quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Hora da Faxina: Romã




Romã


   Muitas pessoas nem sabem que fruta é esta, e nunca experimentaram seu gosto. Muitas pessoas não gostam de comê-la porque seus gomos cheio de grãos ficam entre pelezinhas finas muito amargas, devendo haver o cuidado de tirar toda esta pele para a fruta não ficar amarga, e muitas vezes até travar na língua como caqui verde.
   Eu sempre digo que se existe uma fruta que Deus come no céu é romã. Porque não existe fruta na face da terra com um sabor tão especial, único, indescritível, e o próprio nome da fruta lido de trás pra frente é amor. Além de seu sabor, sua cor de rubi e seu aspecto nos gomos de favos de mel, a romã é o melhor remédio natural para equilibrar a pele contra o envelhecimento, algo como um colágeno natural.
   Mas, teorias à parte, eu tive meu primeiro contato com esta fruta quando tinha em torno de 5 anos de idade. Foi na Harmonia onde vivi minha infância. Lá no meio da vila tinha o armazém do Altenhofen que ficava um pouco mais retirado da calçada, com espaço para prender os cavalos em frondosas árvores que ficavam na sua frente. Do lado deste armazém tinha uma escada com vários degraus que dava para a rua também. 
   Quando começamos a frequentar a escola que ficava além daquele comércio, frequentemente passávamos lá para ver se não tinham sobrado cuquinhas (aquelas de buteco) do dia anterior, pois as ganhávamos de graça já que não eram mais frescas. Então, nosso pão de milho como schmier, que a mãe fazia com todo carinho para nossa merenda, era dado para os colegas que só tinham trazido frutas para comer na merenda.
   Num dia desses, ao sairmos naquela escada lateral, vimos esta fruta estranha naqueles dois pés de baixa estatura. Voltamos e perguntamos o que era e o Altenhofen disse que eram romãs, mas que elas não estavam ainda maduras. Que para colher elas precisavam rachar. E que quando tivesse uma madura, nos daria para experimentar. Assim aconteceu. Alguns dias depois ele nos alcançou a fruta. Comi seus grãos e me encantei.
   Mas, com o passar dos anos, depois de comer algumas frutas daqueles pés, a geografia naquele terreno do armazém mudou, as romãzeiras desapareceram e nunca mais havia ouvido falar sobre a fruta. Até que um dia fui ao cinema olhar um filme épico daqueles do tempo de romanos e cristãos, onde o Charlton Heston era um policial romano a favor dos cristãos e onde ele foi visitar sua irmã. No pátio interno da casa desta irmã, tinha vários pés de romã junto à parede do pátio. E no centro do jardim interno tinha uma mesa de pedra onde os dois sentaram para conversar. Uma certa altura, Charlton foi, arrancou um romã enorme do pé e a trouxe até a mesa, sentou, bateu a fruta sobre a pedra e ela abriu jorrando seu suco dali. E os dois comeram. Me encantei novamente. E me comprometi a conseguir.
   Então começou a luta para conseguir uma muda de romãzeira, a qual consegui uns cinco anos depois de ter visto aquele filme, numa tia de minha esposa. Plantei, levou sete anos para começar a dar frutos. Mas depois deste tempo sempre tive romã a partir daquela primeira muda.
   A geografia do meu terreno também mudou, tive que tirar a romãzeira para ter espaço para a piscina, mas não deixei de ter seus frutos. 
   Hoje tenho dois pés de romã. Um no pátio e outro na calçada, onde as crianças infelizmente arrancam a maior parte das frutas antes de amadurecerem.



   

sábado, 24 de janeiro de 2015

Um ano e quatro meses sem Bere. Viúvo.



Um ano e quatro meses sem Bere. Viúvo.

   O caminhar do tempo é o melhor companheiro para convalescer. Seja para uma dor do corpo ou uma dor da alma. A vida está me ensinando isto. Hoje, quando vejo que caminhei quase quinhentos dias sozinho sem mais ter a doce, sensata, inteligente e indescritível companhia de Bere, sinto que antes, sem chão, agora o caminhar está começando a ficar mais solto, mais livre, mais animado. Já não tenho mais restrições para rir livremente nem barreiras para sonhar. A vida está se desenhando com seu ritmo e eu sinto que consigo acompanhá-la sem barrar este movimento com reminiscências que machuquem. Claro que ainda tenho os momentos do caminhar que me seguram e me fazem prostrar em prantos de apego a este ser tão especial que alegrou e completou minha vida durante 33 anos. Afinal, Bere foi minha vida, meu mundo, meu tudo durante todos estes anos. E voltar para detalhes em sintonia que marcaram nossa caminhada em comum, é sentir que as passagens de nossa vida tiveram seu peso, seu valor, sua estrutura e alicerçaram novos desafios. Isto que pega. Pois vejo o resultado destes desafios concretizado. Como foi a formatura do Wagner no último sábado, algo que Bere idealizou e se preparou durante anos para que este fosse o ponto mais importante de nossas vidas antes de novos desafios. Bere não alcançou. Mas em seu plano certamente sentiu as vibrações especiais das pessoas que em sua vida tiveram mais importância, reunidas e confraternizando esta conquista. E em seu vibrar certamente me deu estrutura para superar todo este acontecimento sem remédios ou finiquites. Tudo transcorreu como se ela estivesse realmente do meu lado.
   Na vasta correspondência em cartas que mantivemos durante o namoro no início dos anos 80, Bere em uma carta escreveu: 
   "Quando me pediu em namoro minha alma estava gritando por este pedido, confesso! Meu coração explodiu de felicidade, só não quis demonstrar para eu não parecer uma garota desajuizada. Mas fiquei com vergonha depois, por ter parecido tão vulgar em responder tão rapidamente que aceitava namorar com você. Nem suspense fiz!"
   Em outra carta, bem mais adiante, perto de casarmos, escreveu:
   "Quero ser mais Berenice para fazer de você mais Pio porque tenho certeza de que você vai se empenhar para ser o melhor Pio para me tornar a melhor Berenice."
   Estas duas frases descrevem em detalhes a personalidade que ela tinha: doce, séria, decidida, compenetrada, altiva, justa, centrada, com os pés no chão e ao mesmo tempo cobrando resultados pois ela proporcionava as condições para que isso acontecesse. Toda a sua vida foi neste ritmo. Tudo sempre foi assim. Bere amava o certo e não gostava de surpresas.
   Então agora, depois de tanto tempo distante dela, sinto muito a falta de Bere em algumas decisões que tenho que tomar sem ela tomar a frente como sempre acontecia. Mas estou aprendendo. E sei que tudo está caminhando para que eu viva novamente minha vida como sendo minha, sem simbiose ou cumplicidade, pois tudo o que ela precisou realizar, realizou. Com minha ajuda. E aí que está minha serenidade.

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   Bere tinha verdadeira paixão por praia e adorava tomar uma Ice no bico.




sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Hora da Faxina - Morro Peixoto



Morro Peixoto


   Tem tantas histórias interessantes e por vezes engraçadas que aconteceram alguns anos atrás, que quando conto, tem gente que acha que é invenção minha. Só que a tecnologia, o mundo, a conexão, tudo evoluiu tão rapidamente que as vezes um fato dos anos setenta parece não ter acontecido. A distância entre o mundo de antes dos computadores e da internet para os dias de hoje é tão grande, que em evolução seguramente representa um século ou mais.
   E dentre estas histórias o morro Peixoto se destaca. Por que?
   Bom, primeiro vamos localizá-lo. Ele fica exatamente na metade do caminho entre São Sebastião do Caí e Harmonia. A altura dele deve ser em torno de cem metros. E como antigamente os caminhos que ligavam os povoados eram inicialmente as trilhas dos índios, depois dos colonizadores e seus cavalos, muitas vezes não existia lógica em seu traçado. Passava por onde dava menos trabalho abrir a picada.E o morro Peixoto não fugiu à regra. No sentido Caí-Harmonia tinha uma subida muito íngreme para chegar no platô no topo do morro. Eu diria que era algo em torno de 35 a 40 graus. Passava no meio do mato e era de chão batido.
  Aqueles ônibus da época, primeiro tinham o sobrenome do proprietário de Tupandi (não lembro mais o nome), depois foi comprado pela Montenegro. Eram queimadores de óleo diesel, de potência ineficiente, subiam gemendo aquele perau. Eu fiz esta viagem diversas vezes e em muitas ocasiões quando chegava na metade da lomba o ônibus agonizava andando a passos lerdos para vencer a subida.  Então quando estava muito lotado, o motorista parava antes da subida e fazia todas as pessoas que estavam de pé no corredor descer e subir a lomba a pé porque senão não venceria esta subida. E quando a estrada havia sido patrolada todos os passageiros eram obrigados a descer e subir a lomba a pé. 
   E como ficava nos dias de chuva? Bom, era um caos. Geralmente o motorista tentava vencer o obstáculo com os passageiros no ônibus, já que subir a pé os deixaria molhados e enlameados. Mas por três vezes em que eu estava no ônibus com este tipo de tempo, ele chegava à metade da lomba e começava a patinar perigosamente ficando quase transversal à subida. Então o motorista pedia voluntários para descer e ajudar a empurrar o ônibus na subida barrenta. Nas três vezes eu ajudei a empurrar e cheguei no topo do morro pesando o dobro de tanto barro que o ônibus havia jogado em mim.
   Numa destas ocasiões tinha uma velhinha no ônibus que sentava ao meu lado. Quando voltei todo embarrado e quis sentar ela me barrou dizendo: 
   - Espera! Não senta! Se quiser sentar do meu lado precisa primeiro se limpar de todo este lodo. Toma aqui o meu lenço e se limpa.
   Então ela me alcançou um lenço para que eu tirasse todo aquele lamaçal do corpo pra poder sentar ao seu lado. Imagina , um lenço! Fiquei em pé do lado do meu banco e não sentei mais.
   

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Piadas sobre Médicos



Mais uma série de piadas sobre médicos (tiradas da internet)

Diz um médico para outro:
- Esse paciente deve ser operado imediatamente.
- O que ele tem?
- Dinheiro.
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O paciente está deitado na cama, em sua volta está o seu médico,
advogado, esposa e filhos.
Todos eles esperam pelo último suspiro, quando de repente, o paciente
senta, olha em volta e diz:
"Assassinos, ladrões, ingratos, canalhas?.
Volta a deitar-se na cama e então o médico, confuso diz:
Eu acho que ele está melhorando.
- Por que você diz isso doutor? Pergunta a esposa.
"Porque ele nos reconheceu a todos?
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O médico diz ao paciente de uma forma muito forte:
- Nos próximos meses, não pode fumar, não pode beber, sem encontros com
mulheres, nada de comer em restaurantes caros, e nada de viagens ou férias.
- Até que eu me recupere, doutor?
- Não. Até pagar o que me deve!
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Eles estavam operando um paciente. Quando de repente entra um médico na
sala de operação e grita:
- Parem tudo! Parem o transplante. Há uma rejeição!
- Uma rejeição? ? Do rim doutor? pergunta um dos médicos.
- NÃO! Do cheque! O cheque não tem fundos!
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- Doutor, você acha que, após esta operação eu vou andar de novo?
- Claro que sim ... Porque você vai ter que vender o carro para pagar a minha
conta.
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Um homem espera o resultado da cirurgia de sua esposa.
Depois de um tempo, o médico saiu da sala de operação e disse que o caso
era muito a sério.
Disse que o homem ia ter que dar de comer a ela na boca porque ela não podia
mover mais as  mãos, deveria levar ao banheiro, tinha que trocar de
roupa, banhá-la, etc
porque ela não podia mais se mexer.
O marido começou a chorar e o médico disse:
- Não chore. Eu tava de sacanagem homem! Ela já morreu!
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Uma mulher fez plástica de tudo: nariz, pescoço, mãos, pele, facial, etc
No pós operatório o cirurgião pergunta
- E aí Sra? Quer mais?
- Sim. Gostaria de ter os olhos maiores e mais expressivos.
- Nada é mais fácil que isso, minha senhora. Enfermeira: traga a conta
por favor.

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O cirurgião  e o pós-operado:
- Doutor, eu entendo o senhor estar vestido branco, mas porque tanta luz?
- Meu filho, eu sou São Pedro ...
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- Doutor o que eu tenho é grave?
- Não se preocupe meu amigo. Qualquer dúvida vamos esclarecer na autópsia.
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Após a leitura dos resultados dos exames que pedira, o médico diz ao paciente:
- Tenho duas notícias: uma boa e a outra ruim. Qual você quer ouvir primeiro?
- Primeiro a boa!
- Você tem 24 horas de vida....
- Se essa era a boa, qual é a ruim???
Eu deveria ter te contado isso ontem...


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Hora da Faxina: Televisão



   Televisão
   
   Tive meu primeiro contato com este aparelho a primeira vez, quando tinha em torno de cinco anos de idade. Morava em Harmonia, perto aqui do Caí, RS. A vila consistia em uma rua que ainda hoje existe e que começa e termina em lombas. Na vila todos se conheciam, todos se ajudavam quando fosse necessário, bem dizer, as pessoas viviam em perfeita harmonia e o nome faz sentido por aquela época.
   Dizem que antigamente, antes de começarem a ser erguidas casas ao lado desta rua, toda a bacia de Harmonia era um banhado com algumas sangas, onde só se chegava de caíco e onde havia fartura de peixes para pescar. Então vinham as pessoas das vilas vizinhas como Tupandi, São Benedito, Dom Diogo, Peixoto e assim por diante pescar lá. Tiravam peixes enormes daquelas sangas naquele banhadão enorme, sem fim. E assim surgiram as primeiras construções em cima das lombas e aos poucos, no avanço de mais gente interessada naquela fartura de peixes foi se instalando até se transformar numa vila. Ao menos esta é a história que meu pai sempre contava.
   Mas, voltando à televisão, a primeira vez que vi uma funcionando foi na casa do vizinho, lembro o sobrenome Koech, e como o filho trabalhava para o consulado da Alemanha em Porto Alegre, foi agraciado com um aparelho destes. Depois de instalado, chamaram a vizinhança toda para conhecer o aparelho. Lembro que entrei na sala, aquela geringonça ligada, transmitia um jogo de futebol. TV Tupi canal cinco. A imagem em preto e branco, ruim, cheia de chuvisco, mal se distinguia os jogadores correndo atrás da bola. Mas foi fascinante ver aquilo pela primeira vez.
   Em seguida, o armazém do Altenhoffen instalou um aparelho em seu recinto, onde tinha mesas, poucas, para um carteado ou um trago com os amigos. De noite, disponibilizava a televisão para as famílias irem até ali e olharem a novela. Eu ia junto com o pai e a mãe, e O Direito de Nascer rolava em preto e branco, já numa imagem bem melhor. O lucro do armazém eram os lanches e bebidas que vendia. Inclusive mulheres levavam tricô e croché para fazer enquanto acompanhavam a novela.
   Como o lucro estava bom para o Altenhoffen, o dono da rodoviária, o Carlos Hilgert viu também a importância de instalar um aparelho. Depois de anunciado, começou a divulgar a novidade e eu e meus irmãos íamos sábado de tardezinha, depois de tomarmos banho até lá para olhar os desenhos de Walt Disney. Depois vinham os seriados Daniel Boone e Rim-Tim-Tim. O salão era grande e dava uma média de cinquenta espectadores por sessão. Nada mal, pois sorvetes, balas, refrigerantes e lanchinhos bombavam e o lucro era garantido. Aliás, dona Hilda a esposa do Carlos fazia pastéis divinos na cozinha que ficava atrás de onde a televisão estava instalada.
   Por ironia do destino, a primeira televisão a cores que vi funcionando, também foi na transmissão de uma partida de futebol. Na época já tinha dezessete anos, foi em 1974. Vi num aparelho instalado na vitrine da loja Mesbla em São Leopoldo na hora do meio dia, quando estava indo para um restaurante almoçar. Fiquei fascinado com a qualidade da imagem e mesmo não sendo chegado em futebol olhei um bom tempo pela beleza da novidade.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Hora da Faxina: Bugigangas


Bugigangas

   Abra uma gaveta em algum armário de sua casa. O que tem lá dentro? Aposto que a maior parte do seu conteúdo são bugigangas. São canetas, algumas vazias, bolinhas de gude, cartas de baralho incompletas, folhas, cadernos cheios, papéis, clips, atilhos, uma caixa de fósforos com um ou dois palitos e uma vela pela metade caso falte energia elétrica e assim por diante.
   O interessante é que a gente nunca se dá o trabalho de por em ordem estas gavetas. Os anos passam, se acrescentam coisas, e o amontoado fica ali, do mesmo jeito.
   Assim é no geral. Bugigangas para todo o lado. Dê uma olhada em seu pátio. Ali no canto empilhados uma meia dúzia de tijolos, escorado no canto da parede uma vassoura gasta, um vaso trincado embaixo da casa, ainda telhas de barro e lenha para o fogão que nem tem mais. 
   No sótão, cadeira de preguiça sem pano, uma cadeira quebrada, brinquedos e o pinico das crianças que agora já são adultos, pilhas de revistas velhas, restos de encanamento, varas de pescar que estão ali já há mais de quinze anos e uma caixa cheia de tampinhas de garrafa que eram usadas para construir 'cidades' nas brincadeiras das crianças, agora adultas.
   Tudo se guarda pensando em alguma utilidade algum dia. Mas este dia não chega nunca. E as bugigangas ficam amontoadas, colhendo pó, inúteis.
   Este costume vem do tempo em que tudo era difícil de ter, de adquirir, de prover. As pessoas enfrentavam dificuldades para por exemplo, dar uma meia dúzia de bolinhas de gude para os filhos se divertirem. Mal tinham para a comida, quem dirá outras coisas.
   Neste sentido, minha mãe era muito de guardar coisas que pudessem vir a ser úteis um dia. Guardava com cuidado muitas coisas ditas bugigangas, mas que ela via no futuro algum proveito por ter guardado. Então, lá adiante, um cabo de vassoura guardado virou uma bela estaca para aquela planta cebola africana que ela tanto gostava de cultivar. E a leiteira de alumínio furada, depois de betumada com o fumo preto do queimar da vela ficava reluzindo num grafite charmoso malhado, onde plantava uma begônia, planta que ela também adorava.
   Um dia, numa segunda-feira, quando eu ainda era solteiro e pegava o ônibus quase de madrugada em Harmonia para ir ao trabalho em São Leopoldo a mãe me acompanhou até a parada que ficava uns cem metros de casa. Claro, ela fazia questão de levantar e preparar meu café, uma honra para ela. Estávamos em passos lentos, caminhando, havia chovido de madrugada, a mãe pensativa, de repente parou. Virou, voltou dois passos e ajuntou na sarjeta uma bolinha de gude. Esfregou-a em seu vestido a limpando e me entregou dizendo:
   - Um dia terás um filho e ele terá uma bolinha de gude. Guarde-a!
   Agradeci para agradá-la, achando aquilo uma bobagem, mas a guardei. Numa gaveta, no meio de outras bugigangas. Meu primeiro filho nasceu 6 anos depois deste acontecimento. A mãe já havia falecido. Mas a bolinha de gude ficou e está aí, revivendo esta história. Olhar para esta bolinha de gude faz relembrar aquela cena, que talvez, sem ela, teria se diluído no tempo.