A Curiosidade
Você está caminhando tranquilamente na calçada, despreocupado, indo em direção ao banco ou a uma loja, no comecinho da tarde, quando em sua direção vêm caminhando duas mulheres de meia idade que conversam entre si. Até aí não tem nada demais. É uma cena do quotidiano e que se repetirá enésimas vezes em sua vida. Mas o problema é uma frase que você ouviu ao cruzar por elas. A mais baixa das duas fala para a mais alta:
- Eu nunca imaginei que ela fosse capaz de fazer isso!
E a mais alta ainda reforça:
- Nem eu!
Nisto, elas já passaram por você, continuam o assunto mas a famosa curiosidade, a vulgar 'pulguinha atrás da orelha' mordeu você. E a pergunta que não quer calar: "Quem seria capaz de fazer o que?" Você conhece as duas mulheres, suas ligações familiares, onde trabalham e a sua dúvida é sobre quem elas estavam falando com este tom de reprovação.
É incrível, mas o ser humano tem dessas coisas de tentar encaixar meios conhecimentos em hipóteses.
Então você chega no banco, pega uma senha e senta para esperar sua vez. Pra variar, está lotado. Todos reclamam de crise, mas as transações financeiras continuam a mil. Enquanto você mexe no seu celular para mandar recadinhos no whatsapp dizendo quantas pessoas têm na frente de você para serem atendidas, uma conversa de duas senhoras na sua frente o faz parar de teclar e prestar atenção.
A senhora mais grisalha está conversando descontraidamente com a outra senhora do cabelo preto tingido. Elas estavam falando sobre plantar roseiras e sua melhor época para fazê-lo, o tipo de papo tão trivial quanto falar sobre as condições do tempo. E por isto você começou a mexer em seu celular. A conversa fútil não cativou você. Mas, de repente, o assunto muda e o deixa repleto de curiosidade. Porque a de cabelo tingido disse para a grisalha:
- Voltando a falar de nossa vizinha, eu não repreendo ela pelo que ela fez. Fosse eu agiria do mesmo jeito.
...E enquanto suas anteninhas se ajustam para saber o que a vizinha fez, é surpreendido por um cochicho no ouvido da grisalha com direito a mão em concha encostada na boca para falar ainda mais baixo sobre o desfecho do assunto da vizinha. Ninguém dentro do banco ouviu, muito menos você. E sua curiosidade sobre o assunto o deixa muito imaginativo tentando entender de que forma a vizinha desta senhora teve que reagir. Como é homem, já logo pensou em alguma atitude da vizinha voltada à vingança privando seu parceiro do que mais judia: sexo. E você chega a se autoafirmar que só podia ser isto, já que elas terminaram o assunto no silêncio de um cochicho comprometedor. E no seu íntimo já se solidariza ao parceiro da vizinha achando que ela agiu errado nisto tudo, sem ao menos saber se foi este o tema de verdade e se a punição foi a que você imaginou.
A curiosidade é perversa. Tanto que no primeiro assunto, as duas amigas simplesmente estavam falando da amiga em comum que tingiu o cabelo de ruiva e que jamais imaginavam que ela seria capaz de fazer isto. E, na história do banco, das duas senhoras, bem, ali... Tá eu conto! Como já se diz há muito tempo "as paredes têm ouvidos e nem delas o cochicho escapa", soube depois que o assunto foi um terceiro vizinho que sempre varria a sujeira de sua calçada para a calçada desta vizinha. E, ela indignada com a repetitividade do fato, um dia juntou aquele monte de folhas e outras porcarias, botou numa sacolinha de supermercado e foi até o vizinho dizer que tinha algumas verduras para lhe dar. Ele ficou faceiro, mandou entrar e pediu para por na mesa da área dos fundos. Ela entrou levou a sacola para aquela mesa e quando estava bem no meio dela abriu a sacola e derramou ali, em cima da mesa, todo o entulho que o vizinho tinha varrido para sua calçada.
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