quarta-feira, 13 de maio de 2015

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - O Vestido Cheio de Botões



O Vestido Cheio de Botões

   Pedro Gaister era um homem muito bom. Quando se precisasse  de alguém para resolver algo, ele estava aí, pronto para ajudar. Sua profissão era de pedreiro e marceneiro. nada para ele era demais e com seu talento e esforço ajudou a construir muitas moradias da vila, algumas com trabalho voluntário, quando via que as pessoas não tinham condições de pagar, quando ele ajudava em fins de tarde, depois do seu trabalho normal, seu ganha-pão.
   Assim ele, com seu talento e seu trabalho ajudou a construir a igreja, o salão e diversos outros prédios imponentes de sua vila. Todos se admiravam de sua capacidade e aptidão. Realmente Pedro, pelo seu conhecimento, mesmo sendo quase analfabeto, sabia interpretar melhor as plantas das construções que muitos letrados.
   Mas Pedro tinha um grande defeito: Adorava uma cachaça como ninguém. Durante o dia mantinha seu trabalho, executava suas tarefas, mas no final do dia, de tardezinha ele sucumbia aos encantos da malvada. E, ao invés de fazer isto em casa, o fazia naquele boteco famoso, que ficava de esquina, onde todos podiam ver quem entrava e quem saía, o que era um conteúdo frutuoso para as fofoqueiras de plantão da vila.
   Quando então surgiam os problemas, as repetições etílicas eram mais frequentes e ele acabava rastejando até em casa. E isto se sucedia ao menos uma vez por semana. Era devido à complexidade das construções, problemas do fechamento das contas, enfim, como ser humano, enfrentava as situações e se vingava no copo.
   A rotina foi sempre em torno de um nível razoável e ele, mesmo com ressaca no dia seguinte, desempenhava seu papel de construtor, artista dos prédios com maestria. Mas no final de uma terça chuvosa, início do outono, serviço escasso e complicado, Pedro foi afogar seus problemas numa mesa no bar da esquina, e se passou da conta. Bebeu demais.
   Aliás, a bebedeira foi tamanha que ele teve dificuldades em achar o caminho de casa. Teve a sorte de algumas pessoas de pena o orientarem e assim ele seguir. Naquela terça ele nem jantou em casa. Comeu no bar mesmo, meia perna de linguiça mais dois ovos curtidos e amaciou tudo goela abaixo com cachaça.  Quando já era passado das vinte e duas horas, resolveu voltar para casa, afinal, Gertrudes sua esposa, já estaria dormindo há tempo, não teria que dar explicações e muito menos ela o veria naquele estado. E ele voltou.
   Quando entrou em sua propriedade, abriu a primeira porta que encontrou pela frente, lembrou de tirar os sapatos para não fazer barulho e entrou. A impressão que dava a ronqueira que se ouvia, é que sua esposa Gertrudes parecia estar num daqueles dias de fazer dormir separado. E Pedro, só tirou a calça e deitou ao lado dela.
   Mas na realidade, Pedro havia entrado no chiqueiro do lado de sua casa e deitado do lado de uma porca enorme, que em breve seria carneada. Era o ronco da porca que ecoava pela madrugada. Ele, deitado, bêbado, passou a mão nas carreiras de mamilos da porca, suspirou e disse:
   - Gertrudes, desde quando você tem este vestido cheio de botões? Eu não conhecia!   

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