OS BAILES DE ANTIGAMENTE
É muito interessante a diferença dos bailes como eram antigamente comparados aos da hoje em dia. Se a gente observar um pouco, nota-se primeiramente que as pessoas não se preparam mais para ir a um baile e muitas vezes vão para o encontro musical com a mesma roupa que usam para trabalhar durante a semana.
No salão, os rapazes dançam longe das garotas, até parece que eles estão com medo. Então, se bate e se tenta ritmar com os pés, parecendo ser um índio aprendendo música.
Antigamente era bem diferente. Para começar, só aconteciam em torno de dois bailes por ano e para acompanhá-los muitas coisas aconteciam.
Primeiro, principalmente as garotas, sempre arrumavam trajes novos para estes eventos, das calcinhas até os sapatos. Normalmente as costureiras trabalhavam dia e noite para aprontar as roupas com esforço e qualidade.
E isto dava uma correria de garotas indo e levando para suas costureiras: botões, elástico, retrós, tudo faltava, tudo tinha que ser providenciado.
Os jovens irmãos ou irmãs muitas vezes também eram envolvidos na atividade, querendo ou não, e também tinham que carregar essas miuceias para lá e para cá. Mas para eles sempre era algo grande pois eles podiam se sentir importantes.
Também existiam os bailes onde os rapazes ganhavam na entrada do salão um pedacinho de tecido e tinham que descobrir no salão o parzinho que usasse um vestido feito com o mesmo tecido, em cor e flores e tinham que dançar com elas.
Com isto então muito acontecia. Muitos rapazes dançavam com quem não tinham tanta vontade. Outros, então tinham a oportunidade de dançar com aquela garotinha que jamais teriam coragem ou competência para convidar e com elas dançar. Era o baile do floreado (blumichbóol), o mais esperado do ano.
Em outros bailes muitas vezes eram deixado de lado certas garotas, que sentavam sobre bancos que ficavam pelos cantos do salão esperando algum rapaz. Este banco então era denominado Banco do João (Bankehannes). E para uma garota ficar num banco daqueles uma noite inteira era para ela a maior humilhação porque sempre havia alguém a debochá-la. Existiram então as garotas que, entra ano, sai ano só ficavam nos bancos acompanhando os bailes. Muitas vezes já eram de mais idade, zarolhas, ou de beleza não tão saliente. E, para elas um dia poderem se sentir melhores, algum rapaz às vezes fazia aposta com os amigos por cerveja: tantas músicas que fosse dançar com a garota gordinha ou feinha, tantas cervejas ele ganharia. Então as garotas do Banco do João ganhavam a oportunidade de dançar uma meia dúzia de marcas. E os amigos do rapaz sentados pelos cantos, riam até não querer mais da imagem desta situação. O bom é que por várias ocasiões, surgia dali um parzinho novo de namorados, pois os rapazes conseguiam ver a essência destas garotas e entender que a estampa da garota não é nada se conhecendo o seu interior. Geralmente elas eram inteligentes.
Muitas vezes os rapazes vinham de longe a pé, atravessavam os campos de pastagens até o baile descalços e só colocavam seus sapatos de couro quando chegavam perto do salão. Sim, eles só tinham este par de sapatos e precisava ser cuidado. Além disso, como não eram acostumados a usá-los no dia-a-dia, causavam desconforto nos pés. Muitas vezes eram sapatos com mais de dez anos de uso.
Por causa disso às vezes também aconteciam cenas engraçadas. O Paulo me contou que antigamente aconteceu entre ele e seu amigo Walter num baile em Tupandi: eles atravessaram descalços os campos de São Benedito e quando eles estavam chegando perto do salão, o Walter falou para o Paulo:
- Espera um pouco. Vamos sentar aqui no chão e colocar os sapatos.
Era uma noite escura como breu, não se enxergava nada além das estrelas e a lâmpada em frente ao salão um pouco ali na frente. Walter sentou. Logo, ele levantou de novo de supetão e gritou:
- Droga!
- O que aconteceu? - Perguntou o Paulo. Walter respondeu:
- Temos que ir para casa. Assim é impossível eu ir no baile.
- Por que? - Perguntou o Paulo.
- Porque acabei de sentar num monte de bosta de vaca.
- Vai você! - Disse o Paulo. - Eu vou no baile!
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