terça-feira, 1 de setembro de 2015

Pequenas Mentiras, meias Verdades: O Melhor Eletricista




Pequenas Mentiras, Meias Verdades:  O Melhor Eletricista

   As pessoas de hoje em dia, que têm menos de quarenta anos, não imaginam como era difícil a vida no interior antes da vinda da energia elétrica. O dia terminava muito cedo, depois da janta, já que não tinha claridade para continuar ficando acordado. Naquela época a iluminação era toda à base de velas e lampiões. Ninguém possuía iluminação melhor que esta. 
   Eu nasci e me criei durante a infância já com energia elétrica instalada em casa, mas os parentes do interior não tinham esta vantagem. E minha vó sempre nos levava com ela para ficarmos uma semana na casa destes parentes. Então aprendi a conviver de perto com a iluminação precária que eram as velas e o lampião. Aliás, o watt impresso nas lâmpadas era a quantidade de velas que ela substituía. Ou seja, uma lâmpada de cem watts equivalia à luz de cem velas. Imagina o breu que era uma vela solitária no meio de toda a escuridão. 
   E tinha a história do cheiro. Tenho perfeitamente na memória o cheiro terrível do querosene sendo lentamente queimado naqueles lampiões, deixando tudo cheirando a pista de aeroporto. Terrível! Mas em contrapartida, eles davam uma iluminação muito mais intensa. As velas até que não cheiravam mal enquanto queimavam, porque diferentemente de hoje em dia, elas não eram feitas com parafina, e sim, com a legítima cera de abelhas, as quais em seu queimar deixavam no ar um doce cheiro de mel.
   Alguns salões de baile e restaurantes eram iluminados por luz de carbureto. Como funcionava? Simples: o carbureto de cálcio é um material em forma de pedrinhas que misturado com água libera um gás chamado acetileno. E este gás é inflamável. Então, nos estabelecimentos tinha uma instalação com mangueiras de metal que saíam de um reservatório fechado onde era colocado o carbureto com água, e o gás caminhava pelas mangueiras, onde em vários pontos do salão tinham bicos onde o gás era aceso e estes pontos brilhavam feito luzes. E iluminava bem. O cheiro não era dos melhores, lembrando cloro, mas funcionava. Hoje em dia ainda usam o carbureto para fazer soldas em chapeações de automóveis e também para amadurecer frutas em estufas.
   Mas, depois de todo este tempo de vida difícil, chegou a energia elétrica. No interior de Tupandi tinha um eletricista e no interior de Harmonia tinha outro. Os dois estavam empenhados avidamente em suprir todas as casas de fiação elétrica, tomadas, lâmpadas, enfim, uma trabalheira sem tamanho para atrelar toda a clientela na rede elétrica e assim iluminarem suas noites.
   Só que o eletricista de Harmonia, além de fazer seu trabalho de instalação em Harmonia intercalava nos fins de semana as instalações em várias casas de Tupandi. O coitado do eletricista de Tupandi não sabia por que ele estava sendo deixado de lado em tantas casas. Pois seu serviço era exemplar, perfeito, do mesmo jeito como o de Harmonia trabalhava.
   O tempo passou e o eletricista de Harmonia estava absorvendo cada vez mais clientes em Tupandi, a ponto de sobrar tempo para o eletricista de lá, ficando sem trabalho até já em dias de semana. 
   Um dia, ele já desolado com a perda de tantos clientes, resolveu perguntar uma tia sua que também havia contratado os serviços do eletricista de Harmonia em detrimento do sobrinho. Ela então disse:
   - Simples! Porque o eletricista de Harmonia instala uma energia bem mais forte e eficiente que a tua. Dá só uma olhada: as lâmpadas dele brilham muito mais que as tuas! É lógico que vamos preferir mais energia em casa.
   Foi então que o coitado reparou que ele estava colocando lâmpadas de 40 watts em suas instalações e o eletricista de Harmonia estava colocando lâmpadas de 60 watts, ou seja, cinquenta por cento mais luminosas.

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