanto correm atrás da máquina. Nosso custo de vida ficou muito caro e cada vez mais precisamos fazer ginásticas arriscadas para suprir todas as necessidades que o meio impõe. E o mais importante fica de lado, de fora, que é o sentimento de bem e de carinho para com as pessoas. Mas no dia em que tiver uma perda importante em sua vida, verá que nada vai lhe fazer bem a não ser o seu sentimento pela situação em si. E vai procurar resgatar tudo isto de dentro de você como pílulas de força para se manter vivo. Nada irá distrair você porque ininterruptamente o sentimento vai estar gritando em seu interior querendo aflorar e tomar conta de você, cobrando o tempo que você não tirou para parar com seu lado material e cultivar carinho, interesse de bem querer, atenção e amor para com todas as pessoas. Mas principalmente para com a pessoa que partiu.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Hora da Faxina - O catador de Reciclados Exigente



O Catador de Reciclados Exigente

   Desde que o plástico se tornou popular nas mais diversas embalagens de produtos que usamos todos os dias, ele também se tornou um problema. Sempre pensei que deveria existir uma maneira de podermos diminuir o volume destas embalagens com algum treco, algo elétrico ou mecânico que as retalhasse e assim, diminuindo drasticamente o espaço que elas ocupam. As latas de alumínio até que são dobráveis, ocupando menos espaço. Mas o problema é o plástico.
   O que eu não sabia era que a composição de uma garrafa pet contém quatro tipos de plásticos diferentes, ficando impossível simplesmente a retalhar. Os plásticos antes, precisariam ser separados para não dar problema na reciclagem: a tampa é um tipo de plástico e a rodela interna da tampa que veda para o gás não sair, é outro tipo de plástico. O corpo é mais um tipo. O rótulo então, é o quarto tipo que a forma no que eu achava simplesmente ser uma garrafa pet.
   Até que chegou o momento em que surgiram os catadores de reciclados, fazendo com que muito deste material retornasse para novo processo e seu reuso. Eu estava faceiro porque tinha um rapaz que passava religiosamente nas manhãs de sábado e levava tudo que eu juntava durante a semana. Foi com ele que aprendi a ciência da reciclagem. Fiquei sabendo que o quilo da tampa da garrafa pet vale mais de cinco vezes o valor do quilo do corpo que ela veda. Ele também me ensinou que existem dois tipos de alumínio, dois tipos de cobre e um mundo de outros detalhes deste trabalho, como as embalagens de café a vácuo, onde tem que separar a parte interna de plástico aluminizado da externa de papelão, sob pena de ter rejeitado sua carga por causa deste detalhe. Além destes, outros tantos macetes.
   Houve uma época onde ele ficou sem espaço para separar os materiais, abrindo mão de meus reciclados. Isto demorou um bom tempo, algo em torno de oito meses. Neste tempo fui separando e limpando um monte de material de cobre que guardava para ele no sótão e os recicláveis infelizmente acabavam no lixo comum.
   Um dia ele me ligou dizendo que era para eu arrumar outro catador porque ele não estava conseguindo espaço para seu trabalho. Felizmente, hoje ele continua sendo o meu catador levando tudo com ele. Mas, com esta notícia, na época, fui atrás de outro. Ficava cuidando quando fosse passar um  dos caras de bicicleta com carrocinha atrelada e cheia de trecos, para então oferecer meus reciclados, inclusive aqueles quase dez quilos de cobre que tinha separado. 
   Eis que, um pouco depois passou na frente de casa um destes catadores. Eu o chamei e ele prontamente veio comigo. Expliquei o esquema, que eu separava o material reciclável para ele todas as semanas, mas que ele teria de levar tudo que fosse separar. Ele nem me deixou terminar de falar dizendo:
   - Eu só recolho tampas de garrafa pet. O resto não me interessa.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Hora da Faxina - A Bomba de Água Manual




 A Bomba de Mão.

   Toda vez em que eu ia na casa do Edir para colher produtos coloniais como laranjas, bergamotas, limões, cana-de-açúcar, aipim, verduras, e passava do lado de sua casa para ir até a roça, via deitada embaixo do assoalho, na terra, um bomba dessas de tirar água com o bombear manual. Não sei por que esta bomba me chamava a atenção. Parecia algo como um ímã, que me atraía a olhar para ela. Objeto abandonado há tempo pela aparência, mas que insistia em continuar visível entre tantas tralhas que faziam companhia naquele espaço apertado.
   Na época, meu sogro e eu havíamos combinado com Edir, que era amigo nosso, de mantermos a roça dele limpa e plantaríamos coisas de cultura fácil como milho, aipim e feijão para repartirmos com ele pelo empréstimo da terra. Ralamos muito naquela subida do morro do Angico para primeiro deixarmos a terra limpa. A cada cinco metros fizemos um degrau com capim elefante plantado para evitar a erosão da terra com as chuvas já que era uma descida de morro. Foi uma época interessante pois nos dedicávamos todos os fins-de-semana no cuidado daquela roça. Os primeiros resultados foram desastrosos, pois onde esperávamos colher dois sacos de feijão só colhemos meio saco. Um trabalho árduo de meses de resultado minguado, enquanto o aipim plantado entre as levas de feijão nos brindou com quantidade excessiva, onde distribuímos o produto até entre os parentes. O que insistia mesmo em ficar vistoso era o capim elefante que brotava vertiginosamente, pois a cada chuva, todo o esterco que havíamos espalhado na roça acabava preso a ele, que absorvia seus nutrientes e ficava forte, vertiginoso. Do milho plantado, boa parte foi roubada por animais silvestres como ratões do brejo e caturritas, pois logo acima da roça tinha um mato nativo.
   Mas a bomba ali embaixo da casa do Edir continuava chamando a atenção. Muitas vezes quis perguntar para ele o que significava aquela bomba, mas no andamento dos afazeres da roça e nas conversas intermináveis que meu sogro sempre iniciava, éramos bons de papo, eu acabava esquecendo de perguntar. Mas um dia, lavávamos algumas raízes de aipim não longe dali, vi a silhueta desta bomba no final da tarde de um dia de primavera escaldante, com a luz do sol refletida nela por uma panela de alumínio que ficava mais para fora. Eu já conhecia toda a geografia das tralhas ali colocadas, de tantas vezes que havia olhado para aquele espaço debaixo de casa. Então perguntei:
   - Edir, o que esta bomba está fazendo aí, embaixo da tua casa.
   Ele respondeu:
   - Ué, está guardada. 
   Fiquei intrigado. Afinal, no mínimo estava abandonada e não, guardada. E eu disse isso:
   - Nossa, Edir, para mim está mais é abandonada do que guardada...
   Edir cortou minha conversa retrucando:
   - Estou pensando em mandar furar um poço aqui no lado do bambuzal e reformar esta bomba para usar sobre ele. Ela é de 1884. Uma relíquia, e que ainda funciona. Foi de meu bisavô.
   Fiquei impressionado com a idade dela, e depois destas palavras, minha vontade em tê-la e pintar de vermelho para por como ornamento no meu jardim de casa foi pro espaço.
   Passou-se meio ano, quando num sábado chegamos na casa do Edir e o poço estava pronto. Mas, sem a bomba. Olhei para o canto onde ela se encontrava e ela também não estava mais lá. Então perguntei:
   - Ué Edir, tu não irias usar a bomba para este poço? Não vejo mais ela embaixo da tua casa. O que fez com ela! - E ele, num sorriso amarelo respondeu:
   - Não consegui recuperá-la, então dei pro ferro-velho.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - Os Bêbados



OS BÊBADOS

- Ic! ...Foi você quem... ic, estes dias me pagou um traguinho?
Disse o Francisco tão bêbado que bamboleava diante do balcão pra lá e pra cá, que parecia que ele realmente iria cair. O Frido, que também estava bêbado e estava parado junto dele, respondeu:
- Não me está bem claro, mas acho que te paguei um traguinho estes dias.
- Sim, então está quase na hora de eu, ic, retornar pagando um traguinho pra ti.
Então o Francisco pega no bolso e tateia por uma moeda, até que ele consegue tirar duas moedas. Neste mesmo instante, caem algumas cédulas amassadas de seu bolso no chão. Diversas pessoas que se encontram carteando naquele ambiente, param tudo para observar os dois. O Frido se abaixa devagar para ajuntar o dinheiro, mas quando estava no meio do caminho ele cai duro no chão. Tentou se agarrar no balcão, mas não conseguiu mais fazê-lo.
- Ooopa! - Ele disse. - Me faltou o e... equilíbrio!
- Tu estás deitado aí, de um jeito que parece estar bêbado, Frido! E tudo isto só por causa de alguns trocados.
- Ah, ah, ah, FFF...rancisco, mas... é ...dinheiro! Eu ajunto tudo e então pago mais um ...traguinho!
Passam-se pelo menos cinco minutos até  que ele novamente conseguiu levantar. Então os dois bêbados se matam rindo. Francisco diz com um leve sorriso no canto da boca:
- Há, há, ic, ...eu gostaria de pegar de novo no bolso e deixar cair o dinheiro para te ver caindo mais uma vez desajeitado.
- Ora, Francisco! ...Eu faço contigo uma aposta que a mes... a mesma coisa aconteceria contigo se eu deixasse cair uns trocados.
- Não acredito nisto Frido!
- O Frido então tateou cambaleante no seu bolso, retirou algumas moedas e as espalhou na sua frente. Então o Francisco se atirou atrás deste dinheiro e bateu o nariz contra o balcão dando um baita estrondo, ficando meio desacordado. Passado um tempo, ele se remexeu um pouco e olhou para o Frido. Seu rosto etsava banhado em sangue que saía generosamente do nariz. O bodegueiro então trouxe um pano e o Frido e o bodegueiro juntos limparam seu nariz. Depois de sangrar bastante, ajuntou as moedas e devolveu ao Frido. Eles se entreolharam e riram aos cântaros. Frido gritou:
- Garçom! ...Mais dois martelinhos!
Ligeirinho tomaram os dois martelinhos e devagar foram para casa, cambaleando e tontos.
Eles andaram juntos e se amparando rindo que nem crianças. Quando chegaram perto da casa do Francisco, o Francisco pegou a chave e queria abrir a porta de sua casa.
Frido estava parado do seu lado como um idiota, e após várias tentativas, Francisco não conseguiu achar o buraco da fechadura de sua casa. Ele pediu ajuda ao Frido, mas o amigo também não conseguiu realizar nada. Francisco então pediu a chave de volta e disse:
- Frido, ic,... segura a porta, porque... ela está se mexendo e desse jeito não consigo acertar o buraco da fechadura.

sábado, 11 de julho de 2015

As Máximas de Bere - Pensamentos, Reflexões, Verdades

    Pensamentos de Bere que foram postos em cartas escritas há anos, ou mais recentes deixadas escritas em algumas pastas do seu notebook. Bere faleceu em setembro de 2013, mas deixou este legado maravilhoso de ideias que fazia sobre a vida, o dia a dia e o amor.













sexta-feira, 10 de julho de 2015

Hora da Faxina: Dentro do Ônibus



 Dentro do Ônibus.

   Subir num ônibus sempre pode ser o início de uma aventura. Até, hoje em dia, muitas vezes se transforma em aventura perigosa. Mas no geral, ainda é uma aventura das boas onde muitas coisas podem acontecer. Principalmente olhares de busca e de encontro. Aquela história de andar todos os dias o mesmo trajeto no mesmo horário acaba por fazer acontecerem encontros e iniciar amizades ou até envolvimentos mais profundos.
   Assim, muitas vezes aquela menina procura deixar um pacotinho do seu lado no banco para tirar e guardar justamente no ponto onde aquele rapaz vai subir. E funciona. Ele entra, pede licença, senta ao seu lado descontraidamente, enquanto ela, corada, nervosa, coração aos pulos tenta se controlar, quando desajeitadamente o seu celular cai no chão e sai andando até dois bancos atrás do seu. Num impulso ela levanta para pegar de volta, e vê que é ela quem está ocupando o lugar da janela e tem o rapaz do seu lado. Nisso, o celular já veio caminhando de volta de mão em mão até o seu banco. Ela, em pé, agradece com um olhar de envergonhada só assentindo com a cabeça enquanto o rapaz a observa. Depois, inevitavelmente os olhares dos dois se encontram, quando ela descobre que ele tem irresistíveis olhos verdes, percebendo que ele a está imaginando nua, pelo caminho que ele fez com o olhar precorrendo seu perfil de alto a baixo. Discreto, mas condenatório. Ela, chateada com o olhar métrico do rapaz e com o vexame do celular vira o rosto para a janela e começa a olhar a paisagem. Talvez amanhã, fazer este trajeto lado-a-lado já seja menos distante entre eles e um olhar mais sincero os faça se conhecerem e se apresentarem.
   Nisso, sobe no ônibus um senhor de meia idade, jornal embaixo do braço e se encaminha para lá na frente, sentar no único lugar vago que ainda sobrava, logo à frente de uma senhora idosa que está com um terço na mão, talvez rezando, mas observando tudo ao seu redor. Atentamente. E o senhor que sentou na sua frente, jornal aberto, sente que aos poucos seu intestino vai traí-lo na frente de todo mundo com inevitáveis puns. Situação constrangedora e insegurável. Ônibus lotado, andando, e seu intestino com uma bomba em pé de guerra já com o estopim ligado. Pronta pra explodir. Mas, se desse um jeito de ninguém ouvir, o cheiro podia vir de qualquer pessoa daquele espaço. 
   O coitado, se ajeitando no banco, trocando de glúteos, enforcando o pum e pensando como fazer para se soltar. Tinha poucas alternativas para encobrir o barulho, mas tinha que agir ligeiro pois o tiro já estava na boca do balão. ...De repente, imaginou uma solução. Ele, para todo pum que soltasse, rasgaria uma folha do jornal. Então o barulho do rasgar do jornal encobriria sua ação tão humana e involuntária que é o pum. E começou. Depois da quarta rasgada de jornal, aos poucos ele novamente estava se sentindo aliviado, orgulhoso da solução que havia encontrado. Mas, não parou por aí. 
   Quando ele foi rasgar pela quinta vez o jornal, a velhinha atrás dele, azul, sufocada de tanto prender o ar, fugindo do cheiro, gritou para ele:
   - Não vai dizer que está partindo o jornal em pedaços para limpar esta bunda fedorenta na frente de todo mundo!
    

quarta-feira, 8 de julho de 2015

terça-feira, 7 de julho de 2015

Pequenas Mentiras, Meias Verdades: O Remédio






 O Remédio

   Marcus acordou. Estava na hora de levantar. O despertador havia a recém tocado e avisado que novo dia começava, apesar da garoa que insistia em cair já há dois dias. Ele já não havia dormido bem aquela noite, revirando na cama, e sentindo aquele serrote abrindo sua garganta para dar passagem a uma gripe.
   Mas, hora de levantar, hora de se lavar, pentear, vestir, tomar café, escovar os dentes e ir ao batente. Mas sua garganta insistia em continuar acusando a instalação inesperada de uma gripe, doendo o corpo e a sensação de peso, de mal-estar.
   Na mesa do café, engolindo já com dificuldade, pão quase sem sabor, café insosso, decidiu ligar para o seu patrão, o Wilibaldo, para avisar que ele não iria trabalhar, afinal, seria improdutivo naquele dia. Ficaria melhor se ficasse em casa convalescendo.
   Sua esposa já havia levantado, mas não havia notado nada de diferente no marido. Ela fez a cama, tomou seu café junto com Marcus, trocaram umas palavras superficiais, o marido não se queixou de seu estado doentio, aos olhos dela parecia bem. O marido também não disse que tinha decidido ficar em casa, que avisaria o patrão. Ela terminou de se arrumar e foi para o serviço.
   Marcus depois do café, dentes escovados, ligou para o patrão:
   - Wilibaldo, me desculpe, hoje não posso trabalhar. Vou ficar em casa. Doi todo o corpo, a garganta está em frangalhos, estou com a impressão de que vai sair uma gripe em mim.
   Wilibaldo respondeu:
   - Ora, ora Marcus, não faça isso! Hoje preciso de você como nunca! O serviço está atrasado em teu setor, e se tu não estás presente o pessoal rende menos ainda na produção! Por favor, faz uma forcinha e vem trabalhar?
   Marcus foi irredutível:
   - Não Wilibaldo, não posso ir trabalhar. Mal consigo ficar de pé.
   Wilibaldo então disse:
   - Olha Marcus, deveria fazer como eu faço quando fico assim. Quando eu não me sinto bem vou para junto de minha esposa, atraio ela até a cama, fazemos uma transa daquelas perfeitas, e então quando terminamos, me sinto bem novamente. Desaparecem todas as dores e eu fico com a sensação de que a transa me curou. Transar com ela é o melhor remédio! Por que não experimenta?
   Marcus agradeceu o conselho do patrão, disse que iria pensar a respeito, se faria ou não. Wilibaldo continuou insinuando para ele transar com a sua esposa, que se sentiria bem melhor, com medo do empregado perder o dia de trabalho.
   Uma hora e meia depois tocou o telefone na firma, e novamente era o Marcus pedindo para falar com o Wilibaldo. O patrão atendeu:
   - Então Marcus? Novidades? Transou?
   - Olha Wilibaldo, tua sugestão de remédio realmente me fez muito bem! Segui teu conselho, transei, e agora estou me sentindo novinho em folha. Vou aí, voltar pro trabalho. 
   - Eu te falei Marcus, eu te falei! Então venha logo. 
   E Marcus disse:
   - Ah, patrão, e antes que me esqueça de comentar, sua casa é muito linda e sua cama é muito confortável!

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Hora da Faxina - Mulheres e Bolsas



 Mulheres e Bolsas.

   Mulheres, bolsas. São quase sinônimos. A relação que existe entre elas e suas bolsas pesadas, chega a ser maternal. De uma forma tão íntima, que homem nenhum consegue assimilar esta simbiose.
   Uma bolsa de mulher é tão complexa, que por vezes nem ela se acha. Claro, lá dentro tem ao menos quatro departamentos completos instalados, onde ela tem sempre tudo a mão: tem um centro de estética e beleza com batons, lápis delineador, rímel, blush, prendedores de cabelo, tiara, grampos de cabelo, pentes, espelho e algum creme especial para eles, os cabelos. Vai que eles se rebelem bem na hora de almoçar naquele restaurante movimentado e desfaçam nela a silhueta de diva, o creme sempre faz seus milagrinhos. Tem também um centro de higiene completo: lixa de unhas, umas cinco, algodão em bolas, absorvente higiênico, carefree, pacotinho de papel higiênico de viagem, sabonetinho de hotel, álcool gel, fio dental, escova de dentes, pastilhas refrescantes, creme para as mãos, sacolinha plástica para colocar os descartes, desodorante e calcinha reserva discretamente guardada naquela parte de dentro da bolsa, tipo bolso, que tem fecho, para não dar na vista. Vai que numa tosse ou uma risada largada, possa se molhar. Então, melhor previnir. Tem também um escritório com extensão bancária completa: bloco de anotações, agenda, lápis e apontador, caneta, calculadora, boletos, faturas pagas, carteira, dinheiro, pochete para moedas sempre explodindo de tão cheia, cartões de crédito, cartões de lojas, de todas as lojas e uma régua de vinte centímetros. Vai que veja aquela mesa de vidro linda na vitrine de uma loja e queira medir seu tamanho para ver se cabe na sua sala de jantar. Mesmo que não tenha intenção de comprar, mas o importante é ver se cabe. Tem também uma farmácia completa: São cartelas de comprimidos para dor de cabeça, gripe, cólicas, dor de dente, lombar, relaxante, calmante, anti estressante, multi-vitaminas e dramin. Sempre tem dramin, vai que fique enjoada por ir no banco de trás do carro da colega para visitar um cliente. Tem bandait, colírio, gel refrescante, pomada anti-alérgica, cremes anti-rugas e um pacotinho de camisinhas. Vai que o marido esqueceu de comprar, ou se solteira, pinta aquele programa...
   Por alto, ali a bolsa já soma uns cinco quilos. Então, a mulher ainda tem o jeitinho especial de separar tudo em estojinhos, embalagens, nossa, uma forma de organizar que é para ela se achar mais facilmente no meio de tantos setores e segmentos. Mas ela nunca se acha. Quando precisa mesmo, fica completamente perdida no meio de tantas coisas que para ela são tão importantes, acabando por esvaziar a metade da bolsa sobre a mesa até achar o que procura. E ainda tem um livrinho de salmos, receitas, fotos da família, brincos, anéis e pulseiras reserva, celular daqueles enormes, enfim, por baixo uns seis quilos que ela leva para todos os lugares. A bolsa é o porto seguro das mulheres e sem ela, elas se sentem nuas.
   Engraçado é, que como se isso não bastasse, elas trocam de bolsa duas a três vezes por semana. Bom, a coleção é grande, e os homens dificilmente notam que trocaram de bolsa, mas acreditem: trocaram! É lindo de se ver o trabalho que elas têm em reorganizar as coisas na bolsa marrom café porque o calçado que vai usar é marrom café e a bolsa que está em uso é marrom chocolate. Incrível, elas conseguem diferenciar estas nuances. Não estou mentindo!
   

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - Histórias de Barbeiros 2



Histórias de Barbeiros 2.

   Situe-se no ambiente: uma barbearia. Bem diferente de um centro de beleza e estética feminina, a barbearia somente é composta por uma cadeira giratória antiga, muito antiga, forrada com couro vermelho ou verde, um espelho encardido na frente, um balcão de apoio para pincéis de barbear, loções, pentes de chifre e tesouras gastas de tanto caminhar pelas grenhas dos clientes.
   Diferentemente de um centro de beleza feminino, antigamente chamado de 'instituto de beleza', onde é frequentado por mulheres e homens, a barbearia é exclusivamente masculina. O barbeiro que, atrás do seu avental de molde caseiro, trás a experiência de cortes de cabelo iniciadas no picote das jubinhas dos próprios filhos, esboça com orgulho o olhar de dominador da profissão após anos de cabelos picotados, cheios de falhas. E com o tempo, cada vez menos picotes, até o cabelo ficar apresentável e ele se sentir seguro para meter a tesoura no cabelo de clientes.
   Só que tem um detalhe: o corte de cabelo varia muito pouco, ou quase nada, na cabeça dos clientes porque barbeiro corta cabelos e não faz um 'look' na cabeça do cliente. Então tudo é daquele jeito meio 'juruna' de cortar. Como a maioria dos homens prefere a praticidade à aparência, com exceção de poucos, a profissão de barbeiro ainda está em alta e eles continuam fazendo seu trabalho.
   Mas, sobre estes profissionais, tenho uma história para contar. Aconteceu em São Leopoldo há muitos anos. Chegou no barbeiro, naquela barbearia eu tinha do lado da Ferragem Feldmann um senhor bem arrumado, com um garoto de seus 10 anos segurando sua mão. Entrou, deu bom dia, e disse:
   - Por favor, lave bem meu cabelo com xampu, corte ele curto, passe um creme com massagem. Depois faça a barba com cuidado para não me machucar com esta navalha, pois tenho um encontro logo à noite e quero impressionar a garota. Tudo dependerá de seu trabalho.
   O barbeiro deu tudo de si. Fez uma obra de arte no corte do cabelo do rapaz, demorou o dobro do tempo normal, e deixou sua face mais lisa que bundinha de bebê, para o cliente poder mesmo impressionar a garota em seu encontro. O menino, sentado numa cadeira ficou só olhando o trabalho do barbeiro, enquanto folheava uma revista, já com orelhas e encardida, de tanto passar nas mãos dos clientes.
   Quando o cliente ficou pronto, sacudiu os cabelos que ainda estavam presos em seu pulôver, enquanto disse:
   - Bom, agora faça um corte bem bacana neste garoto, capricha, deixa ele bem afeiçoado. Vou dar uma volta enquanto isto, mas logo voltarei, quando o menino estiver pronto.
   O barbeiro fez um trabalho exemplar, cortando os cabelos do menino, deixando-o perfeito. Depois, mandou o menino sentar na cadeira do lado, e dando um jornal disse: 
   - Folheia estas figuras do jornal, logo teu pai voltará aqui pra te pegar.
   O rapaz respondeu:
   - Ele não é meu pai!
   - Ah, então é teu tio, teu padrinho....
   E o garoto, com cara de malandro retrucou:
   - Barbeiro, ele não é nada meu. Nem o conheço!
   - Mas como??? - Disse o barbeiro. - Vocês vieram juntos aqui para cortarem os cabelos! Quem é ele?
   E o garoto disse:
   - Não o conheço. Ele me encontrou aqui perto e me disse: "Garoto, vem comigo até a barbearia, que nós dois vamos cortar o cabelo de graça!"