quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A Hora da Faxina - Fila do Supermercado



Fila do Supermercado

   Quando eu vou ao supermercado fazer compras procuro sempre ir sem pressa por dois motivos: primeiro, porque posso encontrar pessoas conhecidas e sempre rola aquele papo descontraído. Então, para ser descontraído tem que ser sem pressa, afinal, o gostoso justamente está na forma de trocar palavras falando diversos assuntos e assim ficar novamente a par da vida destes conhecidos, amigos distantes ou pais de amigos dos filhos.
   O outro motivo é justamente para enfrentar uma fila do caixa sem estresse. Eu adoro ficar na fila do caixa. É muito engraçado e ao mesmo tempo interessante. De primeira dá para se traçar o perfil psicológico dos enfileirados: gente rindo e conversando com a pessoa do lado sem pressa, tipo eu, gente séria, ensimesmada, talvez calculando de cabeça se o dinheiro vai alcançar pagar o que compraram. Afinal, ninguém quer pagar o mico de deixar mercadorias sem levar por falta de dinheiro para bancar o total da compra. E tem também aquelas pessoas que ficam balançando o corpo num vai-vem, numa perna só, bufando pela lentidão do atendimento. Eu me delicio com estas pessoas. Quando pego uma assim atrás de mim, ainda passo as mercadorias mais devagar, fico falando e rindo com a menina do caixa, só para a pessoa nervosinha e impaciente aprender a saber esperar sua vez na boa, na paz.
   Ali a gente também consegue traçar uma mapa do que as pessoas consomem. Sem intromissão em sua vida, as mercadorias vão sendo passadas e a gente vê explicitamente exposto se sua alimentação é saudável, ou se não é. Na fila do caixa se vê também o quanto de produtos naturais ou artificiais a pessoa leva. É muito interessante isto, pois, as mesmas pessoas levam coisas sempre girando os mesmos produtos. E tem aquela geração natureba, magrinhas e descoradas, passando um peitinho de frango depelado, um pé de alface, uma cenoura e uma berinjela. Em contrapartida, na mesma fila, uma pessoa além do peso, com torresmo, costela gorda, massa, uma coca e dois sachês de creme de leite. Junto a tudo isto, um vidro de pepino curtido e um sachê de maionese. Mais dois quilos de açúcar e uma cuca.
   Eu penso que nem um nem outro está certo, pois sempre fui da ideia que se deve comer de tudo, mas não tudo. Saber equilibrar o que se consome é o segredo para uma boa alimentação. E quem disser que batata frita é ruim só porque dizem que faz mal, está mentindo. Se formos olhar bem, tudo o que é muito gostoso, dizem que faz mal. Putz!
   Mas voltando à fila do caixa no supermercado, hoje comprei um monte de ingredientes para fazer uma sopa. Junto com as verduras, um pacote de sopa destes pronto. Então, uma senhora que estava atrás de mim na fila comentou:
   - Nossa, o senhor tem tantas verduras gostosas pra fazer uma sopa, tá levando até alho poró e vai misturar um pacotinho desta química artificial para estragar ela.
   Eu comecei a rir e respondi:
   - Pois é, minha amiga, a gente de vez em quando tem que injetar estes veneninhos artificiais no organismo para ele se manter acostumado à química que andam acrescentando nos alimentos. Mas, sinceramente, veneno por veneno, acho que o moranguinho que a senhora tem em seu carrinho tem em agrotóxicos muito mais químicos do que minha sopa de pacotinho.
   Ela calou comigo e começou a ralhar com o filhinho que estava com ela. É como se diz naquela expressão: "Quem diz o que quer, ouve o que não quer."
   

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Pequenas Mentiras, Meias Verdades: Histórias do Padre Feltz Número 4



Histórias do Padre Feltz número 4

   Bêbados e padres são dois elementos que quando a gente mistura, a bagunça está feita.
   Então, vejamos porque isto acontece. Eu acredito que é porque os bêbados não têm medida em suas palavras e assim, muitas vezes os padres acabam ouvindo o que jamais ouviriam.
   Um  belo dia, quarta de manhã a igreja estava aberta. Tudo vazio, silencioso e calmo. De repente, vem tropeçando para dentro da igreja um bêbado, vai cambaleando até o início do corredor, defronte do altar. Ele se ajoelha torto no degrau e começa com batidas altas do sinal da cruz na testa, depois no peito:
   - Pai, ...filho, ...iiic, ops, ...iiic, espírito santo, aaaaa, amém!
   Durante o sinal da cruz seu chapéu rolou para o lado. Ele tateou em sua direção, o apanhou com dificuldades enquanto continuou a rezar:
   - Meu Deus do céu, como tudo está bamboleante! ...Mas eu, iic, estou aqui para me ....desculpar porque... prometi ...iic... que não iria beber esta semana! 
   Tudo quieto. Só na sacristia se ouvia um pouco de barulho de alguém que, talvez, estivesse  colocando tudo em ordem. O bêbado se apóia com a mão direita e continua a falar:
   - Então, Deus! ...Estou esperando! ...Iiic, vamos! Me diz algo!
   Tudo quieto. Até na sacristia tudo silenciou. O bêbado continuou falando:
   - Então, então, então! ...ic, assim é difícil de lidar contigo! ...Eu cometo um erro e tu não dizes nada a respeito? ...diga algo!
   Tudo quieto. Padre Feltz que se encontrava na sacristia colocando tudo no lugar, não aguentou as lamúrias do bêbado. Então ele saiu para a igreja e disse para o Dilo, o bêbado:
   - Dilo, prezado católico: Deus está repousando agora para dar sua força e sua bênção no final de semana. Não adianta você gritar, Deus dorme profundamente e não vai acordar.
   Dilo respondeu:
   - Poxa! ...iiic, eu achei que Deus estava 24 horas nos protegendo!
   Indignado, ele levantou e foi embora cambaleando.
   ***********
   Fim de semana. Domingo de manhã na missa, o padre Feltz já estava iniciando quando o Dilo entrou na igreja cambaleando. Ele disse "bom dia" a todas as pessoas e foi se escorar num pilar no canto, nos fundos.
   Durante o sermão, porque o padre Feltz estava muito magoado com as coisas que andavam sendo roubadas na comunidade, disse:
   - Prezados! Nossa cidade é um belo lugar, repleto de gente saudável, boa comida, bom ar e boa vontade. Mas, devagar estamos tendo algo para criticar.
   Dilo ficou do seu canto observando tudo e ouvindo o padre com interesse. Padre Feltz continuou:
   - Eu só estou profundamente magoado com os malandros que roubam as pessoas e as traem.    Também estou certo de que aqui, nesta igreja, nenhum rapaz deste tipo está presente. Vamos fazer a experiência: se alguém daqui já roubou alguma vez, levante, fique de pé!
   Todos ficaram sentados. O Dilo olhou ao seu redor dali onde estava parado, olhou para o padere, então ele disse:
   - Poxa, padre! Sobramos só nós dois!

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

11 Meses sem Bere. Viúvo.



 11 Meses sem Bere. Viúvo.
   
   Ontem fez exatamente um ano em que dancei a última vez com Bere. Na realidade, não dançamos. Apenas ensaiamos alguns passos naquele baile de forró no litoral da Bahia. Exatamente um mês depois ela partiu. Teve chance de se despedir e num sussuro quase inaudível em suas últimas palavras dizer: "Eu te amo."
   Mas hoje relembro o que aconteceu naquele anoitecer, antes de irmos para o forró, onde Bere me surpreendeu mais uma vez, das tantas em nossa vida em comum, com a conversa que tivemos, e que transcrevo do livro que estou escrevendo:
   "Outro dia, de tardezinha, tomamos banho e estávamos nos aprontando para sair com a turma até o centro de Itacaré, fazer comprinhas. Ela, já de banho tomado, a uma certa altura, sentou na cama, e começou a me fitar enquanto me arrumava. Vi ela pelo espelho a minha frente, e fitando ela assim, pelo espelho, disse:
   - Querida, ainda não estás pronta! Termina de te arrumar, não vamos atrasar a turma. 
   Então ela, sem prestar atenção no que eu disse, falou séria:
   - Estou sendo um fardo na tua vida, né?
   Virei para ela, a encarei e disse:
   - Eeeee, que é isto? Já esqueceu? Na alegria, na tristeza, na saúde, na doença... Não foi isto que prometemos?
   Devagar seus olhos foram criando lágrimas, e Bere me fitou com um olhar todo aguado, tão carinhoso que fixou em mim para sempre, não consigo desfazer. E enquanto me encarava, com muita profundidade, doce, queixo tremendo, disse convicta:
   - Amor, se tu quiseres, quando voltarmos desta viagem, me deixa, separa. Arruma outra! Tô vendo que tu estás sofrendo comigo, com esta situação e não quero isto. Não é este o teu jeito de ser. Se é para eu te deixar infeliz, me deixa, tô no fim mesmo! Vai vive, porque o que me faz sofrer mais ainda é te ver triste por minha causa. Eu não quero isto pra ti. Segue teu caminho! ...Sem mim...
   Desatou a chorar largado. Rolou um clima muito tenso, porque ao mesmo tempo em que fiquei muito irritado com a besteira que ela falou, senti a nobreza deste serzinho, que sempre deu muito mais amor do que quis em troca, em mais uma demonstração de amor doado, incondicional, abrindo mão do que de mais precioso tinha para não fazer sofrer. Então, peguei um lenço de papel e fui, sentei ao seu lado, a abracei, sequei suas lágrimas com o lenço, a encarei e disse baixinho carinhosamente enquanto segurava seu rosto com as duas mãos a  encarando no fundo do seu lindo negro olhar:
   - Jamais, jamais, jamais... ouviu? ...nunca, jamais fale de novo uma besteira destas! Nunca, ouviu? Se for para sofrer contigo, nem que isto me deixe muito infeliz, vai ser a teu lado que quero ficar, sempre, todos os dias, todos os momentos, custe o que custar. Meu amor por ti é muito maior do que este 'fardo' bobo do que estás falando.
   E ela, enquanto eu falava voltou a verter lágrimas. Entre soluços, Bere me disse estas palavras que também jamais vou esquecer porque marcaram demais:
   - Eu sabia que responderias isto. Só que eu "precisava ouvir" isto de ti! Nosso amor não permite ser diferente.
   Nos abraçamos, beijamos e ela foi lavar o rosto, tirar o choro, terminou de se arrumar e saímos." 

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Hora da Faxina - Administrar a Grana



 Administrar a Grana

   Certamente você conhece ao menos uma pessoa que volta e meia quebra por não saber administrar os gastos com o que ganha. Hoje em dia as facilidades de compras a prazo fazem muitas pessoas gastarem mais do que ganham. Na hora de passar o número do cartão de crédito tudo é festa, mas quando vem a fatura vêem que tem mais outras contas em andamento, e também estão cobrando aquele churrasco que fizeram no fim do mês passado quando receberam visita e a grana do salário já tinha ido. Restou o cartão para não passar vergonha frente à visita. Se tivesse feito uma humilde galinhada, tenho certeza que ninguém reclamaria e teria saído a décima parte do que agora vem na fatura cobrando aquele churrasco.
   Administrar a grana que recebe é antes de mais nada algo complexo. Fora a matemática, a pessoa tem que saber como contar com um plano B quando os imprevistos surgem. E eles sempre surgem, quando menos espera. Não quero dar aqui uma aula de economia, mas sim, mostrar uma maneira de fazer nossos filhos aprenderem a administrar seu dinheiro. 
   Em minha família adotamos dar mesada para os filhos a partir dos 5 anos de idade, quando eles já tem uma certa noção do valor do dinheiro. Todos os sábados cada um ganhava um valor pequeno que era deles, e que faziam com este dinheiro o que quisesse, a gente não opinava. Mas a mesada, na realidade, era o pagamento para alguma atividade que eles tivessem feito. Como: trocar a água do cachorro, levar o lixo no sexto na frente de casa, varrer seu quarto, arrumar sua cama, secar a louça, fazer companhia para a vó e o vô, não reclamar na hora de fazer o tema ou deixar de jogar video game, estas coisinhas pequenas das crianças onde elas muitas vezes relutam e não querem ceder.
   Mas tinha um detalhe: mesmo eles tendo a liberdade de fazer com seu dinheirinho o que quisessem, quando a gente ia de férias para a praia no verão, os picolés e sorvetes comprados na orla, tinham que ser bancado por eles. Eles tinham que administrar seu dinheiro, para que "sobrasse o suficiente" para ao menos dez picolés, um por dia. E esta fórmula funcionou maravilhosamente. Eles aprenderam a poupar. Claro, não queriam ficar sem picolés na beira da praia. Na medida que foram crescendo, por gostarem muito de montar Lego, começaram a poupar para comprar estes kits. Tinha um folder com diversos modelos e preços, e eles traçavam a meta para que perto do dia das crianças tivessem o dinheiro suficiente para comprar o kit que queriam com a poupança da mesada. Então a gente ia a São Leopoldo, tinha uma loja enorme de produtos Lego, e eles compravam seu kit. Sempre era uma festa para eles, e eles viam que se acumulassem seu dinheirinho podiam tirar resultados, muito diferente de pegar aquele pingadinho do sábado e correr no supermercado para torrar tudo em porcarias.
   Hoje estão crescidos, cada um tem seu cartão de crédito. Nunca precisei completar alguma fatura do cartão deles, ou emprestar dinheiro para despesas pessoais, ou para ir na balada. Simplesmente pelo fato de terem aprendido que mesmo recebendo pouco por semana, dava para traçar metas e colher o resultado disso.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Hora da Faxina - Celulares



 O Celular

   O celular chegou e mudou completamente o conceito de vida, conexão, praticidade e também criou uma forma de alienação na humanidade. Mas eu não quero falar sobre o lado filosófico da questão, do quanto está alienando a juventude, deixando os jovens viciados, dependentes. Quero falar sobre a história desta maquininha interessante que começou grande e pesada. Também não vou contar a história dele. Isto você acha na Wikipédia. Eu vou falar de minha percepção sobre esta joinha.
   Quando ele surgiu em nosso meio lá pela metade dos anos 90, poucas pessoas tinham condições de mantê-lo. Pois só existia o de linha e era caríssimo para comprar a linha e pagar o preço da mensalidade. Não saberia dizer em números de hoje quanto custava.
   No final dos anos 90 tive meu primeiro contato com o celular. Chegou um cliente com o aparelho preso ao cinto. Era pesadíssimo, quase um quilo, e chegava a pender o cinto devido ao peso. Seus recursos? Fazia e recebia ligações. E isto já era uma grande coisa, pois conseguir receber ou fazer uma ligação não era tão fácil assim. Quando ele tocava, começavam a puxar de dentro uma antena daquelas cromadas de rádio, que chegava a uns 2 metros de comprimento. E para limpar a recepção, tinha que ser atendido ou ligado do lado de fora, na rua, para não ter interferência. 
   Eram cenas inusitadas, hilárias, que hoje em dia ainda, ao relembrar este início do celular começo a rir, lembrando daqueles tijolões que descarregavam a bateria pesada que tinham em pouco mais de meio dia. Mas a teimosia humana é constante e os aparelhos foram evoluindo, diminuindo de tamanho e de peso, ganhando eficiência e agregando utilidades, deixando-os como ferramentas quase imprescindíveis do nosso dia-a-dia. Se não, vejamos:
   Os celulares desbancaram os relógios de pulso. Poucas pessoas ainda usam, já que têm a hora no aparelhinho. Inclusive eu também dispensei. Eles também estão aos poucos dispensando a câmera fotográfica, tomando o seu lugar. Afinal, a qualidade de fotos que muitos celulares fazem, supera muitas máquinas digitais que existem por aí. E vem com tudo agregado, até flash. Também engavetaram a famosa calculadora de bolso, que quando surgiu nos idos dos anos 70, custava o preço de um celular completo de hoje em dia. O celular também matou o walkman - aparelho com rádio e cd player portátil para passeio. Está tomando o lugar do GPS, do controle remoto, do leitor de diversos códigos, e no futuro será tudo centralizado nele. Inclusive o alarme do carro e da casa. 
   Sobre o uso do celular para controle remoto, a juventude descobriu uma brincadeira nova. Trata-se dos aparelhos de som que estão expostos nas vitrines das lojas e que não são desligados da tomada durante a noite. Eles baixam o código do controle remoto daquele aparelho na net, instalam no celular e de madrugada ligam o aparelho exposto na vitrine, dando todo o volume e infernizando a vizinhança. Eu até acho graça da criatividade, mas deve dar um susto sem tamanho em quem mora perto da loja, acordar às 3 da manhã com sonzeira a todo o volume e descobrir que vem de um aparelho exposto na vitrine da loja do lado de sua casa. Muitas vezes são filiais de matrizes distantes e até achar o responsável para desligar o aparelho, já está amanhecendo. Bendita tecnologia!!!!

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - Os Velhinhos





Os Velhinhos

   Pessoas idosas conseguem muitas vezes ser bem originais. Principalmente nas expressões que usam para impregnar uma conversa de bom humor. As tais das 'saídas' inteligentes que muitas vezes nos fazem ficar impressionados pela lógica que empregaram para se expressar.
   Mas, envelhecer é o que todos desejamos. As pessoas sabem que envelhecendo têm a oportunidade de compartilhar suas experiências e seus conhecimentos e através deles mostrar que ao longo de sua vida acertaram na maioria das escolhas.
   Envelhecer significa legar seu mundo de sabedoria aos filhos, aos netos, bisnetos, pessoas mais jovens e, de repente ver estas pessoas aproveitando sua sabedoria para conquistar seu espaço no mundo. Este é o prêmio maior. Só que, envelhecer também trás consigo suas  mazelas: aparecem dores de uma hora para outra, em lugares onde os velhinhos e velhinhas jamais imaginaram que um dia dali pudessem surgir. O corpo, com seu desgaste natural fica comprometido e então vem a dor. Geralmente é um convívio normal com a dor e administrável através de medicamentos, podendo eles então levar a vida sem grandes complicações.
   Um bom passatempo dos idosos é ir até a praça e sentar lá para conversar com outros idosos e assim gastarem o tempo. Os assuntos são os mais diversos, sobre tantas coisas que já atravessaram na vida, experiências, histórias de outras pessoas, situações, viagens, enfim, um emaranhado de assuntos que não têm fim. Sempre existe um novo gancho para mais um novo assunto. Mas, geralmente o tema mais usado na conversa é o emprego que tiveram e sobre as atividades deste ofício. Mas, volta e meia, aquela pontada de dor faz o assunto mudar de rumo e então o bom humor muitas vezes se torna inusitado.
   Um dia, estava sentado no banco da praça no centro da cidade um velhinho, olhando o movimento, enquanto esperava outro velhinho que viria conversar com ele. Tinha dores no corpo as quais o deixavam irrequieto. 
   Não passou muito tempo, chegou o outro velhinho, o José, deu bom dia e sentou ao lado do Henrique, que já estava ali com suas dores acompanhando o movimento do centro.
   Muita conversa rolou sobre tantos assuntos diferentes, que até Henrique se distraiu e acabou esquecendo um pouco aquela coluna que latejava feito vulcão. Mas, como é inevitável, sempre acontece aquele momento de vazio entre novas falas, onde tudo que estava latente volta a se manifestar. Então, numa pontada de dor que atravessou todo seu corpo, ele se ajeitando melhor no banco duro de concreto, perguntou ao José:
   - José, temos mais ou menos a mesma idade. Estamos ambos rondando os oitenta e cinco anos. Me diz: você se sente como eu, com dor em todas as partes do corpo?
   José olhou para Henrique, deu tapinhas no ombro dele e respondeu todo simpático:
   - Digamos que eu me sinto como um recém nascido!
   - Como assim, recém nascido, José? Não consigo acreditar que tu estás com toda esta energia ainda...
   - Não! - Respondeu José. - Não é isto que quero dizer. Me sinto como um recém nascido porque estou careca, sem nenhum cabelo na cabeça, banguela, sem nenhum dente na boca e acho que acabei de mijar nas calças!

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Hora da Faxina - São Leopoldo



 São Leopoldo

   Nos anos setenta a cidade de São Leopoldo era muito gostosa de se viver. Foi a época em que a cidade deixou de viver como berço brasileiro da colonização alemã, para se transformar num respeitado centro comercial da região. Fervilhavam as repúblicas, casas de aluguel que abrigavam grupos de estudantes da faculdade Unisinos a recém criada, grupos de trabalhadores no Rossi fabricante de armas e na Gedore fabricante de ferramentas, e de tantas outras empresas em ascenção.
   Nos sábados, a rua Grande era tomada por pessoas vindas de fora para fazer compras nas tantas lojas que fervilhavam de gente atrás de ofertas e novidades. Bons tempos da Emílio Müller, CR Schneider, Pernambucanas, Casa Mena, Mesbla, O Gramophone, Barbearia Central, Ferragem Feldmann, Casa do Lar, entre tantos outros, e bar Stalu's Chop que ficava na quadra acima do colégio Visconde de São Leopoldo e era o point das noites de sextas e sábados para as eternas caçadas e flertes. Este bar ficava já num calçadão que avançava até o meio da rua Grande a deixando em meia pista.
   Naquela época, Novo Hamburgo, cidade vizinha, era a capital nacional do calçado. Inúmeras empresas se instalaram naquele município para fabricar calçados, bolsas e cintos de couro, aproveitando a fartura de mão-de-obra especializada no setor. Como era um ramo lucrativo, pessoas de cargos importantes nas empresas tinham salário abastado, podendo proporcionar uma vida boa à família. E as filhas destas pessoas, de carro zero tipo Chevette, Passat, Corcel, Brasília e tantos outros carros da época, enchiam estes carros de amigas e vinham a São Leopoldo passear nas sextas e sábados à noite, para conhecer os tantos rapazes que moravam e estudavam ou trabalhavam lá. E elas subiam a rua Grande e desciam a Primeiro de Março diversas vezes, para que fossem notadas.
   Nosso passatempo era sentar no calçadão daquele bar Stalu's Chop o mais perto possível da meia pista para vermos as meninas de perto e também sermos notados. E quando um olhar rolava, elas achavam um estacionamento e vinham sentar conosco iniciando amizade. Tudo simples, natural.
   Eu morava numa república com dois irmãos, mais dois rapazes que eram primos entre si, mais duas garotas, das quais uma era irmã de um dos rapazes e a outra era prima deles. A gente tinha um convívio razoável, mesmo em meio às desavenças normais de pessoas estranhas entre si, que estavam repartindo um espaço por força do aluguel.
   Certa vez, meu irmão mais velho se desentendeu com um dos rapazes, o que tinha a irmã morando junto. Não lembro o motivo, mas certamente algo por causa da desorganização que aquela menina tinha, pois era muito sem ação. E os dois, meu irmão e ele pararam de se conversar. Só conviviam sob o mesmo teto.
   Um dia, meu irmão chegou em casa de tardezinha, este rapaz estava sentado na frente de sua tv preto e branco, marca GE a válvulas, de 14 polegadas, olhando a programação, e o rapaz, sem tirar os olhos da TV disse para o meu irmão:
   - Cortou o cabelo?
   Meu irmão, achando bacana a atitude do rapaz voltar a conversar com ele, respondeu:
   - É, cortei! Dá para se notar?
   E o rapaz falou taxativo:
   - Não, eu te vi no barbeiro!

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Hora da Faxina - Realçando o sabor das Carnes



 Preparando Carnes

   Conversando com as pessoas descubro que muitos e muitas que cozinham não gostam de fazê-lo pela dificuldade que têm em preparar uma carne que fique boa, macia e gostosa. Pensando nisto resolvi falar um pouco sobre a arte de fazer uma carne que deixe aquele huuuuum no ar ao saborear este prato. Tenho o costume de dizer que para fazer uma comida gostoso basta se jogar as coisas na panela e o fogo faz o resto. Esta é apenas uma forma simples de dizer que na comida menos é mais. Ou seja, fazer uma carne gostosa não tem segredo, basta saber como se faz, sem muita frescura, apenas deixá-la saborosa.
   Então vamos lá. Só vou falar das carnes feitas na panela, pratos simples do dia-a-dia. 
   Todas as carnes para ficarem gostosas devem ser 'desaguadas' antes de acrescentar qualquer ingrediente. Ou seja, você coloca o óleo para fechar o fundo da panela que for usar. Sempre é melhor uma panela de ferro porque ela tem o poder de criar um microclima centrado com temperatura distribuída de um jeito que a carne perca sua umidade mais ligeiro. Para todos os tipos de carne, coloque a panela no fogo com o óleo e vá cortando a carne, ou faça os bifes, enfim diminua o pedaço do jeito que quiser e vá atirando os pedaços na panela sem mexer. Quando tiver colocado tudo, geralmente em torno de 700 gramas o que dá uma refeição para quatro pessoas, as primeiras peças já estarão fritas embaixo. Vire tudo, deixe desaguando, até toda a carne fritar. Isto vale para rês, frango ou porco. Deste jeito você estará extraindo da carne seu verdadeiro sabor, sem mascarar com alho, cebola, sal ou outros ingredientes. 
   Quando a carne estiver secando, começando a fritar cubra com uma cebola picada, tampe a panela e deixe a cebola amaciar. Até aqui o processo foi igual para os três tipos de carne. A partir de agora, o processo muda. Começando pelo frango, tempere a mistura com sal e pimenta do reino e alho e vá dando choquinhos de água para soltar o fundo frito que gruda. Em torno de 3 repetições deste processo a carne estará pronta e dourada para servir. Então sua imaginação vai dar o acabamento, se molho com tomate, ou supremo com uma colher de farinha diluída em água e acrescentado para engrossar. Dica: sobrecoxa de frango despelada e desossada dá um frango na panela bem mais gostoso do que peito.
   A carne de porco leva o mesmo processo, só que cubra a carne com água e atire junto na cozedura uma folha de louro. Sua imaginação vai dar o acabamento que quiser. Já a carne de rês necessita ao menos duas cozeduras de água cobrindo ela para amaciar, seja o tipo que for, com excessão do filé mignon, carne moída ou bifes grelhados. Na carne de rês acrescente o alho somente na última cozedura para ficar o gosto dele mais saliente.
   Dicas: para fazer um frango desfiado para lasanha, pizza ou pastel, prepare o peito da maneira como expliquei. Fica muito mais saboroso. Depois de pronto, basta esmagar com um garfo ou bater com batedor de feijão ou de bife até desfiar. O sabor vai ser muito elogiado. Outra dica: nuca peça para passar os bifes na máquina do açougue se não for fazer a carne na hora. Aquela máquina lascera a carne, saindo todo o soro, deixando-a sem sabor se fizer mais tarde.
   Então? Vamos cozinhar?????