quarta-feira, 1 de julho de 2015

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - Histórias de Barbeiros 2



Histórias de Barbeiros 2.

   Situe-se no ambiente: uma barbearia. Bem diferente de um centro de beleza e estética feminina, a barbearia somente é composta por uma cadeira giratória antiga, muito antiga, forrada com couro vermelho ou verde, um espelho encardido na frente, um balcão de apoio para pincéis de barbear, loções, pentes de chifre e tesouras gastas de tanto caminhar pelas grenhas dos clientes.
   Diferentemente de um centro de beleza feminino, antigamente chamado de 'instituto de beleza', onde é frequentado por mulheres e homens, a barbearia é exclusivamente masculina. O barbeiro que, atrás do seu avental de molde caseiro, trás a experiência de cortes de cabelo iniciadas no picote das jubinhas dos próprios filhos, esboça com orgulho o olhar de dominador da profissão após anos de cabelos picotados, cheios de falhas. E com o tempo, cada vez menos picotes, até o cabelo ficar apresentável e ele se sentir seguro para meter a tesoura no cabelo de clientes.
   Só que tem um detalhe: o corte de cabelo varia muito pouco, ou quase nada, na cabeça dos clientes porque barbeiro corta cabelos e não faz um 'look' na cabeça do cliente. Então tudo é daquele jeito meio 'juruna' de cortar. Como a maioria dos homens prefere a praticidade à aparência, com exceção de poucos, a profissão de barbeiro ainda está em alta e eles continuam fazendo seu trabalho.
   Mas, sobre estes profissionais, tenho uma história para contar. Aconteceu em São Leopoldo há muitos anos. Chegou no barbeiro, naquela barbearia eu tinha do lado da Ferragem Feldmann um senhor bem arrumado, com um garoto de seus 10 anos segurando sua mão. Entrou, deu bom dia, e disse:
   - Por favor, lave bem meu cabelo com xampu, corte ele curto, passe um creme com massagem. Depois faça a barba com cuidado para não me machucar com esta navalha, pois tenho um encontro logo à noite e quero impressionar a garota. Tudo dependerá de seu trabalho.
   O barbeiro deu tudo de si. Fez uma obra de arte no corte do cabelo do rapaz, demorou o dobro do tempo normal, e deixou sua face mais lisa que bundinha de bebê, para o cliente poder mesmo impressionar a garota em seu encontro. O menino, sentado numa cadeira ficou só olhando o trabalho do barbeiro, enquanto folheava uma revista, já com orelhas e encardida, de tanto passar nas mãos dos clientes.
   Quando o cliente ficou pronto, sacudiu os cabelos que ainda estavam presos em seu pulôver, enquanto disse:
   - Bom, agora faça um corte bem bacana neste garoto, capricha, deixa ele bem afeiçoado. Vou dar uma volta enquanto isto, mas logo voltarei, quando o menino estiver pronto.
   O barbeiro fez um trabalho exemplar, cortando os cabelos do menino, deixando-o perfeito. Depois, mandou o menino sentar na cadeira do lado, e dando um jornal disse: 
   - Folheia estas figuras do jornal, logo teu pai voltará aqui pra te pegar.
   O rapaz respondeu:
   - Ele não é meu pai!
   - Ah, então é teu tio, teu padrinho....
   E o garoto, com cara de malandro retrucou:
   - Barbeiro, ele não é nada meu. Nem o conheço!
   - Mas como??? - Disse o barbeiro. - Vocês vieram juntos aqui para cortarem os cabelos! Quem é ele?
   E o garoto disse:
   - Não o conheço. Ele me encontrou aqui perto e me disse: "Garoto, vem comigo até a barbearia, que nós dois vamos cortar o cabelo de graça!"

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