quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Conto - Balneário Vale-Tudo

BALNEÁRIO VALE-TUDO

    É, este título não está aí só para cativar tua leitura (ou quase), mas realmente acontecem coisas incríveis e inacreditáveis lá. Diria que até parecem mentiras.
    Um dia, desses chove-não-chove (só sei que o céu estava a fim de fazer pipi toda hora), eu estava enjoado de ficar em casa contando o tempo que passava sem fazer nada, decidi ir ao bar e levantar um pouco o teor alcoólico do meu corpo com uma cerveja.
    Quando cheguei lá, foi só sentar e já dei de cara com o “Bafudo”. Na mesma hora desisti de acender o cigarro que já prendia entre os dentes... Por quê? Ora, ainda perguntas? O Bafudo não leva à toa este apelido. O exalar de seus pulmões não parece mais ser gás carbônico. Ele é uma verdadeira destilaria ambulante e o que sai de sua boca é vapor de álcool e eu não estava a fim de provocar uma explosão. Ainda mais naquele bar, que por enquanto está anônimo, porque o nome do registro não foi aceito. Iria se chamar de Bar Bum-Bum.
    O garçom demorou tanto tempo para trazer a cerveja que até já havia perdido a vontade em bebê-la. Sorvi um gole. Olhei ao meu redor, nada de Bafudo. Acendi um cigarro, segurei o coração, esperei um “bum”, mas nada. Tomei mais um gole, mais uma tragada, de repente senti o ar etílico. Era Bafudo que voltava da privada. Cruzei todos os dedos que tenho mas não adiantou: Bafudo veio sentar-se a minha mesa. Ele pousou um cotovelo na mesa, e o outro, da ponta da mesa escorregou, vindo a fixar-se na sua perna. Ficou feito um cabide pendurado no armário com a calça toda encolhidinha para um lado; olhos vermelhos que transmitiam vigilias de mais de mês;  cabelo alinhado como galhos de plátano. A barba, pelo que demonstrava, não via a loira da gilete há dias. Esboçou um sorriso semi-cerrado enquanto levantava uma sobrancelha. Vi que os poucos dentes que lhe restavam nunca tiveram o carinho de uma escova e que o sabor do creme dental ainda não fora computado em seu paladar.
    Neste ínterim, seus olhos já denotando um certo grau de catarata, começaram a brilhar lucifericamente (nem sei se este termo existe). Levantou a outra sobrancelha e eu me encolhi o quanto pude. Bafudo falou:
    - Hic, ... tu qué vê coisa... hã, ...bonita? – baixou a cabeça balançando-a num vai-vem. E, mexendo o indicador da mão direita desconcertado, concluiu: - Coisa bonnnita!
    Não respondi, pois aquela pergunta me pegou de surpresa. Fiquei curioso: que coisa bonita um bêbado como o Bafudo podia me apresentar? Enquanto pensava, o indicador de sua mão direita continuou balançando, agora traçando no ar um Ou-vê-ou-vai todo mole, fora do ritmo. Vi que ele queria dizer-me mais alguma coisa. Fiquei aguardando. Mas, o estado etílico do Bafudo estava muito além do ponto de ele poder raciocinar.
    Enquanto esperava o desfechar do pensamento dele, sem mais sem menos, surgiu a nossa frente o Aristides. É conhecido como o “inteligente” só porque usa óculos para miopia. E, convencido como em mil outras vezes, já saiu profetizando:
    - Ou um não vai com a cara do outro, ou vocês dois se entendem tão bem que nem precisam mais falar para trocarem idéias.
    Aquilo me picou: onde ele teria arranjado aquela segunda hipótise tão pamonha? Ainda bem que meu punho não responde às primeiras ordens do meu cérebro, senão já teria aumentado a sua conta no dentista. E o Aristides:
    - Qual é o problema?
    E o Bafudo:
    - Probbbbb... ...lema?
    - Sim, qual é o problema?
    Bafudo meneando a cabeça, olhando para o nada no chão, respondeu:
    - O probbbbblema é o pro...blema! Beba um pouco e o pro...blema será só o p...roblema.
    Com esta saída, não aguentei; deixei o Bafudo com sua combustosa atmosfera e chamei Aristides para um canto:
    - Já ouviste falar de alguma coisa bonita que um bêbado possa mostrar?
    - Nunca! – Respondeu-me ele. – Como é que um bêbado vai ter algo bonito para mostrar? Mas, se ele tem algum segredo, que tal tentarmos arrancar dele deixando-o mais bêbado?
    - Hum... a idéia não é má! Deixa eu ver... Já sei! Vamos pagar um martelinho para o Bafudo. Quem sabe, ele não se abre pra gente!
    - Vamos!





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    Pago o quinto martelinho. O bebum nada revelou. Desistimos.
    Resolvi segui-lo no dia em que estivesse lúcido. Decepção: Bafudo só está lúcido – ou quase – qando vai à Missa nos domingos de manhã.
    E agora? O triste é que eu sou tremendamente curioso e acredito neste provérbio: “crianças e bêbados nunca mentem”.
    Sucedeu-se que eu fui me tornando amigo de Bafudo e, com o azar dos diabos, quanto mais amigo ficava, mais descia o meu conceituado e nobre nome. E de tanto que enchi sobre aquela “coisa bonita”, ele resolveu fazer greve das palavras “coisa” e “bonita”.
    Mas não desisti; ora, meus olhos tinham que desfrutar, e desfrutar muito bem essa “coisa bonita” depois de todas aquelas horas de sono de etílica perdição! E todo o dinheiro gasto em martelinhos? E aquele bafo de guarapa amanhecida com o qual tive conviver horas e horas, ouvindo falar  sobre os antepassados da quinta geração, os quais compraram as terras atrás do rio com meia dúzia de patacas?



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    Domingo. O sol estava tão quente e faiscante que até os tanques de água estavam sujeitos a se desidratarem. De tanta água que já tomara, toda a vez que me virava na cadeira de preguiça, escutava aquele barulho chato de água se nivelando com o meu corpo dentro do estômago; dava-me a impressão de estar puxando a descarga da privada: chlong-chla-chaaaaaaa. Depois, vi tanta gente indo ao balneário e de todos os jeitos (a pé, a cavalo, de bicicleta, de carro) que resolvi ir também.
    Fiquei mais de uma hora na água aproveitando sua doce massagem. E como foi divertido ver a simplicidade deste lugar: as garotas tomando banho de calcinha e sutiã com toda a descontração. Elas se atiravam na água e a água baixava tudo. As senhoras de respeito tomavam banho de saia e blusa e a questão do respeito se tornava crítica. Crítico mesmo, se tornavam os homens que andavam na água de cuecas. Alguns menos ousados, tomavam banho com aqueles calções tipo “brisa balouçante” dentro dos quais tranquilamente caberiam dois homens.
    Eu olhei. E olhei mesmo, afinal, era exposição gratuita e divertida. Meu calção velho e desbotado dos tempos do colégio, era luxo diante de toda aquela simplicidade. Banho de sol era privilégio daquelas que vieram especialmente à cidade comprar o seu maiô ou biquini. Tanga o padre proibiu: “É imoral”! E o povo creu e cumpriu. Ademais, eles nem sabiam ao certo o que era tanga. Alguns até achavam que era como os índios andavam: com aquelas palhas desajeitadas assando tudo.
E a mãe não tirava os olhos da filha, a qual não tirava os olhos do primo. E o pai não tirava os olhos da cueca do filho: mexeu, vai para casa. E o filho não tirava os olhos das semi-escondidas nuances da vizinha, a qual punha tudo quase a descoberto. E o padre nunca foi lá senão já tinha pedido transferência. Quando a mãe tirava os olhos, a filha mergulhava e se escondia no meio de bolinhos de garotas burburiantes e cheias de cochichos comprometedores. Mas, os olhos detetivescos da mãe, em uma única singrada já descobriam a filha pois, o sutiã que ela usava, a mãe lhe dera em seu último aniversário. Às vezes, as gurias para realmente enrolarem suas mães, se viravam contra a margem do outro lado do rio e trocavam as partes de cima, aproveitando o descuido delas. E as mães custavam a redescobrir o paradeiro das mesmas. E o pai via o filho com o ... em condições de cartão vermelho, mas fazia de conta que não via.
Lembrava-se dos tempos em que ele, só de enxergar a vizinha subindo no cavalo, aparecendo aquele topezinho verde-água na amarra do calçolão logo acima do joelho, ficava em condições bem piores.
    Virei-me para um lado onde só tinha água e mato, sem ninguém (pelo menos aos meus olhos) e, como um relâmapago atavesaram minha mente as palavras “coisa” e “bonita”. Depois da greve do Bafudo quase já havia esquecido estas palavras, mas agora novamente despertaram. Pensei para mim mesmo: “Será possível existir coisa mais bonita para se ver do que isto aqui?
    Os meus pensamentos foram dissolvidos por risadinhas típicas, parecendo ser de duas crianças com um brinquedo novo. E eram duas crianças adolescentes com o brinquedo da adolescência. Entre toda a balbúrdia não foi difícil encontrar os autores: estavam um pouco mais retirados da maioria e protegidos por uns ramos de salseiro que pairavam sobre a água. Discretamente fiquei olhando. Reconheci os dois: eram Senira e Alberto. Estavam jogando água um no outro quando ela escorregou e um galho discretamente se enganchou no sutiã deixando o seio esquerdo à mostra. Senira nem se importou e uma garagalhada forte ecoou pelos peraus do rio. Alberto achegou-se rapidamente no intuito de tocar, buzinar, mas,  para ele foi uma experiência malfadada: acabou com um tapa estalante e o filme também terminou. Antes do tapa invejei Alberto; porém, após o mesmo, até eu senti minhas bochechas formigarem com tamanho pranchaço.
    Eu não fui o único espectador. A mãe de Senira também viu. Ela, como mãe zelosa que era, foi e arrumou barulho com seu Antão, o pai de Alberto. Isso aconteceu no gramado à beira do rio e logo o lugar transformou-se em arena:
    - Seu formigão de uma figa! Olha só o que o tarado do teu filho foi fazer com minha filha!
    - Olha sua vaca! Se a tua filha puxou por ti, trata de fazer com que ela não cometa tantas besteiras como as que tu cometeste e carregas contigo.
    - Mas olhem só! Ele além de ser conhecido por todas as putas da região ainda é safado e atrevido!
    - E de todas, tu és a  mulher que me conheceu  melhor que qualquer das outras.
    - Corno, tarado e sem-vergonha. Vai encontrar tua turma, ora!
    - Você que é barranqueira, sua puta. Vê se cria sua filha e não a joga no mundo.
    Iam começar a se esmurrar quando a discussão foi dissipada pelos demais.


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    Pensei em tomar alguma coisa. Estava com muita sede. O bar mais parecia uma cabana de Honolulu do que um bar. Ia sentar, mas uma voz desfez aquele ato. Era Bafudo me chamando:
    - José, vem aqui Quero falar contigo.
    - Comigo? – Respondi inseguro.
    - Já se esqueceu? – disse ele. – Lembra?... Coisa... bonita?
    Titubiei. Tive alguns segundos para me decidir: porém como Bafudo parecia estar lúcido, fui e sentei com ele. Para minha surpresa, a atmosfera realmente estava limpa, sem aquela típica aura etílica, particularidade específica de Bafudo. Interessei-me pelo caso:
    - Por que falou “coisa bonita”?
    Ele desviou do assunto:
    - Coisa feia, isto sim!
    - Como assim? – insisti. – Você parece hoje estar com uma saúde dos diabos...
    - E não é para estar? – retalhou-me irritado. – Este calor não está sequer deixando minha cerveja em paz!
    - É, está quente mesmo! ...A cerveja está morna.
    - Ouvi dizer que na cidade já existem copos especiais, os quais não deixam esquentar a cerveja; deveríamos comprar e experimentar para ver como é.
    - Que cidade! Que cerveja! Até trazermos os copos até aqui, derreterão.
    Tive que rir:
    - há, há ,há, não são copos de gelo, seu Alírio (que é o nome do Bafudo). São copos de alumínio, com paredes duplas e água entre elas, que você congela e assim, mantém a cerveja gelada por mais tempo.
    - Vá, vá, vá! Só em falar esta baboseira a cerveja esquentou mais ainda. Acho até que isto aqui nem tem álcool, ou, está evaporando muito ligeiro.
    - Pois é! Já não se faz mais cerveja como antigamente.
    - Bom, nisto eu concordo. Agora: que se faz mulher bem mais boa das do meu tempo, isto eu discuto! Olha só aquela ali – apontou: - É mulher para ninguém botar defeito. Dá vontade de sair correndo atrás e dar uns beliscões, até para um velho como eu, hê, hê, hê.
    - Com certeza, seu Alírio. – Atalhei.
    - Há, há, é bem boazuda!
    Olhei em direção que ele apontara e a referida mulher era feia, murcha e enrugada. Tinha um par de ancas salientes parecendo uma âncora de navio. E, antes que ele decidisse correr atrás daquela assombração, arrisquei:
    - Coisa bonita, seu Alírio!
    - É, mulherão!
    - Não, não, não. Não me referi a isto. Sabe, aquele outro assunto, “coisa bonita”. O que tens para me falar a respeito?
    - Ora, ora. ...Tu já te esqueceste das coisas bonitas que eu ia te mostrar?
    - Sim, é que...
    - Fácil! Está logo ali.
    - Aonde? – Ele não mostrara. Nervoso e excitado, falou:
    - É só dobrar ali – apontou – onde o rio faz a curva e ver o “paraíso”.
    - O paraíso?
    - O paraíso!
    - Mas, é tão mais bonito e prometedor do que estas belezas que estamos enxergando por aqui?
    - Mais! Muito mais!!
    - Tens certeza?
    - Tenho! É muito mais fascinante e bonito! Ninguém poderia imaginar tanta beleza escondida somente atrás daqueles salseiros e maricás.
    A partir daquele momento não consegui mais sentar direito. Minhas nádegas começaram a formigar e eu tentava de qualquer jeito desvencilhar-me da ansiedade do desconhecido tão perto e palpável. Não via a hora de acabarem as três cervejas mandadas servir por mim mesmo.
    Após um século de dez minutos, distribuindo cerveja para todos os integrantes daquele balcão, tomei o último gole e saí de rasteira, discretamente. Bafudo quis vir comigo, mas o despistei: deixaria de ser o paraíso caso ele botasse os pés lá.
    Durante a caminhada deu para ver muita coisa: a Marisa, galinha como sempre, estava de rachar. Sua boca, mesmo com batom de morango ou cereja, não escondia o gosto dos beijos de vários cavalheiros desdentados. E Marisa, à beira-rio, balançava no ritmo melancólico do sambanejo, desecontrando o ritmo com os quadris em contratempo. E neste embalo ralava suas intimidades no biquini branco com manchas de barro na bunda, denotando íntimo prazer. Um cara cabelo cor foguinho estava a sua frente a espreitá-la como se ela fosse uma pitonisa sem notar que o prazer quem lhe dava era o roçar do biquini no meio dos quadris. “Felicidades”, pensei. Olhei para trás; Bafudo me seguia de longe. Agora senti ele ter-se tornado um empecilho em minha vida e não via a hora de não vê-lo mais. Mesmo remoendo um leve remorso sobre o lugar da “coisa bonita” pois quem me falou sobre ele fora Bafudo, eu queria chegar lá sozinho e desfrutar de todos os seus encantos.
    Muito mais coisas presenciei durante a minha caminhada. Inclusive a Rosalie que sempre fora recatada, com cara e trejeitos de freira, estava sentada no colo do Davi e os dois estavam num arreto sem igual. Ele já passara da ‘bandeira vermelha’há muito tempo. E ela sabia disto e estava sentido prazer em acariciá-lo justamente na ‘bandeira’.
    Eu continuei em passos largos em direção à curva do rio. A poucos passos, uma voz me segurou:
    - José?
    Quis dar a impressão de não tê-la ouvido. Continuei caminhando...
    - José!
    Era uma irresistível voz feminina. Vinha do rio e cedi aos encantos da voz lírica de Lucena. Abanava freneticamente me chamando. Estava irresistível, quase nua em seu pequeníssimo biquini amarelo de bolinhas pretas.

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    Saiu muita conversa fiada tipo chá morno. Porém, esta conversa sobre amenidades deu-me tempo para fazer uma análise metódica de suas curvas, com vista panorâmica através das transparências até as mais recôndidas particularidades; ter pensamentos libidinosos, inimaginários e... bem, eu conto:
    Lucena escorregou numa pedra. Que cena! Ela queria apoiar-se em mim para não cair e eis o resultado: ambos escorregamos. Mas aproveitei! Segurei-a desajeitadamente firme contra mim. Senti a voluptuosidade dos seus seios rechonchudinhos enquanto levantávamos. Ela sorriu maliciosamente porque sentiu meu tatear em seus peitos, mas o meu olhar picante e ao mesmo tempo ingênuo, fê-la ficar sem jeito.
    Ficamos parados frente-a-frente durante alguns minutos, ela me fitando e eu fitando os dotes dela. Seu coração parecia estar no meio dos seios, pois via a massa deles pulsando ofeganetes, cheios de tesão, como se quisessem algo mais. Tentei levar a mão até lá, mas cordialmente sua mãozinha de fada me desfez do intento. E, antes que ela pudesse falar algo, a convidei par ir passear na minha casa, o que ela prontamente aceitou com um brilho a mais em seu olhar.



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    Vi-me outra vez caminhando ao “paraíso” de Bafudo. Por falar nele, tinha-o perdido de vista. Faltava pouco para chegar. Pensei: “Quase!” Mas não havia me dado conta do sumiço do sol dando lugar a uma nuvem “pretésima”. As gotas grossas me deram este recado. Saco! Tive que voltar correndo e recolher minhas roupas para não molharem. Cá entre nós: as roupas não importavam. Porém, entre elas estava enrolado um radinho daqueles do Paraguai, fruto do décimo terceiro salário, o qual não podia deixar molhar.
    Em vista da chuva, a algazarra foi total. A gritaria botava à prova qualquer decibelímetro. Era gente correndo para todo o lado buscando abrigo sob os salseiros. Os mais sortudos estavam se apinhando embaixo do telhadinho do bar. Tudo se misturava: felicidade, pavor, tristeza, satisfação, aflição. Mães em busca de flhas fujonas e rapazinhos tentando escondê-las, dava aos montes.
    Esperei a chuva passar, mas ela só amainou, fechando o céu por completo. Resolvi voltar para casa.



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    De noite, no Bum-bum, aquele papo incrementado entre os disputadores frenéticos. Domingo de noite: dia de confissões, apostas e propostas. Fernando confessou:
    - Isa quase baixou a calcinha pra mim lá embaixo dos salseiros dentro do rio!
    Rogério, com aquela cara repleta de acnes, cravos e espinhas em errupções contínuas, retrucou:
    - Claro, ela estava a fim de fazer pipi e tu já achaste que toda aquela cerimônia era só para ti.
    Gargalhada geral. Fernando enrubesceu e ficou do tamanho de uma formiga. Ainda tentou argumentar mas sua voz foi abafada pela zoeira criada ao seu redor pelos frequentadores do bar.
    Assistindo aos duelos grátis, conjeturei meu programa do próximo fim-de-semana: ver o “paraíso”.
    Aos poucos o tumulto foi diminuindo, voltando à conversa sobre os acontecimentos do balneário.
    Bafudo estava sentado num cantinho do bar com sua bebedeira. Arrotou.
    E, Fernando, sentindo-se ainda emocionado com a humilhação de poucos minutos atrás, começou terrível luta com os seus gases intestinais querendo sua liberdade. Expreme daqui, expreme dali e não deu para segurar. Peidou. A atmosfera nauseou. O bar se transformou  numa bomba de enxofre. Todos taparam o nariz, inclusive eu. Alguns correram à rua para tomar um arzinho puro, e, Fernando diminuiu mais um pouco, ficando do tamanho de uma pulga muito fedorenta! Só Bafudo ficou indiferente, não se importando com o cheiro. Mas, conseguiu atirar aquela pedra típica daquelas ocasiões:
    - O ppppppor...co!
    Aristides, que também estava lá, saiu com mais uma de suas filosofadas de botequim:
    - “Seu” Alírio, é melhor um porco embaixo da mesa do que um em cima dela.
    A turma vaiou. Em sinal de revolta seguiu-se uma série de arrotos melódicos e alcoolizados.
    Com essa, conseguiram diminuir mais um. Aristides sumiu atrás de seus óculos e naquela noite não mais falou. Só assistiu.
    Rogério tentou:
    - Aposto que a Chiquinha brigou com Alcebíades!
    Murmúrio geral. Entre sins e nãos, todos achavam que estavam com a razão. E Raul:
    - Aquela fofura só gosta do dinheiro de Alcebíades. Ele é velhaco, frouxo, careca e brocha e garanto que...
    O bar silenciou. Entre la-la-ri-la-la-rás e risadinhas disfarçadas entrava no recinto o casal comentado. Raul enrubesceu. Conseguiu acender um cigarro no lado do filtro, queimar os dedos e derrubar dois copos de cerveja. Chiquinha e Alcebíades compraram sorvetes e nem notaram o ambiente confuso (ou só fizeram de conta). E a conversa continuou animada sobre futebol. Assim que o casal saiu, sumindo na esquina, voltaram às fofocas:
    - Fofura! Te adoro!
    - Gostosa! Este frouxo não aguenta nem meia...!
    - Vem aqui, benzinho!
    Rogério falou:
    - Vocês viram o par de coxas que este mulherão tem?
    - Vimos! – Disse eu. – Só que ela tem dono, não viram?
    - Mas ela é muito gostosa! Aquela bundinha rechonchuda e estes cochões saindo daquele short colante é demais! Ô sortudo do Alcebíades! – Retrucou Rogério.
    Ainda foram delineando aquela mulher com frases sutis.
    E, na conversa entre os frequentadores, surgiu mais uma confissão. Era Leandro e seu lamento:
    - A Lia nem sequer olhou para mim no balneário. Certamente está virada para os carinhas de São Leopoldo que estavam lá querendo aparecer com suas motos.
    - Pô Leandro, tu também não ajudas! – Disse Rogério. – Como é que ela iria olhar para ti com esta cara inchada? Não te mandei beijar as abelhas.
    Risada geral. Leandro respondeu:
    - Mas não é ferroada! Eu estou com o dente inflamado e não tenho coragem de ir ao dentista.
Gargalhada geral. Leandro não entendeu logo o porquê dessa hilaridade. Pensou um pouco e já lhe veio à mente o resultado: resposta cretina! Confissão pamonha! Boca grande! E seu grau de galã conquistador se diluiu junto com a dor que vinha sentindo frente aos debochados colegas:
    - Que homão!
    - Machão!
    - Bota batonzinho na boquinha, bem!
    - Já marcou hora na manicure, “Léia”?
    E os deboches se estenderam ainda piores por frases afeminadas. Para rescaldar o calor acirrado e eufórico de todos, o dono do Bum-bum disse:
    - Já passa da meia-noite. – Abanou as chaves. – Hora de fechar! Vamos terminando os tragos, as cervejas e dêem o fora.
    Para a turma só restou obedecer. Bafudo, como sempre, foi arrastado por nós até a margem da calçada em frente o bar e deixado ali. E nós fomos para casa fazendo a mesma arruaça de sempre: cantamos a plenos pulmões “parabéns a você” par os vagalumes. Piadinhas, risadas, gritos e tropeços, tudo fazia  barulho naquela saída do bar.




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    Segunda-feira: dia de “São Pega”. Trabalhei como tartaruga, só que o peso do casco parecia estar sobre a cabeça e não sobre o corpo. A ressaca se misturava com a sensação de não ter alcançado tudo o que queria no último fim-de-semana.
   De terça em diante a semana passou ligeira. Porém, mesmo assim, pensei mais de mil vezes em “paraíso” e  “coisa bonita”.
    Chegou o sábado; programa da noite: Bum-bum! Desta vez estavam todos atentos às teorias do Fredes Maus, célebre filósofo e beberrão. Aliás, ele era o tipo da pessoa que possuía um conhecimento muito grande sobre assuntos dos mais variados, mas, quando bêbado, se tornava um chato inaguentável. E, tranquilamente posso garantir que ele já estava meio tocado: as palavras fluiam muito fáceis e borbotavam enroladas e salivadas feito um córrego turbulento entre pedras:
    - ...porque aquele moinho concebeu espíritos e fantasmas e... qqquem passa lá à noite é tragado pelas Úrias e Higi... ã, há... Higíades massacr...adas e pppurificadas aos deuses dos antepassados índios, qqque outrora, em épppocas remotas, habitavam esta terra e... este lugar sssinistro traga o bolor dos defffuntos! Aqqquela umidade é um antro ppperfeito para os mor... ã, mmmorcegos e vampiros; seus gritos se ouvem nas nnnoites gggélidas e temp...estuosas. É a voz das Higggíades pedindo ppperdão para todos os hommmens que deixaram de amar. As Úrias gggozam e se regggozijam nas fffrestas bolorentas, com qqquilos de teias de aranha, pelo bbbem que fizeram a tttodos os ssseus amantes e sssentiram o calor de  seus cccorpos e, ...agora gggélidos, sssombrios e macabros. E a roda do moinho não mais gggirou para deixar as dddeusas em paz. Eu viii! ...eu sssei, eu ...ppposso dizer!
    Palmas. Entre muito-bens e urras, alguns protestos e certas dúvidas:
    - Que é Úria e Higíade:
    - Ora, o que isto importa? Deixa ele contar mais!
    Fredes Maus continou:
    - Fffaço questão de exppplicar: Úrias eram as vvvirgens pppuras, indes...bravadas e Higíades eram as mulheres pppolutas e qqque já haviam se al...covitado innnúmeras vezes com mmmachos e gggaranhões. Em cada Lua nnnova era sssacri...ficada uma Úria e em cccada Lua cheiiia era sssacrificada uma Úria.
    - Esta conversa não está fechando. E as Higíades? – Perguntou Rogério.
    - É, e as Higíades? – Perguntaram vários em coro. Fredes tentou responder:
    - Aaacccontece que as Higíades eram potttentados dos demmmônios e...
    - Bu-u-u-u! Mentiroso! Está inventando! Cái fora bebum! – Vai procurar tuas divindades, mentiroso beberrão! – Gritaram todos irados com a esfarrapada conclusão da história contada por Fredes.
    Ele, pomposo e imponente, apesar da bebedeira, não quis se fazer derrotado:
    - Não, por obbbséquio! Foi o espppírito do grande Tugirô que me trouxe à luz estas revelações e idéias e...
    Bagunça geral. Embora todos soubessem, sem exceção, de que aquilo tudo saíra do cérebro apopléptico de Fredes Maus, agora protestavam. Ao mesmo tempo, Bafudo no seu cantinho de sempre, entrou em discussão com Rovaldo, outro deliriumtremensmaníaco. Algo havia dado errado entre os dois, e bêbados como eram, provocaram-se como de costume; Bafudo disse:
    - Se é homem, vem aqui e me bbbate!
    E Rovaldo:
    - Eu vou tomar mais uma cccerveja “para colocar as idéias no lugar”, e depois veremos qqquem é homem aqqqui ou não é.
    Na confusão, Fredes tomou a deixa de “se é homem” para si, achando que os dois estavam insinuando a respeito de sua condição macha. Seus olhos se iluminaram e pareciam querer pular para fora das pupilas tamanha era sua ira. Cerrou os dentes nicotinados, cravou os dedos de unhas sujas nas palmas das mãos cerrando os punhos e, inflamado grunhiu:
    - Ah é? Eu ppprovo!
    Todos se entreolharam atônitos, pois não sabiam do que ele estava falando.
    Fredes subiu em cima da mesa do bar usando a cadeira como escada, ajudado pelos presentes que estavam curiosos para verem o desfecho deste episódio.
    Fredes, num lance inesperado, baixou as calças, deixando à tona um pirulitinho castigado pela manguaça emoldurado por um moitão de pentelhos grisalhos encobrindo um saco murcho e desparelho. Aos seus pés, a calça toda amarrotada e uma cueca encardida, sinalizando anos de uso. A turma calou. Ficaram se entreolhando boquiabertos, sem nada entender. Aliás, ninguém entendeu o motivo de tal atitude. A provocação não tinha sido com ele. Tudo terminou com a intervenção do dono do bar, um cara mal-humorado, de mal com a vida, que o varreu de lá, mandando sungar as calças e descer da mesa:
    - Lugar de exibicionista é na rua!
    O dono do bar o agarrou pelas panturrilhas deitando-o nos ombros e o carregou para a rua sob os protestos de Fredes e dos frequentadores do bar. Ele sumiu na escuridão da noite grunhindo palavras de ordem.
    A rinha que havia inflamado Bafudo e Rovaldo amainou. Acharam graça. A cerveja de Rovaldo foi repartida entre os dois como se nada tivesse acontecido entre eles.
    Fernando aproveitou a hora da intensa gozação sumindo de mansinho. Começaram a encher comigo, mas não perdi o embaraço:
    - Daqui a pouco o José vai ter mais alguém para sustentar. A Lu (apelido de Lucena) está com uma cara de “quero José” que, deste jeito, até a metade do ano junta os trapinhos contigo.
    - Bem, Rogério, pelo menos ela está de olho no cara certo! – Respondi.
    Rogério, sorvendo mais um gole de cerveja, continuou:
    - A barra estava pesada! Quando estiveste com Lu, a Luzia te viu e quase teve um colapso. Não fossem as amigas dizerem a ela que somente estavas ensinando a Lu a nadar, ela teria se intrometido na tua festinha no meio do rio.
    Eu ia responder, quando Rômulo ficou pirado por ouvir falar em Luzia. Levantou da cadeira onde estava sentado, estufou o peito e gritou:
    - Quem falar mais uma vez em Luzia aqui dentro, leva pau!
    - Calma, calma! Eu não pensei que o negócio era tão sério entre vocês dois. – Argumentou Rogério. – Quando vai ser o casório?
    E Rômulo, já um pouco menos irritadiço, amainando:
    - Bem, também não tem tanta urgência. ...He, he, he! Primeiro quero experimentar o pasto em todo o potreiro, antes de  ficar no curral e só mais me sobrar o feno para comer.
    Surgiu um burburinho entre aprovações na maioria e alguns desaprovando o modo de pensar de Rômulo. Eu, por minha vez, tentei derrubar a arrogância de Rogério, que aquela noite estava de dono do espetáculo, assumindo todos os argumentos, deixando pouca vez para os outros frequentadores do bar. Aliás, ele sempre mostrava ar de líder.
    Eu havia achado àquela semana uma folha de papel toda amassada na rua e, por desgraça dele, era uma super carta de uma pretendente distante. Blefei:
    - Vocês sabiam que o Rogério foi assaltado?
    Perplexidade geral. A turma se entreolhou incrédula. Paulo iniciou perguntando, seguido de outros:
    - Não, quando?
    - É?
    - Não acredito! Conta outra.
    - É verdade?
    - Conta, Rogério!
    - Mas eu nem sei do que se trata! O José está inventando. Eu nunca fui assaltado em toda a minha vida.
    - Ah, é? – Retruquei. _ Eu provo: ...como apareceram aquelas cartas que recebeste da Isaura lá na casa da Alzira?
    - Há, há, há! Que mentira mais grosseira, José! Conta outra! Quem iria querer roubar cartas da Isaura para me comprometer com a Alzira?
    - Ora, alguma garota que esteja afim de ti. – Disse Paulo. Vi que a turma ficou muito curiosa e intrigada. Então falei:
    - Posso provar para eles que estou falando a verdade? – Apontei para a turma fitando Rogério. – Olha que eu provo...
    - Se for verdade, quero a prova! Mete aí! – Disse Rogério incrédulo enquanto tateava a borda da mesa sobre a qual estava sentado para se reequilibrar.
    Tirei lentamente aquele papel de carta amassado do bolso de minha calça, desdobrei, alisei o papel com a costa da mão e disse:
    - Olha só: achei esta carta na calçada em frente à casa de Alzira e vou ler ela do jeito como Isaura a escreveu.
    - Ainda não acredito! – Disse Rogério. E eu iniciei a leitura daquela carta:
    “Rincão da Boiada 17 de 12 de 19 e nonvenda e dois Meu ederno Rogério eu esto com umas sautades do tiabo Sabe eu adoro tu e de amo de morer O peijo que tu me teu fes arter minia boca de rajar e sindo ele até oje De espero noite e dia agui em casa e tu nunga abareceu A mae adé aja que desisdiu de me visidar agui mas eu náo ganso de esberrar. A vaca gue tu teu o nome de alcira chá deu um derneiro dão bonidinho gue eu adé bensei empotar o deu nome. Rojério é o nome mais bonitogue eu chá vi a máe manda lempransas O pai dá com picheira na berna guase náo pode gaminiar to bassando aguela bomadinha dransbarrente que tu esgueseu agui e eu ainda náo sei aonde tu esdava majucado e to dratando com amor e garrinio assim com vou dratar tu guando cassarmos eu de amo e sempre esberro gue tu vem agui. A claudia guebrou sinco tentes e bassou na escola a juva esta crossa e frialenta assim náo bresicei cabinar na rossa e eu dive tempo de escreverte esta garta esberro gue costou do que escrevi um peijo mais artente gue o guando tu me teu guando estive a ultima ves agui. Sua sempre ederna e berbetua namorada de todo o tempo.
    Isaura Desgulpe de eros e letra”
    Durante todo o tempo da leitura desta singular carta, as risadas e gargalhadas eram tamanhas, que várias vezes me senti obrigado a interromper, esperando amenizar o rompante de hilaridade.
    Após a leitura, muitas gargalhadas ainda ecoaram, seguidas de tosse seca e nicótica de alguns frequentadores do bar.
    Rogério, sem jeito, completamente enrubescido, tentou consertar:
    - Podem rir! Ela pelo menos demonstrou sua paixão por mim nesta carta, e, além do mais, apesar dos “eros”, ela é muito gostosa.
    - Ai, me dói a barriga de tanto rir! Imagina como fica naquela hora: “rochério, rochério bode potar, eu costo costossão!” – hahahaha.
    - “Me embresta a bomadinha transbarrente, rochério?”
    - “Que peijo artente gue tu me teu na poca, rochério! Minha poca guer um peijo bem costoso mmmmmmmah!”
    - “Com tantos eros du vai erar a bondaria, rochério!”
    - “Não dá com pijeira também? Há, há há.”
- “Guer acora com bomadinha? Vem rochério, vem, eu basso a bomadinha bara di!”
    ...E assim por diante. O coitado do dignatário da missiva enfiou goela abaixo um martelo de cachaça para ver se apagava a toda a gozação por cima da carta errada da pretensa namorada. A partir daquele dia, Rogério ficou conhecido como “Vaselina” ou, o vulgo “Bomadinha”.
    Bafudo e Rovaldo continuavam absortos em sua ebriedade não se dando conta de tudo o que ocorrera.
    A folia foi além das duas da madrugada quando, abanando as chaves o bodegueiro anunciou o fim do expediente. Saimos. Na volta para casa, a mesma coisa: folia, cantos, arrotos e gritos. E desta vez, também falando errado como na carta que eu havia lido.



                 *****************



    Domingo às oito, antes de começar a Missa, o padre já soubera do ocorrido com Fredes Maus. Também, as velhas beatas moradoras nas imediações do boteco, que sofrem de insônia por não terem outra ocupação senão orar, viram tudo. E contaram. Com certeza ainda fizeram o estardalhaço bem maior do que acoantecera. Não deu outra: o sermão todo foi dirigido ao combate do despudor. Fredes já nem se lembrava do que fizera de tão bêbado que ele estava na véspera. No fim do sermão, todos aceitaram e creram.
    À tarde, sua santidade, o balneário Vale-Tudo. Ninguém ali lembrava mais as palavras do sermão da manhã. E todos ficaram à vontade.
    Antes de qualquer coisa, empenhei-me em dobrar a curva do rio e ver o “paraíso” de Bafudo. Está na cara que fiquei trancado algumas vezes durante a caminhada. Inclusive a chata da Ressinda me tomara alguns preciosos e infindáveis minutos: queria jogar víspora comigo à noite. O problema de Ressinda reside em ela ser viúva e ter um filho de oito anos. Já estive outras vezes na casa dela e o guri enche tanto o saco da gente, que não existe qualquer outra vontade sem ser a de ir embora. Por outro lado, é uma mulher e tanto! Toda malhada, ‘fitness’, geração saúde. Nem parece ser mãe e ter mais de trinta anos. Porém, neguei. Quase neguei também entrar na água com a Jerusa. Ela qeuria aprender a nadar e era eu quem tinha que ensiná-la. Analisei, pensei, ponderei, ...a água do rio Caí estava uma delícia: limpinha, morna e serena. Por fim, acabei aceitando. Afinal, não perderia nada em manter aquela sereia por algumas horas em meus braços.
    A aula começou. Fi-la deitar de bruços sobre meus braços dentro da água e a mandei bater os braços e as pernas com toda força. Aquela hora eu quisera estar de óculos escuros para que ela não visse para onde eu estava olhando. Sinceramente, fui obrigado a olhar; aquelas coxas batendo num vai-e-vem reverso faziam balançar aquele belo par de nádegas, roçando aquele biquini surradinho, e já meio puído entrando no rego a meio metro de meus olhos! E o jogo do enche-daqui enche-dali me cativou a tal ponto que, inconscientemente, esqueci que era eu o seu aporte e a soltei. No mesmo instante ela afundou como se fosse uma pedra. Ajudei-a a se reerguer. Já de pé, maliciosamente ela deu um “bundaço” nas minhas partes me intimando a não repetir o ocorrido; seu “maninho” de um metro e noventa estava de olho em nós. Resolvi recomeçar a aula antes que algo acontecesse. E, no vai-e-vem das pernas, mais uma vez fiquei quase vesgo olhando de lado para que ela não notasse. E os seios... Ah, eles roçavam em minhas mãos e a danada da Jerusa sentia isto. Mas, senti que tudo não passaria desse ponto naquela tarde e que ela estava só me usando. Assim, logo desvencilhei-me sob seus protestos e com a promessa de no próximo domingo dar-lhe mais uma aula. Agora continuaria a minha pesquisa sobre o “paraíso” de Bafudo.
    Enquanto me dirigia até a margem do rio, dava para ver no gramado de sua beira diversas pessoas se divertindo, tomando banho de sol e sempre algum homem mais velho do lado de sua esposa olhando discretamente o bumbum das meninas tomando banho de sol.





    Saí da água exatamente nom momento de presenciar uma disputa entre dois motoqueiros de fora, por uma garotinha espertalhona e aproveitadora: a Mâni. Ela era do tipo esguio, ágil e elétrica. Não parava nunca. Mas, seu rostinho sensual conquistava facilmente quem a via pela primeira vez. Um deles falou:
    - Belezinha, sobe aqui e vem sentir o poder da minha máquina. Garanto que nunca montou algo tão potente.
    - Não vai atrás, gata! Este amontoado de parafusos e tinta está mais ultrapassado do que ser virgem para casar.
    Mâni, com aquela carinha desavergonhada olhava ora para um, ora para outro, indecisa. Aí disse:
    - Ô cara, por que tua achas a moto deste aqui – apontou – tão velha?
    - Olha só: - disse o motoqueiro. – Ela ainda está cheia de cromados. A minha é moderna, possante, gostosa de andar e não tem estas coisas brilhosas e esquisitas só para aparecer.
    O primeiro motoqueiro, já bastante irritado com o incitamento do colega, resolveu se entrepor:
    - ô Gata! Não dá a mínima para este daí!  Os cromados da “bicicletinha elétrica” dele não existem porque estão enferrujados.
    O outro motoqueiro não gostou da brincadeira e os dois estavam afim de brigar. Foram dados vários tapas e safanões por ambos quando os espectadores intervieram. Apesar da relutância de ambos em ficarem rendidos pelas pessoas, acabaram acalmando. Então, Mâni chegou perto, encarou o da moto cromada e disse:
    - Esta coisa aí – apontou a moto – mais parece um garfo grande a fim de espetar quem a monta. Olha só: - e, caminhando ao redor dela – esta moto parece muito estranha. Não gostei. ...E a tua moto – apontou a do outro motoqueiro – mais parece ser de brinquedo, tamanha e a quantidade de plástico que possui. Vou sair... ...não, pensando bem, não vou sair com nenhum dos dois. Virou as costas e saiu rebolando ufana seguida de várias amigas, rindo às avessas da confusão criada por sua causa. Os motoqueiros se entreolharam. O mais alto falou para o outro:
    - Estas gurias do Caí são fogo, hein? As de São Léo são bem mais fáceis. ...Vamos tomar uma cerveja?
    - Vamos! – Respondeu o outro. É o que nos resta.
    Se abraçaram e caminharam em direção ao bar do balneário. No caminho, tiveram que desviar de diversos trazeiros de garotas estiradas ao sol por sobre o gramado, ocupando até as trilhas.
    Uns metros adiante, Bafudo com seu calção 1890, me aguardava. Parecia completamente lúcido. Estranhei muito esse seu estado já que vivia bêbado. E, ao me aproximar já saiu falando:
    - Olha José, se quer ver o paraíso, só com minha companhia. Não gosto que pisem no “meu” terreno sem minha companhia.
    “Se é terreno de Bafudo, que lugar promíscuo será este!” – Pensei. Mais tarde ficaria sabendo que aquelas terras todas realmente eram dele. Eu falei impositivo:
    - Está certo! Então vamos juntos.
    - Então vamos! – Disse ele, já demonstrando muita ansiedade para me mostrar as “coisas bonitas”.
    Atravessamos o rio com a água na altura das coxas. Cruzamos por Jerusa que ainda se encontrava na água e aproveitei para dar-lhe um beliscão. Ela se retorceu e me tapeou no braço. Na tentativa de me esgueirar para não ser acertado, me desequilibrei e caí na água. Jerusa deu uma gargalhada saudável e disse enquanto eu levantava:
    - Agora estou vingada! Também derrubei você, assim como fez comigo há pouco.
    - Daqui a pouco eu volto e vamos continuar esta brincadeira. Pode ser? – Perguntei. Ela assentiu com a cabeça me fitando com um olhar lascivo, boca entreaberta. Em seguida, ao ver Bafudo comigo, esperando pacientemente de braços cruzados terminarmos aquela conversa, mudou o semblante para interrogativo, desviando os olhos discretamente de mim para ele. Entendi sua dúvida. Era do tipo: “O que este manguaceiro está fazendo contigo aqui?” Eu expliquei:
    - Hã, Jerusa, seu Alírio e eu estamos atravessando o rio porque ele quer me mostrar uma coisa que ele viu lá.
    - É! – Disse Bafudo num tom desaprovador. – Vamos logo, José!
    - Na volta você vai ficar comigo e me ensinar mais um pouco a nadar, certo?
    - Com certeza! – Respondi para Jerusa.
    Continuamos andando pela água enquanto eu olhava para trás e fitava aquela garota linda e perfeitinha me seguindo com seu olhar, mais uma vez provocante.
    Aos poucos chegamos na margem oposta do rio onde só se via mato denso e baixo. Seguimos pela margem na beira da água desviando dos galhos das árvores e dos salseiros a se debruçarem para dentro do rio. Chegamos na curva. Meu coração bateu mais forte. “É agora!” – Pensei.
    E eis que o “paraíso” se nos apresentou. Olhei estupefato e a garganta com um nó me engasgando, me calou.
    Neste mesmo instante apoderaram-se de mim diversas sensações e vontades diferentes: palavras, gestos, momentos, aventuras, desejos, raiva, frustração, impotência, enfim: simplesmente sumi. Orgulho, vaidade e supremacia pairavam sobre aquela figura surrada pelos anos, que contemplava a paisagem com os braços completamente abertos. Com meu eu, se misturavam a raiva e a decepção de ter ficado duas semanas irrequieto para inebriar-me com a visão que estávamos tendo. Duas semanas intensas, carregadas de curiosidade para chegar a este resultado! Ao mesmo tempo, porém, me senti em paz.
    Após este silêncio parecendo infindável, Bafudo abriu a boca:
    - Então, José, isto aqui não é realmente a coisa mais bonita que existe? Isto não é o verdadeiro Paraíso?
    Eu continuava singrando as latitudes daquela visão, incrédulo. Bafudo continuou:
    - Isto não é mais bonito do que a mulher mais boa que existe? ...Isto não é de encher os olhos?
    - É, é! – Foi só o que consegui engrolar.
    Era uma vasta plantação de milho brotando!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Contos - BAILE DO INTERIOR 4

SUMÁRIO


CONTOS:
1 – Balneário Vale-Tudo
2 – Baile do Interior
3 – Incertezas
4 – Problemas em Família

Contos - BAILE DO INTERIOR 3

INTRODUÇÃO


Através destes quatro contos procurei recriar fatos comuns que acontecem no interior, em cidades pequenas como a nossa São Sebastião do Caí.
As duas primeiras estórias são leves, bem humoradas, retratando os acontecimentos (todos fictícios), com simplória naturalidade.
Já os dois últimos contos, na primeira pessoa, invadem um pouco mais o sentimento humano, fatos que podem acontecer com qualquer pessoa após sua adolescência buscando a compreensão do confronto entre o indivíduo e a realidade que o cerca principalmente nas dúvidas do amor.


São Sebastião do Caí, 16 de Agosto de 2008.


O autor.

Contos - BAILE DO INTERIOR 2

Digitação: Pio Rambo

Formatação: Silvana Alff

Fotocomposição: Paulo Klein

Impressão: Paulo Klein

Revisão: Renato Klein

Revisão Final: Roberto Stürmer

Capa e Ilustrações: Clóvis Rambo

















IMPRESSÃO:

PK PRODUÇÕES
Rua Willi Klein, 964
Morada do Vale
95760-000 São Sebastião do Caí – RS
Telefone: (51) 3635 2112

Contos (CAPA) - BAILE DO INTERIOR

  Baile do Interior


                     Pio Rambo





                                                                    

                      CONTOS

Balneário Vale-Tudo
Baile do Interior
Incertezas
Problemas em Família



Piadas que rodam na internet - Ninguém merece!

    
Altas horas da madrugada, o casal acorda ao som insistente da campainha da casa.
     O dono da casa levanta e pela janela pergunta:
     - O que é que você quer?
     - Olá, eu sei que é tarde. Mas preciso que alguém me empurre. Sua casa é a única nesta região. Você precisa me empurrar!
     Louco da vida, o recém-acordado replica:
     - Eu não te conheço, são 4 horas da manhã, e me pede para te ajudar? Ah! Vá te catar! Você tá bêbado.
     E ele volta para a cama. Sua mulher, que também acordou,não gosta da atitude do marido:
     - Você exagerou. Você já ficou sem bateria antes, você bem que poderia ajudar esse cara.
     - Mas ele está bêbado - desculpa-se o marido.
     - Mais um motivo para ajudá-lo - insiste a mulher. Ele não vai conseguir sozinho. Você, que sempre foi tão prestativo..
     Tomado por remorsos, o marido se veste e vai para a rua
     - Hei, cara, vou lhe ajudar! Onde é que você está?
     E o bêbado, gritando:
     - Aqui, no balanço.