quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Hora da Faxina: Saia Justa




Saia Justa

   Sempre fui carudo. Do tipo de tomar a frente em ações inusitadas que ninguém tinha coragem de fazer pelo simples fato de ficar exposto. A exposição nua e crua das pessoas diante de outras pessoas as deixam inibidas e então travam. Por este motivo, tem inúmeras pessoas com um potencial enorme para desenvolver um sem número de atividades que as deixaria muito felizes e mais realizadas, mas acabam travando justamente no fato de este tipo de atividade colocá-los diante de pessoas ou situações, o que lhes deixaria muito difícil de lidar por causa da inibição.
   Uma pessoa inibida muitas vezes pode ter mais competência em determinado setor que almeja como emprego, preterido por alguém que não tem a mesma capacidade, mas que por demonstrar-se descontraído, 'em casa' como se costuma dizer. Pessoas travadas não conseguem convencer intensamente seus interlocutores, mesmo mostrando um currículo impecável. 
   Por isto é bom estimular nossos filhos desde pequenos a saberem se sair bem num palco, num grupinho de crianças onde possam se sobressair, numa apresentação da escola, na liderança de um jogo ou uma gincana, enfim, nas diversas maneiras que ajudam a criar autoconfiança e com isto automaticamente aprendem a dominar a inibição. Elas crescerão menos ansiosas, mais sociáveis e com muito mais chance de se darem bem na vida.
   Mas, mesmo sendo criado desta maneira, como eu e meus irmãos fomos, há os momentos na vida onde nenhuma prática se aplica a uma situação inusitada. A famosa saia justa. E foi isto que me aconteceu tempos atrás quando fui fazer um depósito para uma empresa no atendimento automático de um banco de nossa cidade. 
   Entrei na fila do caixa de autoatendimento já com o envelope preencido e o dinheiro dentro dele. Havia alguém na minha frente usando a máquina e no recinto se encontravam diversas pessoas. Atrás de mim se posicionou um casal conhecido meu. Nos cumprimentamos e cada um ficou na sua posição esperando a vez de usar o caixa. De repente ouvi o marido cochichando para sua esposa, num tom de voz numa altura proposital para eu ouvir: 
   - Vai, fulana, diz agora para o Pio o que falaste no domingo de manhã durante o programa de rádio dele lá em casa!
   Notei que ela ficou sem jeito pois começou a se remexer, respondendo num tom baixo, mas também audível: 
   - Fulano, aquilo foi brincadeira! Não é hora para tocar neste assunto.
   Eu fiquei acompanhando tudo com a orelha de pé. Ele, o marido então me cutucou. Virei para trás, ao que ele falou para a esposa dele: 
   - Tá aí, bem pertinho. Agora pede para o Pio te falar com a voz sexi dele palavras sensuais em teu ouvido, pede!
   A esposa dele, sem jeito, completamente deslocada, disse para mim:
   - Não repara, meu marido as vezes tem dessas boburas.
   Eu, sem saber como agir fiquei assim parado olhando os dois, anestesiado, enquanto o marido ria solto. Eu e a esposa dele, sérios, deslocados, ela roxa de vergonha. Foi daí que ele disparou:
   - Pio, pode falar palavrinhas sensuais no ouvido dela, eu já deixei de fazer isso há muito tempo.
   E desatou a rir de novo. A esposa dele baixou a cabeça, se virou e foi para a rua. Ele ficou na fila como se nada tivesse acontecido, dizendo:
   - Mas que ela falou, falou!
   Nisso o caixa liberou para mim. 
   Esta foi a legítima cena do tipo de desarmar até os mais preparados.

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