terça-feira, 6 de maio de 2014

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - O Negociante




O Negociante

Dillo era um negociante como poucos haviam antigamente. Ele tinha uma loja cheia de novidades e modernidades, diferente das outras, como televisores, rádios e aparelhos que funcionavam com pilhas e assim por diante. Mas, como o seu negócio se situava em uma cidade pequena como o Caí, ele tinha que ir até o interior para incrementar suas vendas. Então ele levava tevês com ele e ia até as casas no interior, instalava, e assim podia fazer um teste para ver se as pessoas gostavam e por fim adquiriam seus aparelhos.
E estes eram dos mais modernos, televisores com válvulas econômicas, que não gastavam tanta energia quanto aos modelos que andavam funcionando por aí.
Ele parou na frente de uma casa, um pouco mais requintada, bateu na porta e aguardou. O dono da casa não se encontrava. Ele estava na roça, só a esposa dele se encontrava. Ela atendeu, e Dillo já foi entrando na residência, falando das vantagens daquele modelo de aparelho. Só que a esposa não estava afim de deixar instalar o aparelho. Então ela disse:
- Dillo, meu marido é um dos antiquados. Ele não fica atraído pelas modernidades, principalmente algo como uma televisão.
- Não! Eu deixo a televisão com vocês instalada por três semanas. Vocês podem usá-la e ver se querem ficar com ela ou não. Se não ficarem, não vai ter nenhum custo. - Respondeu Dillo.
Assim aconteceu. Mesmo a mulher não querendo que o aparelho fosse instalado, o Dillo o deixou lá.
Quando ele estava embarcando no carro, a mulher veio correndo até ele e ainda tentou:
- Dillo, meu marido não vai ficar satisfeito em ver esta televisão instalada lá em casa. Por favor, desinstale-a e leve-a embora.
- Bobagem! - Disse o Dillo. - Quando seu marido enxergar as belas imagens que este aparelho mostra, com certeza irá pensar diferente.
No outro dia, Dillo já na sua loja na cidade, viu parar bem na frente dela um trator, onde desceu um homem com um porquinho no colo, e entrou loja a dentro. Era o marido da mulher onde Dillo havia instalado uma tv para experimentarem durante um mês. Então disse:
- Dillo, você tinha razão! Eu vi as belas fotos na televisão e aí, o que disseram me fez mudar de ideia. Eles disseram que a gente sempre deve pagar as contas, retribuindo com a mesma moeda. Assim, eu te trouxe este porquinho para deixar três semanas contigo, e se te servir, te vendo ele, do mesmo jeito que quer me vender o televisor.
Ele deixou o porquinho lá no meio da loja e foi embora.
Depois de uma semana, o Dillo foi para a colônia para pegar a tv de volta e devolver o porquinho para o  seu dono.
Mas, a experiência não foi de graça: muitos vizinhos do Dillo compraram televisores. Valeu a pena ficar com um porquinho por uma semana, cuidando dele.
Algum tempo depois, o Dillo recebeu um tipo de aspirador de pó mais potente para vender. De novo a mesma coisa: Ele foi até o interior para incrementar suas vendas. E em algumas casas ele então parava para demonstrar seu aparelho.
De fronte a uma casa de alvenaria, ele desembarcou com um dos seus possantes aspiradores, com a certeza de que venderia seu produto numa casa tão chique. Trazia consigo milho, arroz e um punhado de terra, os quais espalhava no meio da sala. Ainda junto, muito pó e arreia. Então, depois de espalhar este monte de coisas no tapete da sala daquela casa ele disse:
- Madame, se o aspirador não sugar tudo do tapete, o que sobrar, eu como. Com certeza comerei tudo!
A mulher começou a rir e foi saindo.
Dillo então perguntou:
- Ué, madame, onde a senhora vai?
Ela respondeu:
- He, he, vou pegar uma colher para você e uma vassoura para mim. Desde ontem estamos sem energia elétrica em casa. Com certeza o aspirador não irá funcionar. E como prometeu, vai ter que comer tudo.

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