sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - Os Velhinhos





Os Velhinhos

   Pessoas idosas conseguem muitas vezes ser bem originais. Principalmente nas expressões que usam para impregnar uma conversa de bom humor. As tais das 'saídas' inteligentes que muitas vezes nos fazem ficar impressionados pela lógica que empregaram para se expressar.
   Mas, envelhecer é o que todos desejamos. As pessoas sabem que envelhecendo têm a oportunidade de compartilhar suas experiências e seus conhecimentos e através deles mostrar que ao longo de sua vida acertaram na maioria das escolhas.
   Envelhecer significa legar seu mundo de sabedoria aos filhos, aos netos, bisnetos, pessoas mais jovens e, de repente ver estas pessoas aproveitando sua sabedoria para conquistar seu espaço no mundo. Este é o prêmio maior. Só que, envelhecer também trás consigo suas  mazelas: aparecem dores de uma hora para outra, em lugares onde os velhinhos e velhinhas jamais imaginaram que um dia dali pudessem surgir. O corpo, com seu desgaste natural fica comprometido e então vem a dor. Geralmente é um convívio normal com a dor e administrável através de medicamentos, podendo eles então levar a vida sem grandes complicações.
   Um bom passatempo dos idosos é ir até a praça e sentar lá para conversar com outros idosos e assim gastarem o tempo. Os assuntos são os mais diversos, sobre tantas coisas que já atravessaram na vida, experiências, histórias de outras pessoas, situações, viagens, enfim, um emaranhado de assuntos que não têm fim. Sempre existe um novo gancho para mais um novo assunto. Mas, geralmente o tema mais usado na conversa é o emprego que tiveram e sobre as atividades deste ofício. Mas, volta e meia, aquela pontada de dor faz o assunto mudar de rumo e então o bom humor muitas vezes se torna inusitado.
   Um dia, estava sentado no banco da praça no centro da cidade um velhinho, olhando o movimento, enquanto esperava outro velhinho que viria conversar com ele. Tinha dores no corpo as quais o deixavam irrequieto. 
   Não passou muito tempo, chegou o outro velhinho, o José, deu bom dia e sentou ao lado do Henrique, que já estava ali com suas dores acompanhando o movimento do centro.
   Muita conversa rolou sobre tantos assuntos diferentes, que até Henrique se distraiu e acabou esquecendo um pouco aquela coluna que latejava feito vulcão. Mas, como é inevitável, sempre acontece aquele momento de vazio entre novas falas, onde tudo que estava latente volta a se manifestar. Então, numa pontada de dor que atravessou todo seu corpo, ele se ajeitando melhor no banco duro de concreto, perguntou ao José:
   - José, temos mais ou menos a mesma idade. Estamos ambos rondando os oitenta e cinco anos. Me diz: você se sente como eu, com dor em todas as partes do corpo?
   José olhou para Henrique, deu tapinhas no ombro dele e respondeu todo simpático:
   - Digamos que eu me sinto como um recém nascido!
   - Como assim, recém nascido, José? Não consigo acreditar que tu estás com toda esta energia ainda...
   - Não! - Respondeu José. - Não é isto que quero dizer. Me sinto como um recém nascido porque estou careca, sem nenhum cabelo na cabeça, banguela, sem nenhum dente na boca e acho que acabei de mijar nas calças!

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