quinta-feira, 18 de junho de 2015

Hora da Faxina - Na Fila do Açougue



 Na Fila do Açougue

   Já disse outras vezes que gosto de filas. Em qualquer lugar. Mas as dos supermercados são as mais interessantes. Talvez porque ali a pessoa está com algum alimento nas mãos que logo entrará pra panela e o almoço vai atrasar, ou pro balde para fazer alguma limpeza que já vinha adiando horas, ou talvez dias. Nelas, nas filas, a gente consegue dimensionar personalidades verdadeiras, que de outra forma, muitas vezes as pessoas mascaram. Podemos ter noção exata de como é a pessoa, só pelo seu jeito de se submeter a uma fila.
   Eu sinto um prazer mórbido em ver alguém trocando de pés pela ansiedade em ver a fila andar e tudo fica trancado por causa de algum cartão que não passou na máquina leitora ali no caixa, ou porque terminou o rolo etiquetador da balança do açougueiro. Tem pessoas que chegam a bufar enquanto trocam de pés, outros até a grunhir baixinho tentando conter a raiva. E eu me delicio. Já faz tempo que aprendi que supermercado e banco são lugares onde a gente precisa realmente 'tirar o tempo' para ir. Senão ficará chateado com a fila parada.
   O bacana de uma fila de supermercado, é que sempre ensina algo. Ver o que as pessoas compram diferente de mim, e o que fazem com estes produtos, ou como preparam estes alimentos. Então já surge assunto para trocar com quem está na nossa frente, ou atrás na fila, onde posso aprender coisas novas, conhecer novidades, trocar receitas e quem sabe, até fazer novas amizades. E já fiz várias, somente por ficar um tempo na fila junto com outra pessoa, que antes desconhecida, agora virou amiga pelo simples fato de trocar ideias sobre o conteúdo do carrinho ou do cesto, de coisas que foram compradas diferentes e que despertam nossa curiosidade.
   Muito engraçado é quando aquela pessoa que está na nossa frente, não dá atenção para ninguém, fica na dela, não cumprimenta, somente fica batendo o pé num sentido quase invisível para esconder sua ansiedade, mas bufando por dentro, por se achar importante o suficiente para não passar pela humilhação de uma fila. Julga-se especial na sociedade, e seu cestinho é discreto, geralmente com cereais e verduras. Só pega carrinho para compras em supermercados de cidades grandes, onde vai e compra pra valer. Então nos pequenos, só compra coisas de última hora. E, quando está passando os produtos, diz para a menina do caixa:
   - Vai passando a mercadoria, faltou mais uma coisinha. 
   E vai até a geladeira pegar três latões de cerveja, para só dar na vista na hora de passar no caixa, pensando que assim é mais elegante do que ficar na fila ostentando umas latinhas de cerveja.
   Mas, estes dias, vi algo bem sacana acontecer na fila do açougue. A fila estava grande, tinha ainda umas dez pessoas para serem atendidas e faltavam uns cinco minutos para o supermercado fechar. A pessoa que estava na minha frente, quando chegou sua vez pediu para o açougueiro moer oitocentos gramas de carne segunda. Até aí nada demais. O açougueiro preparou a carne, moeu, pôs num saquinho, pesou e rotulou com o preço. Quando ia entregar o produto para a cliente ela disse:
   - Agora me separa esta carne em quatro saquinhos de duzentos gramas, pois quero por as porções separadas no freezer.
   As pessoas se entreolharam na fila. Mas, o açougueiro atendeu o pedido da cliente separando em quatro porções. Quando foi pesar, quase todas as porções estavam iguais. Só uma estava com 30 gramas a menos, então a cliente falou:
   - Faz o favor de tirar 10 gramas de cada um dos outros saquinhos para completar este?
   Só rindo! Naquele dia até eu quase perdi a paciência.

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