segunda-feira, 30 de junho de 2014

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - Carlos Berger e Seu Genro



   CARLOS BERGER E SEU GENRO

Existem homens e mulheres em todos os lugares que se projetam pela sua personalidade e seu modo-de-ser no trato com tudo que os cerca.
Em cada comunidade existe alguém em quem as pessoas se espelham, e muitas vezes até seguem também seus pensamentos errados. Isto termina então às vezes em grandes problemas.
Existem homens tão astutos no meio, que às vezes vão para frente por causa de sua perspicácia porque sabem lograr as pessoas simples.
Um que eu conheci foi o João Bratsch, o qual começou do nada e em vinte anos estava podre de rico. Ele usou sua inteligência para enriquecer e nos negócios ele sempre fazia de tudo para tirar a maior vantagem e assim progredir.
Uma vez aconteceu que o prefeito do município visitaria a sua vila para inaugurar uma escola e então toda a comunidade escolheu o João Bratsch para representar a população.
Ele aceitou a tarefa. Só que disse:
- Para eu representar um evento tão importante, preciso de uma beca nova!
A comunidade juntou algum dinheiro para lhe comprar terno, gravata, camisa, sapatos. E isto aconteceu. Mas, o dinheiro que arrecadaram era muito além de uma roupa nova incluindo uma corrente nova de ouro para o relógio.
Quando João havia recebido aquele punhado de dinheiro da coleta da comunidade, ainda veio correndo atrás o negociante de casemira e tecidos com mais um pouco de dinheiro e disse para o João Bratsch:
- Leva este dinheiro para custear tua viagem até a cidade, para que lá possas comer algo quando for comprar a nova beca.
- Muito obrigado, Inácio! Isto realmente será útil para mim na cidade.
João Bratsch aceitou a grana, enfiou-a no bolso e foi para casa para se preparar para ir até a cidade grande para comprar a beca nova.
O que vocês acham? Ele usou todo o dinheiro para se vestir, ou não? Claro que não! Ele comprou uma fatiota de segunda mão em um brechó baratinho e fuleiro e foi de carona ida e volta à cidade. E não comeu nada lá! Levou enrolado no bolso dua coxas de frango enfarofadas que sua mulher havia lhe preparado. Resultado: lucrou um bom naco de dinheiro. De quase mil Reais sobraram mais de novecentos.
Mas com o Carlos Berger era bem diferente: ele sempre fazia tudo para que tudo corresse em ordem. Tudo tinha que fechar no cálculo e se alguém o queria trair, ele ficava possesso e lhe dava um sermão.
Carlos Berger era o homem em quem por certo todos deveriam se espelhar. Não existia ninguém que não o respeitasse e todos tomavam seu exemplo pelo seu modo de ser.
Alguns anos atrás, Carlos Berger tinha uma linda filha adolescente que se chamava Francesca. Era um belíssima garota lá com seus dezesseis anos e nunca havia namorado.
Um belo dia, no baile de Kerbb em Harmonia, ela conheceu um rapaz que era da cidade. Ele era possante, cinco anos mais velho que ela e tinha seu próprio carro, um flamante corcel setenta e dois.
        Uma semana depois que haviam se conhecido, no fim de semana, ele já foi passear na casa dela para conhecer seus pais.
        Como Carlos Berger era seu pai, quando estava junto do pretenso genro, observava meticulosamente todo o movimento do rapaz a fim de estudá-lo.
        No dia seguinte, domingo de manhã, eles estavam sentados juntos para conversarem enquanto sorviam um gostoso chimarrão, e como estava mais fresquinho, estavam com o fogão à lenha aceso. Claro, Francesca e sua mãe estavam lá fora lavando roupa.
        Carlos estava com um palheiro na boca e toda a vez em que queria reacendê-lo, abria o fogão e segurava uma acha de lenha acesa no palheiro. No mesmo tempo o rapaz também tinha um palheiro na boca mas usava seus fósforos para acender este seu palheiro. De repente, a caixinha estava vazia, acabaram os fósforos. Então ele perguntou se Carlos não tinha uma caixa de fósforos para emprestar. Carlos, no seu jeito observador então falou:
    - Rapaz, não tenho, tenho só o fogão. Outra coisa: tu não serves para ser meu genro! Tu não és econômico e não te preocupas com todos os detalhes. Olha: olha, olha direitinho para tuas mãos! Desperdiçaste toda a manhã o fogo que tinhas à mão dentro do fogão.
    O rapaz arregalou os olhos e perguntou:
    - Sim, mas o que o fogo tem a ver com Francesca?
    - He, he, he, rapaz: Francesca é o fogo grande como o do fogão na tua frente. E tu, haverás de te preocupar com chaminhas ocasionais como as dos palitos de fósforo assim como as garotas ocasionais como estas que existem por aí. Isto não me serve como genro!

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