(crédito da foto: blog: Histórias do Vale do Caí)
Harmonia anos 60
Harmonia era uma vila pequena naquela época. Todos se conheciam, tudo era compartilhado: as conquistas de alguns mais abastados e a derrocada sobre doenças incuráveis. Tudo corria de boca em boca, todos ficavam sabendo. Personagens importantes na comunidade, respeitados e pessoas doces e simples que completavam nosso discernimento.
Hoje vou falar sobre serviços que existiam em Harmonia naquela época.
Começando pela serraria dos Gewehr que ficava perto do castelinho, foi uma empresa forte que serrou muitas tábuas durante muitos anos. No começo era movida à roda d'água, de um arroio que passava ali, que teve uma barragem feita um pouco antes, de onde a água era canalizada para a roda d'água que assim movia o trilho para cortar as toras. No seu porão, desta mesma serraria, estocados barris de cachaça feita pelos avô da família.
Na rua principal, hoje 25 de Julho, duas ferrarias lutavam para manter seus clientes, e as duas trabalhavam esmeradamente: a ferraria do Léo Hans que ficava bem defronte à entrada da atual sociedade Harmonia, do outro lado da rua, e a do Wendelino Colling, que ficava um pouco além do atual Mercado Harmonia.
Eu me criei bem em frente ao mercado atual, no lugar onde hoje está o Sabor Orgânico. E esta ferraria dos Colling, onde trabalhavam pai e filhos deixou muitas lembranças boas.
Quando ferravam os cavalos ou prensavam argolas de ferro em brasa para moldar as rodas de carroça a gente ia perto para ver como isto era feito. Minhas lembranças remetem ainda hoje ao cheiro daquela tinta laranja da madeira sendo queimada com as argolas reluzentes.
Quem produzia as rodas de madeira era a marcenaria do Orlando de Melo que ficava ali perto, tudo no entorno de minha casa. Era uma arte fabricar rodas com raios de madeira para colocar nas carroças. E esta marcenaria fabricava muitas coisas bacanas. Quem fornecia parte da madeira, era a serraria do Raimundo Calsing, que faleceu cedo vítima de apendicite, e que foi continuada pelos seus filhos, principalmente o Mário e depois pelos netos.
Do outro lado de minha casa, depois de uma moradia, existia o moinho e fábrica de móveis do Avelino Christ. No porão e parte do primeiro andar funcionava o moinho, que principalmente transformava milho colhido pelos colonos da região em farinha através de engenhocas, muitas das quais concebidas por ele mesmo. E na parte da frente do prédio, ele, junto com o filho fabricava móveis como armários e baús. Não foi só uma vez que acordávamos de madrugada com o ruído de marteladas fabricando um caixão. Pois ali eram fabricados na pressa os caixões para as pessoas que faleciam na vila. E a gente sabia antes do sino do começo do dia anunciar, que havia falecido alguém porque de madrugada fora fabricado mais um esquife. Me lembro bem da personalidade deste velhinho, que não era de muitos amigos.
Na lomba oposta à igreja, presente até hoje, está a construção deste prédio lindo, que parece olhar para a vila. Esta casa pertencia ao Jacó Weisheimer, o qual junto com suas filhas que carinhosamente chamávamos de: "di chacôos med", administrava a agência de correios. Muitas lembranças boas tenho desta casa, onde nós crianças, íamos todos os dias, pelo meio da manhã, pegar a correspondência e distribuir na vila, que era uma espécie de passatempo para nós. A gente tinha prazer em fazer isto, pois o brilho dos olhos de quem recebia uma carta de parente distante era impagável.
Harmonia me teve na infância. E eu a tenho em meu coração por tudo que ela me ensinou e proporcionou.
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