terça-feira, 28 de abril de 2015

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - O Bêbado Atentado



 O Bêbado Atentado

   Ficar bêbado é algo que acompanha a humanidade desde os tempos mais remotos, quando notaram que uma fruta cítrica abandonada no sol alguns dias fermentava e comer aquilo dava uma sensação diferente. E como o ser humano é inteligente, foi aprimorando a técnica, deixando os resultados mais alcoólicos e eis que chegamos no mundo atual com bebidas feitas das mais diversas matérias-primas.
   Eu fico imaginando como seria o mundo se não existissem as tonturinhas alcoólicas. Porque muitas festas realmente ficam gostosas e relaxantes por causa de pessoas que entram neste estado e então se soltam, falando o que de outro jeito não falariam. Também não falariam tão alto e não cantariam tão desafinado. Mas as gargalhadas são impagáveis. Elas são a essência da gostosura de uma festinha.
   Por outro lado, tem os que saem literalmente dos trilhos quando bebem. E estes dá pra classificar entre bêbados melosos, chatos, purgantes, violentos, fiasquentos e atentados. Meloso é aquele que fica abraçando você, falando de perto, alisando você. Chato é o bêbado que discute com você sem razão, mas acha que está com a razão. Purgante é aquele bêbado que se despede de você enésimas vezes e sempre volta para dizer as mesmas coisas, tipo, como a amizade é importante ou como foi proveitoso o encontro. Violento é o bêbado que incorpora o machão adormecido dentro dele e acha que pode fazer e acontecer. E muitas vezes faz mesmo. É o pior tipo de bêbado que existe. Fiasquento é aquele bebum que perde toda a sensação de pudor, perdendo calças na frente de todos, se mijando, ou contando coisas íntimas suas que o degradam.
   Mas, eu quero mesmo, falar do último. Não existe criatura mais sem conserto do que um bêbado atentado. Para comprovar isso, leiam a historinha que vou contar:
   O Zé era um cara muito foliento, daqueles de tomar conta das rodinhas de conversa, das festas, na rua entre os amigos. Sempre tinha algo engraçado para fazer ou para contar. Mas quando bebia virava aquele bêbado consciente e atentado. Daqueles de tirar qualquer um do sério. E sempre inventava uma nova moda. 
   Um dia, já tocadinho pelo trago, passando na frente do açougue, viu que estava vazio. Entrou e disse:
   - Olá, boa tarde! ...Vocês tem ração para marrecos aqui para vender?
   O açougueiro, meio deslocado com a pergunta inusitada, vendo o seu estado etílico, respondeu:
   - Não, amigo! Aqui nós só temos carnes para vender. Mais nada. Por favor, siga seu caminho que tenho mais o que fazer!
   O atentado agradeceu, seguiu seu caminho. No outro dia de manhã, novamente tocado, o Zé resolveu implicar no mesmo açougue:
   - Bom dia! ...Tem ração para marreco aí?
   O açougueiro já ficou chateado com a repetição da pergunta. Então disse:
   - Por favor senhor! Não se faça de ridículo querendo me tirar do sério. Siga seu caminho e me deixa trabalhar.
   O bêbado deu adeus e seguiu seu caminho. No mesmo dia, de tardezinha, mais uma vez o Zé tocadinho e atentadão, entrou no açougue já gritando:
   - Me vê aí 2 quilos de ração para marrecos!
   O açougueiro saiu do sério e gritou de volta:
   - Novamente você me atentando aqui. Que coisa!!! ...Se amanhã passares aqui novamente com esta história de ração para marrecos, juro que pregarei seus pés aqui no chão para aprenderes a respeitar meu trabalho!
   No outro dia de manhã, perto do meio dia, açougue cheio de clientes, o bêbado atentado entrou lá e saiu gritando:
   - Ei, açougueiro! ...Tem pregos aqui pra vender?
   O açougueiro, para não constranger os clientes disse discretamente:
   - Não senhor. Aqui não temos pregos para vender.
   E o Zé:
   - Ah, que bom! Então me vê dois quilos de ração para marrecos! 
   

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