A Mala
Pois é, como dizia Carlos, um amigo meu, a respeito deste apetrecho tão necessário para viajar:
- Há malas que vem para o bem. A gente sente sua falta verdadeiramente quando é extraviada na conexão e você chega no destino somente com a cueca do corpo. Então se dá conta, quando vai no banheiro, que ela está com um freio tão grande que parece que parou de repente, quando o pum estava a cem por hora.
Eu achei muito engraçado, apesar do momento aflitivo de meu amigo. Então perguntei:
- E como resolveu o problema? Recebeu a mala de volta?
- O jeito foi ir à loja e comprar ao menos três cuecas novas já que a companhia aérea deixou informado no hotel que em três dias teria minha mala de volta.
- Foi o que fez? - Perguntei. Carlos respondeu:
- Não no mesmo dia. Já era passado das 22 horas quando cheguei no hotel, não tinha mais loja aberta. As lojas lá na cidade fecham às 22 horas. O jeito foi tomar um banho bem demorado, gastar meio sabonete daqueles amostra de hotel na bunda para assear e aliviar o assado que deu e vestir só o pijama. Gastei o resto do sabonetinho tentando lavar para 'destravar' a cueca mas ficou aquela linha ali, me acusando de mal asseado. - E arremedou: - Eu juro que nunca mais compro cueca branca. Daqui pra frente todas vão ser marrons!
Tive que rir alto desta vez. Carlos sempre foi assim: direto, sem papas na língua. E enquanto eu ria ele continuou:
- Vai rindo! Um dia vão também extraviar tua mala no aeroporto. Aí eu vou rolar em cima do teu azar!
- Desculpe Carlos, mas do jeito como contas as coisas é muito engraçado. Fico imaginando a cena hahaha.
Ele continuou:
- Por falta de cueca ainda passei uma noite horrível. Acordava toda hora, sentindo como meu pintinho estivesse dormindo no relento, sem casinha, desacomodado.
Eu comecei a rir desenfreadamente. Carlos era muito engraçado. E ele, olhando sério para mim, esperou eu parar de rir para continuar falando:
- Faz um dia a experiência você também, para ver como é estranho dormir só de pijama, sem cueca!
Quando me acalmei, estava com a barriga doendo de tanto rir, perguntei:
- Então, foi no dia seguinte comprar cuecas?
- Sim, disse ele. E uma muda de roupas vagabundinha para não gastar muito. Não podia aparecer todo dia no hall do hotel com a mesma roupa né? Os hóspedes não sabiam que haviam extraviado a minha mala e eu não queria começar a dar explicações por estar com a mesma roupa todo o dia.
- Verdade! - Disse eu. - E encontrou roupa baratinha?
- Sim! Mas cuecas baratas só encontrei vermelhas. Fazer o que? O jeito foi exagerar na salada de beterraba para se caso ocorresse novo acidente não ficar tão na vista.
Novamente tive que rir. E Carlos continuou sério. Eu já com pena dele, mas ainda rindo disse:
- Bom, pelo menos no terceiro dia da viagem recebeste tua mala de volta?
- Recebi sim! - Respondeu. E eu, debochando disse:
- Deve ter sido um encontro e tanto, afinal, tu e a mala novamente se encontraram, depois de uma separação forçada.
Ele respondeu acabrunhado:
- Mas foi a mala errada. Só tinha 5 vestidos, um pacote de absorventes, dez calcinhas e um par de tênis com as meias colocadas dentro deles. Fui olhar na etiqueta o nome e lá estava escrito: Carla S. Confundiram comigo. Então eu fiquei imaginando o que esta tal de Carla S deve ter pensado de mim ao abrir minha mala e ver que além de minha roupa estava lá junto meu ursinho de pelúcia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário