sábado, 27 de junho de 2015
Sobre a Educação. As Máximas de Bere...
Um texto muito atual na letrinha de Bere, em carta escrita em 1980, durante nossa correspondência de namoro, Bere fala de sua preocupação com a falta de estímulo para os alunos se empenharem mais em aprender. A história caminha, e as mazelas ficam devendo resultados que não se concretizam.
sexta-feira, 26 de junho de 2015
Hora da Faxina - No Consultório
No Consultório
Eu estava com uma pequena e chata alergia bem na dobra do cotovelo. Há pouco tempo, era só ir na farmácia, comprar um corticoide de uso tópico, e pronto. Rapidinho me livrava do probleminha. Mas, hoje só se compra mais este tipo de produto mediante apresentação de receita médica. Então, fui consultar.
Sempre achei interessante os tipos de assunto abordados num consultório médico, pois encontramos pessoas para consultar especializadas nas mais variadas doenças, e muitas vezes descrevem melhor do que o médico os sintomas da pessoa sentada do lado, dizendo com precisão qual a sua doença. E já ali, acontece uma 'espécie de consulta' da pessoa afetada pelo mal que descreveu, para com a pessoa do lado que está por dentro dos sintomas, causas e consequências. E pior: já tem ideia do que precisa para se tratar e melhorar.
É impressionante de se ver. Eu fico imaginando qual o motivo de esta pessoa que está tão por dentro da doença da pessoa do lado, de estar ali também, no consultório, para uma consulta com o médico. E depois de descrever tudo, sugerir remédios entre paliativos caseiros e de farmácia, finalmente descreve casos de pessoas conhecidas que sucumbiram a esta doença, deixando a pessoa doente angustiada, nervosa, respirando ofegante. Por fim, depois de todo este quadro desenhado, a doente pergunta para a pessoa do lado, que falou tudo isto, qual era o seu problema.
Estávamos na sala de espera eu, estas duas senhoras de meia idade e uma senhora já mais velha, imagino girando em torno dos setenta anos, a qual já estava ali quando eu cheguei. E a velhinha estava pacientemente esperando, na dela, meio cochilando. Eu estava folheando uma daquelas revistas de meses atrás, mas meu ouvido estava ligado na conversa das duas, e já pensando em como isso iria continuar.
Depois desta pergunta feita a esta pessoa, uma senhora de seus quarenta e poucos anos, alinhou o corpo no banco, se ajeitou, respirou fundo e disse:
- Pois minha amiga, meu problema não tem solução. Ao menos por enquanto. Vim aqui, e olha que já passei por várias consultas em vários médicos, pois estou na menopausa e meus hormônios andam me traindo. Assim, meu humor está do lado deles e viro uma pessoa que nem eu conheço, às vezes. Está terrível de suportar.
Eu fiquei só observando com o canto dos olhos e ouvido em riste. A outra, do lado disse que não havia chegado ainda na menopausa mas sabia de muitos chás bons para abrandar os calorões e o mau humor. E começaram a falar sobre chás. De repente, porque estava demorando a paciente que estava sendo atendida sair, as duas começaram a falar mal do médico. A da menopausa falou:
- É uma falta de consideração comigo este doutor! Tenho hora marcada aqui para as dez e já passa das dez e trinta e ele ainda está com alguém no consultório. Acho um desaforo!
A outra, do lado, consentiu com o comentário e continuou:
- Pior! Eu tenho aqui marcado para as onze, e se continuar deste jeito vai dar meio dia até eu sair daqui.
discretamente olhei meu horário marcado, estava onze e trinta. A da menopausa então falou:
- Coitada desta senhora idosa... - E olhando para ela: - A senhora provavelmente tem consulta às dez e trinta não? Que falta de consideração do doutor para com a senhora, fazê-la esperar.
A velhinha abriu os olhos, deu uma risadinha, e respondeu:
- Não vim consultar. O doutor é meu filho e vai almoçar comigo hoje. Só estou esperando ele terminar de atender vocês, então vamos almoçar.
quarta-feira, 24 de junho de 2015
21 Meses sem Bere. Viúvo
24 de Junho de 2015 - 21 Meses sem Bere. Viúvo.
Nestes quase dois anos da ausência de Bere, minha vida praticamente voltou a ser plena como antes. Sou feliz, tenho ânimo para viver, busco crescer e me interesso por tudo que possa ser produtivo. Uma vida bem diferente do que foi há um ano e pouco atrás, quando eu tinha perdido completamente o sentido de tudo, já que "meu tudo" não fazia mais parte dos meus dias, minha Bere. Ela que sempre foi uma injeção de motivação em tudo, botava pra cima, agitava nossa vida para que seguíssemos sempre em frente com dinamismo. E agora, 21 meses depois, posso dizer que isso tudo está de volta. São somente ainda momentos bobos que me derrubam. E acho que vão me perseguir por muito tempo ainda. É estendendo a roupa e a imagem dela passar na mente por entre o cuidado em fazer este serviço e pronto. Já me derruba. É raro acontecer, mas acontece.ou, então, lavar os espetos depois de um churrasquinho e o pensamento remeter à Bere e o quanto ela amava este almoço domingueiro, mexe lá fundo. Impossível não sentir e vez ou outra desabar.
Mas, falemos do lado bom de toda esta convivência. Aqui mais um trecho da releitura do livro que estou fazendo sobre Bere, falando de comprinhas nas férias:
"Caminhar pelas ruas de Itapema – Santa Catarina à noite é como trazer um ano inteiro de volta. Tudo remete a Fevereiro de dois mil e treze. Olhando as lojinhas, com tantas variedades de produtos, tantos estilos de roupas, calçados, bijuterias, utilidades... Tudo faz lembrar intensamente Bere e nossas férias. Quantas vezes no ano passado caminhamos à noite de mãos dadas, despreocupadamente, pelas mesmas ruas, mesmas calçadas e iluminados pelas mesmas luminárias... Isto após uma generosa chuva. Itapema no verão sempre tem uma chuva passageira no início da noite. E nestas caminhadas olhávamos as lojas, entrávamos, víamos as meninas atendentes com seu doce sorriso e eu via a paciência de Bere em escolher algum produto. Nossa! Ela era muito minuciosa. Em cada artigo que comprava ela observava cores, detalhes, tamanho, procedência, textura, se amarrotava facilmente ou não porque detestava passar roupa e, por fim, o preço. Tudo. Sempre escolhia com critério. Uma espécie de ritual de compras que fez parte desta e de tantas outras férias. E eu tinha um enorme prazer em poder estar ao seu lado vendo ela comprar. Eu tinha orgulho do jeito inteligente com que ela comprava. Adorava isso. Não me importava o tempo que Bere levasse para escolher a compra, o que me importava era ver sua sabedoria em escolher. Bere era sábia, objetiva e perspicaz nas escolhas. Sabia puxar de dentro de uma loja o que de melhor havia, pelo melhor preço. Mas nunca pechinchava. Pagava sempre o valor da etiqueta. Nunca me angustiei por ela demorar a decidir em sua escolha, pois sabia que, depois de estar com o produto em casa, ela exibiria com satisfação o fruto de sua escolha acertada, enaltecendo sua compra e o valor investido. Diferentemente de tantas outras companhias, Bere preferia a minha nas compras porque sabia que minha paciência em esperá-la decidir e comprar era única. Eu a deixava à vontade. Claro, eu me deliciava vendo ela nesta atividade, parecendo uma artista conquistando e lapidando suas preferências e merecidamente no resultado, alcançando seus troféus."
terça-feira, 23 de junho de 2015
Hora da Faxina: Crônica com Nomes de Municípios Gaúchos - Me caíu os BUTIÁ do Bolso.
Me caíu os BUTIÁ do bolso:
CAÍ na FELIZ ideia de um BOM PRINCÍPIO com ela, para vivermos em HARMONIA e com ALEGRIA chegarmos a um BOM FIM. PARECI um apaixonado a esperando no PORTÃO do SOBRADINHO, sonhando em levá-la a uma CAPELA, ou IGREJINHA. Seria um TRIUNFO e eu sonhava ALTO ALEGRE. Tínhamos VACARIA, PINHAL, PALMITINHO, ALECRIM, MOSTARDAS, e MUÇUM dentro do LAGOÃO. Tudo era JOIA, achava que tudo era SÉRIO. Até que um dia, eu sendo o ESTEIO, deitado no TRAVESSEIRO VIAMÃO calejada de trabalhar sem PROGRESSO e ela não deu TRÊS PASSOS para ajudar. Mas disseram que de noite, no RELVADO, fazia RONDINHA nos VIADUTOS tipo PUTINGA. Fiquei muito nervoso, tipo FORMIGUEIRO, pois não esperava por essa BOSSOROCA. Resolvi perguntar. Ela estava passando BOZANO na CANELA para depilar. Falei que éramos CASEIROS em nossa VILA MARIA, atrás das COLINAS. Por que ela estava dando uma de JAQUIRANA? Ela, acima do joelho ESPUMOSO, depilando o GRAMADO no CERRO LARGO, gritou: - NÃO-ME-TOQUE! Este é meu SEGREDO. Eu, de tão chateado, gritei de volta: - PARAÍ ANTA GORDA! NONOAI perdão! Nem que fique com SOLEDADE, vou me distanciar MUITOS CAPÕES de você, nunca mais IRAÍ e nem que se chamasse MARIANA PIMENTEL a queria de volta. E foi então que iniciou meu LIVRAMENTO e saí do POÇO DAS ANTAS. RS RS RS RS RS
quinta-feira, 18 de junho de 2015
Pequenas Mentiras, Meias Verdades - Bodas de Ouro
Bodas de Ouro
Felipe e Cecília era um casal daqueles de antigamente. Quando casaram, ele tinha dezoito anos e ela, dezesseis. Normal para a época, hoje em dia é até considerado bizarro. Mas isto foi nos anos cinquenta. Casamento naquela época era algo glamouroso, do tipo de pompas e festa para a vila inteira. Tudo era preparado de um jeito peculiar, de formas que o evento fosse falado e referido como algo especial, pelo menos no próximo meio ano.
Pois, neste clima maravilhoso de magia e encantamento, na década de cinquenta, Felipe e Cecília juraram amor eterno. E mantiveram esta jura ao longo dos anos, enquanto trabalhavam pelo sustento, criando seus oito filhos, e agora já estão cercados de mais de dez netos.
Os anos foram passando e as comemorações foram se sucedendo. Bodas de papel, depois de prata, e agora, completando cinquenta anos de casados, as bodas de ouro. foi anunciada uma grande festa, pois Felipe nem sabia, mas Cecília, durante todos estes anos de casados, havia feito uma promessa de que todo o ano pouparia uma parte dos proventos do marido numa poupança para fazer a festa de bodas de ouro, caso alcançassem. E a data chegou.
Quando Felipe soube que sua mulher havia feito isso, os privando de muitas outras coisas como comprar um carro novo, um churrasco para os vizinhos, uma reforma na cozinha, ficou ralhando com ela, como era seu costume, por ela ter guardado segredo sobre esta poupança, já que eles não tinham segredos entre si. Mas Cecília sabia que se não fizesse isso, a festa dos cinquenta anos de casados não passaria além de um bolo de laranja enfeitado que sua nora fazia em cada comemoração de aniversário. Toda a família já sabia de cor o sabor daquele bolo, que tinha como ingrediente especial, aquela nata bolorenta esquecida no fundo da geladeira, num reaproveitamento honroso para algo que, de outro jeito, seria descartado.
O dia da festa chegou, um domingo de meio-dia, com um churrasco programado no encontro de toda a família do casal. Cecília estava radiante em seu vestido azul clarinho com apliques de rosas brancas gigantes, algo que a fazia parecer uma verdadeira noiva. Felipe não quis usar o terno completo. Nem a gravata quis colocar. Só ficou com aquela camisa branca de manga comprida, meio apertada na barriga que insistia em mostrar as casas dos botões, apertando numa vontade enorme de se libertar dela, e sua calça de tergal com vinco esmerado feito pela sua filha mais velha, a Isolde. Para completar, a calça era segurada por um par de suspensórios elegantes, de fivelas douradas.
Como Felipe não abria mão de certas manias, antes do churrasco teve que ser servida aquela tradicional sopa de legumes. Felipe estava sentado num lado, no meio daquela mesa enorme do salão e Cecília, bem na sua frente. Serviram a sopa, e Felipe já começou a sorvê-la freneticamente demonstrando estar faminto. Cecília, por sua vez, ficou observando seu marido. Ele comia, e a cada colherada, ela o olhava com paixão. O prato de Cecília estava servido, bem na frente dela, mas ela nem havia tocado na sopa, somente observando o Felipe e seu apetite.
A uma certa altura, Felipe incomodado pelo modo como sua esposa o encarava, disse indignado:
- Cecília, trata de comer antes que a sopa esfrie!
Ela, ainda apaixonada, com os cotovelos apoiados na mesa segurando sua face, enquanto encarava o marido, suspirando disse:
- Sabe, Felipe, ...em todos estes anos de casados, nunca senti o que sinto por ti hoje! Sinto meu peito num calor tamanho, que parece que vai pegar fogo. ...Também sente isto Felipe?
- O que? - Perguntou Felipe continuando a sorver a sopa. Cecília, mais apaixonada ainda, respondeu:
- Querido, este calor, que parece que vai consumir meus seios.
Felipe só olhou com o canto dos olhos para os peitos da esposa, e continuando a tomar a sua sopa, resmungou:
- Cecília!!! Então trata de tirar estas tetas de dentro da sopa do teu prato. Garanto que este calor vai desaparecer ligeirinho!
Hora da Faxina - Na Fila do Açougue
Na Fila do Açougue
Já disse outras vezes que gosto de filas. Em qualquer lugar. Mas as dos supermercados são as mais interessantes. Talvez porque ali a pessoa está com algum alimento nas mãos que logo entrará pra panela e o almoço vai atrasar, ou pro balde para fazer alguma limpeza que já vinha adiando horas, ou talvez dias. Nelas, nas filas, a gente consegue dimensionar personalidades verdadeiras, que de outra forma, muitas vezes as pessoas mascaram. Podemos ter noção exata de como é a pessoa, só pelo seu jeito de se submeter a uma fila.
Eu sinto um prazer mórbido em ver alguém trocando de pés pela ansiedade em ver a fila andar e tudo fica trancado por causa de algum cartão que não passou na máquina leitora ali no caixa, ou porque terminou o rolo etiquetador da balança do açougueiro. Tem pessoas que chegam a bufar enquanto trocam de pés, outros até a grunhir baixinho tentando conter a raiva. E eu me delicio. Já faz tempo que aprendi que supermercado e banco são lugares onde a gente precisa realmente 'tirar o tempo' para ir. Senão ficará chateado com a fila parada.
O bacana de uma fila de supermercado, é que sempre ensina algo. Ver o que as pessoas compram diferente de mim, e o que fazem com estes produtos, ou como preparam estes alimentos. Então já surge assunto para trocar com quem está na nossa frente, ou atrás na fila, onde posso aprender coisas novas, conhecer novidades, trocar receitas e quem sabe, até fazer novas amizades. E já fiz várias, somente por ficar um tempo na fila junto com outra pessoa, que antes desconhecida, agora virou amiga pelo simples fato de trocar ideias sobre o conteúdo do carrinho ou do cesto, de coisas que foram compradas diferentes e que despertam nossa curiosidade.
Muito engraçado é quando aquela pessoa que está na nossa frente, não dá atenção para ninguém, fica na dela, não cumprimenta, somente fica batendo o pé num sentido quase invisível para esconder sua ansiedade, mas bufando por dentro, por se achar importante o suficiente para não passar pela humilhação de uma fila. Julga-se especial na sociedade, e seu cestinho é discreto, geralmente com cereais e verduras. Só pega carrinho para compras em supermercados de cidades grandes, onde vai e compra pra valer. Então nos pequenos, só compra coisas de última hora. E, quando está passando os produtos, diz para a menina do caixa:
- Vai passando a mercadoria, faltou mais uma coisinha.
E vai até a geladeira pegar três latões de cerveja, para só dar na vista na hora de passar no caixa, pensando que assim é mais elegante do que ficar na fila ostentando umas latinhas de cerveja.
Mas, estes dias, vi algo bem sacana acontecer na fila do açougue. A fila estava grande, tinha ainda umas dez pessoas para serem atendidas e faltavam uns cinco minutos para o supermercado fechar. A pessoa que estava na minha frente, quando chegou sua vez pediu para o açougueiro moer oitocentos gramas de carne segunda. Até aí nada demais. O açougueiro preparou a carne, moeu, pôs num saquinho, pesou e rotulou com o preço. Quando ia entregar o produto para a cliente ela disse:
- Agora me separa esta carne em quatro saquinhos de duzentos gramas, pois quero por as porções separadas no freezer.
As pessoas se entreolharam na fila. Mas, o açougueiro atendeu o pedido da cliente separando em quatro porções. Quando foi pesar, quase todas as porções estavam iguais. Só uma estava com 30 gramas a menos, então a cliente falou:
- Faz o favor de tirar 10 gramas de cada um dos outros saquinhos para completar este?
Só rindo! Naquele dia até eu quase perdi a paciência.
sexta-feira, 12 de junho de 2015
Hora da Faxina - A Maleta
A Maleta
Tenho um amigo que está com o mesmo carro já há mais de vinte anos. Tirou ele zero quilômetro da agência e nunca mais trocou. Aliás, tenho alguns amigos e conhecidos que fizeram o mesmo: compraram seu carro zero e o vêm mantendo ano após ano, num cuidado especial, como se fosse um filho, só que cinco anos, no máximo dez. Mais de vinte anos já é outro patamar, e quanto lembro, só este meu amigo.
Pois, em 1993 quando foi lançado o Omega Suprema da Chevrolet, Paulo (nome fictício) se encantou pelo modelo. Nunca havia comprado um carro novo e o chevetinho dele já estava com o assoalho furado a ponto de em dias de chuva, quando andava, encharcava os pés com a aguaceira que recolhia nos respingos dos pneus passando nas poças de água.
Paulo tinha juntado uma boa grana com vendas de cítricos e achou que era o momento de encarar um carro zero, limpando sua poupança e se livrando do Amarelinho, como carinhosamente chamava seu chevetão. E, lógico, tinha que ser este Omega Suprema.
Comprou o carro. Um azul flamante, carrão enorme, fortão, motor dois ponto zero, completo para a época. E desde então, todas as revisões foram feitas na agência. O manual de instruções, em seu espaço para carimbo de revisões já recebeu tantos carimbos da agência, que ele esboça com orgulho, que não há mais espaço para mais registros. As últimas oito revisões já receberam carimbos da agência sobre a parte impressa do manual. Mas ele continua indo lá, na autorizada Chevrolet.
Na última revisão que fez, faltaram alguns componentes originais, pois não existem mais novos, e a agência, por respeito ao cliente de carro mais antigo, tentou gentilmente explicar que não tinham mais como fazer a revisão, pois as peças não seriam mais encontradas. Pois Paulo, para não macular seu manual com a falta do carimbo desta revisão, pediu para fazerem a lista do que deveria ser trocado que ele providenciaria.
Assim aconteceu. Eles fizeram uma lista quilométrica para tentar desmotivar Paulo a seguir com esta revisão anual na agência. Paulo pegou a lista, foi atrás, desmanches, lojinhas pequenas de peças originais, oficinas mecânicas, e eis que quase um mês depois, tinha reunido todos os componentes para fazer seu conserto. E mais uma vez seu Omega estava revisado via agência.
Seu amor por este carro é tanto, que estes dias estava chovendo, seu carrão sequinho na garagem, e a esposa a oito quadras dali, ligou pedindo para vir buscá-la, para ela não se molhar. E ele, gentilmente disse para ela vir desviando da chuva caminhando por baixo das marquises das lojas, que ele iria ao seu encontro com um guarda-chuva para trazê-la para casa.
Outro dia, havia sido convidado para tomar um chimarrão com Paulo. Sábado de manhã. eu fui, e quando cheguei na sua casa, é lógico, ele estava na garagem, sentado do lado do seu Omega. Estava com uma maleta no colo, maleta enorme. Disse para eu sentar e servir o chimarrão, enquanto isso ele faria uma faxina minuciosa no seu carrão.
Ele abriu a maleta. Vi que ela tinha diversos compartimentos, cada qual com um tipo de pincel, espanadorzinho, uma coleção de produtos para limpeza. E antes que eu perguntasse pra que era todo este arsenal de limpeza, ele tirou lá de dentro um pincel esquisito, parecido com um dedo, as cerdas duras, em forma de unha. E começou a passar este treco em todos os frisos do seu carro.
Tomei só algumas cuias e vim embora, afinal, ele estava mais concentrado na micro-faxina do seu Omega do que no nosso papo.
terça-feira, 9 de junho de 2015
Pequenas Mentiras, Meias Verdades - Willi na Escola
Willi na Escola
Os anos caminham, as salas de aula pouco mudam, e as crianças que as frequentam vão passando, mas os acontecimentos que ficam são inesquecíveis. E por incrível que pareça, em cada turma, sempre tem aquele menino ou menina danados, que têm a resposta na ponta da língua para tudo.
E neste sentido não existe muita diferença entre escolas das cidades ou do interior. As crianças até variam de nomes, mas, sempre tem aqueles meninos que se sobressaem que chamam Pedrinho, Joãozinho, ou, no interior, Willi. Outro dia falarei das meninas e seus nomes.
Existe uma grande diferença entre estes nomes e o modo de eles se comportarem. Assim, Pedrinho é o garoto que sempre quer responder a todas as perguntas feitas pela professora, mas não sabe nada. Por exemplo, a professora pergunta:
- Alguém sabe quantos dias têm a semana?
Pedrinho, já levantando o braço antes de a professora terminar grita:
- Eu sei professora: são quatro dias.
- Como, 4 dias? ...então me diz como se chamam estes 4 dias.
E Pedrinho orgulhoso diz:
- O dia que papai está em casa, o dia em que tem carne no almoço, o dia em que a vovó toma banho e o dia que vou à escola.
Assim as coisas acontecem no meio das crianças inocentes. Joãozinho, garoto esperto, sabe tudo, e deixa primeiro o Pedrinho se danar na resposta para depois responder corretamente:
- São sete dias. São cinco dias de feira e dois para comer o que a mamãe comprou.
Mas, que nem o Willi não existe igual. Aquele garoto de olhar preparado, meio irrequieto, sentando lá no fundão da classe, quietinho na dele, e só responde quando realmente mais ninguém sabe.
Aconteceu numa segunda-feira, numa aula de religião, que a professora contou sobre todas as grandes belezas que o céu oferece, e que fatalmente um dia todos iremos para lá se formos bons na terra. Quando ela terminou de contar estes fatos, perguntou:
- Alguém de vocês sabe qual é a primeira parte do corpo que entra no céu?
...Toda a sala permaneceu em silêncio. Até que depois de um tempo, Willi, lá no fundo, levantou seu bracinho. A professora perguntou:
- Você sabe, Willi?
- Sim professora, eu sei! - Respondeu Willi convicto. A professora perguntou:
- E qual é a primeira parte do corpo que entra no céu?
- Os pés! - Respondeu Willi. A professora, impressionada com a resposta, perguntou:
- Como assim, os pés? Como você sabe isso, onde aprendeu isso?
E ele respondeu:
- Porque ontem de noite eu acordei porque a mamãe gritava: "Eu vou pro céu, eu vou pro céu, me segura, eu vou pro céu!" - Então eu levantei apavorado e fui espiar na fechadura do quarto deles para ver o que estava acontecendo.
- Mas o que estava acontecendo? - Perguntou a professora. E o garoto explicou:
- Minha mãe estava deitada com os as pernas e os pés esticados para o céu, e enquanto girava os pés gritava dizendo que ia para o céu. Graças a Deus, meu pai estava deitado em cima dela segurando as pernas com os braços e batendo nela com a barriga. Senão com certeza teria ido pro céu.
quinta-feira, 4 de junho de 2015
Hora da Faxina: Nomes Diferentes
Nomes Diferentes
Algum tempo atrás, ligaram para mim de São Paulo a fim de pegar um email da nossa emissora de rádio para enviarem material gravado sobre uma instituição conceituada no país, que dá orientação a novos empreendedores. E como o meu nome é 'diferente', a conversa criou um clima bem interessante, surreal, que deixou a senhorinha que me contatou bastante confusa, ou quem sabe, irritada. A mulher, do outro lado da linha falou:
- Vamos manter um diálogo relaxado, para minha pesquisa evoluir sem stress, alegre e dinâmica, pode ser? ...Nome? - E eu:
- Pode ser. Meu nome é Pio Rambo.
- Desculpe, acho que não entendi. Disse a mulher. E eu respondi falando devagar:
- Pio Rambo. ...Rambo que nem do filme, lembra?
A mulher, satisfeita completou:
- Ah tá, o sobrenome do filme, entendi. Ramboooo... deixa eu anotar aqui na planilha. ...E o primeiro nome do senhor, por gentileza, é Phil com um éle ou dois éles?
Eu, surpreso com a interpretação inusitada da senhorinha, confundindo meu nome, não me contive, comecei a rir lembrando do cantor Phil Collins, respondi:
- Já que o diálogo é relaxado, alegre, dinâmico, vou dizer palavras com as iniciais do meu nome: meu nome é Pio. P de p da vida, I de irritado e O de ofendido.
E soltei uma gargalhada de ecoar quadras. Eu estava num dia daqueles onde tudo pra mim era hilário, e o jeito tenentão da senhorinha me provocou dar esta resposta. ...Silêncio no outro lado da linha... Logo me bateu um remorso sem tamanho pelo que tinha falado, então disse:
- Brincadeirinha viu? ... Só falei estas palavras para descontrair nosso diálogo, já que você não estava entendendo.
No outro lado da linha, pelo silêncio da mulher, notei que ela não havia gostado nem um pouco das palavras que usei para informar como era meu nome soletrado. Imaginei a fumacinha subindo do cérebro dela, explodindo de ódio por minha resposta inusitada. E, depois do silêncio, a mulher respondeu fundo, como quem engole seco e tenta se recompor, dizendo:
- Vamos prosseguir. Posso?
Eu, com a consciência pesada, me sentindo mal por ter falado aquilo, mais que prontamente respondi:
- Pode! Pergunte.
- Cidade onde mora?
E eu:
- São Sebastião do Caí, RS.
Agora foi a mulher quem começou a rir. Ela desatou numa gargalhada maior do que a minha, parecendo ter me pregado uma peça. Então disse, em meio às risadas:
- Tá de gozação comigo né? Primeiro me diz um nome que é de outro planeta, agora diz que mora numa cidade de nome bizzarro. ...Caí? Caiu aonde hahahaha? ...Olha, eu lido com pessoas das mais diversas todos os dias a partir daqui, de todo o Brasil, mas o senhor está conseguindo ser o campeão da enrolação. Está me tirando né?
E eu comecei a rir alto, solto, gargalhadas, doía a barriga de tanto rir. E quanto mais ria, mais a senhorinha foi se irritando no outro lado da linha. Então ela, tentando ser profissional, disse:
- O senhor poderia, por gentileza me dizer seu verdadeiro nome e o nome real de sua cidade, sem zoar do meu trabalho?
E eu, entre risadas, disse que ela podia consultar o google earth escrevendo só Caí RS que encontraria minha cidade. E que se escrevesse na pesquisa do google Pio Rambo acharia várias páginas falando a meu respeito, de que os nomes realmente eram estes, que eu estava sendo sincero. Ela, ainda séria, tipo chateada comigo, disse:
- Por gentileza, aguarde um momento.
Depois de uns cinco minutos de silêncio no outro lado da linha, certamente consultou o google, ouvi de novo a voz da mulher, ao que ela disse:
- OK. todos os dados foram confirmados. Senhor Pio, por gentileza poderia me fornecer o email da emissora da qual o senhor é presidente?
Culinária: Supremo de Batata com Carne
Sempre fazemos sucesso quando criamos um prato novo em sabor, preparo e textura. Então, aqui está um prato muito saboroso, que serve sozinho como refeição e tem um sabor inigualável, porque o gosto da batata fica entre cozida e frita. Com certeza vai fazer sucesso em sua mesa.
INGREDIENTES:
(4 porções) - Tempo de preparo: de uma hora a 1 hora e meia.
700 g de bife de alcatra ou cochão mole (de dentro) pronto
700 g de batata inglesa rosa
350 g de cebola (uma cebola grande)
70 g de tomate (um tomate rasteiro)
03 dentes de alho
03 colheres de banha
02 colheres de amido de milho (Maizena)
sal e pimenta a gosto
01 xícara de óleo para fritar as batatas
PREPARO:
Corte os bifes em porções quadradas. Coloque a banha para derreter e distribua os bifes sobre toda a superfície, deixando eles fritando em fogo alto até que quase todo o soro tenha saído de seu inteirior:
Tempere com sal e pimenta e vire-os. Quando começar a secar o soro na panela, retire-os e reserve. Coloque na panela a cebola e o tomate picado em pequenas porções, tampe a panela e deixe em fogo baixo.
Enquanto isso, com a ajuda de um cortador de legumes, depois da batata descascada, corte em rodelas tipo chips.
Em frigideira com óleo quente, coloque uma porção de batatas que cubra o fundo, cuidando para não colocar demais, como na foto abaixo:
Quando ela estiver começando a dourar no lado de baixo, retire com escumadeira e reserve sobre papel toalha para enxugar excessos de óleo. Acrescente uma pitada de sal a cada fritura sobreposta, para ir temperando a batata.
Depois de toda a batata ter passado por este processo, a massa de cebola com tomate já deve estar no ponto também, tendo secado na panela conforme foto abaixo. Acrescente os dentes de alho picados.
Misture a batata com toque de fritura:
Acrescente água até cobrir o conteúdo da panela. Deixe levantar fervura e deixe cozinhando até a massa começar a pegar no fundo da panela. (Entre 15 e 20 minutos)
Aqui está a aparência da batata pronta, semi frita, semi cozida:
Acrescente as duas colheres de amido de milho (Maizena) diluídas em meio copo de água e acrescente a carne:
Deixe levantar fervura em fogo baixo.
Quando a mistura ficar como um creme (supremo), o prato estará pronto:
Acompanhe com saladas e aipim frito. Fica muito delicioso.
terça-feira, 2 de junho de 2015
Pequenas Mentiras, Meias Verdades: O Negociante
O negociante
Dillo era um negociante como poucos haviam antigamente. Ele tinha uma loja cheia de novidades e modernidades, diferente das outras, como televisores, rádios e aparelhos que funcionavam com pilhas e assim por diante. Mas, como o seu negócio se situava em uma cidade pequena como o Caí, ele tinha que ir até o interior para incrementar suas vendas. Então ele levava uma tv com ele e ia até uma casa no interior, instalava, e assim deixava lá por uma semana como teste para ver se com esta demonstração induziria a estas pessoas daquela casa a se interessarem pelo produto, e por fim adquiriam seu aparelho.
Em mais uma viagem para o interior, Dillo preparou alguns televisores, antenas, cabo e rumou em busca de compradores. E estes eram dos mais modernos, televisores com válvulas econômicas, que não gastavam tanta energia quanto aos modelos que andavam funcionando por aí.
Chegando numa vila, parou seu Simca Tufão na frente de uma linda casa. Desceu, e quando bateu palmas foi recebido pela dona. O dono da casa não se encontrava. Ele estava na roça, só a esposa dele se encontrava. Dillo explicou sobre a tranquilidade em ficar com um televisor instalado durante vários dias para teste. Mas ela não estava afim de deixar instalar o aparelho. Então ela disse:
- Dillo, meu marido é um dos antiquados. Ele não fica atraído pelas modernidades, principalmente algo como uma televisão.
- Não! Eu deixo a televisão com vocês instalada por três semanas. Vocês podem usá-la e ver se querem ficar com ela ou não. Se não ficarem, não vai ter nenhum custo.
Mesmo a mulher relutando, dizendo que o marido não iria gostar, que iria ficar brabo por ela ter permitido a instalação, Dillo continuou puxando fios, subindo no telhado, instalando a antena, e meia hora depois estava ali, o televisor funcionando.
Quando ele estava embarcando no carro, a mulher ainda veio correndo até ele e disse:
- Dillo, meu marido não vai ficar satisfeito em ver esta televisão instalada lá em casa. Por favor, desinstale-a e leve-a embora.
- Bobagem! - Disse o Dillo. - Quando seu marido enxergar as belas imagens que este aparelho mostra, com certeza irá pensar diferente.
No outro dia, de manhã cedo, parou na frente da loja do Dillo um trator, onde desceu um homem com um porquinho no colo, e entrou loja a dentro. Então disse:
- Dillo, você tinha razão! Eu vi as belas fotos na televisão e aí, o que disseram me fez mudar de ideia. Eles disseram que a gente sempre deve pagar as contas, retribuindo com a mesma moeda. Assim, eu te trouxe este porquinho para deixar três semanas contigo, e se te servir, te vendo ele, do mesmo jeito que quer me vender o televisor.
Ele deixou o porquinho lá e foi embora.
Depois de uma semana, o Dillo foi para a colônia para pegar a tv de volta e devolver o porquinho para o seu dono.
Mas, a experiência não foi de graça: muitos vizinhos do colono compraram televisores do Dillo. Valeu a pena ficar com um porquinho por uma semana.
Algum tempo depois, o Dillo recebeu um tipo de aspirador de pó mais potente para vender. E, como vendedor astuto que era, de novo a mesma coisa: Ele foi até o interior para incrementar suas vendas. E em algumas casas ele então parava para demonstrar seu aparelho.
De fronte a uma casa de alvenaria, ele desembarcou com um dos seus possantes aspiradores, com a certeza de que venderia seu produto numa casa tão chique. Trazia consigo milho, arroz e grãos de ferro, os quais espalhava no meio da sala. Ainda junto, muito pó e arreia. Bateu palmas e foi recebido por uma senhora um pouco mais velha. Então disse:
- Madame, se me deixar entrar, gostaria de fazer uma demonstração das qualidades deste potente aspirador de pó.
A mulher o deixou entrar. E ele logo foi espalhando os grãos, a terra e a poeira em cima do tapete da sala. Enquanto desenrolava o cabo de força do aspirador foi dizendo:
- Madame, se o aspirador não sugar tudo que espalhei sobre o tapete, o que sobrar, eu como. Com certeza comerei tudo!
A mulher começou a rir e foi saindo.
Dillo então perguntou:
- Ué, madame, onde a senhora vai?
Ela respondeu:
- He, he, vou pegar uma colher para você e uma vassoura para mim. Desde ontem estamos sem energia elétrica em casa. Com certeza este troço não irá funcionar, vai ter que comer tudo.
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