sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Culinária: Almondegões



Almondegões de Carne no Forno

INGREDIENTES (RENDE 6 PORÇÕES):

500 g de carne de agulha sem osso moída 2 vezes
500 g de carne de coxão duro moída duas vezes
350 g de carré de porco moído duas vezes
150 g de bacon moído 2 vezes (se não gosta de bacon, aumenta a carne de porco para 500 g).
2 cebolas médias
1 tomate médio sem pele
2 dentes de alho
3 colheres de vinho tinto seco
2 colheres de colorau
3 colheres de farinha de trigo integral (ou farinha de rosca)
2 ovos
Sal
Pimenta do reino

MODO DE PREPARAR:

Coloque o forno a aquecer 180 graus. Enquanto isto, coloque todos os ingredientes numa vasília, pique os temperos miudinho e acrescente. Quando tiver acrescentado tudo, ponha sal e pimenta a gosto,  misture a massa como se fosse de pão, sovando e virando até que a massa desprenda da vasília. Faça bolas grandes, em torno de 8 cm de diâmetro. Coloque em assadeira untada com banha (ou óleo) e coloque no forno para assar durante 1 hora e 15 minutos. (Quando estiver seco o fundo da assadeira.

Acompanha bem uma massa com molho e maionese, ou arroz e maionese com saladas.

Hora da Faxina - Gente Sem Noção



  Gente Sem Noção.
É incrível como existe gente sem noção. Sem noção em vários sentidos, onde afetam a vida de outras pessoas e ainda se acham vítimas quando são alertadas para isto. E esta atitude ainda fica mais proeminente na época das festas de fim de ano. Gente sem noção que tenta furar a fila seja onde for, que briga pelo último exemplar daquela tigela de plástico de um e noventa e nove no bazar para dar de presente de Natal, que grita irritada para a fila andar mais rápido porque ainda tem que montar a gororoba que vai apresentar na ceia ou que fica bufando atrás daquela velhinha de passos lentos na calçada que fica barrando a sua passagem com um guarda-chuva enorme, que mais parece um guarda-sol.
Gente sem noção. E eu fui premiado nesta véspera de Natal. Foi uma entregadora de pacotes tão sem noção, que, do contrário do meu modo de ser, tive que bancar o estúpido para mostrar o quanto sem noção aquela pessoa estava sendo.
Ontem de manhã, oito horas, acordei com palmas na frente de casa. Detalhe: havia trabalhado até as três e meia da manhã com gravações para a China, e mesmo eu abrindo minha loja às nove, pensei em esticar um pouco mais. Mas, após as palmas, toques de campainha, mais palmas e o desgraçado e famigerado: "Ó de casa!" - gritado insistentemente a plenos pulmões, comecei a me irritar. Porém, fiquei na minha. Pensei: "Esta mulher vai ver tudo fechado, vai 'raciocinar' que ainda estamos dormindo e vai embora." Que nada. Ficou insistindo entre gritos e palmas e toques de campainha até as oito e meia, acordando toda a vizinhança.
Eu, muito chateado, acabei me sentindo lesado com tamanha falta de noção e falta de "sefragol" para conosco. Mas, abri a janela do quarto para despachá-la e eis que vi uma mulher com uma caixa na mão gritando pra mim:
- Pode vir aqui? É um presente pra ti de ...fulano de tal.
Eu, sonolento, esfregando os olhos, respondi:
- Você não viu que meu horário é a partir das 9 da manhã? Se você não sabe, mas faço questão de contar que trabalhei até passar das três e então você está sendo muito incômoda, estorvando meu sonho me tirando da cama antes das nove.
E ela, toda cheia de si, poderosa, respondeu:
- Eu estou somente fazendo meu trabalho. Tem esta encomenda pro senhor, preciso entregar e eu não posso passar mais tarde aqui para entregar. Poxa, pega aqui, tá na mão. É uma encomenda pra você. Não posso voltar depois das nove.
Eu, tendo dormido somente em torno de quatro horas, tentando raciocinar, mas sabendo que aquela atitude da mulher estava completamente sem noção, porque o entregador tem que se sujeitar a entregar quando tem alguém para receber e não tirar da cama à força, respondi:
- Pois moça, saiba que quem não respeita o direito dos outros não merece atenção. Você não imagina o que é minha vida para ficar enchendo meu saco de manhã cedo, quando tem horário afixado de início das atividades aqui. Pega este presente, seja de quem for, que seja até do papa e bota fora. Eu não quero se for pra ser entregue por uma pessoa sem noção como você.
Ela ficou furiosa. Gritou de volta:
- O senhor está prejudicando meu trabalho. O que custa vir aqui e pegar já que está com a janela aberta?
E eu respondi:
- Não custa nada. Mas você não está desempenhando seu trabalho. Está sendo uma maluca sem noção enchendo o meu saco e de toda a vizinhança há mais de meia hora.. Você está sendo uma imbecil autoritária querendo que eu aja da sua forma, quando que, alguém que entrega mercadorias tem que se sujeitar a voltar quando não consegue entregar na primeira vez. Já lhe disse. Bota fora, seja de quem for, não vou aí pegar.
Fechei a janela e voltei a deitar.E ela foi embora. Não voltou mais hahaha. Decerto botou fora mesmo.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Hora da Faxina - O Pedreiro



 O Pedreiro 

   Dizem que esta história é verdadeira. E acredito que realmente seja, afinal, tantas coisas inusitadas acontecem ou são ditas, que mais esta, pode perfeitamente ser real. Ainda mais quando se trata de pedreiros e suas façanhas. Existem tantas histórias a respeito deles que não fica difícil compor um livro. Mas hoje, vou focar no pedreiro Pedro, muito conhecido em nosso interior, pela alta qualidade de suas construções, deixando uma reputação invejável pelos seus feitos.
   Por outro lado, Pedro era uma pessoa de poucos risos, mas seu senso de humor era peculiar. Ele tinha um jeito de dizer as coisas que deixavam as pessoas a pensar ou, dependendo do que dizia, tinham que rir. E em sua vasta lista de obras dificilmente havia alguma no meio que desabonava seu trabalho.
   Mas em uma obra ele foi mal. Justamente numa obra pequena, de dois dias de trabalho, sem muita engenharia, somente usando sua técnica e habilidade e seu conhecimento de tantos anos na arte de agregar tijolos. Aconteceu o seguinte:
   Libéria contactou Pedro para que fizesse um orçamento para um forno de barro grande, para sua família. E, num dia de tardezinha ele foi lá na casa da Libéria, viu o espaço destinado para este forno, calculou, fez as contas e disse que junto com o servente, faria a obra por dois mil reais. Já apresentou a lista de material que necessitava e ficou esperando a resposta para iniciar a obra.
   O marido da libéria achou um assalto o orçamento feito pelo pedreiro já que o mesmo tinha dito que em dois dias estaria pronto. Mas, como era o melhor pedreiro da região, decidiram mesmo assim contratá-lo.
   No dia marcado Pedro chegou com suas ferramentes, seu servente, e iniciou a construção do forno. Como era seu costume, um esmero sem igual foi aplicado durante toda a execução da obra, com todos os detalhes de acabamento perfeitos.
   Finalmente no sábado de manhã ele terminou a obra. Ainda deu alguns retoques e depois chamou Libéria dizendo para ela:
   - Antes de fazer a primeira fornada de pão deve queimar papel e gravetos em grande quantidade para que o forno 'cure' por dentro e se transforme numa estrutura bem sólida. 
   Libéria acatou suas instruções dizendo que faria de acordo como ele dissera. Pegou o maço de notas de cinquenta e entregou ao pedreiro fazendo o pagamento pelo seu trabalho. Nisto também chegou o marido de Libéria voltando do trabalho e seus três filhos estavam ao redor do forno eufóricos para ver ele assando os melhores pães da redondeza.
   Pedro agradeceu e foi embora. Quando ele tinha caminhado uns cinquenta metros, ouviu-se um estrondo. Era o forno que estava ruindo. O marido de Libéria gritou:
   - Pedro!
   Pedro continuou caminhando. Então Libéria gritou:
   - Pedro, o forno ruiu e nós nem tivemos a oportunidade para inaugurá-lo. 
   Pedro, sem olhar para trás, continuou caminhando e levanto o braço gritando de volta:
   _ Também, ele não podia durar a vida toda!

   

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Culinária: Peito de Frango ao Molho Madeira com Champignons Assado no Forno



Peito de frango assado no forno ao molho madeira com champignons.

   Um prato muito delicioso que acompanha bem tanto arroz, como massa ou batata cozida ou no vapor. Fácil e rápido de fazer. Um sabor diferente para deliciar esta carne normalmente seca quando não preparada de acordo.



INGREDIENTES (4 pessoas):



1 peito grande de frango desossado e sem pele (800g)

2 sachês de molho madeira (Elege) - 400 ml
100 g de champignons em conserva.
1 cebola pequena
Sal, pimenta branca, Gril (Maggi)
1 colher de Colorau 
4 colheres de Azeite de oliva.


MODO DE FAZER:



   Enquanto põe o forno a aquecer a 250 graus, corte o peito de frango em bifes, coloque numa bacia. Acrescente a cebola picada miudinho e tempere com sal a gosto, Gril e pimenta branca e uma colher de colorau. Misture bem para agregar sabor aos bifes.

   Espalhe o azeite de oliva no fundo de uma travessa  e espalhe as porções de frango sobre elas. Leve ao forno e asse durante meia hora.
   Enquanto isto, coloque o molho madeira a aquecer no fogão enquanto corta os champignons. Acrescente ao molho, acrescente em torno de uma xícara de água e deixe ferver com os champignons durante dez minutos para o sabor deles misturar no molho.
   Depois de meia hora de forno, retire a forma e derrame o molho madeira sobre os bifes. Retorne ao forno durante mais 5 minutos.
   Pronto! Está aí um prato delicioso e leve, bom para ser consumido em dias quentes.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Culinária: Brócolis ao Molho Branco com Mostarda




Brócolis ao Molho Branco com Mostarda

INGREDIENTES: (para 4 pessoas)
4 ovos cozidos
250g de bacon fatiado
200g de salame bologna fatiado
200g de queijo mussarela fatiado
1 cabeça de brócolis (1/2k)
3 colheres de mostarda
4 colheres de maisena
água

MODO DE FAZER:

   Coloque os ovos a cozinhar para a gema ficar dura (depois da água ferver, + 10 minutos fervendo).
   Enquanto isto, corte as tiras de bacon para ficarem em torno de 5 cm e ponha a fritar em frigideira antiaderente. Vá mexendo volta e meia. Quando as peças de bacon começarem a dourar, descarte a banha que saiu da fritura do bacon. Corte a bologna em pedaços do tamanho do bacon e acrescente, colocando em fogo baixo para a fritura da bologna não espirrar banha neste processo. Vá mexendo volta e meia. Enquanto isto desfaça a cabeça de brócolis com as mãos, usando somente a parte final dos talinhos e a flor em si. O resto da cabeça pode guardar para fazer um refogado, uma sopa, etc. Quando estiver dourada a bologna, acrescente o brócolis, levante o fogo, mexendo volta e meia. Note que não vai nenhum tempero, nem água. O brócolis vai temperar com a bologna e o bacon e vai cozinhar com sua própria água. 
   Enquanto o brócolis vai lentamente amaciando, descasque os ovos, pique eles e quando o brócolis estiver al dente, acrescente os ovos, mexendo sempre.  Numa tigela coloque a maisena, a mostarda, o queijo picado e misture meio litro de água fria. Mexa esta mistura até ficar homogênea. Acrescente lentamente na frigideira, mexendo sempre até ficar pastoso. 
   Este prato por si só é uma refeição completa, não precisa acompanhamentos

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Hora da Faxina - A Curiosidade



A Curiosidade

   Você está caminhando tranquilamente na calçada, despreocupado, indo em direção ao banco ou a uma loja, no comecinho da tarde, quando em sua direção vêm caminhando duas mulheres de meia idade que conversam entre si. Até aí não tem nada demais. É uma cena do quotidiano e que se repetirá enésimas vezes em sua vida. Mas o problema é uma frase que você ouviu ao cruzar por elas. A mais baixa das duas fala para a mais alta:
   - Eu nunca imaginei que ela fosse capaz de fazer isso!
   E a mais alta ainda reforça:
   - Nem eu!
   Nisto, elas já passaram por você, continuam o assunto mas a famosa curiosidade, a vulgar 'pulguinha atrás da orelha' mordeu você. E a pergunta que não quer calar: "Quem seria capaz de fazer o que?" Você conhece as duas mulheres, suas ligações familiares, onde trabalham e a sua dúvida é sobre quem elas estavam falando com este tom de reprovação.
   É incrível, mas o ser humano tem dessas coisas de tentar encaixar meios conhecimentos em hipóteses.
   Então você chega no banco, pega uma senha e senta para esperar sua vez. Pra variar, está lotado. Todos reclamam de crise, mas as transações financeiras continuam a mil. Enquanto você mexe no seu celular para mandar recadinhos no whatsapp dizendo quantas pessoas têm na frente de você para serem atendidas, uma conversa de duas senhoras na sua frente o faz parar de teclar e prestar atenção. 
   A senhora mais grisalha está conversando descontraidamente com a outra senhora do cabelo preto tingido. Elas estavam falando sobre plantar roseiras e sua melhor época para fazê-lo, o tipo de papo tão trivial quanto falar sobre as condições do tempo. E por isto você começou a mexer em seu celular. A conversa fútil não cativou você. Mas, de repente, o assunto muda e o deixa repleto de curiosidade. Porque a de cabelo tingido disse para a grisalha: 
   - Voltando a falar de nossa vizinha, eu não repreendo ela pelo que ela fez. Fosse eu agiria do mesmo jeito. 
   ...E enquanto suas anteninhas se ajustam para saber o que a vizinha fez, é surpreendido por um cochicho no ouvido da grisalha com direito a mão em concha encostada na boca para falar ainda mais baixo sobre o desfecho do assunto da vizinha. Ninguém dentro do banco ouviu, muito menos você. E sua curiosidade sobre o assunto o deixa muito imaginativo tentando entender de que forma a vizinha desta senhora teve que reagir. Como é homem, já logo pensou em alguma atitude da vizinha voltada à vingança privando seu parceiro do que mais judia: sexo. E você chega a se autoafirmar que só podia ser isto, já que elas terminaram o assunto no silêncio de um cochicho comprometedor. E no seu íntimo já se solidariza ao parceiro da vizinha achando que ela agiu errado nisto tudo, sem ao menos saber se foi este o tema de verdade e se a punição foi a que você imaginou.
   A curiosidade é perversa. Tanto que no primeiro assunto, as duas amigas simplesmente estavam falando da amiga em comum que tingiu o cabelo de ruiva e que jamais imaginavam que ela seria capaz de fazer isto. E, na história do banco, das duas senhoras, bem, ali... Tá eu conto! Como já se diz há muito tempo "as paredes têm ouvidos e nem delas o cochicho escapa", soube depois que o assunto foi um terceiro vizinho que sempre varria a sujeira de sua calçada para a calçada desta vizinha. E, ela indignada com a repetitividade do fato, um dia juntou aquele monte de folhas e outras porcarias, botou numa sacolinha de supermercado e foi até o vizinho dizer que tinha algumas verduras para lhe dar. Ele ficou faceiro, mandou entrar e pediu para por na mesa da área dos fundos. Ela entrou levou a sacola para aquela mesa e quando estava bem no meio dela abriu a sacola e derramou ali, em cima da mesa, todo o entulho que o vizinho tinha varrido para sua calçada.
   

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Pequenas Mentiras, Meias Verdades: Histórias de Mascates, nº 1




Histórias de mascates número um: Ciclop

   Os mascates antigamente eram tão conhecidos como hoje em dia são os atores de novelas. Eram os únicos que iam a todos os cantos e traziam suas novidades. Negociavam de tudo: desde o primeiro sutiã da adolescente até o vinho de missa do padre.
   Eles então apareciam de duas a três vezes no ano na colônia e empurravam seus bagulhos. E quando tinham lábia, eles conseguiam vender algo.
   Um dos maiores mascates sacanas era  o Albert Wiedermann. Se a gente só toma o nome não se dá conta porque seu verdadeiro nome não representava nada porque ninguém o conhecia. Mas quando se fala de Ciclop, muitos se lembram dele. Ciclop era um importante mascate e toda a colônia o conhecia. O apelido Ciclop ele mesmo se deu em seus relatos porque ele só tinha um olho. O outro era um olho de vidro.
   Para relembrarem, na mitologia, Ciclope era um monstro que só tinha um olho no meio da testa e era um gigante.
   O mascate Ciclop contava suas histórias em versos. Sempre era interessante ver como ele criava suas piadas em versos. Quando o mascate anunciava que ficaria três dias na cidade, na pensão do Libbo, as pessoas vinham de longe para negociarem com ele. De tudo era negociado nesta pensão perdida num vilarejo qualquer no interior, desde charutos até os vestidos mais finos. Nos negócios as camangas eram grandes porque o mascate sabia que tão cedo não voltaria até lá, assim superfaturava certos produtos.
   Ciclop nunca viajava sozinho. Sempre tinha um ameba burro consigo e juntos enganavam as pessoas. O que mais apreciavam fazer eram apostas com o olho de vidro e a dupla dentadura de Ciclop. Naquela época, ter uma dentadura já era uma grandiosidade, mas ter um olho de vidro, isto ninguém conhecia. Então o ajudante anunciava:
   - Ciclop é um homem tão formidável, que ele consegue assobiar e comer ao mesmo tempo.
   Muitas pessoas apostavam por ser impossível e a grana rolava. Então o Ciclop arrancava as dentaduras da boca, embaixo e em cima e com elas na mão, começava a mordiscar algo com a dentadura. E, naturalmente, assobiava junto com a boca desdentada.
   Depois, o ajudante diz:
   - Ciclop agora vai morder seu próprio olho, sem tirar a dentadura da boca.
   Na aposta então, rolava um monte de grana. Algo assim seria impossível. Ciclop, malandro, tirava naturalmente seu olho de vidro, enfiava na boca e mordia com vontade. E eles gargalhavam e se riam, e as pessoas os observavam com olhos arregalados. Onde já se viu algo assim, um homem ainda não velho e já com o corpo meio artificial? Mas o dinheiro (das apostas) já estava perdido.
   De noite, no quarto, os dois riam até não poder mais de suas bobagens e os ganhos com elas. Mas, combinaram que no dia seguinte dariam um grande susto à empregada Maria.
Maria era o retrato de uma verdadeira dona-de-casa. Ela já trabalhava há dezessete anos na pensão do Libbo, deixando tudo sempre limpo, em perfeito estado e fazia a comida para as pessoas.
   De manhã cedo ele, Ciclop levantou e foi à cozinha para se lavar. Antigamente era comum os estranhos se lavarem nas cozinhas das pensões. Quando o Ciclop chegou lá, Maria já estava preparando o café e tudo estava envolvido com o gostoso aroma. Então ele disse a ela:
   - Por favor, traga-me água para me lavar!
   Em rápidas passadas ele tinha a bacia com a água preparada por Maria e um sabão novinho para se lavar.
   Primeiro, Ciclop tirou suas dentaduras e as lavou freneticamente. Maria já ficou impressionada com a novidade, mas ficou junto dele. Ele devolveu as dentaduras à boca, assobiando, e então tirou o olho de vidro esquerdo para limpar. Maria mostrou uma expressão ainda mais impressionada. Ciclop, observando tudo com o canto do olho, o jeito impressionado dela, disse:
    - Maria, não precisa se impressionar com o que eu fiz. Isto é comum e muitas pessoas também o fazem.
    - Isto só podem ser mascates. - Disse ela meio sem jeito. Ciclop continou incitando:
    - Simplesmente não é diferente: para ser um músico, o cara deve saber tocar um instrumento. Para ser um mascate, o cara deve ao menos saber tirar os olhos para limpá-los da poeira. Deve ser feito assim, porque senão não conseguimos tirar toda a poiera que juntamos nas estradas.
   Maria perguntou:
   - Sim, mas como se tira os olhos:
   - Isto é fácil. - Respondeu ele. Então ele apertou de um jeito que parecia que estava expremendo o olho direito, mas o que voou para a bacia novamente era o olho esquerdo. Então ele o lavou e devolveu. Maria estava branca de tão impressionada. Ciclop não sabia mais o que fazer para disfarçar a troça e as gargalhadas. Então ela perguntou:
   - Como fizeste isto? ...E como consegue continuar enxergando com dois olhos de vidro?
   Ciclop respondeu:
   - É fácil! Isto é tecnologia!
   Maria não sabia mais o que dizer. E, antes que abrisse a boca, o Ciclop perguntou:
   - Tu não consegues arrancar as coisas artificiais do teu corpo?
   - Não! - Disse ela. Eu sou uma senhora delicada, não um mascate! Não tenho nada artificial em mim.
   Ciclop disse:
   - Se quiser, te mostro meu nariz que também é artificial. Quer ver? É só desatarraxar...
   - Não, não! - Disse ela, gritando. 
   E, saiu correndo, longe, que ninguém mais a viu. Desapareceu. Ninguém mais teve notícias.

domingo, 6 de dezembro de 2015

As Máximas de Bere: Pensamentos, Reflexões e Verdades

Pensamentos de Bere que foram postos em cartas escritas há anos, ou mais recentes deixadas escritas em algumas pastas do seu notebook. Bere faleceu em setembro de 2013, mas deixou este legado maravilhoso de ideias que fazia sobre a vida, o dia a dia e o amor.











quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Hora da Faxina: Zona do Umbigo




 Zona do Umbigo.

   Já se sabe há muito tempo que o que é ruim de verdade, se mata espetando ao redor do umbigo, como se faz para eliminar doença da raiva. Também outros tratamentos usam a zona do umbigo para aplicar injeções embaixo da pele porque lá existe mais tecido sub cutâneo.
   Mas o umbigo tem um significado muito mais forte do que simplesmente ser o centro receptador para diversos tipos de injeções. O umbigo é quem ligou você à mãe enquanto estava na  barriga dela e toda a troca de energia, nutrientes, enfim, a troca de vida foi feita através do cordão que terminava no seu umbigo.
   Enfim, o umbigo é o centro do ser humano. Nele tudo começa, nele tudo é substancial até o nascimento, nele se forma e se concretiza a vida em si. 
   Então, não fica difícil entender o significado de "zona do umbigo". Explico: é porque analogamente ao que significa de fato, para muitas pessoas significa de direito. Ou seja, elas blindam esta zona como sendo seu centro de mundo e dificilmente abrirão guarida para esta decisão.
   Há pessoas que se julgam acima de tudo e de todos. São perfeitas, vivem melhor que qualquer simples vivente, sabem se administrar, fazem as melhores escolhas, têm os melhores carros em relação a custo-benefício e os amigos, se os têm, são amigos seus, pois eles não serão jamais amigos deles. É difícil entender este paradigma, mas é assim que funciona: como as pessoas 'precisam' delas, elas não precisam oferecer amizade. Basta receber. E usufruir.
   Pessoas que vivem sua zona de umbigo não casam. Ou, quando casam, são a lei e as regras dentro de casa. Jamais alguém vai poder dar algum palpite, nem que seja o cônjuge. Porque elas são perfeitas, não precisa ninguém dar pitaco. 
   Nas compras, as regras que prevalecem são as escolhidas por estas pessoas de umbigo saliente, quando ditam as regras e fazem suas escolhas. Jamais uma sugestão de vendedor ou oferta de última hora vai fazê-las mudar de ideia. Porque elas 'são' a ideia, e ninguém vai mudar isso.
   A zona do umbigo faz estas pessoas passarem uma vida fútil, sem resultados doces porque seu fel amarga o melhor açúcar e arranha o melhor afago. Quem é de si pra si, não tem como ser de outro para alguém. Jamais. E este sentimento vai se cristalizando com o tempo, acabando em pessoas velhas e não envelhecidas, chatas e solitárias.
   Quando adoecem querem ditar as regras e os tratamentos para os médicos, criando casos de grande stress, já que deixam os médicos atados aos seus questionamentos medíocres e autoritários, onde nada flui, nem sequer a recuperação destas pessoas. Por fim, podem até vir a óbito pela sua mediocridade.
   A zona do umbigo somente é importante quando se está no útero da mãe. Ou seja: completamente dependente de outro ser humano. Portanto não há motivo para depois de ter perdido o cordão umbilical querer se achar tão independente a ponto de achar que o mundo lhe pertence. O mundo é sensato e não, uma zona do umbigo.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Culinária: Supremo de Frango com Alho-poró



   Muitas vezes chega-se no meio da semana e já fez carnes de todo tipo. Então fica a dúvida do que fazer naquele dia em matéria de carne. Bem, aqui uma receita rápida e gostosa que vai bem acompanhada de massa ou arroz ou batata ou aipim, não existe limite de criatividade para aproveitar este supremo de frango, por sinal um prato barato e muito saboroso.

Supremo de frango:

Ingredientes: (rende 4 a 5 porções)
meio peito de frango (400g)
três sobre-coxas de frango (450g)
1 cebola média
1 tomate
1 colher de colorau
1 alho-poró inteiro
meia xícara de farinha de trigo
sal, pimenta, óleo.


alho-poró e tomate picadinhos para acrescentar no frango.


Preparo:
Ponha um fio de óleo em uma panela (de ferro de preferência) e coloque no fogo. Vá picando o peito em cubinhos e acrescente na panela. Desosse as sobre-coxas e tire a pele (descartando). Pique as peças em cubinhos e acrescente na panela. Deixe sem mexer até dourar. Então vire e acrescente um pouco de água fria para despegar do fundo, acrescentando também a cebola picada miudinho e o sal e a pimenta. Deixe voltar a fritar. Deixe fritar bem até pegar no fundo da panela sem queimar. Acrescente o colorau e dê mais um choque de água fria. Enquanto vai secando vá picando o tomate e o alho-poró miuidinho.


 Quando estiver pegando no fundo acrescente estes dois ingredientes na panela e vá mexendo a cada pouco. Quando o alho e o tomate ficarem moles acrescente água fria até cobrir e deixe ferver até o líquido ficar pela metade. Desmanche a farinha com água fria e acrescente lentamente na panela mexendo sempre, até criar uma consistência como mingau. 

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Hora da Faxina: Pessoas Guerreiras



Pessoas Guerreiras
Sempre tive uma admiração especial por pessoas guerreiras. Sei lá. Talvez seja porque eu, apesar de tomar a dianteira de muitas decisões, tenho momentos onde fico perdido para escolher o que é mais próprio para aquela ocasião. Pessoas guerreiras não! Elas sempre tomam a iniciativa, mesmo que isto não seja exatamente o processo normal, correto, e não medem consequências.
Pessoas guerreiras geralmente são autênticas. Elas não escondem nada porque no momento de ir à luta teriam uma bagagem muito pesada para levar consigo, caso fossem falsas, artificiais. E pessoas autênticas sempre são leves, não têm rotina, não têm hora. Para elas, toda hora é a hora certa, nem que seja sair da cama às três da manhã para ir à praia e proporcionar um nascer de sol para uma pessoa que nunca havia visto este espetáculo da natureza. E depois deste espetáculo visto e registrado em fotos, mostrando o sorriso de quem viu isto pela primeira vez, voltar a tempo de pegar os pães-de-queijo quentinhos da padaria da esquina para tomar um café da manhã tranquilo em casa.
Pessoas guerreiras conseguem driblar seu cansaço e sua rotina para acompanharem alguém a quem têm carinho especial no hospital, mesmo sendo noites de vigília, de pouco sono, mas pelo fato único de que seu amor por esta pessoa especial merece todo este envolvimento, toda esta abnegação, toda esta mudança de rotina. E mesmo que as olheiras denunciem noites mal dormidas, o espírito interior destas pessoas guerreiras continua altivo, firme, forte, valente e destemido. Nada dobra a determinação nem a decisão destas pessoas. E, mesmo cansadas por dentro, no semblante carregam seu bom humor costumeiro, fazendo todos sentirem sua força e seu potencial.
Pessoas guerreiras sabem sempre o que querem. E o que querem sempre é o certo. Dificilmente erram. Porque estão prontas para lutar por algo que seja edificante. Pessoas guerreiras nunca lutam para destruir algo ou alguém. Sempre entram na luta para melhorar, para o bem e para o benefício de alguém. E nunca serão diferentes. Porque então, seriam pessoas cruéis, não guerreiras. Atrás de si deixam um rastro de admiração por todos que veem de fora esta trajetória tão nobre que elas traçam. É algo que estimula a gente a tentar entrar neste ritmo também. Mas este ritmo é uma arte peculiar a algumas pessoas. Nem todos têm a graça de nascerem guerreiros.
Pessoas guerreiras somente se fragilizam diante de uma situação: quando são tomadas pela intenção má de quem conhece seu mundo e dele tentam fazê-las reféns. Pessoas de luz negra que apelam para muitas tentativas de aniquilá-las pelo simples fato de estarem brilhando. Pessoas mal-amadas que muitas vezes vagam solitárias pelos dias e que tentam pegar carona na luz brilhante das pessoas guerreiras para se sentirem menos densas, mas que nunca o fazem sem tentarem tirar uma parte desta luz. Maldito egoísmo. O brilho das pessoas guerreiras é delas, não tem como tirar. E mais cedo ou mais tarde tudo vem à tona e o facho de luz que poderia ter iluminado estas pessoas de pouca luz, se extingue afundando ainda mais estas pessoas aproveitadoras na escuridão.
Conheço muitas pessoas guerreiras. Muitas. E eu sinceramente gostaria de ser assim também. Mas, me sinto orgulhoso em poder ver esta luz disparada por elas em direção ao bem acontecendo, de perto. Afinal, o bem é sempre o limite de todas as nossas boas intenções. Que o mundo seja preenchido cada vez mais por pessoas guerreiras!

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Pequenas Mentiras, Meias Verdades: Sábado de Tardezinha



 Sábado de Tardezinha

  O final da tarde de sábado tem algo místico. Algo mágico. Tantas coisas acontecem no crepúsculo do sábado que fica fácil compor uma crônica falando deste momento memorável. 
   Mas, tomemos como base uma cidadezinha pequena, lá de seus quinze mil habitantes, devotos, trabalhadores e ordeiros. O que acontece numa cidadezinha dessas num final de sábado? Bom, muita coisa...
   Tem os famosos flanelinhas que existem em todos os lugares, que adoram dar uma geral no carro, ou como se diz, uma lambida, deixando eles tinindo. E este é seu programa favorito para a tarde de sábado. Som a mil, misturado ao de outros capôs de carros de flanelinhas abertos, mandando aquela sonszeira.
   Mas, o sábado, que já é meio domingo, em sua tarde faz muita diferença. Muitos aproveitam para cuidar do jardim, cortar a grama, pintar alguma coisa, enfim, se ocupar por terem aquela tarde livre e assim poderem desempenhar funções que em outros dias da semana não seriam possíveis.
   E tem aqueles que tiram o sábado para não fazer nada, a não ser dormir. ficam estarrados pelos sofás com a baba escorrendo que chega a dar nojo, roncando como se tivessem engulido uma moto-serra.
   E ainda, têm aqueles que marcam encontro com os amigos no bar. Ah, aquilo é o paraíso. Competição de música de traição misturado com músicas dos anos de juventude do bebum, churrasco feito em meio tonel na frente do bar, todos com camiseta do seu time e cada um querendo falar, melhor, gritar mais alto para se fazer ouvir, já que a mistura de músicas mata todos os sons ao redor.
   E, aquele boteco, abarrotado de gente, faz o encontro de muitas histórias e muitas gerações. Todos falam ao mesmo tempo. Dedos gordurosos de comer aquele churrasco sem garfo e faca, alguns com gostinho de 'quero-mais' por acharem que foram logrados por comerem mais devagar que os outros, e o tilintar do encontro das bolinhas da mesa de bilhar, onde talvez um sexo reprimido é espocado a cada tacada para encaçapar as coitadas e inocentes bolinhas que nada têm a ver com a situação do seu protagonista.
   Chega o fim da tarde, sinos tocando, é hora da missa. E muitos fiéis se encaminham para a igreja no alto da lomba, passando em frente ao bar. E os frequentadores, óbvio, observavam este desfile dos fiéis atentamente, até para depois comentarem.
   Nisto, veio chegando uma garota linda, cabelos ao vento, de corpo perfeito, pernas esculturais, usando uma mini-saia anã que balançava no bumbum em cada passada, deixando os rapazes ainda mais antenados.
   Quando ela passou na frente do bar, um rapaz de uma turma que estava sentada na calçada não se conteve e perguntou:
   - Nossa, para onde vai este belo par de pernas?
   A garota, envergonhada, olhou para ele e respondeu:
   - 'Se nada se enfiar no meio', estou indo para a missa.

sábado, 21 de novembro de 2015

Hora da Faxina: Forno de Barro





 Forno de Barro

   Um forno de tijolos maciços sentados com barro. Barro do bom! Este era e sempre será o autêntico forno à lenha, de barro, das casas simples do interior. E existem muitos por aí. lembrar um forno de barro é voltar à infância e à fartura dos fins de sexta-feira, quando duas fornadas anunciavam uma semana de repetições: pães, cucas e roscas de polvilho. A primeira fornada sempre era a das roscas porque elas exigiam uma quentura espetacular para se tornarem grossas e aeradas, ao mesmo tempo cozidas por dentro. Depois vinha a fornada dos pães e das cucas. Quinze minutos antes eram postas as cucas ocupando a metade do forno: seis cucas. Depois, acrescentavam-se mais seis formas de pão, para assarem juntos. E a provisão para a próxima semana estava garantida.
   Quem não se lembra daquele cheiro das roscas assando sobre as folhas de bananeira, que aos poucos iam sapecando nas bordas, dando um detalhe de defumado no sabor final. Gosto único, com sabor de mato, que fazia a gente até comer demais. E no fundo, o doce gosto de banana misturado ao sabor da rosca, agregado a partir da folha verde que servia de base à rosca. Era uma arte equilibrar aquela massa mole sobre as folhas antes de estarem assadas.
   Nos idos dos anos oitenta, meu sogro morava no mesmo pátio aqui de casa, em sua casa feita nos fundos da minha. Resolvemos fazer um forno de barro para a sogra pois ela gostava muito de fazer estas gostosuras, além das fornadas de doces de Natal que ela distribuía entre toda a filharada. 
   Ficamos sabendo que tinha um fazedor de forno muito bom. O chamamos, ele fez o orçamento e como achamos o preço justo, o contratamos para construir o forno. Ele pediu o material, providenciamos e o forno foi iniciado. Até meu sogro havia perguntado a ele se não queria fazer uma forma para montar a parte de cima do forno e ele rindo, disse que sabia fazer 'a olho', não precisava de forma. E ele construiu um forno maravilhoso, no capricho. Enquanto ele estava construindo, a sogra um dia em conversa com ele, disse que achava pouca altura dentro do forno, ao que o pedreiro retrucou dizendo que ele sempre fazia assim, pois assava os pães com menos lenha fazendo deste jeito. E ainda disse a ela que fazia questão de ganhar um pão da primeira fornada pois queria ver e saborear o fruto do seu trabalho. E a sogra prometeu dar um pão da primeira fornada a ele.
   Depois de uma semana de trabalho, tudo bem feitinho, os tijolos ligados com barro amassado do próprio pátio, o forno estava pronto. Aqui, como o terreno original era lodoso, dava um barro muito bom para fazer liga de massa para fornos. Enquanto o pedreiro fazia os últimos acabamentos rebocando, finalizando, já foi queimando algumas taquaras com jornal dentro do mesmo forno para 'curar' ele. E no acrescentar de taquaras secas, alguma lenha leve e folhas de jornal, a chaminé do mesmo chegou a assobiar tamanha a troca de energia, deixando a parte de cima, o teto do forno incandescente devido ao calor. Tudo virou uma liga de barro, como um grande vaso.
   Isto aconteceu no final da tarde de sexta-feira. No sábado, a sogra, louca para inaugurar o forno, acordou cedo e fez uma amassada de massa para 8 pães, um pouco mais da metade da capacidade do forno, onde cabiam 12 formas grandes. Quando o pão estava crescido, eu e meu sogro enchemos o forno de gravetos e lenha pesada e ateamos fogo para aquecê-lo. Quando tudo virou cinza, os pães já haviam crescido em suas formas e a sogra colocou eles no forno para assá-los. E todo o processo foi maravilhoso. Só que teve um problema: todos os pães grudaram no céu do forno porque ele tinha ficado muito baixo e os pães, que cresceram bastante, não tiveram espaço pela sua expansão.
   Todos os pães ficaram pela metade. O resto foi posto fora porque era uma mistura de pó de barro com tijolos e massa. Mas um dos pães a sogra preservou e no domingo levou até a casa do pedreiro que não era longe dali, e lhe presenteou com este pão barrento, agradecendo o trabalho maravilhoso que ele havia feito. 
   Bom, pra finalizar, tivemos que desfazer todo o forno e refazê-lo, agora com uma forma de altura suficiente para os pães crescerem sem atingirem o forro.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

As Máximas de Bere: Pensamentos, Reflexões e Verdades

   Pensamentos de Bere que foram postos em cartas escritas há anos, ou mais recentes deixadas escritas em algumas pastas do seu notebook. Bere faleceu em setembro de 2013, mas deixou este legado maravilhoso de ideias que fazia sobre a vida, o dia a dia e o amor.











Pequenas Mentiras, Meias Verdades: A Vergonha



A Vergonha

   Acontecem muitas coisas, muitas cenas no mundo que podem deixar as pessoas constrangidas ou envergonhadas. Imagina uma situação onde você e mais uma pessoa estão no elevador, e você inesperadamente precisa soltar um pum. A pessoa que está com você, mesmo sem ouvir o seu angustiante soltar reprimido, devagarinho em etapas, ao sentir o cheiro logo saberá que você foi o culpado. E você jurava pra si mesmo que não ia feder. A sua desculpa imediatamente sai de sua cara corada pelo budum nauseabundo que tomou conta do cubículo:
   - Desculpe, escapou!
   Mesmo sendo um ato natural, inerente ao ser humano e também a muitos animais é algo que a etiqueta ensina a praticar a sós. E isso que estatisticamente o adulto emana em torno de dezoito puns por dia. A maioria deles, felizmente, são durante o sono onde ouvidos e narizes estão menos sensíveis e tudo passa despercebido.
   E assim, diversas outras situações causam vergonha e constrangimento. E uma delas, completamente inusitada, aconteceu tempos atrás numa vila qualquer neste nosso interiorzão, que vou contar a seguir...
   Zé era  casado com Maria. E o compadre João era muito próximo a eles. Muitos momentos eram compartilhados, afinal ele era o padrinho de dois dos filhos deles, tamanha era a amizade. Zé tinha o costume de ir ao bar nas noites de sextas e sábados para tomar umas cervejas e botar conversa fora com os amigos que tradicionalmente ali se reuniam.
   Numa sexta-feira, enquanto estavam conversando e rindo naquele bar, um deles disse ao Zé que seu compadre estava o traindo com Maria enquanto ele frequentava o bar. Zé começou a rir e disse que jamais Maria seria capaz de cometer tamanha traição, ainda mais com seu compadre. O amigo então falou:
   - Faz o seguinte: amanhã diz pra Maria que vem ao bar para tomar cerveja conosco e ao invés de vir aqui, te esconde no armário do quarto e fica espiando. Tenho certeza que vais pegar os dois no flagra.
   Zé achou interessante a ideia para tirar a dúvida e resolveu fazer isso. 
   No sábado de tardezinha, depois de ter tomado banho ele dei um beijo na Maria que estava na cozinha envolvida com preparos de comida para o domingo, dizendo que ia no bar. Mas ele deu a volta na casa, entrou discretamente pela porta da frente e foi se esconder no armário do quarto. Deixou uma pequena fresta entreaberta de onde enxergava toda a cama.
   Não demorou muito, ouviu conversa animada lá na cozinha, ele já reconheceu a voz do compadre João. E já os dois chegaram animados ao quarto, tirando lentamente as roupas. Zé observava tudo. Quando finalmente viu sua Maria completamente pelada, seios no umbigo, pelancas da barriga descendo até o meio das coxas, tapou os olhos e cochichou para consigo mesmo:
   - Nossa, que vergonha do João. Não tinha imaginado que minha mulher estava tão acabada!

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Hora da Faxina: Adivinha Quem Está Falando?!?



 Adivinha Quem Está Falando?!?

   Tocou o telefone. Eu fui atender, disse "Oi" e, para minha insatisfação, no outro lado da linha uma voz familiar, mas desconhecida, retrucou:
   - Oi! ...Adivinha quem está falando?!? 
   Já odeio de cara receber este tipo de conversa quando alguém me liga. Mas, mesmo revirando meu pensamento em busca do nome daquela voz familiar, não consegui juntar o timbre a algum nome. Até houveram algumas cogitações, mas receber ligação de uma pessoa a cada dois anos, mesmo que a conheça, não tem como associar a voz ao nome. Mantive o silêncio, afinal, não sabia quem era. E, no outro lado da linha, a pessoa parecendo se divertir com a saia justa que me havia metido, ainda ficou cantarolando em suspense: "La-la-ri-la-la-la." Ia repetindo aquilo de um jeito de tortura tal que me deu vontade de bater o telefone na cara. Afinal, eu estava iniciando o dia de trabalho e não merecia este tipo de comportamento pela pessoa do outro lado da linha, nem que fosse cliente. 
   Eu, com uma vontade infernal de mandar enfiar o telefone naquele lugar, respirei fundo e num tom de sorriso amarelo respondi:
   - Não sei se você sabe, mas telefone de linha ainda não tem câmera onde a gente consiga ver quem está do outro lado da linha. E eu sinceramente não consigo associar sua voz a algum nome. Portanto, seja gentil e diga quem é e qual é o assunto. Então conversaremos.
   Uma risada sarcástica ecoou do outro lado da linha. Feminina, mas maquiavélica. Do tipo: "Ah, agora te tenho em minhas mãos, tá dominado!" Aos poucos meu sangue começou a fervilhar. Eu estava detestando aquela situação e a pessoa do outro lado estava se deliciando com sua forma oculta e desconhecida de me torturar. Senti literalmente minhas vísceras me embrulhando. E a voz continuou sua forma de me dominar, agora chantageando:
   - Sinceramente não pensei que você um dia não fosse mais reconhecer minha voz. ...Não vou dizer que magoei, mas fiquei chateada. Poxa, tem tantas coisas que já vivemos, tantas histórias que aconteceram em nosso meio, nosso meio comum... E agora você me diz que não consegue juntar minha voz a minha pessoa? Será que sou tão pouco importante em sua vida, minha pessoa conta tão pouco, que não tens mais o registro de minha voz em sua mente?
   De irritado meu sentimento foi se transformando em desumano. Poxa, pelo jeito a pessoa era bem próxima a mim, e eu não consegui ligar sua voz a alguém. Estava começando a me punir por tamanha falha. Então eu disse:
   - Desculpe, mas sinceramente, apesar de eu conhecer sua voz, sei que a conheço, mas não consigo associar a uma pessoa. Por favor, diz que é, então vamos conversar.
   Aquela ligação no início da manhã já havia estragado todo meu dia mesmo, agora não faria mal se ficasse conversando durante uma hora. Talvez conseguisse me redimir pela falta de lembrança. Eu estava me sentindo como um verdadeiro idiota ao quadrado. Sim, por duas vias estava sendo o idiota: por deixar me levar com aquela conversa do:"Adivinha quem está falando!" e por outro lado, por ter esquecido do nome da pessoa com aquela voz.
   Nisso, apesar da pouca troca de palavras, já havia passado um bom tempo ao telefone. Eu não sabia o que fazer, se desligava ou se continuaria, porque do outro lado da linha a voz calou esperando eu dizer um nome mágico tirado do meu subconsciente que fizesse sair aquela imagem da 'cartola mágica' e me fosse apresentada a pessoa da ligação telefônica.
   Depois de um intervalo, a voz do outro lado falou:
   - Bom, já que não reconhece minha voz, vou dizer quem eu sou...
   Respirei aliviado. E em suspense esperei a pessoa se declarar. Foi quando a voz do outro lado se identificou:
   - Sou tua sobrinha tio!!!! A Gabi! Estou fazendo um teste para meu curso de comunicação e a proposta era de ligar para uma pessoa conhecida e mantê-la cinco minutos no telefone sem se identificar e sem a pessoa desligar o telefone. E eu passei! Uhuuul! Muito obrigada! Ah, e desculpe, usei uma esponja de louça no bocal do telefone para mascarar minha voz.
   Eu só consegui dizer um "Parabéns" desmotivado, pensando só em como havia caído neste trote sem identificar aquela voz inconfundível de minha sobrinha. Maldita esponja!