Os Torresminhos
Os armazéns na colônia sempre eram lugares onde era vendido de tudo e onde de tudo acontecia. Existiam diversos armazéns nos lugares, cantões, vales, que fica difícil recordar todos. Eles negociavam de tudo: de panelas de ferro até ratoeiras. De tecido casemira até anzóis. Do vinho até o fumo e da linguiça até os torresminhos.
Ter torresmo antigamente em casa era sempre algo festivo. Acontecia que quando alguém na vizinhança matava um porco, extraía a banha através dos torresminhos e eles sobravam para serem distribuídos entre os vizinhos. Me lembro quando eu era pequeno, a super refeição que sempre acontecia de noite quando tínhamos torresmo para fazer um mexido com ovos e então espalhar por sobre o pão e comer. Era sempre um autêntico banquete. A mãe então sempre aproveitava e pegava o pão mofado, cortando-o em pequenos quadradinhos e o misturava na banha quente do torresmo enquanto fritava para queimar todo o zinabre dos fungos e assim deixar novamente o pão comestível. E assim a panela do torresmo ficava bem mais volumosa.
Hoje em dia os médicos dizem que o torresmo e tudo o mais que vem da banha faz mal e que com o tempo entope as veias com sua gordura. Mas, que é saboroso, isto é verdade. Eu sempre penso que o que não se consome demais não pode prejudicar a gente.
Mas, sobre torresmo, aconteceu uma vez uma história.
Tinha uma vez um negociante que tinha um grande armazém na colônia, perto aqui do Caí, onde ele vendia de tudo. Seu nome era Grotschoss. Este era um comerciante astudo, que cada vez mais prosperava devido ao seu talento em negociar. Ele também tinha em seu armazém de tudo para vender..
Um dia, eu estava caiando o muro defronte a minha casa, então faltou cal. Porque era sábado de tarde, todas as madeireiras estavam fechadas. Então me lembrei da venda do Grotschoss. Peguei minha bicicleta e fui. Logo estava no armazém dele. A conversa correu assim:
Ele disse:
- Então, filho de Deus, o que está lhe faltando hoje?
- Quero ver se você tem cal para vender. - Respondi.
- Sim, com certeza! - Respondeu ele. - Tantos saquinhos quantos quiser.
- Então me vê dois saquinhos.
Ele os providenciou tendo que pegar numa obra que ele estava construindo, pois no armazém ele não vendia cal. Ajudou a levar até o carro e me trouxe de volta para o armazém.
Então, enquanto estava pagando a conta ele ainda me ofereceu uma montoeira de artigos dos que ele tinha à venda e eu sempre agradeci, dizendo que não estava precisando. Ele foi até o fim do balcão, onde estava uma grande bacia de alumínio coberta com um pano de prato. Então, enquanto ele caminhava até lá disse:
- Talvez você queira comprar torresmo! Vem e olha, eles vieram agora, fresquinhos e tem um sabor inigualável. Você não pode ficar esta noite sem torresminhos.
Eu disse:
- Sim mas...
Quando ele chegou na bacia, levantou o pano, então num grito de susto voou para fora um filhote de gatinho, e assustado, logo sumiu. Até parecia um grande rato.
Ele, meio sem jeito, mas sem perder a pose disse:
- Sem problemas! Este gatinho justamente ganhou um banho demorado hoje de manhã.
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