Vinho no Prato
Antigamente, e não tão antigamente, os padres administravam além da paróquia em si, várias capelas, onde ao menos nos domingos, ou sábados, iam para celebrar a missa. E muitas vezes eles na volta, principalmente aos domingos, passavam na casa de algum fiel e se convidavam para almoçarem junto com esta família. O que era um problema na época da safra, quando os colonos trabalhavam sem dar bola para o domingo. O importante era colher toda a safra para deixá-la a salvo de intempéries.
Tinha um padre, não faz muitos anos, que tinha uma pick-up e com ela ia até as paróquias rezar a missa, para na volta vir trazendo materiais e alimentos variados que ia encontrando pelas casas dos colonos. Todos sabiam deste seu comportamento.
Então, na época da safra, certo domingo, toda a família foi para a roça colher, deixando em casa só uma menina de seus doze anos para cuidar da casa. O pai dela a havia avisado que se caso o padre passasse na sua casa, a menina era para dar a ele tudo que pedisse.
Perto do meio dia, o padre apareceu com seu carro naquela casa, parou, desceu e já foi recepcionado pela menina. Ela o convidou para entrar e ele aceitou. Quando estava na área que dava acesso à cozinha, viu uns sacos de cimento empilhados, então disse:
- Minha filha, será que teu pai não poderia ajudar com as obras da paróquia doando um saco de cimento? - A menina respondeu:
- Claro padre, pode pegar! Papai mandou te dar tudo o que pedisse.
O padre carregou o saco de cimento, e nisso viu algumas galinhas ciscando pelo pátio. Ele disse:
- Minha filha, será que eu não poderia pegar uma meia dúzia de galinhas para levar porque sempre fazemos sopão na paróquia e elas podem ser muito úteis para este prato. - A menina respondeu:
- Claro, padre, pode pegar. - O padre foi catando as galinhas, amarrou suas pernas e as botou junto com o cimento na caçamba da pick-up. Ao voltar, a menina o aguardava na soleira da porta da cozinha. Ele disse:
- Minha filha, sei que seu pai faz um vinho muito bom. Será que eu não poderia tomar um copo para matar a sede? - A menina respondeu:
- Claro seu padre, entra e senta à mesa. - O padre entrou, sentou, e quando a menina viu onde ele havia se acomodado, foi até a adega e voltou com um prato cheio de vinho e uma colher. O padre pensou que ela não tivesse alcançado os copos na cristaleira e este seria o motivo de ter servido o vinho no prato. Tomou todo o vinho de colher em colher, pediu para repeitir, a menina o serviu, ele tomou mais um prato de colher em colher, agradeceu e foi embora.
De tardezinha quando os pais voltaram da roça, perguntaram sobre o padre e ela disse que ele havia estado lá e levado um monte de coisas. Foi então que o pai viu que ela havia servido vinho num prato, pois ainda estava sujo sobre a mesa com a colher dentro dele. Intrigado perguntou:
- Filha, por que serviu vinho para o padre num prato e não num copo? Que feio isso! O que o padre pode ter pensado a respeito de nossa família?
A menina respondeu:
- Papai, tenho meus motivos e o senhor vai concordar. - O pai intrigado perguntou:
- E que motivos são estes? - A menina, com um brilho de inteligência no olhar respondeu:
- Porque se tivesse servido o vinho num copo, no lugar onde o padre sentou à mesa, toda a vez em que ele emborcasse o copo na boca para tomar, veria o salamito pendurado atrás do fogão secando, e certamente iria querer levar também. Aí já seria demais né pai?
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