O Namorado Acanhado.
Os costumes andaram se modificando bastante no relacionamento de jovens namorados se formos comparar com décadas anteriores. Mas tudo mudou. Também o modo de se divertir, o modo de trabalhar e, também o modo de pensar. E, principalmente, o grande responsável por tudo isto é o computador aliado às facilidades globais que a internet proporciona.
Mas o foco desta crônica não é o computador. E sim, o comportamento. Relembrar de como antigamente coisas simples eram valorizadas ao máximo e muitas vezes faziam a diferença. Famílias faziam as refeições juntas, numa mesa para vários lugares, onde geralmente o pai ou a mãe sentavam na cabeceira, e todos os demais tinham seu lugar definido e sempre sentavam no mesmo lugar.
Como me criei no meio de descendentes de alemães, as mesas não eram compostas por simples pratos. Havia sempre uma quantidade de pratos diferentes e raramente a mesa era composta por menos de cinco tipos de comidas. Fora as saladas. Assim já se unia o útil ao gosto de cada um. A mãe fazia um prato de comida que eu odiava comer, que nós chamávamos de "central". Era um mexido de abóbora com couve, que aparentava uma mistura de cores escuras de laranja e verde, que eram as cores da pintura de uma linha de ônibus que existia entre Novo Hamburgo e Porto Alegre que se chamava de empresa Central. A sorte que fora isto tinha aipim e arroz acompanhando, então dava para escolher.
Nos dias onde ela fazia bifes de fígado, que só de olhar já me revoltavam o estômago, ela fazia um molhinho de tomates e cebolas com algum tipo ralo de carne vagabunda, na época tinha até carne de quarta, para acompanhar o cardápio. Então eu tinha o que comer fora os bifes.
Mas muito interessante era anos atrás, quando o namorado visitava a namorada em sua casa, vinha de longe, montado em seu cavalo, e como a viagem era cansativa, ele vinha sábados de tarde e ficava na noiva até domingos de tarde. A refeição das noites de sábado eram sempre fartas.
Bailes eram raros e esperados como eventos especiais por todos. E assim aconteceu que Fridolino que morava em Morro da Manteiga, conheceu Herta, uma bela garota de Vale Real, num baile ao acaso em Bom Princípio. Começaram a namorar já no mesmo baile sob os olhos vigilantes da mãe de Herta.
No primeiro fim de semana que ele foi passar com ela em Vale Real, a mãe da moça quis fazer bonito e preparou um jantar espetacular. O prato principal era uma travessa cheia de bifes suculentos, no ponto.
Na hora do jantar, todos reunidos à mesa, e Fridolino acanhado, só serviu feijão, aipim e arroz. Com o canto dos olhos namorava aqueles bifes suculentos, acebolados, mas não queria fazer feio já que era seu primeiro dia na casa da namorada. Os pais insistiam para ele pegar um bife, mas ele dizia que pegaria depois.
Ocorre que haviam recentemente instalado a energia elétrica na região e ela falhava muito, vindo a faltar de vez em quando. E foi o que aconteceu na hora do jantar. Mas logo voltou. Fridolino descalçou os sapatos que estavam apertando seus pés e os mantinha junto ali, embaixo da mesa. E sua vontade de pegar um bife era enorme. Mas, acanhado, não pegou. E viu lentamente o prato diminuindo de quantidade, quando somente mais um bife restou.
E eis que faltou energia. Ele pensou: "Agora pego este bife!" Puxou o garfo, espetou mal e o bife foi ao chão. Ele, tateando no escuro com o garfo, espetou e devolveu para seu prato. Nisto a energia voltou e todos viram perplexos que ele estava com um sapato seu no prato de comida.
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