Foi num verão do início dos anos 2000 quando resolvemos tirar férias numa praia em Santa Catarina, mais precisamente, na praia da Armação, entre Campeche e Pântano do Sul, na ilha de Florianópolis. Me lembrei destas férias porque agora está em voga o nome desta praia devido à forte ressaca do mar, que está invadindo até construções e causando destruição. Inclusive fiquei triste com as imagens que vi. Isto, porque quando conheci esta praia um pouco antes de 2000, senti que ali tinha um pouquinho do paraíso presente: mar de águas verdes, transparentes, ondas leves e gostosas, areia límpida e um clima de prainha pequena, de pescadores, aliada à infraestrutura de bens de consumo típicos de um ponto turístico, como artesanatos, moda, e supermecados bem sortidos. Para completar o cenário, Armação tem aquele perfil açoriano, com a rua principal terminando em frente à igrejinha e está rodeada de morros com florestas naturais, indesbravadas.
Ainda, descrevendo Armação, no final da baía tem uma ilhasinha que se alcança a pé na maré baixa. Hoje já existe um caminho através de pontilhão para se chegar na ilhota em qualquer momento. Sua altitude deve girar em torno de 40 metros, que se consegue subir facilmente e lá de cima a visão é incrível. De um lado, a praia da Armação, do outro lado, Matadeiros, praia de surfistas e somente alcançável através de trilhas. Olhando em direção ao mar, não muito distante dali, vê-se a praia de Campeche e sua ilha que lhe deu o nome, famosa pelos desenhos rupestres. No verão, Armação tem um clima muito quente, perfeito para quem gosta de praia, e devido à posição em que se situa, o sol nasce no lado direito da praia e se pôe no lado esquerdo.
Alugamos uma casa em uma servidão - como chamam as ruelas estreitas, onde mal passa um caminhão e perpendiculares às ruas - distante 2 quadras do mar. A casa não era lá estas coisas, pois estava cheia de cupins. Mas, no geral, limpa, com móveis e utensílios bons, onde deu para tirar 10 dias de férias bem legais.
Íamos à praia de manhã, de tarde e de noite. De noite? Sim, de noite! Pois, como o centro da cidadezinha está grudado na orla, tinha muita iluminação e nada paga o prazer de um banho de mar noturno, onde parece que a gente é dono de toda esta natureza. Mas, de noite fomos umas três vezes. O resto da semana ocupamos em jogos entre a turma que foi. Também tinha uma mesinha de sinuca, e o proprietário da casa, que ocupava uma casa ao lado da que alugamos, era um exímio jogador de sinuca. Ele inclusive tinha um taco daqueles que vem dentro de um estojo de couro com fivelas douradas e segredo na fechadura. O taco era em duas partes, o qual ele montava para jogar.
Foi então que entre uma conversa e outra do meu cunhado com o proprietário, ele inventou que eu era o melhor jogador de sinuca do Rio Grande do Sul e que até meu apelido por lá era Taquinho de Ouro. Mas, ele fez isto de sacanagem comigo porque eu não jogava e não jogo naaaada em matéria de sinuca. E meu cunhado comprovara isto mais uma vez com as jogadas que vínhamos fazendo, apostando latas de cerveja. O proprietário, então me desafiou a um jogo, valendo um churrasco. Eu relutei em aceitar porque sabia que iria perder, mas o proprietário tomou isto como se eu desdenhasse o seu talento no jogo da sinuca. Então, meu cunhado disse que sabia que eu iria perder, mas que nós racharíamos a despeza do churrasco. Acabei aceitando o desafio porque o velhinho me assediava todos os dias.
Sexta-feira de noite foi a vez do desafio. O velhinho veio com aquela maleta de couro, com as fechaduras brilhando, colocou sobre a mesa e escondendo de nós o segredo dos números da fechadura, abriu a maleta e retirou o taco. Eu, escolhi qualquer taco da meia dúzia que estava em seu suporte na parede, passei giz e fui à luta. Na tacada inicial para ver quem começaria, já sobrou para mim o início. Pensei: seja o que Deus quiser. As bolas estavam todas alinhadas nas paredes da mesa. Peguei uma bola, mirei uma segunda e... tac!
Nem eu acreditei: no primeiro lance, enterrei três bolas do adversário na caçapa. O velhinho arregalou os olhos e disse embaraçado: "Você joga bem mesmo!" Eu peguei confiança e mirei mais uma vez. Mais uma tacada, mais uma bola. Nem eu acreditei no que estava fazendo. Meu cunhado, malandrão que é disse:
- É, este é o Taquinho de Ouro!
O velhinho já estava sentindo-se perdido e haveria de ter que arcar com um churrasco no almoço de sábado para nossa patota que éramos 14 pessoas.
Faltavam encaçapar 2 bolas e eu me consagraria. Preparei para tacar a penúltima bola, e lançá-la à caçapa e o que aconteceu, nem eu acreditei: a bola mestra bateu na do adversário e em vez de entrar na caçapa bateu em duas bolas minhas e as encaçapou, para bater na outra do adversário e encaçapá-la também. O velhinho riu nervoso e disse:
- Estas duas bolas que encaçapou por mim você só fez para me enganar, não?
Eu dei uma risadinha e me concentrei no jogo. Meu cunhado estava roxo de tanto rir porque eu nunca havia ido tão longe num jogo de sinuca, sempre perdia de cara. Mas, a última tacada foi errada e de lá em diante, não fiz mais nada e o velhinho me venceu.
Sábado então pagamos um churrasco para o velhinho, quando foi que meu cunhado contou para ele a verdade.
O resto das férias, toda a vez em que o velhinho passava por mim dizia:
- Taquinho de Ouro, hein?
Hahaha, realmente nós rimos muuuuito. Em breve vou contar mais uma história engraçada daquelas férias, agora sobre os cupins.
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