segunda-feira, 31 de março de 2014

Momentos



 Momentos

   Recentemente li mais um daqueles textos de palavras rebuscadas para amparar algum momento difícil pelo qual a gente esteja passando. Autor famoso, destes que todos lêem só pela sua assinatura. Li atentamente. Medindo suas palavras e a profundidade para onde quisesse chegar com seu discernimento. Até foi um texto bonito, de motivação bacana, para todos aqueles que do lado de fora de um verdadeiro sentimento de amor, assistem sem notar a angústia escondida de quem realmente amou, amou de verdade, calada num peito sufocado. E o sorriso descontraído é o gemido da angústia da saudade desta ausência gigante que este grande amor está causando. Sofro calado. Nos momentos só meus e por isto pareço o mesmo cara alegre de bem com a vida. Só que de mal com a morte que me arrancou sem dó para suas entranhas a soma deste amor que tanto Bere e eu cultivamos. E este texto, para mim, sei lá, de mim brotou algo que puxou minha mão e me empurrou as palavras no papel, sem eu dominar o que estava escrevendo. Algo assim, surreal. Eu simplesmente, depois de ler o meu texto, senti ter extravasado de dentro de mim aquele explodir de tantas coisas que são escritas por pessoas que talvez nuncam tenham vivido 'na carne' o que é realmente perder um grande amor, pela sua partida prematura, quando justamente o relacionamento estava plenamente ajustado, tudo certinho, num ponto em que o próximo passo teria sido somente colher os frutos desta construção que fora feita durante todos estes anos, em cada pedacinho de nossas vidas e em cada momento de nossos olhares quando conversávamos sobre o futuro. E o futuro não chegou. Cortou abruptamente nossos olhares, nossos pedacinhos de construção, nosso mundo. Aliás, o mundo nos separou. Bere virou luz, enquanto eu seguro aqui em meus pensamentos toda esta soma de ideias e ações que estavam em nossos ideiais.
   Este texto foi só o estopim. Coitado do autor, só tentou escrever motivando pessoas doídas. Pouco doídas, não como eu. Mas como numa revolta minha mão correu solta pelo teclado do computador agitando o bloco de notas, que quase travou, tamanha a velocidade de escrita expondo meu pensamento revoltoso. Porque o que sai de mim é sentir que amor é uma coisa que muitos tentam mascarar com palavras e atitudes que não existem. São só belas palavras. Muitos escrevem sobre o amor. Muitos tentam através de palavras bonitas descrever o amor e as atitudes dentro de um relacionamento que fazem a diferença. Coitados. Todos sonham. Se não o viveram jamais saberão escrever sobre ele. Porque amar na plenitude, não é o que descrevem. Muito menos o que ensinam. Amar na plenitude é deixar de sermos para vivermos quem amamos. Não tem outro jeito. Se deixarmos de ser, somente sermos os detalhes que nossa vida oferece de diferente e deles mantermos nossa identidade, e no mais vivermos a pessoa amada com seus acertos e defeitos, então o amor é pleno. Fui feliz. Vivi um amor desses. Mas, rebuscando estas palavras de perfumaria que tentam dar uma ajuda a quem está perdido no contexto da vida, pensei...
   ...E comecei a escrever: "O amor é um acontecimento. Ele não pode ser moldado. Ele vem, acontece, vive e molda. Não tem o que mudar no amor. O amor é puro, ele não tem meias palavras, nem palavras bonitas, nem ensaios, nem previsões. Senão não é amor! Simplesmente o amor acontece. Ele é doação. Doação sem limites. Ele é reciprocidade, ele é mundo, vida, pulsação. O amor é soma. Soma de um pensamento que se completa com a reflexão em sintonia da pessoa amada. Você pensa, e quem você ama responde em sintonia, só na vibração. Isto é amor. Bere e eu éramos assim. Amor é amar barriguinha, rugas, seios caídos e roncos. Tudo se aceita no amor. Porque a essência, em vez de despencar, só cresce. E isto que faz não dar bola para aquele físico que já não é mais tão físico. O amor é medir consequências já sabendo o resultado desta medida, porque o amor não é uma aventura. É uma fórmula perfeita com seu resultado já apontado. O amor tem limites, mas é ilimitado. Sim, parece antagônico mas é verdadeiro. Por que? Porque o amor impõe limites a quem é amado mas é ilimitado para quem ama porque quem ama sabe, melhor, tem certeza de que a quem ama não precisa impor limites, pois seu amor sabe se limitar. Acho muito linda esta reflexão porque Bere e eu vivíamos isto e vivemos 31 anos juntos sem ao menos em um momento haver uma cena de ciúmes. Porque nosso amor não era limitado." 
   Sabíamos nossos limites. ...E por isto que me referi revoltoso no início do texto. Eu não consigo captar a magia de grandes amores nas entrelinhas dos textos escritos sobre o amor. Porque o amor não é feito de linhas. As linhas do amor todos conhecem. O amor é feito das entrelinhas. Aqueles espaços miudinhos que ficam escondidos entre o glamour dos espaços preenchidos. Porque amor não tolera glamour. Ele exige só a essência. O que evapora, o amor dispensa. Mas o que sobra no frasco, isto sim é importante para ele e isto é a essência do amor. O amor é a vida acontecendo livre, solta no mundo. Porque amor que prende, já perdeu sua essência. A vida livre tem como subir, alcançar alturas incomensuráveis onde encontrará mais energia e onde a pureza do seu meio e onde a tranquilidade do seu discernimento lhe ditará que tudo é verdadeiramente a beleza de uma soma de amores.  E ele acontece. Lindo, pleno forte e sincero. Isto é o amor. O resto, é o resto. 
   Eu queria muito um dia ler um texto motivacional de alguém que arrancou de dentro de si as palavras certas no momento mais crucial, quando a saudade da ausência da perda de um grande amor aconteceu. Porque esta sensação, não é possível descrever. Não existem palavras. Só existem sentimentos. E estes sentimentos são muito maiores que as maiores e mais perfeitas palavras. O sentimento de distância compulsória pelo destino não tem descrição. Só tem sentimento. Só. E as palavras de conforto que sobram são unicamente as lágrimas derramadas uma a uma, gota por gota, deste aperto que uma saudade destas dá. Até o peito aliviar e poder seguir com um sorriso no rosto. Enquanto vai se formando dentro deste mesmo peito, aos poucos, no silêncio, um novo momento. Só basta ativar o estopim. E o de hoje foi receber correspondência via correio no nome da Bere. Pronto. Tá feito. Já vou explodir de novo. 

sexta-feira, 28 de março de 2014

Hora da Faxina - O Brinco



Crônicas da Hora da Faxina. 
   Vou continuar escrevendo. Mas, diferente. O assunto sobre minha viuvez chegou no ponto em que tudo o que pudesse ser importante foi dito. Poderia escrever mais, pois tanto de tudo vivemos, teria assunto para mais um ano. Mas, aos poucos tenho que voltar a vida normal, deixando esta maravilhosa passagem de minha vida como espelho e lembrança do que de bom eu passei e que foi metade de minha existência. Tenho que começar a olhar para frente, e seguir minha vida, num recomeço digno e verdadeiro.
   Como nas quintas feiras minha diarista, a Noeli vem, e faz uma geral em toda minha casa, fica pro fim a geral no estúdio. Fico uma hora e meia fora dele para ela poder limpar. É a Hora da Faxina. E com este título, decidi escrever uma crônica semanal, postar nas sextas de manhã, sobre assuntos diversos, reais, imaginários, enfim, que possam continuar despertando o interesse de vocês que através do chat lamentaram meu encerramento de relatos quanto a minha vida ao lado de Bere. Fiquem à vontade para ler, reler, criticar, opinar. Vou gostar de ouvir de vocês. Daqui a pouco o primeiro dia da Hora da Faxina, crônicas.



Hora da Faxina 1 - O Brinco.

   Saí para caminhar como normalmente faço nos finais de tarde. Ainda tinha sol. Não muito longe de minha casa, passei pela praça Orestes Lucas. Não sei por que passei no meio da praça se minha intenção era caminhar. Não havia motivo para atalhar. Mas, no inconsciente meus passos me levaram para este atalho. A praça, diferente de muitas outras porque foi planejada, vi sendo construída e seus canteiros plantados. Antigamente, antes de ser praça, era um campinho de gramado fino, onde vinham os circos e ali armavam o seu picadeiro. Levei meus filhos diversas vezes para ver os espetáculos já que é perto de casa. Quando era apenas campinho, nos domingos de tarde, levava meus filhos ali e empinávamos pipas. Eles adoravam. Quanto mais alto elas voassem, mais brilhante e faceiro era o olhar deles. Num domingo desses, quando havia um vento favorável para pipas, uma delas subiu tão alto que não conseguimos mais puxar de volta. Ela estava nos puxando. Acabei cortando a corda que a prendia ao nosso controle para liberá-la. E aquela pipa subiu tão longe que sumiu aos nossos olhos. Meus dois filhos choraram por perderem a melhor pipa que havíamos feito. E eu disse: "Tão perfeita que alçou voo sozinha! Se acostumem a isso, vai ser importante para vocês."
   Hoje, depois de alguns anos, as árvores já se fixaram, estão vistosas e os canteiros estão definidos. A praça está linda. Mas continuo não gostando do nome dela. Porque conheci a pessoa que emprestou seu nome ao logradouro, por sua importância em nossa cidade, mas que era uma pessoa nervosa, de um humor ácido. Eu não simpatizo com pessoas de humor ácido, que tratam tudo com extremo nervosismo e que jamais esboçam um sorriso. Talvez seja um defeito meu, mas sou assim, não sei ser diferente. Enfim, mesmo tendo sido roubada a placa de bronze com a identificação dela, o nome continua sendo o mesmo: Orestes Lucas.
   Quando cheguei no meio da praça, entre as britas, vi reluzindo algo que estava sendo mirado pelo por do sol, num ângulo certeiro que atingiu meu olhar. Pensei: "Deve ser algum anel de latinha ou coisa parecida." Mas, quando cheguei perto olhei melhor e vi tratar-se de um brinco. Juntei ele, tirei a terra, o que denotava uma peça perdida ali há tempo, e tive a impressão de que não era uma bijuteria. Principalmente por causa do metal, ouro, tão formosamente trabalhado. E confirmei minha desconfiança ao ver que aquela pequena pérola enfeitando o arco cheio de detalhes, era realmente uma pérola, já que não tinha desgaste nenhum, permanecia perfeita, redonda, brilhante. Uma joia perdida no meio da praça. 
   Logo minha imaginação caminhou: quem poderia ter perdido ali um brinco sem ter notado sua falta? Ainda mais sendo joia, e pela aparência, os detalhes trabalhados, certamente seria joia de família, daquelas que são passadas de mãe para filha. Pensei em como seria o rosto de quem tinha esta joia adornando sua orelha. Pensei em quanto possa ter sido repreendida esta menina, moça, mulher, por ter perdido um símbolo de sua família. Pensei também no quanto de tristeza esta pessoa passou por ter perdido seu brinco, especial, joia de família. Resolvi guardá-lo. Pus no bolso da bermuda e segui minha caminhada. E enquanto caminhava fiquei imaginando uma maneira de fazer voltar esta peça a sua legítima dona. Pensei em muitas soluções. Mas tudo o que imaginei para tentar encontrar a verdadeira dona foram soluções duvidosas. Poderiam surgir várias candidatas alegando ter perdido o brinco. Então, achei a solução: anunciar o achado, e quem trouxesse o outro brinco idêntico ao achado, levaria seu par. 
   Depois da caminhada, cheguei faceiro em casa, pensando em começar minha campanha, anunciando em nossa rádio. E logo veio a decepção: eu não estava mais com o brinco. O bolso da bermuda tinha um furo bem pequeno, e o brinco passou ali. O perdi novamente. Parece que este brinco está fadado a não encontrar seu par, como também acontece com tantas pessoas, que numa vida inteira ficam sem seu par. Este paralelismo intrigante que faz com que muitas pessoas, que poderiam ter um relacionamento ótimo, perene, não encontram seu par. Mas tenho certeza de que um dia, alguém vai achar novamente este brinco. E quem sabe, voltará a sua legítima dona. E voltará a ser um par.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Missa de Setimo Dia de Bere - Decepção


   Escrevi este artigo em 29 de Setembro de 2013, quando cheguei em casa, Domingo de noite, logo após a missa de sétimo dia do falecimento de Bere, pela indignação que a cerimônia me causou. Havia ficado em dúvida se um dia publicaria porque vai de encontro a muitos pensamentos que não corroboram com o meu. Mas, revendo meus escritos, achei importante compartilhar, pois tenho certeza que muitas pessoas gostariam de falar a mesma coisa. Se a gente não se manifestar, eles, os que governam a igreja católica, nunca vão saber. Talvez também comecem a entender porque ela, a igreja, está se esvaziando.

   Missa de Sétimo Dia - Uma Grande Decepção.

   Eu não sou muito de frequentar a minha igreja por notar nela muitas coisas erradas e que com o passar do tempo, em vez de serem corrigidas, se tornam ainda mais erradas. Por exemplo: Que discriminação é essa, de não tocar o sino quando falece uma pessoa que não é dizimista? Onde isto está escrito na Bíblia? Quando Jesus falou isto? Quem fêz esta lei? Quando ela surgiu? Está certo que Jesus falou: "dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus." ...Ele falou em dinheiro? Quando? Dar a Deus para mim significa: dedicação, amor, carinho, edificação, humildade e fé. Ponto. Dinheiro é coisa deste planeta, não tem a ver com Deus. Esta é apenas uma das questões, pois coage as pessoas a pagarem a igreja para não passarem a 'vergonha' frente à comunidade quando um ente familiar falece e não se ouve o sino tocar. Logo que a notícia se espalha, vem a questão: "Não são dizimistas. Por isto o sino não tocou". Pois Bere faleceu, não teve sino porque não pago dízimo e não senti vergonha. Nenhuma. Senti vergonha destes que estão a frente da religião e acham que com isto nos amedrontam. Senti vergonha porque Bere era uma pessoa de uma religiosidade invejável e não merecia ser tratada como 'algo' que deixou de existir, sem sino, sem padre, sem importância. Em seu velório, todo o trâmite de passagem religioso foi feito por um seminarista e não pelo padre. Que vergonha! Tendo três na paróquia. Será que todos estavam ocupados em plena manhã de quarta feira? Fazendo o que? O seminarista foi supremo, excelente em todas as suas palavras, pois como cepa nova de um clã, haveria de querer acertar. E acertou. Achei muito humano e divino seu trabalho. Não tenho queixas. Talvez algum dos três padres tivesse feito pior. Mas, por que o padre não foi? porque não vivo na igreja, lá na frente, adulando? Ou, Bere não merecia os louros por não ter pago por isso? Que vergonha!. Assim como estas, tenho inúmeras perguntas por serem respondidas e enquanto não tiver uma resposta sóbria não vou me atirar de cabeça dentro do espetáculo que os cabeças de minha religião montaram para dominar seus fiéis. Eu tenho Deus em meu coração. Ando meio magoado com Ele sim, pelo que me fez, levando Bere e um pedaço incalculável de minha existência junto, mas este assunto não prefiro comentar agora, é algo que ainda tenho que absover para entender. E meu pensamento sempre foi de que se fizer o bem, desejar o bem e lutar pelo bem, não precisa deste evento todo que são as missas, obrigatórias, para manter os fieis atrelados a este estigma. Minha vida na retidão é minha religião. Deus está dentro de nós. E nós somos responsáveis por fazer dEle de dentro de nós para fora, uma imagem poderosa que possa ao menos elevar de espírito as pessoas que nos cercam. Pra que então, igreja? Missa? Por que tem que ir à casa dele? Se fosse tudo pela pureza da divindade, não envolveria dinheiro, negócios, vantagens e tudo mais. Sou da opinião de que como eu, que batalho semana a semana pelo pão de cada dia, para o padre não deve ser diferente. ele que vá dar palestras e cobre cachê por elas, vá ser professor de alguma matéria pois tem estudo, vá se virar. Mas que não viva de meu trabalho. Já que nem encomendar um corpo vem, o que faz a semana inteira?
   Então, nenhum dos três padres da paróquia foi no velório. Minha cunhada, quando foi encomendar a missa de sétimo dia, e disse de minha mágoa porque nenhum deles veio pessoalmente fazer as ezéquias, um deles disse: "O que? foi a esposa do Rambo? Ninguém me avisou! Se soubesse que era esposa dele eu teria ido e feito a encomendação." - Ora, vá catar coquinhos!!! Não quero privilégios. Fomos discriminados por não sermos dizimistas e depois, ao descobrir de quem se tratava, quer se redimir por eu ter um belo relacionamento social de também influência em nosso meio, em nossa cidade, não quero. Ainda bem que ele não sabia que se tratava de minha esposa. Pois se viesse no velório por este motivo, tudo soaria tão falso como tantas coisas vêm acontecendo no meio religioso, onde tantos podres estão aflorando. Preferi o seminarista. Ele ao menos foi sincero em suas palavras.
   Então hoje, a missa de sétimo dia. Estou muito decepcionado com a missa de sétimo dia da Bere. Ela que sempre foi toda da igreja, de rezar, participar, crer, e o padre fez uma cerimônia megalômica, egoísta, apática, só citou o nome dela em duas oportunidades, dentro do obrigatório, por cima. A missa não teve nada a ver com ela. Eu chorei o tempo inteiro misturando dor da perda, pena dela pela mediocridade da cerimônia e raiva da maneira apática e superficial que a missa foi conduzida. Coincidiu a missa com uma festividade, uma data de, sei lá, casais católicos, puxa-sacos, não entendi o sermão. Eu estava mais contabilizando a dor de um momento onde precisava o conforto da religião, muito conforto, palavras bíblicas que me dessem luz, coragem, força, e delas nada recebi. Somente decepções. Enquanto o ego daquela meia dúzia de casais puxa-sacos estava sendo massageado, meu coração já destroçado pela perda recente de Bere, estava se despedaçando dentro da última esperança de um porto seguro de palavras que esperava ouvir. E não ouvi. Decepcionado! Mesmo! Se ela estivesse viva iria chorar um monte, porque não houve sensibilidade nenhuma para com este ser humano, crente, religioso, dedicado que partiu. Saí da missa e prometi: Não vai ter missa de um mês nem de um ano. Vai ter minha reverência porque esta sim, esta será autêntica e virá do fundo da alma. De coisas superficiais o mundo está cheio. 

segunda-feira, 24 de março de 2014

Seis Meses sem Bere. Viúvo. Último Relato.



   Seis Meses sem Bere. Viúvo. Última Postagem, último relato.

   Hoje, vinte e quatro de Março de dois mil e catorze, fazem seis meses que Bere partiu. A vida a tomou de mim, no auge de sua existência, com apenas cinquenta e um anos de idade e nem me pediu licença. São cento e oitenta e um dias sem tê-la mais em nosso meio, em minha vida, no meu dia-a-dia. Sabe o que isso significa? Sabe quantas vezes eu chorei calado perguntando o motivo de tal atrocidade? Sabe quantas vezes eu chorei aos prantos e gritei perguntando: "Bere, por que tu me deixaste tão cedo?" Quantas? Quantas??? ...Perdi a conta. Mas me arrependi depois, dizendo a ela que ela não tinha culpa de ter partido. Ela também foi vítima, tanto quanto eu. Sabe quantas vezes eu questionei Deus por ter feito isto comigo? Sabe quantas vezes eu chorei de pena de Bere não mais alcançar e participar das coisinhas do dia-a-dia de nossa existência? Sabe quantas vezes eu pus um prato a mais na mesa inexplicavelmente, achando que ela iria sentar conosco? Sabe quantas vezes eu chorei precisando de colo e o único consolo que encontrei foi seu travesseiro, que abracei feito ela, com o carinho do amor que sempre lhe dei? ...Perdi a conta. Mas em minha história, em meus pensamentos, sentimentos, ela continua presente todos os dias quando lembro de tantas coisas que juntos fizemos e que foi a nossa história de vida, nossa história de amor. Amor de soma, doação, amor de almas. Tentei mostrar através de meus relatos o que é realmente sentir a falta de alguém que se amou incondicionalmente, que foi a metade de mim durante trinta e três anos e meio de minha existência, compartilhando nos escritos, minhas e nossas sensações, sentimentos, a evolução do sentimento de falta e também meu sofrimento. Eu quis deixar registrado como são estes primeiros penosos meses na mente e no coração de quem fica. Talvez possa ajudar um dia a quem passar por isso também.
   Eu sei que toda a nossa história, minha com Bere, que compartilhei através destes primeiros meses de viuvez, por ser autêntica, mostrou um lado de vida em comum, um modo de conviver, que muitas pessoas que têm um relacionamento de anos, não notavam em sua vida, em sua história. Pelo menos é o que diversas pessoas me disseram ao entrar em contato comigo no chat do Facebook. Tenho vários depoimentos guardados. E, se espelhando, seguindo nosso exemplo, começaram a rever seus conceitos em sua vida a dois. Principalmente na valorização dos detalhes que cercam um relacionamento no dia-a-dia, para os quais muitas vezes não damos a devida importância. Estas coisinhas bobas que parecem sem importância, mas que justamente elas são essenciais para dar a liga e gerar um grande amor. Quando se ama em toda a sua plenitude, os detalhes são como sementes que se espalham dentro deste relacionamento, fazendo brotar novas emoções e, com estas emoções, crescer cada vez mais na intensidade deste relacionamento. Elogiar a ordem das toalhas no armário do banheiro ou o cheirinho da roupa limpa faz a diferença sim! Nós somos movidos por essas miucéias.
   Talvez eu fui acompanhado tanto em tudo que escrevi porque abri meu coração e deixei fluir dele o que de mais sublime Bere e eu vivemos. Um amor incondicional. É difícil para o homem falar de choro, de emoção, de ternura, carinho e amor. É difícil abrir o coração e dele deixar sair os mais profundos sentimentos. Como homens, temos esta barreira. Boba, mas a temos. Mas, depois de tudo que escrevi, até parece fácil. Me acostumei a deixar as palavras fluírem por si só. Muito do que escrevi foi aos borbotões, sem me dar conta do que realmente estava dizendo. Minha alma o estava dizendo. As frases foram se compondo à revelia, cansando meus dedos na velocidade de escrita com que o fiz. Sempre os revisei, principalmente para corrigir erros de digitação ou concordância, mas nunca modifiquei o que havia escrito, em respeito a minha alma que ali estava se manifestando.
   É incomensurável o peso para o homem dizer que chorou. Ainda mais sendo da minha geração, onde o machismo era muito mais saliente do que nos dias de hoje. Aliás, o homem procura não chorar na frente de outras pessoas. Chora sozinho. Porque isso pode mexer com seu brio e o deixar menos homem. Mas eu descobri em minha experiência de dor, que chorar não deixa menos homem e que faz muito bem para a alma. Chorar depura lentamente o peso que nos comprime intensamente nos sentimentos. Chorar em vez de diminuir o nosso lado viril, justamente o torna polido, altivo, menos durão, mais humano. No bom sentido, nos deixa até mais homens. Muitas vezes nestes últimos seis meses pensei em como e quanto eu fui errado em repreender meu choro em tantos momentos. Momentos importantes que para mim deixaram uma lacuna sentimental por não ter deixado fluir completamente o que estava explodindo dentro de mim. Lembro dois momentos desses, justamente com meus filhos. Quando o Wagner nasceu, a emoção de ser pai pela primeira vez me tomou de uma forma tal, que tive vontade de chorar. Muita. Bere chorou, de emoção. Lembro perfeitamente quando cheguei da maternidade no quarto, ela tinha acabado de ser trazida da sala de parto, me esticou os braços e chorando gritou: "Agora somos pais!" - Eu repreendi meu choro para tentar mostrar o homem forte que, na realidade, estava ruindo por dentro de emoção, enquanto a abraçava. Era o milagre da vida que acabava de acontecer, e que havia sido trazido nove meses na barriga de Bere com tanto amor e carinho, ternura e cuidados. Também, ao ver aquele serzinho frágil através do vidro, na maternidade, vendo ele se mexer e olhando fixamente para mim, como quem dizia: "Pai, estou aqui, sou seu filho!" - Também tive vontade de chorar, de emoção. E eu, com um nó sem tamanho trancando minha emoção, não chorei.
   Depois, tranquei meu choro quando o meu outro filho, Guilherme, teve apendicite. A cena deste menino de nove anos caminhando para a sala de cirurgia, usando aquela batinha verde-água de operação estará para sempre presente em minha mente. Quando o médico que iria operá-lo abriu a porta, Guilherme, bundinha de fora, se virou para nós, atirou um beijo e disse: "Sosseguem. Tudo vai correr bem! Amo vocês!" Abanamos para ele e assim que a porta se fechou atrás dele, Bere me abraçou e chorou tanto, tanto que molhou minha camisa com suas lágrimas, me sacudindo com seus suspiros. E eu fiquei ali estático, com um peso sem tamanho esmagando meus sentimentos e não chorei. Hoje choro ao escrever isso, lembrando exatamente aquela cena, daquele menininho de nove anos, no final do corredor do hospital, diante da porta da sala operatória, olhando para trás e dizendo que tudo iria acabar bem. Chorar retraído dói tanto, que corrói a gente por dentro. É como ácido. Enfim, com o evento tão drástico que aconteceu em minha vida, a partida da Bere para outro plano, me fez soltar a emoção de desde a alma, e não tive outro jeito: resolvi deixar meu choro fluir. Aliás, seria impossível contê-lo, pelo peso da emoção do momento que pega tão fundo ao ver ao teu lado, inerte no caixão, este ser de vida agitada e frenética que tanta energia comigo compartilhou. 
   Colocar isto tudo no papel já é uma segunda etapa. Algo denso, que se escrever sem emoção desestimula a leitura. Minha emoção vem por narrar fatos todos reais, acontecimentos que mexeram e foram a nossa história de vida, de amor. E minhas palavras fluem tão facilmente porque minhas mãos estão com certeza sendo movimentadas por uma mão que nasceu em outro plano, a mão de Bere. Ela que me empurrou a falar tantas coisas sobre assuntos pesados, quase impossíveis para o homem, mas que de um amor, uma ternura tão sublime, tinham que ter seus registros feitos. Tirar de uma vez por todas o estigma de que o homem não tem sentimentos e se os tem não sabe expressá-los. Poxa, se eu não os tivesse, já teria pirado há muito tempo. Amar, sentir, chorar, sofrer uma perda, tudo são sentimentos que engrandecem o homem. Não o diminuem. É nas horas mais sofridas que os sentimentos de amor, carinho e ternura fazem a sua parte, amenizando a situação e empurrando nosso pesar para uma situação aguentável. Senão, ninguém aguentaria. Portanto, homens, chorem! É tão sublime quanto rir! 
   Esta foi a minha última postagem sobre nossa história de amor. Talvez eu venha a falar novamente de Bere e eu, quando tiver trazido de volta de nossas lembranças algum fato que valha o registro. Pretendo transformar todo este material em um livro: "Bere, minha Vidinha". Agradeço de coração a todas as curtidas, todas as mensagens, todos os comentários. Sinceramente todos vocês me ajudaram, e muito, a atravessar esta fase obscura que é muito dolorosa para quem fica. Aos poucos estou superando e conseguindo voltar a minha vida como era antes, transformando Bere numa bela e doce lembrança que sempre haverá de adornar minha existência, por tudo o que foi, representou e pelos filhos que me deu. 
   Deixo aqui a frase que Bere disse diversas vezes enquanto doente e em tratamento, prevendo o que eu iria passar, devido a nossa forte ligação:
   "Não tenho medo de morrer! Tenho medo do que você vai sentir com a minha ausência."



sábado, 22 de março de 2014

Cartas de Amor 10 - Última Correspondência



   Cartas de Amor 10 - Últimas Cartas.

   Foi no início de Novembro de 1981 quando trocamos nossas últimas cartas antes do casamento. Mais precisamente dia 9, uma segunda-feira, quando Bere e eu tomamos a iniciativa de escrever. Depois não havia mais necessidade de escrevermos porque no domingo seguinte passamos a organizar a casa onde fomos morar. Eu passei a dormir lá (no quarto de visitas) para não deixar a casa mobiliada sozinha, vendo então, Bere todos os dias. Lembro que em todas as noites nos encontrávamos na casa bagunçada de objetos, arrumando aos poucos tudo como gostaríamos que fosse. Foi um tempo muito gostoso e mágico. Tanto por realizar, e tanto feito ao nosso gosto. Melhor, ao gosto de Bere que sempre teve uma intuição muito original para deixar nosso lar mais doce, como foi nestes anos todos. Mesmo sendo uma casinha simples de madeira, ela nos abrigou durante nossos primeiros vinte anos de casados. Lembro que eu, vindo do centro de São Leopoldo, com todo o seu agito, custei nas primeiras semanas a pegar no sono em nossa casa no Caí porque a calmaria era absoluta. Não se ouvia nada. Tudo era silêncio.

   Aqui na íntegra a última carta de Bere:

   São Seb. do Caí, 09 de Novembro de 1981.
   
   Meu Noivo Lindo,

   Estou com as fotos do nosso noivado, todas espalhadas pela cama. Quem visse isso me chamaria de biruta. Mas eu não, chamo isso de amor. Quero ter você, sentir você bem pertinho de mim.
   Com essas fotos lembro nosso passado, e penso no futuro, um futuro de muito amor. Um amor que começou no namoro (conhecimento), noivado (mais maturidade) e casamento que está próximo (eterno amor). Penso: como eu consegui fazer você gostar de mim e ficar comigo se eu era tão chata aos olhos dos outros. Como? Meu mundo daquele tempo tinha que ser perfeito, não podia ter remendos e todos diziam que se eu "não aprendesse a costurar remendos" ninguém se aproximaria de mim. E justamente você se aproximou de mim para me ensinar a segurar a agulha e me ensinou a costurar remendos. Agradeço sua paciência e seu equilíbrio em absorver este meu lado. Eu sei que já evoluí, assim como você já evoluiu em sua teimosia, coisa de Rambo. Mas vamos nos equilibrando em nossos acertos, pois assim estaremos sempre evoluindo para um comportamento melhor.
   Olho para os cantos do meu quarto. Num deles vejo você presente, representado pelas coisinhas do nosso ranchinho, aquelas tantas coisinhas que precisamos para o uso em uma casa, e que você trás com tanto amor e dedicação. Acho que você não precisa fazer mais, para mim, para nós, para representar este amor que eu sei que você sente por mim (e eu por você).
   Eu te amo tanto que chego a sorrir quando penso em você. Quando sinto você em cada detalhe, por mais simples que seja. Pego o saleiro que você trouxe semana passada. Abro a tampa e penso: "Que fique somente aí dentro o sal de nosso relacionamento. Pois, que aqui fora, tudo deverá ser sempre doce!" - Fecho a tampa e hahaha, dou uma gargalhada tão alta que meu pai gritou lá da cozinha perguntando o motivo da piada. Eu tive que rir porque o detalhe (desenho marrom) no lado de fora do saleiro é muito parecido com uma cerca. Hahaha, e imaginei que além de fechado, o sal também ficaria cercado.
   Obrigada pelo que estás fazendo por nós. 
   Voo um pouco mais longe, e nos vejo desfrutando desas coisas que você está comprando. Deliciando uma "salada" (viu?) de pepino. Ah! Chega a me dar água na boca. Só que não vou deixar você comer muito, porque senão... os estouros à noite serão enormes (há há há, como eu estou engraçada hoje). Te amo assim mesmo, eu também sou um estouro (talvez mais que você há há há).
   Ah! Como eu gosto de você... como gostaria de já estar casada, fazer um cafunezinho nos teus cabelos.
   Adorei o fim-de-semana, obrigada, ao teu lado tudo é alegria, meu grande moleque.
   Querido, acho que esquecemos de escolher na listinha do rancho o que você vai trazer quinta. Se esquecemos, você traz o que achar melhor, o que for mais conveniente para você, ou o que seu dinheiro puder comprar. Vou gostar igual.
   Fofinho, tenho certeza que és o homem que eu amo de verdade, do fundo do coração, e nada neste mundo mudará meus sentimentos.
   Pensei muito sobre o baile do dia 5/12 e cheguei à conclusão que não vou fazer chantagem com você. É muito egoísmo e no amor não pode haver egoísmo. Irei sozinha ao casamento representando a nós dois. Também, por outro lado, prejudicaria o teu emprego, e este emprego de fins-de-semana está nos ajudando muito nesta fase de grande necessidade de dinheiro. Quero dar a minha bênção para que você vá com paz de espírito lembrando de mim com carinho.
   Te amo muito, noivo do meu coração e de minha vida, quase esposo!
   Um montão bem grandão de beijão (hahaha...) rimou!
   De tua quase esposa
   Berenice.
P.S.: Meu pai já arrumou a fechadura da porta dos fundos de nossa casa. Ele fez isso hoje na hora do meio-dia.


MINHA ÚLTIMA CARTA PARA BERE FOI ESCRITA NO MESMO DIA E ELAS MAIS UMA VEZ, SE CRUZARAM NOS CORREIOS:

   São Leopoldo, 09/11/1981

   Minha Quase Esposa e Terna Noiva,

   São dez da noite. Escrevo esta carta, para depois ir dormir e sonhar contigo. Relembro com carinho o que me falaste: "Meu amor, não vai dormir muito tarde!" - Que zelo! Você é tão legal, que já parece ser minha esposa, antes de casarmos. Estou tentando caprichar ao máximo esta carta, para retribuir um pouco do muito que você faz por mim. Hoje de manhã, ao levantar e ver que você, mesmo estando menstruada, às voltas com cólicas e desânimo (consequências lógicas destes dias), tinha o nosso café prontinho, esperando por nós à mesa, você com dor e mesmo assim esboçando um sorriso meigo, me senti impotente. Senti-me um homem sem brio e sem coração escravizando a quem mais amava. Senti-me uma folha caída de sua árvore, murcha e descolorida, amarrotada, um trapo de resto de existência por não ter acordado antes de você. É destas coisas pequenas que me levam a sentir em você uma grande mulher. Uma mulher forte, guerreira, de caráter inabalável, para mim, insubstituível. Nesta demonstração de hoje de manhã, você ter me acordado só depois de ter o café na mesa, pelo seu estado de 'regras', você colocou em minha existência uma soma de valores inexistentes na maioria dos relacionamentos. Pelo menos penso assim. Você preteriu sua situação de cólicas para me dar um agrado. Isto é um exemplo saliente do que verdadeiramente é amar. Por isso também amo você!
   Berenice, quando casarmos faço questão de que não seja assim. Quero participar de todos os seus momentos sejam ou não sejam bons. Não quero ver a quem eu mais  amo como minha subserviente. Quero vê-la como companheira e fazer-me seu companheiro. "Você não se explica, você vive". Isto eu admiro muito em você. Isto a deixa muito mais bela, isto a torna inigualável. Mal sabem a virtude em você existente das pessoas que a classificaram como 'difícil'. Eu nem penso, você já realizou!!! Quero sempre seu amor e esta sua ação. Quero ser um marido para você com "M" maiúsculo. Quero a cada dia dar a você a sensação de estarmos vivendo um sonho. O amor pleno que todos sonham em ter. E quando aparecer algum problema (sei que aparecerão vários, sobremaneira financeiros) quero chegar juntamente com você, sem aquecermos as 'cucas', a um denominador comum. Partiremos do princípio de que não há, não houve, nem nunca haverá problema sem solução. O único problema insolucionável é a morte. Quero ajudá-la a ter o direito de ser a Berenice que sempre quis ser, com seus amigos, seus gostos, seu mundo, assim como me permites também viver meu mundo, mesmo como músico e garotas se descabelando por mim na frente do palco. Mas já te acostumaste e entendes que é a condição do meu trabalho unicamente, de onde só sinto orgulho, mas nenhum prazer além do da música. Vamos construir um casamento sem contrariedades nem censuras. Vamos construir um casamento onde nossos direitos irão se auto-censurar pela fidelidade que prometemos. Aí que irá residir a base da solidez de nossa união.
   Você é aquele algo mais que sempre pensei não ser possível encontrar num amor. Sequer algum momento me senti em monotonia ao seu lado e espero que isto também nunca tenha acontecido a você. Vamos fazer o possível para sermos o casal exemplo para todas as iniquidades que a nós se acercam para vermos ao menos nosso pequeno mundo a nossa volta feliz. Para tanto, torna-se necessário que desde já sejamos felizes, realizados, nos sintamos abençoados. E isto não é difícil, pois, acredito que já nos sintamos assim.
   Você nem acredita o quanto me dói ter que deixá-la sozinha estes tantos sábados em que tocamos bailes. E esta dor, mais se manifestará quando casarmos. Claro, dói-me em imaginá-la sozinha em nossa cama a me procurar em seus sonhos em vão. Mas, infelizmente, amor, este teu príncipe encantado não é rico e precisa achar todos os meios para trazer uma vida mais humana ao nosso lar, se bem que eu adore fazer música, o que é um fato.
   Reflito neste momento: adoraria ter seus lábios de encontro aos meus para eu poder no beijo demonstrar toda a intensidade de minha total paixão por você. Apesar de tantas que passaram em minha vida, você é minha primeira verdadeira namorada, minha sublime noiva e será a única e eterna esposa. Você não teme se entregar para o resto da vida a um homem que era completamente diferente em suas atitudes há vinte e um meses atrás? Tenho certeza que não, pois quem me modificou foi justamente você, me mostrando que meninas fáceis acabam em relacionamentos fáceis e fúteis. Meninas difíceis como você são a prova de que se pode cultivar um amor eterno, pois sua sapiência sobrepuja qualquer tipo de interpretação, geralmente errônea. Posso dizer sem medo que já somos metade de nós e nos pertencemos. Por que? Porque nossos olhares nos ligam. É impossível desligar nossa fusão. Estamos fundidos espiritualmente e desse jeito não haveremos jamais de nos desligarmos. Deus está de olho em nós e quer que nós sejamos o exemplo de um amor verdadeiro e indelével.
   Minha noiva, amo você como amo o sol e a vida. A única pessoa que posso comparar em amor a você é minha mãe. Com a diferença de que dela só tenho amor e de você tenho também troca, energia, recarga. Muita energia, que amo à parte. Meu amor por você é tão grande que gostaria de gritar ao mundo:
   AMEM COM O FUNDO DO CORAÇÃO ALGUÉM QUE FAÇA SUA VIDA FLORIR. AMEM COMO EU!!!
   Amo você Berenice. Amo você, minha doce, terna, sublime noiva. Amo você, minha futura esposa pela data que espero ansiosamente. Amo amar você, minha Vida.
   Beijão.
   Pio
   


sexta-feira, 21 de março de 2014

Cartas de Amor 9 - Agora Noivos



Cartas de Amor 9 - Agora Noivos.

   Noivamos no dia 7 de Agosto de 1981, no dia em que a Adelina, mãe de Bere completou 50 anos. Foi um evento muito simples, somente meus pais, Bere e eu e o sogro e a sogra, e os inseparáveis Ane e Paulinho estivemos reunidos na noite daquele sábado para celebrar o evento. Uma jantinha, cerveja, um bolo. Nosso dinheiro, escasso, estava todo sendo canalizado para as compras de tantas coisas de enxoval que ainda precisava para montarmos nosso lar. Havia tantas miucéias para comprar. Tínhamos feito uma lista básica, e nos encontros nossos de quintas feiras eu trazia algo da lista para compor nosso enxoval. Tínhamos anotado mais de cem coisas, das quais muitas recebemos depois, no dia do casamento, pois havíamos anotado na lista de noivos.
   Eis o que escrevemos na primeira troca de correspondência, agora noivos: Carta de Berenice:

   São Sebastião do  Caí, 10 de Agosto de 1981.

   "Meu Querido NOIVO!"

   Hoje ainda tudo é festa para mim. 
   Sinto uma saudade sem tamanho do fim-de-semana que passou, pois da condição de namorada subi ao degrau de noiva. Não existem palavras para explicar o que isto me significa e não canso de olhar e beijar a linda aliança em minha mão direita. Jamais imaginei que seu bom gosto fosse ser tão apurado em mandar confeccionar alianças tão aprimoradas e modernas, já com nossa data de casamento e nomes impressos em seu interior: 30/01/1982.
   Me sinto como uma "Rainha" com esta aliança no dedo. Exibo com orgulho, pois é nossa marca de união.
   Mais do que nunca, hoje me sinto ligada a você.
   Ganhamos mais dois presentes. Um da Lena, 6 porta-copos de inox, isto é, pratinhos que se coloca na mesa para colocar os copos em cima. E o outro da tia do Laurinho, só que não posso dizer para que serve. Ela entregou-me e disse que era para colocar no banheiro. Fiquei com vergonha de perguntar a utilidade. Quinta-feira eu te mostro, quem sabe você decifra. Há, há, há, ...não imagina o que eu já ri e achei graça por isso, pela minha ignorância.
   Estou feliz, muito feliz. ...Porque nossos sonhos pouco a pouco estão se realizando. 
   Não muito  longe, se realizará nosso maior sonho de amor, o casamento.
   Seremos felizes, meu amor? - Sim, seremos. Seremos muito felizes. Felizes por demais. ...Seremos o exemplo de amor para este mundo tão cheio de desavenças. ...Seremos o exemplo de dignidade que um casal pode ostentar, mostrando ao mundo que o amor puro é vencedor e ele pode realmente ser perene. Através de nossos atos. Seremos a esposa e o marido que o mundo espera de uma verdadeira união: o casal 20 de verdade, de Vida de verdade, não do belo como o é no seriado da TV.
   Você não vai me reconhecer como esposa. Serei sua, serás meu. Mas nessa possessão estará acompanhado também todo o meu carinho, minha vida, minha história e meus sentimentos de leal esposa. Serei a esposa zelosa que terá antenas para todos os conflitos do lar, pois espero que nossos conflitos sejam sempre elucidados no mesmo dia, para que não venhamos a dormir brigados, conforme nosso pacto de sangue da semana passada, o qual não teve sangue, mas teve um beijo e a promessa. E eu cobrarei isto de você e quero que cobre isto de mim também.
   Sempre terei algo a mais para te dar, haverão revelações, surpresas, caminhos, tudo novo, bonito para você.
   Quero ser mais Berenice para fazer de você mais Pio.
   A pensar como começamos, choro olhando para este dedo com esta aliança, parece um sonho. Penso nas barreiras que fizeram a meu respeito, por eu ser muito certinha e determinada, uma pessoa 'difícil' como tantos de mim o disseram e você com seu jeito meigo de não fazer conclusões apressadas, foi em frente, limpando a minha imagem de tantos que imaginavam eu ser impossível de conviver, pelo meu modo extremamente particular de ser. Já não exijo mais tudo para o agora, estou aprendendo a tolerar mais. É por isto que comecei realmente a te amar. Foi a partir daí que obtive a certeza de que você era o homem de minha vida. Sim, porque fosse outro, talvez exigiria minha submissão e não me ajudaria aos poucos rever tantos conceitos impossíveis que me rodeavam. Você me mostrou que o amor é acima de tudo uma paciente estrada de onde se tiram as pedras do caminho uma a uma. E você o fez por mim, por amor, sem me exigir. Nem me pediu ajuda. Eu o fiz pelo amor que me demonstraste, sempre puro e autêntico. Tanto que aprendi e tanto que ainda aprenderei com você!
   Te amo, acredite, e és o único que amei, e é a você que me entrego de corpo e alma, na realização deste nosso lindo sonho.
   Te amo meu noivo querido, meu único objetivo.
   Te amo, meu alemãozinho querido, minha Vida.
   Te amo meu grande e único amor.
   Beijos mil de tua noiva, quase esposa,
   
   Berenice.

P.S.: Desejo um movimento ótimo no nosso futuro ganha-pão (teu no presente hahaha).


   AQUI MINHA PRIMEIRA CARTA À BERE, AGORA MINHA NOIVA:

   São Leopoldo, 11/8/1981.

   Minha Noiva,

   Um sonho lindo arquitetado pouco a pouco por nós dois está se tornando realidade. Em menos de meio ano chegaremos à realidade completa de todas as horas de conversas saudáveis que vínhamos fazendo em torno de casamento. É tudo cor-de-rosa. Vivo leve, tranquilo, pousado nas graças do seu amor, no desejo de entregar todas as minhas conquistas e minhas vontades a você. Sinto-me um homem completo, completado por você. Sinto-me mais eu, mais vivo, satisfeito. Quaquer ação que faço é pensando em nosso enlace próximo. Qualquer ideia que tenho é ao redor do conforto para o nosso "cantinho de chão". Não consigo mais pensar em mim Pio, sem ao menos ter um pouco de Berenice incluído em  tudo isso.
   Parece incrível: há pouco tempo, imaginava ser impossível existir alguém que pudesse influir tanto na vida da gente, a ponto de querer-se ficar o resto da vida com esta pessoa. Sou feliz. Sim, sou feliz porque tenho a você. A vida está difícil, mas o amor supera todas estas dificuldades.
   Você é para mim, além de todas as qualidades e virtudes que tenho para imaginá-la, um molde vivo de felicidade. Tenho plena convicção de que nosso casamento será o destino mais acertado que daremos em nossas vidas, afinal, um amor de suspirar só por nos olharmos, não pode ser superficial. Este amor certamente parte de nossas almas e isso já sobrepuja nossa condição física, agora já é espiritual. E eu amo amar deste jeito você. Quando seu belo olhar me fita, estes lindos olhos negros que a querida Natureza lhe brindou, minha alma vibra de energia positiva e me carrega de carinho e emoção. Nunca pare de me olhar desse jeito, meu amor, nunca. Sempre será uma carga de energia positiva para minha alma. Saberei retribuir com meu olhar e minha ternura.
   Minha noiva: a simplicidade do evento que foi nosso noivado, somente com nossos pais, já marcou um belo início para nossa vida em comum: sermos simples, equilibrados com as pessoas que nos cercam. Certamente isto fará nossa vida ainda mais feliz, longe da condição de superioridade que tantas pessoas tentam impor. 
   Minha noiva: só tenho mais uma direção a seguir: dar-lhe minha mão e caminharmos juntos. Sei que será mais difícil em vários aspectos, mas, sei também, que será mais fácil em muito mais aspectos.
   Já com muitas saudades, mando um beijo respeitoso em sua testa.
   Seu noivo
   Pio
   Amo você! E agora menos formal, um beijo demorado em sua doce boca.




   

quinta-feira, 20 de março de 2014

Cartas de Amor 8 - Um Ano de Namoro





   Cartas de Amor 8 - Um Ano de Namoro

   Um ano depois de nos conhecermos, em 1981, sábado dia 7 de Fevereiro Bere, eu, meu cunhado Paulo e minha irmã Ane fomos novamente ao baile de Kerbb em Santa Terezinha - Bom Princípio, onde tudo começou, no mesmo baile, no mesmo salão. Voltamos. Foi um acontecimento mágico, onde revivemos nossos primeiros momentos e onde dançamos, nos divertimos e tivemos uma noite inesquecível. E, segundo nossa troca de cartas do dia 9 de Fevereiro, o conjunto não era animado. Mas o que nós celebramos e foi marcante mesmo, foi a coca-cola que tomamos parados no balcão de bebidas do salão, no mesmo lugar, do mesmo jeito, como o fôra da primeira vez. E, depois, na saída do baile, a levei para o mesmo lugar onde o ônibus com o qual ela viera estava estacionado. Dei um beijo demorado em sua testa, remarcando nosso início. Ela, me fitando, perto de uma das poucas luminárias ali existentes, noite escura, nem tão quente, já havia até garoado pois a relva estava molhada. Em sua silhueta só vi duas continhas de emoção, refletindo esta luz, rolarem de seus olhos. Em seguida me abraçou forte e disse: "O respeito que tens comigo continua o mesmo desde o primeiro dia. Estou sem palavras." - Eu respondi: "Não fala, apenas me beija." E nos beijamos longamente, enquanto minha irmã e cunhado, ali perto estavam já irriquietos para que voltássemos ao chevettão 74 do Paulinho para voltarmos para Harmonia.

   Também neste mesmo fim-de-semana haviam chegado os LPs da Banda Tupã Som, da qual eu era o contrabaixista e que havíamos gravado em Outubro de 1980, onde faziam parte três composições minhas. E eu dei um LP autografado, com dedicatória à Bere, e ela comenta em sua carta.

   Na semana seguinte, segunda-feira, comemorando um ano de namoro, Bere escreveu:

   São Sebastião do Caí, "16 de Fevereiro de 1981"

   Querido,

   Mais um fim-de-semana que termina e eu amando mais e mais você.
   Hoje está fazendo um ano, em 80 mal te conhecia, e hoje já posso orgulhar-me de você, 
   Sinto um orgulho em ter este disco na mão, mostrar para as pessoas e dizer: Vejam!!! Eu não disse que ele chegaria lá??? E chegou com grande sucesso.
   Não há dúvida que as músicas que mais gostei foram as tuas, as de tua autoria. Não, não sou puxa-saca, é que realmente elas passaram das espectativas.
   São lindas amor, mostram todo o seu jeito simples de ser, e ao mesmo tempo a inteligência que você possui.
   Estou embasbacada com teu talento.
   Continue amor, você vai longe, vai muito mais além do que este disco que é apenas o começo de um grande sucesso.
   Sorrio sozinha olhando para a foto da capa: é como se só você existisse, mas sei que o mérito é de todos, que tanto um como o outro ajudou para que este disco se concretizasse, mas eu prefiro dedicar os elogios a você. Porque eu sei o quanto isto é importante para você, um sonho que se tornou realidade. Que vitória!!!
   Eu amo você e por isto que também amo esta tua força de vontade, esta vontade que te dá tanta força para ir em frente, que os "contras" do caminho tornam-se banais. E é assim que tem que ser, assim tudo se consegue. E por isso eu te admiro.
   Continue querido, não pare, eu garanto que você tem uma grande admiradora, eu, que te amo.
   Eu que estarei com você na alegria e na tristeza, eu afirmo, serão muito mais alegrias, pois tua vida está cheia de vitórias a serem alcançadas. E eu haverei de querer fazer parte de todas estas vitórias vibrando a seu lado, ou na plateia.
   Pedirei a Deus em minhas orações, para que a venda do disco seja ótima e vocês sejam sucesso.
   Parabéns pelo disco!
   Mas, parabéns principalmente pelo aniversário de namoro!!! Nós estamos de parabéns, né? Quero lhe agradecer do fundo de minha alma por tudo o que fêz por mim neste ano que passou e por ter me "aturado". Sei que tenho um ladozinho meio difícil por querer tudo como é pra ser, para o 'ontem', mas estou tentando corrigir. Peço sua paciência, estou me adaptando.
   P.S.: Obrigada pelo fim-de-semana, obrigada pelo presente de um ano de namoro (amei receber de você o primeiro artigo de nosso enxoval, este jogo lindo de toalhas. Amei, amei, amei). Obrigada pelo disco da Banda Tupã Som, com o som do teu contrabaixo e o carinho da tua voz. Também amei.

   Beijos de quem te ama em 16/02/1981,

   Berenice.


   NO MESMO DIA EU ESCREVI TAMBÉM E NOSSAS CARTAS SE CRUZARAM NOS CORREIOS:

   
   São Leopoldo, 16/2/81,

   Adorável Ternura,

   Num dia como o de hoje eu não poderia deixar de escrever a você. Estou me sentindo uma incrível energia de paz, amor e entusiasmo porque tenho você. E esta energia começa a partir de hoje com carga completa pela passagem de nosso primeiro aninho.
   "Somos pequeninos ainda. Faz um ano que nascemos um para o outro e mal e mal estamos aprendendo a caminhar. Engatinhar já sabemos muito bem e os tombos que levamos são leves. já nasceram os primeiros 'dentinhos' de nossas realizações em conjunto: Estamos mamando ainda, mas aos poucos estamos aprendendo a mastigar os problemas leves e com o passar do tempo saberemos digerí-los naturalmente. Já nos acostumamos ao ambiente que nos cerca e o medo de vivermos fora do seio materno já se dissimulou completamente. Tem muita gente zelando por nós e nada é mais lindo do que sentirmos a alegria de estarmos num mundo tão bacana. Nossa percepção está nos ensinando a selecionarmos do meio ambiente o que é bom e o que não é. Todos veem radiantes o nosso crescimento dia após dia e nossos pais se orgulham disso. Somos jovens e ainda temos muito que aprender.

   Em Fevereiro nós nascemos    
   Dizem que tem carnaval
   Em nossa vida, hoje aqui,
   Temos festa, que legal!
    
   Lembrança de nosso primeiro aninho de Pio e Berenice: 16/02/1981"

   Gostou? Querida, sabe o que eu gostaria de escrever na folha seguinte do tamanho do Universo? Veja:

   Eu te amo!
   Je t'aime!
   I love you!
   Ich Liebe dich!
   Ich honn dich lieb!
   ¡Te quiero!
   Ti amo, amore mio!
   Aishiteru!

   Em todas as línguas para que todo o mundo entendesse. Porque após um ano de grandes alegrias, satisfações pessoais e conjuntas, envolvimentos, amizades novas, diversões especiais, amor e doação imprescindíveis, enobrescimento espiritual, culturas intelectual, paz, equilíbrio psíquico, sensibilizações, ação conjunta, música, esporte, entretenimento, artes, crescimento, crescimento, crescimento, CRESCIMENTO sempre maior, só posso dizer que: 
   Eu Te Amo!
   Um beijão,
   Pio
P.S.: Obrigado por você me amar!

   16/02/81
Para que ser triste se a vida sabe nos sorrir nos momentos em que menos esperamos?
Para que odiar, se o amor acontece como algo certo e dedicado especialmemnte a cada um de nós?
Para que se preocupar, se o nosso destino é vivermos até a morte?
para que lembrar, se as melhores coisas sempre estão por acontecer?
   ...Hoje faz um ano que estas ideias se tornaram concretas em minha vida. 
   Bere, eu amo você!

Aqui a capa e contra-capa do LP, com dedicatória para Bere



quarta-feira, 19 de março de 2014

Cartas de Amor 7 - Conselhos de Bere




   Cartas de Amor 7 - Conselhos de Bere

   Em 10 de Setembro de 1980, no final de uma carta extensa, Bere escreveu:

   "Lute Para Ser Feliz

   Caminhe serenamente no meio do barulho e da pressa e lembre-se de quanta paz pode haver no silêncio. Tanto quanto possível, viva em paz todas as pessoas, sem ceder em seus princípios.
   Fale sua paz serena e claramente; ouça os outros, meso os ignorantes, pois eles também têm a sua história.
   Evite pessoas barulhentas e agressivas, pois elas perturbam o espírito. Se você se compara com os outros, pode se tornar vazio e amargurado, porque sempre haverá pessoas melhores e piores que você. Goste de suas realizações e de seus planos.
   Mantenha-se entusiasmado por sua profissão, por mais humilde que seja; ela será a única posse segura nos altos e baixos dos anos que passam.
   Seja cauteloso nos negócios, porque o mundo é cheio de traições. Que isto, porém, não anule as virtudes autênticas; muitas pessoas de fato, lutam por grandes ideais e, por todo o lado, a vida é cheia de heroísmos.
   Seja você mesmo. De modo particular, não pretenda ser mimado. Não seja cínico sobre o amor, porque perante toda a aridez e desilusão, ele é perene. Aceite com satisfação o conselho que os anos trazem,cedendo com garbo as coisas da idade juvenil. Alimente um espírito forte para ser o seu esteio em bruscas desgraças, porém, não se perturbe por coisas imaginárias. Muitos temores nascem do cansaço e da solidão. Além da auto-disciplina, seja bom consigo mesmo. Você pertence ao Universo, tanto quanto as árvores e as estrelas.
   Alimente seu amor. Torne-o incondicional, pleno, convincente e maduro. Ame de todo o seu ser em plenitude. Entregue-se totalmente a este amor ou o deixe. Meio amor não ama, só gosta. Portanto, que seja total, pleno. Então a felicidade desta entrega vai irradiar o seu meio de convivência tornando a todos mais harmoniosos.
   Você tem direito de estar aqui, no mundo. Seja isto claro ou não para você, o universo é revelador, portanto, viva em paz com Deus, seja Ele quem for para você. E sejam quais forem as suas dificuldades e aspirações, mantenha paz consigo, mesmo nas perturbações do cotidiano. Apesar de todo o fingimento que existe nas pessoas, do trabalho penoso e das desilusões, este mundo continua lindo.
   Seja cuidadoso. Lute para ser feliz!" (Berenice)



terça-feira, 18 de março de 2014

Cartas de Amor 6 - Acróstico



Cartas de Amor 6 - Acróstico

   Acróstico que enviei para Bere:

   São Leopoldo, 2 de Junho de 1980.

   Minha doce amada.

   Já que hoje enviei a você carta com 19 páginas, envio ainda tão somente esta, com uma página. Era para ter sido enviada juntamente com as outras folhas, mas como estava próximo do horário do correio fechar, deixei para terminar este acróstico com carinho à noite, onde me inspiro mais, já que tem luar e ele está quase cheio. Queria que esta carta ainda seguisse nesta segunda, tamanha já é minha saudade de você, de quem me despedi não fazem 24 horas. Fiz um poema com seu nome. É o que penso de você:


Mais dia, menos dia...
As horas correm, disparam
Rápidas, movidas pelo amor.
Imagino já com alegria
As horas que separam
Bons momentos de sabor,
Entusiasmo, vida e energia.
Recordo as horas que passaram
E não me arrependo se forem
Novamente os mesmos momentos...
Isto, porque a seu lado
Comecei a viver bons tempos;
Entre eles, nenhum foi magoado;
Rinhas não houveram nem haverão.
Amor, AMOR sempre e completado
Mesmo à distância, por que não?
Ora sou feliz e você também é...
Sobra amor pra espalhar a quem quiser.

Rogo para que um dia sejamos
A base e o sustento de um belo lar
Movido pelo carinho que damos
Brilhando o amor em nosso olhar.
O futuro pleno então criamos.

   A última parte eu quis acrescentar, para ver como fica lindo seu nome com meu sobrenome. Quiçá este dia chegará. Nosso construir diário neste relacionamento está se encaminhando para este belo momento.

   Amo você. Você é tudo para mim!

   Um beijo super demorado.

   Pio