Terceiro dia do Diário de Bere.
Hoje, dia primeiro de Dezembro, domingo, o almoço foi de bife à milanesa, maionese colorida, arroz colorido, palmito e salada. Eu fiz a maionese. Mas confesso que está sendo um prato muito difícil de fazer. Ele me remete demais à Bere. Nossa, nós fazíamos este prato juntos, cada qual com sua parte. E, enquanto fui picando casca de tomate, palmito, ovo, temperinho, ...as lágrimas correram soltas. Não consigo evitar. Vejo em minha mente ela fazendo esta parte, que sempre fazia com tanto amor e carinho. Tento me concentrar na preparação, mas a saudade deste momento que compartilhávamos não me deixa sossegado. Queria tanto que não fosse tão "sensível" preparar este prato! Mas é inevitável. Mesmo assim, pelo menos aos domingos, vou fazer maionese.
No diário de Bere, relendo suas linhas, lembro exatamente daquele domingo. Nossa, estávamos ambos numa fragilidade sem tamanho. A incerteza à nossa volta nos fazia reféns do que viria pela frente. E eu, ainda com os 8 meses de vida que o médico dera, martelando minha mente. Quando no meio da tarde ela veio no estúdio, sentou na cadeira e me olhou, e perguntou o que tava rolando, desabei. Ela sabia que eu estava escondendo parte do diagnóstico dela, mas queria que eu falasse por conta própria, sem ela exigir. E eu, na impotência do momento, com ela chorando, falando das incertezas do futuro chorei também. Ao me ver chorar ela disse: "Nossa Pio, é a primeira vez que te vejo chorar por nós. Como é triste te ver assim. Não sabe como isto me dói." - Sentei na cadeira do lado dela, e ela sentou em meu colo. Choramos juntos abraçados enquanto ela dizia: "Eu quero alcançar a formatura do Wagner no final de 2014. Me ajuda a chegar lá?" E eu, chorando mais ainda porque sabia que ela não chegaria lá, só consegui falar baixinho: "Se Deus quiser, se Deus quiser. De mim sabes que te ajudo." Foi um momento muito tenso, marcou demais. E agora relendo o que ela escreveu de noite, vejo na letrinha dela que ela desconfiava de algo pior sobre sua doença, só preferiu não falar.
10/03/2013 - Domingo
Ligação da Flávia pela manhã, visita da tia Eugênia. Almoço c/filhos e Pio (com sabor de último). A tarde eu e Pio conversando, eu chorei, ele também (ah, como queria poder acalmar sua alma). Arrisco a dizer, Pio, q/amor como o nosso jamais existiu. Amizade, cumplicidade, harmonia, em 31 anos de casados, sabes contar nos dedos qtas vezes "brigamos"? eu não, foram poucas e resolvidas rapidinho.
Meu amor, meu homem, meu amante, fique sabendo q/fui uma mulher completa ao teu lado. Nunca competimos, sempre apoiamos um ao outro, ficavas feliz a cada conquista minha e eu com as tuas.
Visita da Flávia e Keti, visita Ângelo, Clair e Lili. Olhamos mais um filme de comédia.
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