quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Hora da Faxina: Harmonia Cidade Especial

(este trabuco no lado direito da foto é um Katzekopp)

 Harmonia, cidade especial!

   Harmonia*, terra adorada do sol poente atrás da torre da igreja. Harmonia dos arroios ruidosos que formam uma complexa teia de água por entre sua geografia, onde quando criança bebi muita água diretamente de seus leitos. Harmonia, do pequeno vale cercado de morros verdejantes, formando um panelão aconchegante no inverno e no verão, áh, no verão tem os balneários ensombrados pelos salseiros.
   Harmonia dos poços artesianos de água farta e cristalina, saindo geladinha das entranhas da terra, pura, de sabor sem igual. Harmonia do Bang-Bang, bar que há décadas é ponto de encontro de todo tipo de pessoas, amigos e conversa jogada fora. Harmonia da lomba da igreja, onde quando criança descíamos de carrinho de rolimã pra nos estrebucharmos contra a cerca-viva da casa da professora Marina. Harmonia da escola das freiras onde na hora da merenda jogávamos caçador e o mais gostoso era errar a mira da bola atirada contra aquela loirinha de olhos brilhantes que olhava diferente pra mim. Mas que impiedosamente me acertava com a bola para mostrar que tinha me caçado. E seu orgulho em me ver sair do jogo vencido.
   Harmonia dos casamentos memoráreis e inesquecíveis no salão Fink onde o jantar era um verdadeiro banquete, sempre norteado pela veterana cozinheira Helena Hoffmann que com seu talento trazia o tempero exato aos pratos servidos. Impossível experimentar tudo, tamanha a fartura e variedade de comidas. Harmonia do teatro da luta livre, onde os feras da televisão vinham vez ou outra mostrar ao vivo como se quebrava alguém no faz-de-conta. E morríamos de pena do vencido, achando que era verdade.
   Harmonia da igreja velha na metade da subida até a escola, onde na sua frente tinha um pedaço de terra sem acabamento, justamente para enterrarem os Katzekepp e dispararem na véspera e no dia das festas de igreja, realizada no galpão que ficava entre as duas igrejas. Katzekepp eram cilindros de ferro fundido de uns 15 centímetros de diâmetro e nele, um buraco de uns 8 centímetros, ficando uma parede de ferro bem espessa. Eram fechados na base com um pé de ferro bem grosso. Pesavam horrores, tanto que nós, crianças, carregávamos aquele trabuco de dois. Na base tinha um furo onde era enfiado o pavio e o buraco do cilindro recebia pólvora, jornal e era socado com barro. Aquilo dava um estronde de uns cinquenta foguetes juntos e ecoava por toda redondeza fazendo tremerem os vidros das janelas. Certo dia um deles explodiu, espalhando pedaços de seu ferro num raio de mais de duzentos metros.
   Harmonia das pessoas, que na minha infância e adolescência eram humildes e alegres. Em sua simplicidade as coisas aconteciam e muitas vezes coisas se tornavam engraçadas justamente por causa disto. Harmonia do falar alemão, das rodinhas de dúvidas e das palavras em português desconhecidas na época.
   Quando nos anos setenta construíram o Polo Petroquímico em Triunfo, que fica a pouco mais de cinquenta quilômetros distante de Harmonia, anunciaram através de carro de som que o Polo estava precisando de mão de obra para ser viabilizado, muitos trabalhadores, todos seriam empregados para sua construção, nem precisavam ter experiência, as pessoas comentavam entre si:
   - Mas quem é este Paulo Pedro Químico que tem tanto dinheiro para contratar tantas pessoas?
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*Harmonia é uma cidade com 7000 habitantes e fica a 60Km ao norte de Porto Alegre, RS.

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