terça-feira, 22 de julho de 2014

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - Negócios de Antigamente




Negócios de Antigamente

Era uma vez o tempo em que não existia dinheiro na colônia. Isto foi bem antigamente, quando as pessoas plantavam de tudo e o que lhes sobrava era negociado no armazém. Açúcar e sal eram dois artigos que valiam ouro. Os colonos vinham de longe aos sábados à tarde para negociar estes dois artigos, porque no fim de semana tinham que assar uma cuca no enorme forno à lenha, e para tanto, as mulheres principalmente precisavam do açúcar.
Além disto para no Domingo colocar aquele gostoso assado de porco no forno era necessário o sal, pimenta, alho, noz moscada, cebolas, salsa, mangerona e banha. Claro, o colono dispunha de todos estes ingredientes para fazer o gostoso assado de Domingo, mas o difícil era sempre ter a mão o sal e a pimenta.
Muitas vezes os colonos tinham do lado de sua casa um grande galinheiro para criar galinhas e delas ter os ovos somente para trocar no armazém por açúcar, sal e pimenta. Acontecia que as vezes o próprio bodegueiro tinha seu curralzinho cheio de galinhas do lado do buteco, então ficava difícil porque para o colono não sobrava nada para negociar. O que fazer?
Alguns já haviam plantado fumo para fabricar um pouco de fumo em corda, então este era mais um fino artigo para negociar no armazém. E muitas vezes outros colonos negociavam este fumo em corda por farinha de milho ou melado. Um pouco do fumo era para consumo próprio. Mas nestes tempos bicudos, ele não podia se dar ao luxo de fumar todos os dias. Mesmo o colono produzindo seu próprio fumo, só podia se dar ao luxo de fumar  aos domingos. Faziam gigantescos palheiros, tão grandes que o colono precisava um dia inteiro fumando naquele negócio para acabar com ele. Para muitos então, domingos era o dia do fumo.
Em Picada Cabeção tudo também corria como nas outras localidades. Só que lá o bodegueiro não atendia sozinho às pessoas. Consigo em sua ajuda, estava a sua mulher. Uma mulher ranzinza. Melhor dito, uma mulher incrivelmente mal humorada, daquelas de só no olhar já espantar o cliente. Para começar, ela tinha um cabelo seboso tão fino, que era transparente. O mesmo não se podia dizer de seu bigode. Ela tinha uma meia dúzia de pelos grossos e desajeitados sob o nariz, os quais deixavam seu rosto bastante inconfiável. Os vestidos que ela usava sempre estavam por ser passados a ferro, amarrotados e mal cuidados. E seus tamancos eram tão chulezentos, que nem o cachorro se arriscava deitar perto de noite.
Nesta  mesma Picada Cabeção existia a família Hérlich, a qual era muito metódica. Também criavam suas galinhas para ter ovos e trocar por mercadorias. Para o Frido Hérlich levar os ovos até o armazém, sua esposa Alma, os empacotava cuidadosamente para não quebrá-los na viagem. A aparência do balainho era invejável: cheio de papel e no meio dele os ovos amarelinhos de suas galinhas.
Tudo pronto, Frido cavalgou até o armazém num sábado à tarde para trocar seus ovos por açúcar e sal. Quando ele chegou no armazém, descarregou seu balaio cheio de ovos e os levou para dentro. Margerita, a esposa mal-humorada do bodegueiro, novamente de mal com a vida como sempre, levantou o pano do balaio, analisou os ovos, analisou, então disse braba:
-Não posso aceitar estes ovos. Eles não me servem!
Frido, estranhando a reação dela, mas já a conhecendo pelo seu mau humor, respondeu:
- Qual é o motivo de não aceitá-los Margerita?
- Porque os ovos que você trouxe hoje Frido, são muito pequenos para comercializar! vê-se que alimenta mal suas galinhas para porem ovinhos tão mirradinhos.
Mas Margerita estava dizendo isso de ranzinza. Eram ovos normais. Frido sentiu o sangue subir, ficou brabo, então disse: 
- Sua megera! Com certeza se você os tivesse posto seriam enormes como dos perus, mas certamente estariam azedos. 

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