Uma mãe especial.
Ontem revi a maleta guardada no armário do quarto de visitas onde Bere guardou algumas lembranças de nossos filhos quando eram crianças. Sempre dizia: "Vou dar para minhas noras quando estiverem esperando meus netos!" - São cueiros, bonés, bicos, mordedores, babadores, chales e o primeiro trajinho que cada um vestiu. Do Wagner verde-água e do Guilherme amarelinho claro. Quando ela soube que estava grávida do primeiro filho ela foi na loja e comprou o traje verde-água. Chegou em casa e me mostrou toda boba a aquisição, a primeira do enxoval do bebê, dizendo que comprara uma cor neutra porque não queria saber o sexo do bebê antes de nascer. Que durante a gravidez preferia falar com menino e menina para se criar doce como ser humano, sem distinção de sexo, pois homem e mulher antes de mais nada, tinha que ter sentimentos, não prioridades ou vantagens. Na gravidez do Guilherme aconteceu a mesma coisa. Só que ela já tinha comprado seu trajinho amarelo clarinho antes de engravidar de fato.
O zelo de Bere ter guardado essas coisas é o reflexo de como ela era. Bere não tinha o costume de guardar, sempre reciclava. Mas o que para ela era realmente importante, ah, isso ela guardava com cuidado e carinho.
Vendo aquelas coisinhas guardadas, embaladas com cuidado para as traças não pegarem, com sabonetinho em sachê no fundo da mala, aquele aroma que levantou quando a abri, me bateu uma saudade sem tamanho. Chorei. Vi naquele pequeno espaço uma vida inteira que pulsou em toda a sua existência por aqueles dois seres frágeis que haviam se gerado em seu ventre e que ela levou em frente como leoa, para que chegassem na maturidade íntegros, verdadeiros e sinceros. Me passou na memória o filme do imenso caminho que ela trilhou para fazer de nossos filhos o que são, não poupando esforços para que isso acontecesse. Bere desligou diversas vezes de tudo, somente para ver nossos filhos bem. Quantas vezes ela sofreu mais do que eles no sentimento pelo que estavam passando? Perdi a conta. Ela sofreu junto com as doenças deles, com as dificuldades deles, com os desacertos deles, com as limitações deles. E queria abraçar o mundo para num aperto nele, tirar a essência do que fosse necessário para vê-los novamente bem. Bere foi uma mãe especial. Não foi melhor que qualquer outra mãe, mas foi especial. Pelo menos para mim, que estive ao seu lado em toda esta bela estrada que trilhou. Pena que chegou muito rápido ao fim, e mesmo que tenhamos feito pontes para atravessar o rio turbulento que se atravessou neste caminho, a fragilidade dela não a deixou passar. Ela ficou. Eu segui.
Ontem levei flores para ela no cemitério. Rosas vermelhas, sua paixão. Trinta e uma no total. Mais duas amarelas e uma cor-de-rosa. Limpei seu túmulo como ela limparia a casa para o seu dia das mães e desejei a ela que no plano em que se encontra, que continue me inspirando a continuar firme e certo no conduzir de nossa família. Ah como eu amei... ...e ainda amo!
Bere e Wagner
Bere e Guilherme
Nenhum comentário:
Postar um comentário