O Torcicolo (tiro de bruxa)
Médicos! ...isto era sempre a palavra mais proibida que nós antigamente ouvíramos. As pessoas sempre se medicavam com plantas e chás, e quando tinham que ir para o hospital, já estavam meio mortas. E geralmente saíam de lá mortas.
Quando nós éramos crianças os desastres aconteciam e não íamos ao médico. Eu mesmo fui com meu irmão roubar laranjas no vizinho chamado Calsing, e quando eu estava com a camisa cheia de laranjas, caí do galho da laranjeira porque ele quebrou e eu caí e me rasguei um baita buraco na perna. Meu médico foi o meu irmão e que fazia curativos com pomada Springer. E no mês que eu não podia caminhar tive que ficar na cama, a vó até me ensinou a ler a língua alemã gótica, e até hoje sei ler este tipo de escrita.
Quando alguém queria mostrar que tinha dinheiro, então ia no médico consultar e voltava para casa com uma toiceira de remédios e, principalmente, injeções. As injeções eram aplicadas e isto virava falatório em toda a vila.
O mais importante que podia acontecer numa vila destas era a de um jovem ir para a faculdade e estudar para ser um futuro médico. Mas isto era raro de acontecer.
As mulheres que tinham um pouco mais de dinheiro de vez em quando iam se consultar com o médico. Talvez nem por necessidade, mas status. Mas, quando isto acontecia as amigas esperavam o resultado e logo o espalhavam pela vila. As pessoas todas estavam curiosas com o resultado final da consulta.
E assim aconteceu uma vez num belo dia de verão. Foi com a Cecília um fina e educada mulher, cheia de grau e dinheiro. Um belo dia ela levantou de manhã cedo com um violento torcicolo, que literalmente traduzindo do alemão, é "tiro de bruxa"(Heckseschuss). Ela não conseguia mover a cabeça para o lado que já estralava, e ao mover para todos os lados seu pescoço espetava, assim com se estivesse cheio de agulhas. Um torcicolo daqueles!
Seu marido então a trouxe para o Caí a um especialista para ver se ele podia fazer algo a respeito. Demorou tanto para ela chegar na vez que seu marido resolveu sair e tomar uma cervejinha enquanto ela era atendida. E ele realmente foi.
Tinha uma meia dúzia de pessoas para serem atendidas antes da mulher, todos tendo pago uma consulta gorda e todos estavam esperando. O tempo aos poucos foi passando, e de repente ela foi chamada:
- Cecília Molles! ... Cecília Molles está na vez da consulta!
A mulher levantou num salto e logo ela foi até o quarto junto do doutor, cabeça pregada, sem mover.
A conversa rolou em alemão:
- o que aconteceu? - Perguntou ele. Ela respondeu:
- Eu tenho um torcicolo (tiro de bruxa) aqui no canto do pescoço e ele me espeta como se estivesse uma vespa ali alojada!
Então o doutor mandou ela tirar o vestido e deitar de bruços sobre a cama para examiná-la. Quando ela estava ali deitada, meio pelada, só usando aquela calcinha feita de saca de farinha de trigo, o doutor começou a apalpá-la ao redor do pescoço onde ela se queixou de dores. Apalpa aqui, apalpa ali, e a mulher se repuxava com as agulhadas que sentia.
Só que Cecília havia comido na véspera muitos rabanetes em conserva, e as tripas começaram a procurar aliviar os gases. Não teve outro jeito: teve que largar um pum bem espraiado que já a incomodava há tempo: "bréétsch!" fez. O doutor começou a rir e disse para a madame:
- Pronto! o tiro já temos! Agora só falta a bruxa!
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