Dando o Fora
Em 1979 conheci José. Era um cara despachado, brincalhão, que sempre estava rodeado de amigos e fazia de sua vida uma festa. Quando o assunto era diversão, ele sempre se fazia presente. Gostava de bailes, ia em todos e trocava de namorada como se trocasse de roupa.
Eu também fui seu amigo, ainda sou hoje em dia, mas naquela época tivemos muitos momentos inusitados porque José os protagonizava. Ele trocava de namorada tão ligeiro, que sempre confundia os nomes delas e por isso passou também alguns apertos. Para fixar seus nomes, passava então a fazer as associações mais loucas com objetos, ou o que sua imaginação quisesse para lembrar como chamar a garota atual.
Dentre as várias garotas, uma de nome Graça ele associou com 'risada'. Então lembrava que seu nome era Graça. Mas numa festinha certo dia, aquelas baladas de sábado à noite, ele foi apresentá-la a um casal amigo nosso e, como já havia bebido todas, não conseguiu mais lembrar o nome dela. Ele a apresentou assim:
- Meus amigos, esta é... ha, ha, ha...
Associando com risada que ele memorizara só que não conseguia lembrar o nome dela. Mas ele continuava a matutar para tentar localizar no seu cérebro tocado pela bebida o nome da moça. E, segundos depois, ele continuou dizendo, tentando achar na associação com risada o nome dela:
- Ha, ha, ha... - Pensativo: Que graça!
A garota ouviu o nome Graça e terminou por se apresentar. Eles nem notaram o sufoco do José que saiu pela tangente sem querer.
Aconteceu que numa certa altura, no meio de todos estes rolos do José, ele teve uma paixão fulminante pela frentista de um posto de gasolina de Scharlau quando abasteceu lá o seu Corcel 72, e a frentista de nome Nanci também se apaixonou na hora por ele. Inexplicável. Aquilo de se olharem e selarem paixão. Já marcaram encontro, e já começaram a namorar naquele sábado enquanto tomavam uma cuba libre num dos tantos bares da Rua Grande em São leopoldo.
Até aí, tudo normal, são coisas da vida. O problema é que José tinha uma namorada em Harmonia, a qual visitava regularmente nas tardes de domingo. E agora? O que fazer? José não teve dúvidas. Contou a real para a 'não-sim' como a guardou na memória para não esquecer seu nome. Nanci, nem se abalou com o fato. Disse:
- Já que me convidou para irmos à reunião dançante amanhã de tardezinha lá em Tupandi, passamos antes na casa dela e você dá o fora nela. Eu espero escondida no carro.
José não teve dúvidas. Aceitou prontamente a sugestão já que iriam mesmo passar na frente da casa da namorada atual. Mas, como agir?
Chegou o domingo. José buscou Nanci no meio da tarde e foram juntos até Harmonia. Ele estacionou o carro um pouco adiante da frente da casa da namorada. Tinha uma lombinha pra subir e chegar até sua casa. Nanci se abaixou no carro pois a namoradinha de José o esperava na área da frente de sua casa, toda cheirosa e arrumada.
Ele chegou, ela o beijou, abraçou, falou de saudades e convidou para entrar, para comerem um pudim de morango e coco que ela tinha feito para esperá-lo.
Ela serviu o pudim, ele aceitou e enquanto estava comendo disse para ela que não mais queria namorá-la. Foi um choredo só da pobre moça. José terminou de comer o pudim enquanto ela chorava, deu um abraço nela e disse que merecia um cara melhor do que ele. Foi.
José e Nanci foram até Tupandi e aproveitaram o resto do domingo dançando e se divertindo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário