quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Hora da Faxina - A Mãe do Ano



 A Mãe do Ano

   Nas minhas férias, sempre o que gosto de fazer é ir até a praia, seja aqui no Rio Grande do Sul, seja em Santa Catarina, e passar de uma semana a dez dias de lazer em outro clima, outros objetos, outra casa, e assim voltar a ter saudades da amada casinha, meu lar, para mais um ano ficar juntando trocados e repetir tudo de novo. Sair da rotina. Esta é a máxima para as férias, seja onde forem, mas que sejam distante de sua casa, de seus conhecidos, de seus costumes e de preferência até de seus animais de estimação. Tanto mais vai ser o gosto do retorno!
   Meu gosto pelo mar não é seu banho, entrar e ficar horas driblando ondas. Meu gosto é pelo seu ruído confortante, pelo seu cheiro, pela sua visão que inebria, pelo seu conteúdo que me faz ver o quanto de nada eu sou frente à natureza em seu tamanho e poder. Meu gosto é uma cadeira, um guarda-sol e uma bolsa térmica com latinhas de cerveja para ir saboreando enquanto ponho conversa fora ou ouço esta sinfonia maravilhosa do mar.
   Também gosto de observar o que acontece ao meu redor, pois a um bom observador sempre aparecem detalhes muito especiais, ou significantes, a ponto de gerarem uma crônica como esta. E a observação faz com que a gente tire um monte de conclusões das pessoas ao nosso redor, sem ao menos conversar com elas.
   Em minhas últimas férias aconteceu isso. Mesmo tendo uma placa na entrada da praia onde dizia explicitamente dos perigos de várias doenças transmitidas pelos cachorros via areia da praia, as dondocas levavam seus peludos para cagarem na praia e fazerem a festa. Ainda bem que eu e meus filhos não nos rolamos mais na areia da praia por toda esta imundície animal, mas,  pensei que se fosse pra pegar bicho geográfico, que fosse na dona do cachorro que não tava nem aí para os frequentadores, violando todo o bom censo e a lei.
   Numa bela manhã nos instalamos na areia, e eis que na nossa frente estava uma senhora embaixo do guarda-sol, mãe de duas crianças, um menino e uma menina girando ao redor de seis e quatro anos que estavam cavocando um buraco na areia. Brincadeira normal de criança. E elas estavam eufóricas porque junto com elas estava uma cadela de porte médio, dócil, rolando com elas, deixando se enterrar na areia, numa familiaridade que dava gosto. Até comentei com meu filho que se não fosse o problema da transmissão de doenças, que como era bacana esta interação entre as crianças e os cachorros na praia. E as duas crianças abraçavam a cadela, rolavam com ela na areia, uma química muito familiar.
   A jovem senhora estava absorta no seu smartphone, nem olhando para as crianças, que ao meu ver, já estavam perigosamente tempo demais expostas ao sol do meio-dia longe do guarda-sol, sem bonés, só de calçãozinho e biquíni. Me deu vontade de levantar e intervir, já que as crianças estavam se divertindo sem dar bola pra torreira do sol e a mãe estava perdida dentro de suas redes sociais, nem se dando conta do que tava rolando com seus filhos. 
   Foi então que, acho que a mulher viu o horário em seu telefone, levantou num pulo, recolhendo tudo que tinha trazido, também suas crianças e enxotando a cadela para que se afastasse deles. A cadelinha num pulo saiu do buraco derrubando o menino que a estava montando, e saiu correndo em nossa direção, virando em seguida e indo para um rumo desconhecido. A jovem senhora pegou os filhos e suas tralhas e foi para casa sem a cadela. Foi então que descobri que os filhos dela brincaram a manhã inteira com uma cachorra de rua, descuidada, sem dono, se rolando na areia, abraçando, beijando, enfim, fazendo amizade, algo tão inerente às crianças. 
   Só fiquei curioso para saber quantos problemas dermatológicos surgiram para estas crianças depois deste encontro tão intenso e aconchegado.

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