quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Hora da Faxina: Televisão



   Televisão
   
   Tive meu primeiro contato com este aparelho a primeira vez, quando tinha em torno de cinco anos de idade. Morava em Harmonia, perto aqui do Caí, RS. A vila consistia em uma rua que ainda hoje existe e que começa e termina em lombas. Na vila todos se conheciam, todos se ajudavam quando fosse necessário, bem dizer, as pessoas viviam em perfeita harmonia e o nome faz sentido por aquela época.
   Dizem que antigamente, antes de começarem a ser erguidas casas ao lado desta rua, toda a bacia de Harmonia era um banhado com algumas sangas, onde só se chegava de caíco e onde havia fartura de peixes para pescar. Então vinham as pessoas das vilas vizinhas como Tupandi, São Benedito, Dom Diogo, Peixoto e assim por diante pescar lá. Tiravam peixes enormes daquelas sangas naquele banhadão enorme, sem fim. E assim surgiram as primeiras construções em cima das lombas e aos poucos, no avanço de mais gente interessada naquela fartura de peixes foi se instalando até se transformar numa vila. Ao menos esta é a história que meu pai sempre contava.
   Mas, voltando à televisão, a primeira vez que vi uma funcionando foi na casa do vizinho, lembro o sobrenome Koech, e como o filho trabalhava para o consulado da Alemanha em Porto Alegre, foi agraciado com um aparelho destes. Depois de instalado, chamaram a vizinhança toda para conhecer o aparelho. Lembro que entrei na sala, aquela geringonça ligada, transmitia um jogo de futebol. TV Tupi canal cinco. A imagem em preto e branco, ruim, cheia de chuvisco, mal se distinguia os jogadores correndo atrás da bola. Mas foi fascinante ver aquilo pela primeira vez.
   Em seguida, o armazém do Altenhoffen instalou um aparelho em seu recinto, onde tinha mesas, poucas, para um carteado ou um trago com os amigos. De noite, disponibilizava a televisão para as famílias irem até ali e olharem a novela. Eu ia junto com o pai e a mãe, e O Direito de Nascer rolava em preto e branco, já numa imagem bem melhor. O lucro do armazém eram os lanches e bebidas que vendia. Inclusive mulheres levavam tricô e croché para fazer enquanto acompanhavam a novela.
   Como o lucro estava bom para o Altenhoffen, o dono da rodoviária, o Carlos Hilgert viu também a importância de instalar um aparelho. Depois de anunciado, começou a divulgar a novidade e eu e meus irmãos íamos sábado de tardezinha, depois de tomarmos banho até lá para olhar os desenhos de Walt Disney. Depois vinham os seriados Daniel Boone e Rim-Tim-Tim. O salão era grande e dava uma média de cinquenta espectadores por sessão. Nada mal, pois sorvetes, balas, refrigerantes e lanchinhos bombavam e o lucro era garantido. Aliás, dona Hilda a esposa do Carlos fazia pastéis divinos na cozinha que ficava atrás de onde a televisão estava instalada.
   Por ironia do destino, a primeira televisão a cores que vi funcionando, também foi na transmissão de uma partida de futebol. Na época já tinha dezessete anos, foi em 1974. Vi num aparelho instalado na vitrine da loja Mesbla em São Leopoldo na hora do meio dia, quando estava indo para um restaurante almoçar. Fiquei fascinado com a qualidade da imagem e mesmo não sendo chegado em futebol olhei um bom tempo pela beleza da novidade.

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