sábado, 24 de janeiro de 2015

Um ano e quatro meses sem Bere. Viúvo.



Um ano e quatro meses sem Bere. Viúvo.

   O caminhar do tempo é o melhor companheiro para convalescer. Seja para uma dor do corpo ou uma dor da alma. A vida está me ensinando isto. Hoje, quando vejo que caminhei quase quinhentos dias sozinho sem mais ter a doce, sensata, inteligente e indescritível companhia de Bere, sinto que antes, sem chão, agora o caminhar está começando a ficar mais solto, mais livre, mais animado. Já não tenho mais restrições para rir livremente nem barreiras para sonhar. A vida está se desenhando com seu ritmo e eu sinto que consigo acompanhá-la sem barrar este movimento com reminiscências que machuquem. Claro que ainda tenho os momentos do caminhar que me seguram e me fazem prostrar em prantos de apego a este ser tão especial que alegrou e completou minha vida durante 33 anos. Afinal, Bere foi minha vida, meu mundo, meu tudo durante todos estes anos. E voltar para detalhes em sintonia que marcaram nossa caminhada em comum, é sentir que as passagens de nossa vida tiveram seu peso, seu valor, sua estrutura e alicerçaram novos desafios. Isto que pega. Pois vejo o resultado destes desafios concretizado. Como foi a formatura do Wagner no último sábado, algo que Bere idealizou e se preparou durante anos para que este fosse o ponto mais importante de nossas vidas antes de novos desafios. Bere não alcançou. Mas em seu plano certamente sentiu as vibrações especiais das pessoas que em sua vida tiveram mais importância, reunidas e confraternizando esta conquista. E em seu vibrar certamente me deu estrutura para superar todo este acontecimento sem remédios ou finiquites. Tudo transcorreu como se ela estivesse realmente do meu lado.
   Na vasta correspondência em cartas que mantivemos durante o namoro no início dos anos 80, Bere em uma carta escreveu: 
   "Quando me pediu em namoro minha alma estava gritando por este pedido, confesso! Meu coração explodiu de felicidade, só não quis demonstrar para eu não parecer uma garota desajuizada. Mas fiquei com vergonha depois, por ter parecido tão vulgar em responder tão rapidamente que aceitava namorar com você. Nem suspense fiz!"
   Em outra carta, bem mais adiante, perto de casarmos, escreveu:
   "Quero ser mais Berenice para fazer de você mais Pio porque tenho certeza de que você vai se empenhar para ser o melhor Pio para me tornar a melhor Berenice."
   Estas duas frases descrevem em detalhes a personalidade que ela tinha: doce, séria, decidida, compenetrada, altiva, justa, centrada, com os pés no chão e ao mesmo tempo cobrando resultados pois ela proporcionava as condições para que isso acontecesse. Toda a sua vida foi neste ritmo. Tudo sempre foi assim. Bere amava o certo e não gostava de surpresas.
   Então agora, depois de tanto tempo distante dela, sinto muito a falta de Bere em algumas decisões que tenho que tomar sem ela tomar a frente como sempre acontecia. Mas estou aprendendo. E sei que tudo está caminhando para que eu viva novamente minha vida como sendo minha, sem simbiose ou cumplicidade, pois tudo o que ela precisou realizar, realizou. Com minha ajuda. E aí que está minha serenidade.

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   Bere tinha verdadeira paixão por praia e adorava tomar uma Ice no bico.




2 comentários:

  1. Sei bem o que é esta sensação de vazio, de estar sem chão. Perdi minha companheira, confidente e amiga faz um pouco mais de dois anos. Sinto muitas saudades dela, e muitas coisas me revivem momentos que não se repetirão. Hoje, após este tempo, me sinto um pouco mais tranquilo, um pouco mais livre para prosseguir a aventura de viver. Sei que um dia a encontrarei, e este dia será o dia mais feliz de minha vida. Sua Berê, com certeza, está bem, e minha Luci, idem. Sejamos felizes, é o que elas desejam em suas novas etapas da vida.

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    1. As provações acontecem para nos tornarmos mais fortes, mais aguerridos e mais desligados de bens que antes tanto prezávamos. Agora, dez anos depois de sua partida, já consegui me reerguer plenamente no emocional e se penso para trás, fico muito grato da trajetória que Bere e eu traçamos.

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