O Negociante
Antigamente para as pessoas do interior terem acesso a bens, novidades, coisas úteis para o dia-a-dia passavam por dificuldades grandes, já que morando em vilarejos como Harmonia, onde não apareciam produtos novos e raramente os mascates passavam para atualizar os clientes com novidades, ficavam à mercê da boa vontade de alguns aventureiros, que iam até Porto Alegre comprar o que estas pessoas desejavam ter. Neste sentido tinham uns experts que se sobressaíam pela tática e qualidade de escolha nas compras.
Mas o que acontecia, é que traziam geralmente os produtos superfaturados, expondo dificuldades na aquisição, produtos escassos, enfim, uma ladainha que fazia o valor do produto final ficar bem alto para o bem do negociante. E eles lucravam muito. Claro, algo tinha que compensar seu empenho de ir até Porto Alegre, naquela época em uma grande parte da estrada ainda sem asfalto, poeirenta e asfixiante.
As listas eram grandes, desde tecidos de pelúcia, seda, algodão, enfim, estampas diferentes e vários rolos para as costureiras fazerem as roupas das famílias sem repetir o tipo de tecido. Assim, apesar da simplicidade, muita elegância acontecia nos eventos sociais que eram raros, mas que reuniam toda a comunidade.
O comprador então, ia com seu automóvel a Porto Alegre, levando listas e listas de produtos, todos pedidos de clientes, e ainda à cata de novidades, que certamente tinha compradores interessados, sempre. Hoje em dia seriam Ipads, Iphones, pendrives de trinta e dois giga e por aí vai. Naquela época eram ventiladores grandes, vinte e cinco centímetros, um turbilhão de vento, batedeiras com dois batedores, aspiradores de pó que sugavam até a água do tapete, tecidos sintéticos com banlon, volta-ao-mundo, tergal. Listas estas que faziam o lucro do vendedor. O problema era como avisar os clientes da chegada do produto.
Então teve um negociante que descobriu uma maneira bem legal de fazer seus clientes saberem da chegada do produto. Domingos de manhã na missa, o padre sempre rezava uma parte da ladainha, e enquanto ele chamava o santo, o mercador chamava o produto e o nome da pessoa, dizendo o preço final. Para não dissonar tanto em relação à fala do padre, o comerciante trocava o Real por nós. Cada nó era um real. As pessoas já estavam acostumadas a isso. Era mais ou menos assim: o padre dizia:
- Santa Emília... - E o mercador gritava junto:
- Sandálias da Cecília... - E o padre terminava:
- Rogai por nós! - E o comerciante acompanha:
- Vai dar vinte nós!
E o padre continuava a ladainha:
- São Joaquim... - E o comerciante acompanha:
- Panela da Elza para aipim...
- Rogai por nós! - Mais uma vez o comerciante acompanha:
- Vai dar cinquenta nós! - E o padre:
- São João Nepomuceno... - E o comerciante no mesmo ritmo:
- Pilão de ferro do Seno... - E no "rogai por nós" vinha o preço:
- Vai dar setenta nós!
Um dia, ele querendo tirar vantagem sobre uma nova forma de fazer wafer no fogão a gás, uma novidade para a época, encomendada por uma cliente, fez ele pensar como avisaria isso para ela. Não teve dúvidas. No fim da missa, quando as pessoas começaram a sair, ele foi, fez genuflexão do lado da cliente e disse contrito enquanto fazia o sinal da cruz:
- Tua máquina de fazer waffer no fogão à gás chegou. Só que está um pouco mais cara: agora custa quarenta reais.
Mas o que acontecia, é que traziam geralmente os produtos superfaturados, expondo dificuldades na aquisição, produtos escassos, enfim, uma ladainha que fazia o valor do produto final ficar bem alto para o bem do negociante. E eles lucravam muito. Claro, algo tinha que compensar seu empenho de ir até Porto Alegre, naquela época em uma grande parte da estrada ainda sem asfalto, poeirenta e asfixiante.
As listas eram grandes, desde tecidos de pelúcia, seda, algodão, enfim, estampas diferentes e vários rolos para as costureiras fazerem as roupas das famílias sem repetir o tipo de tecido. Assim, apesar da simplicidade, muita elegância acontecia nos eventos sociais que eram raros, mas que reuniam toda a comunidade.
O comprador então, ia com seu automóvel a Porto Alegre, levando listas e listas de produtos, todos pedidos de clientes, e ainda à cata de novidades, que certamente tinha compradores interessados, sempre. Hoje em dia seriam Ipads, Iphones, pendrives de trinta e dois giga e por aí vai. Naquela época eram ventiladores grandes, vinte e cinco centímetros, um turbilhão de vento, batedeiras com dois batedores, aspiradores de pó que sugavam até a água do tapete, tecidos sintéticos com banlon, volta-ao-mundo, tergal. Listas estas que faziam o lucro do vendedor. O problema era como avisar os clientes da chegada do produto.
Então teve um negociante que descobriu uma maneira bem legal de fazer seus clientes saberem da chegada do produto. Domingos de manhã na missa, o padre sempre rezava uma parte da ladainha, e enquanto ele chamava o santo, o mercador chamava o produto e o nome da pessoa, dizendo o preço final. Para não dissonar tanto em relação à fala do padre, o comerciante trocava o Real por nós. Cada nó era um real. As pessoas já estavam acostumadas a isso. Era mais ou menos assim: o padre dizia:
- Santa Emília... - E o mercador gritava junto:
- Sandálias da Cecília... - E o padre terminava:
- Rogai por nós! - E o comerciante acompanha:
- Vai dar vinte nós!
E o padre continuava a ladainha:
- São Joaquim... - E o comerciante acompanha:
- Panela da Elza para aipim...
- Rogai por nós! - Mais uma vez o comerciante acompanha:
- Vai dar cinquenta nós! - E o padre:
- São João Nepomuceno... - E o comerciante no mesmo ritmo:
- Pilão de ferro do Seno... - E no "rogai por nós" vinha o preço:
- Vai dar setenta nós!
Um dia, ele querendo tirar vantagem sobre uma nova forma de fazer wafer no fogão a gás, uma novidade para a época, encomendada por uma cliente, fez ele pensar como avisaria isso para ela. Não teve dúvidas. No fim da missa, quando as pessoas começaram a sair, ele foi, fez genuflexão do lado da cliente e disse contrito enquanto fazia o sinal da cruz:
- Tua máquina de fazer waffer no fogão à gás chegou. Só que está um pouco mais cara: agora custa quarenta reais.
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