No Consultório
Eu estava com uma pequena e chata alergia bem na dobra do cotovelo. Há pouco tempo, era só ir na farmácia, comprar um corticoide de uso tópico, e pronto. Rapidinho me livrava do probleminha. Mas, hoje só se compra mais este tipo de produto mediante apresentação de receita médica. Então, fui consultar.
Sempre achei interessante os tipos de assunto abordados num consultório médico, pois encontramos pessoas para consultar especializadas nas mais variadas doenças, e muitas vezes descrevem melhor do que o médico os sintomas da pessoa sentada do lado, dizendo com precisão qual a sua doença. E já ali, acontece uma 'espécie de consulta' da pessoa afetada pelo mal que descreveu, para com a pessoa do lado que está por dentro dos sintomas, causas e consequências. E pior: já tem ideia do que precisa para se tratar e melhorar.
É impressionante de se ver. Eu fico imaginando qual o motivo de esta pessoa que está tão por dentro da doença da pessoa do lado, de estar ali também, no consultório, para uma consulta com o médico. E depois de descrever tudo, sugerir remédios entre paliativos caseiros e de farmácia, finalmente descreve casos de pessoas conhecidas que sucumbiram a esta doença, deixando a pessoa doente angustiada, nervosa, respirando ofegante. Por fim, depois de todo este quadro desenhado, a doente pergunta para a pessoa do lado, que falou tudo isto, qual era o seu problema.
Estávamos na sala de espera eu, estas duas senhoras de meia idade e uma senhora já mais velha, imagino girando em torno dos setenta anos, a qual já estava ali quando eu cheguei. E a velhinha estava pacientemente esperando, na dela, meio cochilando. Eu estava folheando uma daquelas revistas de meses atrás, mas meu ouvido estava ligado na conversa das duas, e já pensando em como isso iria continuar.
Depois desta pergunta feita a esta pessoa, uma senhora de seus quarenta e poucos anos, alinhou o corpo no banco, se ajeitou, respirou fundo e disse:
- Pois minha amiga, meu problema não tem solução. Ao menos por enquanto. Vim aqui, e olha que já passei por várias consultas em vários médicos, pois estou na menopausa e meus hormônios andam me traindo. Assim, meu humor está do lado deles e viro uma pessoa que nem eu conheço, às vezes. Está terrível de suportar.
Eu fiquei só observando com o canto dos olhos e ouvido em riste. A outra, do lado disse que não havia chegado ainda na menopausa mas sabia de muitos chás bons para abrandar os calorões e o mau humor. E começaram a falar sobre chás. De repente, porque estava demorando a paciente que estava sendo atendida sair, as duas começaram a falar mal do médico. A da menopausa falou:
- É uma falta de consideração comigo este doutor! Tenho hora marcada aqui para as dez e já passa das dez e trinta e ele ainda está com alguém no consultório. Acho um desaforo!
A outra, do lado, consentiu com o comentário e continuou:
- Pior! Eu tenho aqui marcado para as onze, e se continuar deste jeito vai dar meio dia até eu sair daqui.
discretamente olhei meu horário marcado, estava onze e trinta. A da menopausa então falou:
- Coitada desta senhora idosa... - E olhando para ela: - A senhora provavelmente tem consulta às dez e trinta não? Que falta de consideração do doutor para com a senhora, fazê-la esperar.
A velhinha abriu os olhos, deu uma risadinha, e respondeu:
- Não vim consultar. O doutor é meu filho e vai almoçar comigo hoje. Só estou esperando ele terminar de atender vocês, então vamos almoçar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário