sexta-feira, 10 de julho de 2015

Hora da Faxina: Dentro do Ônibus



 Dentro do Ônibus.

   Subir num ônibus sempre pode ser o início de uma aventura. Até, hoje em dia, muitas vezes se transforma em aventura perigosa. Mas no geral, ainda é uma aventura das boas onde muitas coisas podem acontecer. Principalmente olhares de busca e de encontro. Aquela história de andar todos os dias o mesmo trajeto no mesmo horário acaba por fazer acontecerem encontros e iniciar amizades ou até envolvimentos mais profundos.
   Assim, muitas vezes aquela menina procura deixar um pacotinho do seu lado no banco para tirar e guardar justamente no ponto onde aquele rapaz vai subir. E funciona. Ele entra, pede licença, senta ao seu lado descontraidamente, enquanto ela, corada, nervosa, coração aos pulos tenta se controlar, quando desajeitadamente o seu celular cai no chão e sai andando até dois bancos atrás do seu. Num impulso ela levanta para pegar de volta, e vê que é ela quem está ocupando o lugar da janela e tem o rapaz do seu lado. Nisso, o celular já veio caminhando de volta de mão em mão até o seu banco. Ela, em pé, agradece com um olhar de envergonhada só assentindo com a cabeça enquanto o rapaz a observa. Depois, inevitavelmente os olhares dos dois se encontram, quando ela descobre que ele tem irresistíveis olhos verdes, percebendo que ele a está imaginando nua, pelo caminho que ele fez com o olhar precorrendo seu perfil de alto a baixo. Discreto, mas condenatório. Ela, chateada com o olhar métrico do rapaz e com o vexame do celular vira o rosto para a janela e começa a olhar a paisagem. Talvez amanhã, fazer este trajeto lado-a-lado já seja menos distante entre eles e um olhar mais sincero os faça se conhecerem e se apresentarem.
   Nisso, sobe no ônibus um senhor de meia idade, jornal embaixo do braço e se encaminha para lá na frente, sentar no único lugar vago que ainda sobrava, logo à frente de uma senhora idosa que está com um terço na mão, talvez rezando, mas observando tudo ao seu redor. Atentamente. E o senhor que sentou na sua frente, jornal aberto, sente que aos poucos seu intestino vai traí-lo na frente de todo mundo com inevitáveis puns. Situação constrangedora e insegurável. Ônibus lotado, andando, e seu intestino com uma bomba em pé de guerra já com o estopim ligado. Pronta pra explodir. Mas, se desse um jeito de ninguém ouvir, o cheiro podia vir de qualquer pessoa daquele espaço. 
   O coitado, se ajeitando no banco, trocando de glúteos, enforcando o pum e pensando como fazer para se soltar. Tinha poucas alternativas para encobrir o barulho, mas tinha que agir ligeiro pois o tiro já estava na boca do balão. ...De repente, imaginou uma solução. Ele, para todo pum que soltasse, rasgaria uma folha do jornal. Então o barulho do rasgar do jornal encobriria sua ação tão humana e involuntária que é o pum. E começou. Depois da quarta rasgada de jornal, aos poucos ele novamente estava se sentindo aliviado, orgulhoso da solução que havia encontrado. Mas, não parou por aí. 
   Quando ele foi rasgar pela quinta vez o jornal, a velhinha atrás dele, azul, sufocada de tanto prender o ar, fugindo do cheiro, gritou para ele:
   - Não vai dizer que está partindo o jornal em pedaços para limpar esta bunda fedorenta na frente de todo mundo!
    

Nenhum comentário:

Postar um comentário