Carlos Hilgert e seu Cachorrinho
Harmonia sempre foi um lugar gostoso e idílico. Pessoas especiais, costumes germânicos e tradições de Kerbb, de família, de envolvimento social. As façanhas de tantas pessoas de lá que tinham seu jeito único de ser e que faziam a diferença naquela comunidade pequena que lutava unida pela melhora de seus dias e de seus descendentes.
E como já falei numa outra oportunidade, dentre estas pessoas especiais algumas se destacavam por demais pelo tato que tinham em lidar com as pessoas, ou pela inteligência que as privilegiava podendo assim argumentar com mais propriedade e induzir as pessoas a acreditarem nas suas conclusões e pela genialidade em comentar situações onde a razão tentava mascarar a intuição.
E neste texto retorno novamente à figura carismática de Carlos Hilgert, dono da rodoviária que ficava defronte ao salão de bailes que ele administrava juntamente com sua esposa Hilda e filhos. Carlos era inteligentíssimo, visionário, perfeccionista. Em tudo. Até no embalar das balas naquele papel de padaria que ele usava, ele tinha uma estratégia para fazer o pacotinho. Claro, éramos crianças e ele não queria que fôssemos perdendo nossas valiosas balinhas no caminho pelo pacotinho mal feito. Muitas vezes até se passava trabalho para abrir aquela trouxinha de papel, de tão bem feita que era. Apesar de elétrico, como era seu jeito de ser, tinha muita atenção para com as crianças.
Mas um dia, estava ele sentado no banco que ficava do lado da porta do seu salão, onde as pessoas sentavam para esperar o ônibus, olhando o movimento, que não era tão intenso assim. E, enquanto ele estava lá ideando mil coisas, concentrado, passou o Paulo. Vendo-o tão sozinho no meio daquela tarde, sem ninguém no salão consumindo, Paulo disse:
- Carlos! Você tem alguns momentos do dia que são tão solitários.
- Verdade! - Respondeu Carlos. Paulo continuou:
- Num momento destes seria bom ter a companhia de um cachorrinho. Ele iria te distrair, brincar contigo, sentar no teu colo, deixar com que fosses completamente envolvido por ele.
- Não, nunca! - Disse categórico Carlos. Paulo insistiu:
- Mas, por que? Já imaginou como seria bacana ter agora um cachorrinho contigo?
E Carlos deu sua explicação:
- Já! Ouça bem: imagina que eu vá ter um cachorrinho branco. Pequeno, como um poodle. Eu cuido dele como se fosse um filho. Dou banho deixando ele branquinho como um lençol, aparo os pelos, ele vive comigo pra lá e pra cá. Uma companhia e tanto. Dorme até nos pés da minha cama para de manhã me acordar faceiro.
Paulo disse:
- Viu só como seria bacana?
- Espera! - Disse Carlos. - Ainda não terminei. ...Então, venho sentar esta hora aqui no banco na frente do salão para olhar o movimento e o cachorrinho fica do meu lado aqui no banco dormindo, me fazendo companhia. ...De repente, passa no outro lado da calçada o Antônio, voltando da roça, todo sujo e poeirento. Junto com ele vêm os dois cachorros pastor alemão que ele tem, cheios de pega-pega nos pelos, com tantas pulgas que até a cor deles fica diferente e com mosquinhas voando ao redor deles. ...De supetão meu cachorrinho acorda, vê os dois cachorrões passando no outro lado da rua. Ele pula do banco e vai correndo direto até os cachorrões. A primeira coisa que faz é chegar o focinho bem perto da bunda deles rodeada de mosquinhas para cheirar e meter a língua no rabo deles. Depois, volta todo faceiro, rabinho empinado, e vem sentar comigo, lambendo minhas mãos e meu rosto. Isto não me serve! Não quero cachorrinho!
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