Idos dos anos oitenta. Nossa banda estava evoluindo e os contratos pipocavam de todos os lugares com tamanha intensidade que acabamos tendo que negar alguns para cumprir agenda.
Para termos mais lucro no trabalho de músicos, na época, o trombonista era também o proprietário da Kombi onde carregávamos o equipamento e uma parte dos músicos, e acompanhando ia o Opala Comodoro do maestro com o resto dos músicos.
Mas a Kombi dele já estava muito velha, uma saia-e-blusa dos anos setenta, então resolveu investir numa nova Kombi. De um verde água reluzente, cheirando a nova, a primeira viagem foi subir de Tupandi até Salvador do Sul, quando iríamos tocar um baile em Arroio Canoas.
Para quem não conhece a geografia da região, esta subida tem pontos muito íngremes que exigem muito esforço do motor.
E nós, no sábado de tarde, na Kombi nova, rumamos para o destino do baile.
Na subida, aquela Kombi não desempenhava, não andava, ela quase expulsava o motor pra fora na marcha primeira tamanha a rotação para subir aquele morro.
Depois de muito xingar contra sua nova aquisição, finalmente a Kombi chegou no topo do morro em Salvador do Sul. O trombonista e motorista estava encharcado de suor pela apreensão e medo de não conseguir vencer aquela subida.
E desgraçando a nova aquisição que havia feito na Panambra de Caxias do Sul, resolveu parar no posto do Hammerding e ligar para a concessionária para ter uma orientação do que poderia estar acontecendo com sua nova Kombi.
Parou embaixo do telhado, um calor dos infernos, todos se abanando, ele saiu da Kombi falou com seu amigo do posto e telefonou para a concessionária. Como havia estacionado perto do escritório e a janela estava aberta, ouvimos toda a conversa que foi assim:
Ele disse:
- Alôooo, é da Panambra?
- ...........(não ouvíamos o que eles falavam do outro lado da linha).
- Estou aqui com um problema! Comprei uma Kombi nova de vocês na segunda-feira e esta bosta não anda nada.
- ..........
- Não, não anda nem pra frente nem pra trás!
- ..................
- Se tem algum cheiro? ...Espera! Clóvis, dá uma cheirada para fora! - Disse ele para meu irmão que estava no banco da frente. Clóvis abriu a porta do caroneiro, botou a cabeça pra fora e disse que o fedor de osso queimado não dava pra aguentar. O motorista voltou a botar o telefone no ouvido e disse brabo:
- Sim, esta Kombi fede feio, fede feio!
- .........
- O que? Vai precisar enviar um guincho? Mas quanto isto vai me custar?
- .............
- O queeeeeee? Quinze mil Cruzeiros (em torno de 700 Reais). Pode enfiar o guincho onde quiser mas não no meu rabo!
E bateu o telefone na cara da revendedora.
Quando voltou para a Kombi nós estávamos rolando de rir. E ele brabo dizendo que não era motivo pra brincadeira o problema da Kombi. Daí meu irmão disse:
- Fulano, olha ali: você está com o freio de mão puxado.