O Inadiável
Mais um compromisso carregado de emoção me aguarda esta tarde. Vou ao cemitério. A última vez em que estive lá, eu vi voltando à terra o meu bem mais precioso, a metade do meu coração, minha Vidinha. Ainda cintilam em meus ouvidos a chorosa canção "Com Minha mãe estarei" que entoaram na derradeira descida da Bere para seu paradeiro final há trinta e poucos dias. Me lembrei do dia em que minha mãe foi sepultada, onde esta canção também foi cantada e onde eu, que até lá, nos meus masculinos 26 anos ainda não havia chorado, porque 'homem não chora', me debulhei num pranto inconsolável, vindo a ser acudido justamente pela Bere. E ela sussurrando em meu ouvido dizia: "Compartilha tua dor comigo para que não pese tanto em ti." Estávamos recém casados, e a trágica morte de minha mãe foi o primeiro ensaio em minha vida, de outros tantos, do que viria a ser a perda de um ente tão próximo.
Naquele momento da canção me lembrei dos filhos. Wagner, o mais velho, justamente com a mesma idade que eu tinha, perdeu sua mãe, aos 26 anos, e Guilherme, aos 21. Uma canção tocante e chorosa como esta massacra os sentimentos de um filho, ainda mais quando a ligação é tão intensa como sempre foi entre ela e eles. Não vi a reação deles. Estava concentrado em levar em meu coração a imagem final desta grande mãe, que dos bastidores construiu nosso mundo, empurrando a todos para frente, entusiasmando, sem muitas vezes pensar em si porque o seu bem maior não era ela, mas nós, seu marido e filhos, para que estivéssemos felizes e realizados. Este era realmente o bem maior dela e o que a realizava plenamente.
Sei que será uma tarde de tudo à flor da pele, de rever nossos últimos momentos neste filme que é colorido e está presente em muitos momentos de meus dias, onde sempre a mesma pergunta me persegue: "Por que justamente nós?" Mas, me consolo quando rebobino tudo o que trouxemos e até onde chegamos, e vejo que tantas pessoas jamais cruzam por alguma paixão, quem dirá por um grande amor. Que pessoas nascem, crescem, vivem e morrem e não têm o direito a sentir dentro de si o que eu senti e sinto agora e o que com certeza Bere também sentiu em toda a nossa vida em comum, um amor incondicional que foi todo, foi tudo e foi sempre. Que o amor foi antes de tudo o máximo, não teve lacunas, não teve dúvidas, não teve nada além de um grande amor, destes de olhar e já entender, sem precisar falar.
Como ela gostava de flores, particularmente rosas vermelhas, levo 31 rosas vermelhas de 31 anos de feliz casamento, junto com duas rosas amarelas onde durante dois anos de namoro preparamos esta linda vida em comum.
Querida Glecy, sempre tão afável. Obrigado
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