quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A Hora da Faxina - Fila do Supermercado



Fila do Supermercado

   Quando eu vou ao supermercado fazer compras procuro sempre ir sem pressa por dois motivos: primeiro, porque posso encontrar pessoas conhecidas e sempre rola aquele papo descontraído. Então, para ser descontraído tem que ser sem pressa, afinal, o gostoso justamente está na forma de trocar palavras falando diversos assuntos e assim ficar novamente a par da vida destes conhecidos, amigos distantes ou pais de amigos dos filhos.
   O outro motivo é justamente para enfrentar uma fila do caixa sem estresse. Eu adoro ficar na fila do caixa. É muito engraçado e ao mesmo tempo interessante. De primeira dá para se traçar o perfil psicológico dos enfileirados: gente rindo e conversando com a pessoa do lado sem pressa, tipo eu, gente séria, ensimesmada, talvez calculando de cabeça se o dinheiro vai alcançar pagar o que compraram. Afinal, ninguém quer pagar o mico de deixar mercadorias sem levar por falta de dinheiro para bancar o total da compra. E tem também aquelas pessoas que ficam balançando o corpo num vai-vem, numa perna só, bufando pela lentidão do atendimento. Eu me delicio com estas pessoas. Quando pego uma assim atrás de mim, ainda passo as mercadorias mais devagar, fico falando e rindo com a menina do caixa, só para a pessoa nervosinha e impaciente aprender a saber esperar sua vez na boa, na paz.
   Ali a gente também consegue traçar uma mapa do que as pessoas consomem. Sem intromissão em sua vida, as mercadorias vão sendo passadas e a gente vê explicitamente exposto se sua alimentação é saudável, ou se não é. Na fila do caixa se vê também o quanto de produtos naturais ou artificiais a pessoa leva. É muito interessante isto, pois, as mesmas pessoas levam coisas sempre girando os mesmos produtos. E tem aquela geração natureba, magrinhas e descoradas, passando um peitinho de frango depelado, um pé de alface, uma cenoura e uma berinjela. Em contrapartida, na mesma fila, uma pessoa além do peso, com torresmo, costela gorda, massa, uma coca e dois sachês de creme de leite. Junto a tudo isto, um vidro de pepino curtido e um sachê de maionese. Mais dois quilos de açúcar e uma cuca.
   Eu penso que nem um nem outro está certo, pois sempre fui da ideia que se deve comer de tudo, mas não tudo. Saber equilibrar o que se consome é o segredo para uma boa alimentação. E quem disser que batata frita é ruim só porque dizem que faz mal, está mentindo. Se formos olhar bem, tudo o que é muito gostoso, dizem que faz mal. Putz!
   Mas voltando à fila do caixa no supermercado, hoje comprei um monte de ingredientes para fazer uma sopa. Junto com as verduras, um pacote de sopa destes pronto. Então, uma senhora que estava atrás de mim na fila comentou:
   - Nossa, o senhor tem tantas verduras gostosas pra fazer uma sopa, tá levando até alho poró e vai misturar um pacotinho desta química artificial para estragar ela.
   Eu comecei a rir e respondi:
   - Pois é, minha amiga, a gente de vez em quando tem que injetar estes veneninhos artificiais no organismo para ele se manter acostumado à química que andam acrescentando nos alimentos. Mas, sinceramente, veneno por veneno, acho que o moranguinho que a senhora tem em seu carrinho tem em agrotóxicos muito mais químicos do que minha sopa de pacotinho.
   Ela calou comigo e começou a ralhar com o filhinho que estava com ela. É como se diz naquela expressão: "Quem diz o que quer, ouve o que não quer."
   

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