quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Hora da Faxina: O Chato




O Chato

   Em todos os lugares sempre existe aquele chato que se destaca pelo seu modo intrometido de se comportar. Sim, não existe chato se não for intrometido. Seja da forma que for, sempre vai meter o bedelho ou a colher onde não foi convidado, deixando muitas vezes as pessoas onde houve a intromissão sem jeito, deslocadas.
   Também existe aquele que fica chato de tanto tocar flauta ou bater boca por um resultado que lhe foi favorável ou desfavorável. Tanto no futebol como na política tem estes chatos que se julgam os reis da cocada e então chateiam de tanto debochar ou querer impor sua convicção. Mas não é destes chatos que quero falar. Quero falar do primeiro, aquele que sabe te deixar realmente possesso da vida pela situação a que te mete. 
   Eles geralmente são os donos da verdade, sabem melhor que ninguém tudo sobre todas as situações ou produtos, ou marcas, e falam como se fossem os detentores de um conhecimento acima do ser humano normal e mortal. O mais estranho é que eles têm sempre tempo para perder para abordar a gente e tentar inculcar em nossa memória suas convicções. São ratos de lojas, supermercados, ferragens, bazares, enfim, onde tem diversos produtos para vender, são o prato cheio para eles praticarem seu bullying informativo a fim de convencer a nós, viventes ignorantes, sobre as vantagens de certos produtos em detrimento de outros.
   Aqui em nossa cidade tinha um que era particularmente um chato ao cubo. Ele chegava a irritar pela sua intromissão em nossas compras, principalmente no supermercado, pois sabia mais e melhor tudo sobre todos os produtos. Quando encontrava esta criatura entre as prateleiras do supermercado eu já desviava para outros corredores para não cruzar por este chato. Mas, inevitavelmente, quando menos esperava, estava ele fungando no cangote e comentando sobre algum produto que havia pego para ler sobre suas propriedades. Ele se metia em tudo:
   - Não compra ovos de casca branca por serem mais baratos porque eles são mais porosos e a salmonela pode atravessar a casca. ...Eu não compraria óleo de milho. Ele vai adoçar sua comida... 
   Ou então dizia:
   - Não compra a batata rosa porque ela precisa de muitos agrotóxicos para se criar. A branca não é tão gostosa mas é mais genérica, portanto não precisa de tantos agrotóxicos. ...Tomate é uma bomba de veneno, não compra. ...Faz favor!!! Comprando espigas de milho??? Sabia que ele é transgênico? Não ouviu falar sobre o perigo dos transgênicos? ...Leva um pé de alho-poró porque ele previne a gripe.
   Putz, comprar assim vai além de uma tortura, já é quase uma lavagem cerebral. Em vez de descontrair comprando tranquilamente o que quer levar para casa, tem o chato a tiracolo dando palpite onde não foi chamado.
   Certo dia, estávamos eu e Bere fazendo compras no Super Cruz, aqui do lado de casa. Iríamos começar a incluir o azeite de oliva em nossas refeições. Então, estávamos nós dois ali, olhando as marcas e suas descrições, para fazer uma decisão a respeito do que seria o mais indicado, quando este mesmo chato chegou e arrancou a garrafa de azeite das mãos de Bere e disse que aquele não era azeite bom porque ele não era prensado a frio. Nós só ficamos olhando. Bere cruzou os braços. E ele arrancou outra garrafa da prateleira e deu para ela dizendo que este era o melhor do mercado. Bere, pegou a garrafa, olhou, em seguida aproximou da cara dele, quase enfiando a garrafa em sua boca e disse com toda a calma que lhe era peculiar nestas situações:
   - Enquanto sou eu quem paga as minhas compras, eu escolho e decido o que quero levar para casa. Entendeu, seu velho chato? Ou quer que eu escreva? ... Sou mais nova que você, mas vou lhe dar um conselho: "Vai pentear tapetes, talvez isto o distraia o bastante para não vir chatear de novo aqui no supermercado!"
   Depois daquele dia nunca mais vi o velho chateando neste supermercado.
   

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