O Catador de Reciclados Exigente
Desde que o plástico se tornou popular nas mais diversas embalagens de produtos que usamos todos os dias, ele também se tornou um problema. Sempre pensei que deveria existir uma maneira de podermos diminuir o volume destas embalagens com algum treco, algo elétrico ou mecânico que as retalhasse e assim, diminuindo drasticamente o espaço que elas ocupam. As latas de alumínio até que são dobráveis, ocupando menos espaço. Mas o problema é o plástico.
O que eu não sabia era que a composição de uma garrafa pet contém quatro tipos de plásticos diferentes, ficando impossível simplesmente a retalhar. Os plásticos antes, precisariam ser separados para não dar problema na reciclagem: a tampa é um tipo de plástico e a rodela interna da tampa que veda para o gás não sair, é outro tipo de plástico. O corpo é mais um tipo. O rótulo então, é o quarto tipo que a forma no que eu achava simplesmente ser uma garrafa pet.
Até que chegou o momento em que surgiram os catadores de reciclados, fazendo com que muito deste material retornasse para novo processo e seu reuso. Eu estava faceiro porque tinha um rapaz que passava religiosamente nas manhãs de sábado e levava tudo que eu juntava durante a semana. Foi com ele que aprendi a ciência da reciclagem. Fiquei sabendo que o quilo da tampa da garrafa pet vale mais de cinco vezes o valor do quilo do corpo que ela veda. Ele também me ensinou que existem dois tipos de alumínio, dois tipos de cobre e um mundo de outros detalhes deste trabalho, como as embalagens de café a vácuo, onde tem que separar a parte interna de plástico aluminizado da externa de papelão, sob pena de ter rejeitado sua carga por causa deste detalhe. Além destes, outros tantos macetes.
Houve uma época onde ele ficou sem espaço para separar os materiais, abrindo mão de meus reciclados. Isto demorou um bom tempo, algo em torno de oito meses. Neste tempo fui separando e limpando um monte de material de cobre que guardava para ele no sótão e os recicláveis infelizmente acabavam no lixo comum.
Um dia ele me ligou dizendo que era para eu arrumar outro catador porque ele não estava conseguindo espaço para seu trabalho. Felizmente, hoje ele continua sendo o meu catador levando tudo com ele. Mas, com esta notícia, na época, fui atrás de outro. Ficava cuidando quando fosse passar um dos caras de bicicleta com carrocinha atrelada e cheia de trecos, para então oferecer meus reciclados, inclusive aqueles quase dez quilos de cobre que tinha separado.
Eis que, um pouco depois passou na frente de casa um destes catadores. Eu o chamei e ele prontamente veio comigo. Expliquei o esquema, que eu separava o material reciclável para ele todas as semanas, mas que ele teria de levar tudo que fosse separar. Ele nem me deixou terminar de falar dizendo:
- Eu só recolho tampas de garrafa pet. O resto não me interessa.
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