sábado, 1 de março de 2014

Redes Sociais: Bere e Eu



Bere e as Redes Sociais.

   Bere e eu tínhamos o costume de namorar abertamente nas redes sociais. Desde o tempo do Orkut até o atual Facebook. Recadinhos embaixo de fotos, de posts, sempre recheados de paixão. E tínhamos um jeito de comunicar, sem tornar escancarado esta forma de namoro. Mas era pelo jeito como escrevíamos. Eu a conhecia tão bem que entendia o recado. O mesmo era a percepção dela para os meus recados. É uma pena que, a pedido dela em vida, deletamos suas contas nas redes sociais. Sinto falta de muitas coisas que ela escreveu.    Mas, vasculhando meu Orkut consegui salvar o depoimento que ela fez para mim e que reproduzo abaixo:

- 14/11/2009
Oi amor!!!
Hoje resolvi dxar um dp p/você!
Mas dizer o q? o q já sabes!!!
Que te amo, amo, amo, pra sempre! ...dizer o quão maravilhoso homem q és, o tanto namorado, amigo, amante....(e de quebra um cozinheiro, rsssssss...)
E pra completar me ajudou na educação de dois filhos maravilhosos, q nos enchem de orgulho e de felicidade!!!
Você é tudo!!!!
E o profissional!!!! Nossa, faz tdo c/ tanto carinho!!!! Sem falar em blogs, RCC, música....e mais, mto mais, que tenho o privilégio de só eu saber, he,he,he...
beijão!!!

   Me emocionei ao redescobrir este escancarar de amor dela por mim, publicamente. Algo que muitas pessoas nem tem coragem de falar em seu mundo a dois. Ainda bem que o Orkut não apaga o que a gente deixa lá, mesmo que seja postado por pessoas que sairam da plataforma social. Só assim consegui resgatar este depoimento. E mais uma vez fico sensibilizado com a doce forma de ela escrever, encurtando palavras. Parece que assim fica mais carinhoso ainda.
   Depois migramos para o Facebook, Bere com sua conta, eu com minha. E nossos recadinhos sempre amorosos, de um jeito de namorar diferente. Certo dia postei sobre uma gravação que havia amado fazer, sobre irrigação automática para arrozais. Ela curtiu e depois escreveu embaixo: "Esta vitória merece uma comemoração com uma jantinha especial. Com arroz. Ansiosa para ver o que vai preparar para acompanhar. Mas vindo de você, nossa!!! Não preciso nem escolher. Será da boa. Ah, pega um sorvete no Cruz, para sobremesa." - E eu, rindo, respondi no post: "kkkkkk, nem tinha pensado em janta hoje. Mas, como pediste 'jantinha', tão docemente, como vou negar? O sorvete já está comprado. Prestígio. Serve?" - Ela curtiu e respondeu: "Sabia que tinha segundas intenções kkkkk. Você quer me prestigiar né? Eu topo!" - Nossa noite foi maravilhosa. Ela se entusiasmava com minhas conquistas, do mesmo jeito como eu sempre comemorava suas vitórias, suas realizações. Tínhamos uma forma de conversar através dos posts, que mostrava uma química muito gostosa, sempre com bom humor.
   Outro dia, Bere postou uma foto no face de um homem saradão. Barriga de tanquinho, sarado, malhado. Escreveu embaixo para suas amigas: "Meninas, eu tinha que compartilhar. Sei que o Pio vai me matar, mas é muita areia para nosso caminhãozinho hahahahaha." - Surgiram vários comentários das colegas dela. Eu curti e escrevi: "Pode admirar a vontade. Ali é só foto. E eu, você me tem ao  vivo. Apesar de o tanquinho estar cheio kkkkkkk." - Ela curtiu e respondeu: "Mil vezes tu com tuas imperfeições físicas mas teu interior maravilhoso. Este é que vale. Mas dá um jeito de caminhar né? kkkkkk." - E eu comecei a caminhar. Assim namorávamos nas redes sociais. Muitas vezes comentamos sobre a ciumeira que é gerada entre namorados ou casais justamente por policiarem um ao outro pelo que curtem ou escrevem. Ou ainda, pelas novas amizades que criam. Nós nunca tivemos barreiras neste sentido. Sempre fomos abertos e liberais, já que estas redes sociais justamente funcionam para agregar pessoas de mesma profissão, de mesma ideologia, ou de amizades antigas e novas. Tudo é possível.
   O amor verdadeiro é aquele que dá liberdade. Já escrevi sobre isso. Porque se amamos alguém, temos que deixar a liberdade fluir e fazer o mundo da pessoa amada. Jamais cercar e policiar. Pois quanto mais presa a pessoa for, mais alto será o vôo no primeiro momento de sua liberdade. Amar é deixar a vida escrever sua história enquanto nossos sentimentos só cuidam de elevar a energia e estima de quem amamos. Só assim se consegue amar de verdade. Não tem outro jeito. Um amor que cuida é muito diferente de um amor que prende. Porque cuidar é ajudar a estimular todos os potenciais de quem amamos. E isto sempre envolve pessoas fora de nossas relações que fatalmente irão se tornar parte deste todo que é o mundo de quem amamos. A liberdade faz com que nossa cara metade desenvolva em sua plenitude toda a sua capacidade, seu potencial. Já quem prende, coitado, coitada. Viverá num mundo de incertezas, de medos, de dúvidas e de desassossego. Vive infeliz. Porque exige canalizar uma energia incomensurável para

manter esta pessoa ligada sempre em seu mundo e o desgaste fatalmente fará o relacionamento chegar ao fim. Mais cedo ou mais tarde vai acontecer. Ninguém quer ser preso. Principalmente num relacionamento.
   Em Junho do ano passado, em meio ao tratamento de químio de Bere, aqui no face, eu escrevi minha famosa 'sorte do dia' especialmente para ela. Era o dia dos namorados, uma data que sempre envolve carinho e atenção para com quem amamos. Nós comemorávamos o dia dos namorados como se fosse um aniversário. Prezávamos nosso namoro. Escrevi o seguinte, junto com a foto do cabeçalho deste artigo:

Prg Pio Rambo Gravações
12 de junho de 2013 

Sorte do dia: Poder comemorar há 33 anos o dia dos namorados com a mesma pessoa. Não tem preço!!!!

   Quando ela viu publicado, encheu os olhos de água, veio me abraçar e disse: "Mesmo estando pela metade?" - Eu, tentando não me emocionar também, já que ela estava num quadro de saúde delicado, respondi: "Ainda bem que sobrou a melhor metade. E esta não tem preço!" - Nos abraçamos e choramos abraçados. Uma troca de energia e carinho impagável, proporcionada simplesmente por eu ter escrito aquilo numa rede social. Depois de alguns minutos, ela me encarou, segurou meu rosto em suas mãos, secou minhas lágrimas com seus polegares e disse: "Bobo! Já somos meio desde que casamos. Qual é a metade a que estás te referindo? A que deixei com meus pais, ou a que trouxe para nossa união? ...pssssit, não responda! Sei que é minha metade tua. E eu vou caprichar para continuar sendo esta metade plena, de vida, só tua!" Eu a apertei em meus braços, encarei, e respondi: "Tu és tudo o todo, e o sempre meu. Então não tem metade. Para de falar assim! Vamos lutar juntos para te deixar inteira de novo. Se for preciso, eu tomo a frente. Nem que metade de mim fique no caminho." - Bere, tremendo o queixo, mas sem desviar os olhos de mim, completou: "Prometo que vou ser boa parceira nesta luta. Vou lutar contigo. Até o fim. Prometo!" - Nos abraçamos e, logo depois a florista trouxe um lindo buquê de rosas que eu havia encomendado para ela. E mais uma vez ela chorou. Desta vez de uma alegre emoção.



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