Bodas de Ouro
Felipe e Cecília era um casal daqueles de antigamente. Quando casaram, ele tinha dezoito anos e ela, dezesseis. Normal para a época, hoje em dia é até considerado bizarro. Mas isto foi nos anos cinquenta. Casamento naquela época era algo glamouroso, do tipo de pompas e festa para a vila inteira. Tudo era preparado de um jeito peculiar, de formas que o evento fosse falado e referido como algo especial, pelo menos no próximo meio ano.
Pois, neste clima maravilhoso de magia e encantamento, na década de cinquenta, Felipe e Cecília juraram amor eterno. E mantiveram esta jura ao longo dos anos, enquanto trabalhavam pelo sustento, criando seus oito filhos, e agora já estão cercados de mais de dez netos.
Os anos foram passando e as comemorações foram se sucedendo. Bodas de papel, depois de prata, e agora, completando cinquenta anos de casados, as bodas de ouro. foi anunciada uma grande festa, pois Felipe nem sabia, mas Cecília, durante todos estes anos de casados, havia feito uma promessa de que todo o ano pouparia uma parte dos proventos do marido numa poupança para fazer a festa de bodas de ouro, caso alcançassem. E a data chegou.
Quando Felipe soube que sua mulher havia feito isso, os privando de muitas outras coisas como comprar um carro novo, um churrasco para os vizinhos, uma reforma na cozinha, ficou ralhando com ela, como era seu costume, por ela ter guardado segredo sobre esta poupança, já que eles não tinham segredos entre si. Mas Cecília sabia que se não fizesse isso, a festa dos cinquenta anos de casados não passaria além de um bolo de laranja enfeitado que sua nora fazia em cada comemoração de aniversário. Toda a família já sabia de cor o sabor daquele bolo, que tinha como ingrediente especial, aquela nata bolorenta esquecida no fundo da geladeira, num reaproveitamento honroso para algo que, de outro jeito, seria descartado.
O dia da festa chegou, um domingo de meio-dia, com um churrasco programado no encontro de toda a família do casal. Cecília estava radiante em seu vestido azul clarinho com apliques de rosas brancas gigantes, algo que a fazia parecer uma verdadeira noiva. Felipe não quis usar o terno completo. Nem a gravata quis colocar. Só ficou com aquela camisa branca de manga comprida, meio apertada na barriga que insistia em mostrar as casas dos botões, apertando numa vontade enorme de se libertar dela, e sua calça de tergal com vinco esmerado feito pela sua filha mais velha, a Isolde. Para completar, a calça era segurada por um par de suspensórios elegantes, de fivelas douradas.
Como Felipe não abria mão de certas manias, antes do churrasco teve que ser servida aquela tradicional sopa de legumes. Felipe estava sentado num lado, no meio daquela mesa enorme do salão e Cecília, bem na sua frente. Serviram a sopa, e Felipe já começou a sorvê-la freneticamente demonstrando estar faminto. Cecília, por sua vez, ficou observando seu marido. Ele comia, e a cada colherada, ela o olhava com paixão. O prato de Cecília estava servido, bem na frente dela, mas ela nem havia tocado na sopa, somente observando o Felipe e seu apetite.
A uma certa altura, Felipe incomodado pelo modo como sua esposa o encarava, disse indignado:
- Cecília, trata de comer antes que a sopa esfrie!
Ela, ainda apaixonada, com os cotovelos apoiados na mesa segurando sua face, enquanto encarava o marido, suspirando disse:
- Sabe, Felipe, ...em todos estes anos de casados, nunca senti o que sinto por ti hoje! Sinto meu peito num calor tamanho, que parece que vai pegar fogo. ...Também sente isto Felipe?
- O que? - Perguntou Felipe continuando a sorver a sopa. Cecília, mais apaixonada ainda, respondeu:
- Querido, este calor, que parece que vai consumir meus seios.
Felipe só olhou com o canto dos olhos para os peitos da esposa, e continuando a tomar a sua sopa, resmungou:
- Cecília!!! Então trata de tirar estas tetas de dentro da sopa do teu prato. Garanto que este calor vai desaparecer ligeirinho!
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