A Bomba de Mão.
Toda vez em que eu ia na casa do Edir para colher produtos coloniais como laranjas, bergamotas, limões, cana-de-açúcar, aipim, verduras, e passava do lado de sua casa para ir até a roça, via deitada embaixo do assoalho, na terra, um bomba dessas de tirar água com o bombear manual. Não sei por que esta bomba me chamava a atenção. Parecia algo como um ímã, que me atraía a olhar para ela. Objeto abandonado há tempo pela aparência, mas que insistia em continuar visível entre tantas tralhas que faziam companhia naquele espaço apertado.
Na época, meu sogro e eu havíamos combinado com Edir, que era amigo nosso, de mantermos a roça dele limpa e plantaríamos coisas de cultura fácil como milho, aipim e feijão para repartirmos com ele pelo empréstimo da terra. Ralamos muito naquela subida do morro do Angico para primeiro deixarmos a terra limpa. A cada cinco metros fizemos um degrau com capim elefante plantado para evitar a erosão da terra com as chuvas já que era uma descida de morro. Foi uma época interessante pois nos dedicávamos todos os fins-de-semana no cuidado daquela roça. Os primeiros resultados foram desastrosos, pois onde esperávamos colher dois sacos de feijão só colhemos meio saco. Um trabalho árduo de meses de resultado minguado, enquanto o aipim plantado entre as levas de feijão nos brindou com quantidade excessiva, onde distribuímos o produto até entre os parentes. O que insistia mesmo em ficar vistoso era o capim elefante que brotava vertiginosamente, pois a cada chuva, todo o esterco que havíamos espalhado na roça acabava preso a ele, que absorvia seus nutrientes e ficava forte, vertiginoso. Do milho plantado, boa parte foi roubada por animais silvestres como ratões do brejo e caturritas, pois logo acima da roça tinha um mato nativo.
Mas a bomba ali embaixo da casa do Edir continuava chamando a atenção. Muitas vezes quis perguntar para ele o que significava aquela bomba, mas no andamento dos afazeres da roça e nas conversas intermináveis que meu sogro sempre iniciava, éramos bons de papo, eu acabava esquecendo de perguntar. Mas um dia, lavávamos algumas raízes de aipim não longe dali, vi a silhueta desta bomba no final da tarde de um dia de primavera escaldante, com a luz do sol refletida nela por uma panela de alumínio que ficava mais para fora. Eu já conhecia toda a geografia das tralhas ali colocadas, de tantas vezes que havia olhado para aquele espaço debaixo de casa. Então perguntei:
- Edir, o que esta bomba está fazendo aí, embaixo da tua casa.
Ele respondeu:
- Ué, está guardada.
Fiquei intrigado. Afinal, no mínimo estava abandonada e não, guardada. E eu disse isso:
- Nossa, Edir, para mim está mais é abandonada do que guardada...
Edir cortou minha conversa retrucando:
- Estou pensando em mandar furar um poço aqui no lado do bambuzal e reformar esta bomba para usar sobre ele. Ela é de 1884. Uma relíquia, e que ainda funciona. Foi de meu bisavô.
Fiquei impressionado com a idade dela, e depois destas palavras, minha vontade em tê-la e pintar de vermelho para por como ornamento no meu jardim de casa foi pro espaço.
Passou-se meio ano, quando num sábado chegamos na casa do Edir e o poço estava pronto. Mas, sem a bomba. Olhei para o canto onde ela se encontrava e ela também não estava mais lá. Então perguntei:
- Ué Edir, tu não irias usar a bomba para este poço? Não vejo mais ela embaixo da tua casa. O que fez com ela! - E ele, num sorriso amarelo respondeu:
- Não consegui recuperá-la, então dei pro ferro-velho.
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