quinta-feira, 13 de maio de 2021

Galeto Queimado


Alguns anos atrás fomos convidados para um galeto para comemorarmos o aniversário de uma pessoa. Sábado de noite.
Chegamos no lugar, o churrasqueiro estava em lidas no espetar das coxas e sobrecoxas de frango, colocando-as de qualquer jeito sem uma orientação lógica que desse sustentação à carne no espeto na hora de assar.
Eu peguei uma cerveja, fui junto a ele e me prontifiquei a ajudar a espetar, afinal era uma enormidade de peças de frango para serem espetadas e eu via que muitas delas com o assar perderiam firmeza e poderiam cair dentro da churrasqueira por causa do jeito errado de ele espetar.
O assador disse que não precisava de ajuda, que estava tudo sob controle e que ele faria um galeto dos deuses.
Fiquei lá com ele, vendo espetar as peças enquanto tomava cerveja. O fogo já estava aceso e para o tamanho da churrasqueira ele seguramente tinha colocado o dobro do carvão que seria necessário para assar aqueles galetos. Mas, eu fiquei quieto e deixei ele fazer de sua maneira.
Espetos prontos para por no fogo, vi ele pedir para sua esposa trazer o sal para temperar as peças de galeto. Pensei: "Sal grosso no frango?"
E foi o que ele usou para temperar: somente sal grosso. Excesso de sal, esfregado com gosto nas peças para 'penetrar' na carne, como disse ele, e depois de salgados foram postos nas chamas do carvão numa altura que nem embrulhado em papel alumínio a carne aguentaria tamanha quentura da churrasqueira. De cara três peças se soltaram do espeto caindo no carvão e dando aquele fedor de carne queimada, pois resgatar era impossível.
Ele, enquanto conversava comigo ia virando direto os espetos que a esta altura estavam levantando labaredas, chamuscando a pele das peças de frango incrustadas de pedrinhas de sal grudadinhas e algumas ficando na mesma posição no espeto sem virarem porque no espetar ele não tinha dado sustentação para que isso não acontecesse.
Em vinte minutos ele mandou servir a mesa que o galeto estava pronto. A churrasqueira naquele momento ainda nem tinha chegado no ponto para por as peças de frango a uma altura de sessenta centímetros, que é a média.
Uma receita desastrada que destruiu a aparência, o sabor e o cheiro daquelas peças de frango que estavam torradas por fora, incrustadas de sal grosso e por dentro sangrosas, cruas.
De uma bacia cheia de uns oito quilos, sobrou quase a metade e a metade do que tinha ido para os pratos levou para o lixo uma grande parte das peças de frango pois estava intragável. Em contrapartida, arroz e maionese até faltou. Por que será?
Quem não tem experiência em fazer churrasco ou galeto para muitas pessoas, não faça. Sempre tem algum convidado que sabe como fazer, como eu, que no caso me prontifiquei a ajudar, mas ele não quis minha ajuda.
Pode ser uma imagem de comida

Curtir
Comentar
Compartilhar

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Histórias de músicos: Fede Feio!


Idos dos anos oitenta. Nossa banda estava evoluindo e os contratos pipocavam de todos os lugares com tamanha intensidade que acabamos tendo que negar alguns para cumprir agenda.

Para termos mais lucro no trabalho de músicos, na época, o trombonista era também o proprietário da Kombi onde carregávamos o equipamento e uma parte dos músicos, e acompanhando ia  o Opala Comodoro do maestro com o resto dos músicos.

Mas a Kombi dele já estava muito velha, uma saia-e-blusa dos anos setenta, então resolveu investir numa nova Kombi. De um verde água reluzente, cheirando a nova, a primeira viagem foi subir de Tupandi até Salvador do Sul, quando iríamos tocar um baile em Arroio Canoas.

Para quem não conhece a geografia da região, esta subida tem pontos muito íngremes que exigem muito esforço do motor.

E nós, no sábado de tarde, na Kombi nova, rumamos para o destino do baile. 

Na subida, aquela Kombi não desempenhava, não andava, ela quase expulsava o motor pra fora na marcha primeira tamanha a rotação para subir aquele morro.

Depois de muito xingar contra sua nova aquisição, finalmente a Kombi chegou no topo do morro em Salvador do Sul. O trombonista e motorista estava encharcado de suor pela apreensão e medo de não conseguir vencer aquela subida.

E desgraçando a nova aquisição que havia feito na Panambra de Caxias do Sul, resolveu parar no posto do Hammerding e ligar para a concessionária para ter uma orientação do que poderia estar acontecendo com sua nova Kombi.

Parou embaixo do telhado, um calor dos infernos, todos se abanando, ele saiu da Kombi falou com seu amigo do posto e telefonou para a concessionária. Como havia estacionado perto do escritório e a janela estava aberta, ouvimos toda a conversa que foi assim:

Ele disse:

- Alôooo, é da Panambra?

- ...........(não ouvíamos o que eles falavam do outro lado da linha).

- Estou aqui com um problema! Comprei uma Kombi nova de vocês na segunda-feira e esta bosta não anda nada.

- ..........

- Não, não anda nem pra frente nem pra trás!

- ..................

- Se tem algum cheiro? ...Espera! Clóvis, dá uma cheirada para fora! - Disse ele para meu irmão que estava no banco da frente. Clóvis abriu a porta do caroneiro, botou a cabeça pra fora e disse que o fedor de osso queimado não dava pra aguentar. O motorista voltou a botar o telefone no ouvido e disse brabo:

- Sim, esta Kombi fede feio, fede feio!

- .........

- O que? Vai precisar enviar um guincho? Mas quanto isto vai me custar?

- ............. 

- O queeeeeee? Quinze mil Cruzeiros (em torno de 700 Reais). Pode enfiar o guincho onde quiser mas não no meu rabo!

E bateu o telefone na cara da revendedora.

Quando voltou para a Kombi nós estávamos rolando de rir. E ele brabo dizendo que não era motivo pra brincadeira o problema da Kombi. Daí meu irmão disse:

- Fulano, olha ali: você está com o freio de mão puxado.